domingo, 4 de março de 2018

DIFERENTES TRADIÇÕES JEJES NA DIÁSPORA BRASILEIRA

Este artigo foi publicado na pagina do facebook, de autoria do  sacerdote e professor Charles da Silva, em 03 de mais de 2018.

A palavra "Vòdún" é um termo designado para nomear e explicar os fenômenos da natureza como divindades e também como designação de ancestral. O Vodun é a base das culturas dos diversos povos gbé-falantes tais como os Fon, Gun, Ajá, Ewe, Gen e Bariba. O Vodun pode ser um raio ou o vento, como pode ser um ancestral de grande relevância perante os olhos de seu povo, um rei, por exemplo.

Os Voduns são cultuados dentro de famílias (Hε̆nnù, em fongbé) e cada família tem seu Vodun-chefe (Hε̆nnùgán, Dàá, Gbenúgán, Akɔ̀ nɔ̀ , Akɔ̀ sú ou Dàdá) que geralmente é dado como o pai daqueles voduns daquela família, uma matriarca (Hε̆nnùnaé, Akɔ̀ ná) que é a mãe daqueles voduns, e um Vodun jovem que é o mensageiro daquela família, chamado de "tokwenu" ou "tóquen" (principalmente nos terreiros de Mina).

Cada Vodun está ligado a um fenômeno da natureza, ou costume, como caça, pesca, guerra, agricultura, entre outros.

A organização do culto Vodun foi fruto do pensamento de Yegú Tennú Gesú, filho de Tennú Gesú, rei do Tado, e de uma princesa mítica Aligbonó, que era sacerdotisa de GbéKpò a "grande pantera" ou "pantera da vida", uma antiga divindade de grande importância. Yegú foi divinizado sob o nome de Agasú/Ajahutó/Kpòsú/Dàdáxó e acreditavam que ele era a encarnação da antiga pantera. Anterior a este acontecimento, os deuses primordiais eram chamados de Inyes e os ancestrais e antepassados eram conhecidos como Kloutó ou Kútutó, e eram princiaplmente de caráter familiar. No Benin, os cultos aos Voduns familiares é muito mais fluente do que o culto dos deuses primordiais como Loko, Dan e Aziri. 
Partindo da divisão básica do culto temos os Voduns ligados aos dois princiapais elementos:

-Àyìvòdún: Voduns ligados ao elemento terra (àyì); encabeçados por Sakpatá.


-Jívòdún: Voduns ligados ao céu (jí) - o alto, o ar; encabeçados por Xebyosò.


Dentro desta divisão existem subdivisões e classificações como exemplo: Àyìvòdún: Vodun da terra; Zùnvòdún: Vodun da floresta; Àtínhùnvé ou Àtínmɛ̀vòdún: Vòdún que habita o interior das árvores; Sòvòdún: Vòdún do trovão e raio; Tɔ̀ vòdún: Vòdún das águas; Hε̆nnùvòdún: Vòdún de ancestrais reais; Tóvòdún: Voduns de aldeias e povoados; Tóxwyo: Voduns fundadores de clãs.

No Benin os cultos mais importantes são dos Hε̆nnùvòdún por estar mais próximo a uma realidade atual, porém existem os cultos tradicionais que podemos destacar três: Xebyosò, Sakpatá e Dan. No Brasil a herança dos cultos reais não predominou, mas dos três principais voduns sim.

Também vale ressaltar que o culto de algumas divindades yorubás pelos povos daomeanos e vice versa não foi algo construído no Brasil, pois esses povos habitam regiões muito próximas e suas culturas em determinadas épocas e regiões influenciaram-se, onde alguns voduns foram incorporados pelos yorubás e os Daomeanos também inseriram algumas divindades yorubás em seus cultos a sua maneira, como por exemplo o culto de Gu que foi a adaptação do culto do orixá Ogun para o culto Vodun.


As casas tradicionais no Brasil de culto Vodun/Jeji são de diversas tradições: 
- Xwélegbétan Zomadonu ou Kwerebetan de Zomadonu (Palácio de Zomadonu), conhecida como "Casa das Minas" de culto Mina/Nesuxwé; Predominância de culto aos Voduns reais. (Maranhão)

-Nago Abioton ou Casa de Nagô de culto Mina/Nagô; Predominância de culto aos Voduns e aos Orixás yorubás, bem como aos "encantados"; (Maranhão)

-Zoogodo Bogun Male Hundó (Terreiro do Bogun) de culto Mahi; Predominância de culto Vodun e nagô-vodun; (Bahia)

-Xwé Sènjá Hùnde (Terreiro Sejá Hundê) de culto Mahi; Predominância de culto aos voduns da família de Sakpatá e Dan; (Bahia)

-Hùnkpámè Ayiono Huntoloji (Terreiro Runtolojí) de culto Mahi; Predominância de culto a Sakpatá e Nagô-vodun; (Bahia)

-Xwé Kpò e Jí (Cacunda de Yayá) de culto Savalú; predominância de culto aos voduns savalunu; (Bahia)

-Hùnkpámè Danxomé (Terreiro do Pinho) de culto Ewe/Aja: pratica uma modalidade conhecida como Jeje Dahomey

-Xwé Kpò Daagbá de culto Mahi; ao qual pertence o culto a Gú, Jó, Otolú, Dan (e família), Sakpatá (e família) e Xebyosò (e família

-Xwé Kpò Zenhen (extinto) de uiiii Aja/Fon; praticava o Jeje Modubi; (Bahia)

-Terreiro ou Casa da Turquia (extinta) e Terreiro do Egito (extinto) de culto Mina e encantaria; predominância de culto aos Voduns reais. O culto da Casa da Turquia foi preservado na casa Fanti-Ashanti de Pai Euclides; (Maranhão)
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Foto ilustrativa: Vodunsi Dona Deni com seu Vodun Lepon e Vodunsi Dona Maria com seu Vodun Alogué. Fonte: Museu AfroDigital
Algumas informações do texto colhidas com o africano Wanilo Bertrand Ananou 


Fonte - https://www.facebook.com/hungbonocharlesdasilva/posts/1657853487627567


Um comentário:

  1. Em decorrência da carência de pesquisas elaboradas, muito pouco sabemos sobre esses templos religiosos seculares. Somente no século passado, que essa ausência começa a ser corrigida através do surgimento de obras consistentes, a exemplo de "Gaiaku Luiza: e a trajetória do Jeje-Mahi na Bahia", de Marcos Carvalho.

    Também devemos destacar outras obras, de fundamental importância para a preservação, resgate e entendimento da cultura e memória dos jejes no Brasil:

    "Terreiro do Bogum", de Everaldo Conceição Duarte;

    "A Formação do Candomblé: História e Ritual da Nação Jeje na Bahia" & "O Rei, o pai e a morte: a religião vodum na antiga Costa dos Escravos africana", ambos de autoria de Luís Nicolau Parés;

    "A Casa Das Minas. Culto dos voduns jeje No Maranhão", de Nunes Pereira;

    "Querebentã de Zomadônu : etnografia da Casa das Minas do Maranhão", de Ferretti Sergio.

    Contudo, essas obras não abrangem a totalidade dos templos religiosos que estão listados à cima, em alguns casos apenas citados ou brevemente comentados. Indicando claramente, que novas e promissoras possibilidades apresentam-se aos pesquisadores. Estando o tema, longe de ter sido esgotado. Um exemplo disso, pode ser encontrado em Nicolau Parés. Que através de pesquisas efetuadas no Benin, acrescenta inéditas e apaixonantes elucidações sobre a Casa das Minas.

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