quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O sagrado Odù Ìròsún

O Olórí Epé (Chefe de Epé) foi aos awo (adivinhos) no dia em que sua aldeia estava sendo assolada por um ekùn (Leopardo). O ekùn estava matando crianças e nenhum dos caçadores tinham sido bem sucedidos em seus esforços para capturar o animal. A Adivinhação foi feita, e os Òrìsà disseram que Olórí deve ser gentil com um forasteiro.

Mais tarde naquele dia o Okùrin wèrè Ijèbú (homem louco de Ijèbú) se aproximou da aldeia de Epé. Chamavam-lhe de Okùrin wèrè Ijèbú porque ele foi criado na floresta, e não tinha nenhuma familiaridade com as maneiras do mundo. Sua loucura nascia de ìwá-mímó (inocência).

Foi o Olórí que ofereceu a Okùrin wèrè Ijèbú sopa doce quando se sentou para descansar perto da entrada da vila. Depois de terminar sua refeição Okùrin wèrè Ijèbú agradeceu Olórí e continuou sua jornada. Enquanto estava parado notou que as pessoas da aldeia estavam de luto. Okúrin wèrè Ijèbú nunca tinha visto tanta tristeza e dor.

"Por que ninguém está cantando ou dançando?" perguntou.

O Olóría olhou a Okùrin wèrè Ijèbú e não pensou nem por um minuto que ele era a pessoa que salvaria sua aldeia. "Fomos atingidos por um ekún que está atacando nossas crianças", ele disse isso enquanto olhava para a estrada na esperança de ver outro estrangeiro.

"Como você foi tão bom para mim, salvarei sua gente do Epé, desta terrível ameaça". Okùrin wèrè Ijèbú bateu as palmas mãos, como se o assunto já tivesse sido resolvido.

“Você é um Ode (caçador)?" perguntou o Olórí.

Não sabendo o que era um Ode, Okùrin wèrè Ijèbu respondeu "Sim".

"Porem não tinha armas". O Olórí não estava convencido.

Tendo sido criado na pobreza, Okùrin wèrè Ijèbú estava acostumado a lidar. Ele pegou um pilão, que estava ao lado da argamassa usada para bater inhame. "Agora eu estou pronto para caçar esse ekùn que tem causado tanta infelicidade".

O Olórí balançou a cabeça e orou ao Òrìsà, pedindo-lhes para enviar um verdadeiro Ode à vila da Epé.

Enquanto Okùrin wèrè Ijèbú estavam indo para a floresta, ele ouviu as pessoas de Epè gritando que o ekùn estava vindo. Ele rapidamente subiu em uma árvore e esperou passar o ekùn. O ekùn caminhou diretamente sob Okùrin wèrè Ijèbú, que caiu da árvore quando viu os dentes da besta selvagem. Antes de bater no chão, deixou cair o pilão que pousou diretamente sobre a cabeça do ekùn. O animal foi morto com um único golpe.

Imediatamente as pessoas de Epé começaram a dançar e cantar. Estavam agradecendo Okùrin wèrè Ijèbú. Foi nessa ocasião que o povo de Epé decidiu dar a Okùrin wèrè Ijèbú um nome justo. E assim ele se ficou conhecido como Sàngó (Espírito do relampago).

Comentário: Sàngó é uma das figuras centrais nas histórias dos Òrìsà que falam de transformação espiritual. Ifá é uma religião que se baseia no princípio de desenvolvimento do poder pessoal. De um ponto de vista psicológico, o poder pessoal cresce através do processo de superação do medo. Esta história é um exemplo dessas forças psicológicas que entram em jogo toda vez que enfrentamos um medo.

O Okùrín wèrè Ijèbú (homem louco de Ijèbú) caracteriza-se como inocente e ingênuo. A inocência e ingenuidade são a norma para quem começa uma busca espiritual. Nas tradições místicas Européias o papel do louco é geralmente descrito como "tonto". Esta caracterização não se destina a reduzir a figura central na história. Ao contrario, aponta para uma verdade fundamental que ocorre em qualquer momento, quando o medo é confrontado por ação direta.

Quando somos crianças muito jovens não temos medo de atravessar a rua. É somente quando a criança começa a interagir com outras pessoas que desenvolve um medo ou temor. A fonte do medo é a reação dos adultos que vêem uma criança tentando atravessar a rua sozinha. Muitas ruas movimentadas merecem cautela, mas para uma criança pequena não há base para a avaliação.

Na história, Sàngó está disposto a caçar o leopardo porque não tem ideia de como o animal pode ser maligno. Sempre que enfrentar um medo novo a mesma falta de informação é um fator. A única maneira de enfrentar o medo é através da coragem, e a única maneira de acessar a coragem é agir apesar do medo. A alternativa é a de continuar a manter o medo.

A disposição de Sàngó para enfrentar um desafio desconhecido, sendo bem sucedido mesmo que os meios para tanto parecam acidentais. Uma vez que Sàngó realmente matou o leopardo, tem informações em primeira mão sobre os perigos da vida real que estão envolvidos. É esse conhecimento que permite Sàngó tornar-se um guerreiro consumado.

Em histórias posteriores da vida de Sàngó sua habilidade na batalha eleva-o à posição de tornar-se o protótipo para a fonte da coragem heróica, tal como ele existe como uma força da natureza. 

Simplesmente Sàngó se torna a personificação da coragem, e esta história é o fundamento da sua missão para descobrir o awo, o mistério da ação corajosa.

Awo Ifádámiláre
http://www.ifaolokun.com.br



Ifá é quem transforma as coisas ruins em boas

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A transexualidade e o indivíduo.


Erick wolff

Julho 2013



A classificação do gênero é criado segundo a sociedade determina, seguindo padrões criados pelo homem ou religião. Entretanto, como definir a transexualidade?

Constantemente tropeçamos em casos que não se encaixam aos moldes da sociedade, feitos a imagem de Deus em toda a sua manifestação, agregando elementos macho e  fêmea ao mesmo tempo. Para tentar manter o equilíbrio o homem criou um Deus Reflexo, que existe para lhe servir. A transexualidade não possui espaço nesta sociedade e tentam banir o diferente.

Porem não é assim no òrìsàísmo[1], pois as divindades não se importam com a orientação sexual do indivíduo, desde que ele tenha um bom caráter.

O conceito ioruba do orí[2] traz uma abertura para  a questão da orientação sexual, pois um orí pode ou não carregar a transexualidade consigo; porem, caso a traga do òrun[3], poder-se-ia considerar que as divindades do òrun não se importam com a transsexualidade, ou por outro lado, pensar-se-ia que o individuo pode adquiri-la aqui no mundo físico após a reencarnação. 

Assim, de qualquer forma, adquirida aqui ou lá no òrun, sabemos que para as divindades a transexualdiade não é um tabu, muito menos chega a ser uma maldição, pois elas não discriminam nem tão pouco abandonam o indivíduo, antes ou após a sua aceitação e declaração como transexual.

Caso houvesse qualquer tipo de intervenção, as divindades evitariam aqueles indivíduos que carregam a transexualidade e não aceitariam a pratica do culto a orí, nem tão pouco o culto aos òrìsà seria possível.

Desta forma, podemos considerar que a transexualidade não afeta a espiritualidade do indivíduo, pois notamos que òrìsà não discrimina, nem tão pouco possui qualquer preconceito.

E, segundo ifá, com exceção do dia marcado para que o individuo desencarne, qualquer coisa pode ser alterada no destino daquela individuo, e isso sanciona a adequação sexual, para que seja compatível com a sua essência psicossomática.

Ainda conforme a filosofia de Ifá, qualquer atitude ou comportamento é aceitável pelas divindades, desde que ele não cause mal, nem a si e nem ao outros. Se as divindades condenassem alterações na sexualidade, elas também condenariam as mudanças estéticas, visto que isso altera o físico. Ifá ensina que nós somos nossos juízes e executores, ou seja, só devemos dar satisfações de nossas atitudes para o nosso Orí (Awo Ifádámiláre Agbole Obeme).

Concluindo, infelizmente percebemos que é o homem quem discrimina e possui preconceito. 


Deus reflexo

 

A palavra religião vem do latim religare, que significa religação com o divino, ou seja, um conjunto de crenças, sistemas culturais e sociais que exprimem a vida e tradições de uma sociedade. Este conceito é estabelecido através de símbolos, valores morais, sentimentais e culturais de um povo.
A maioria das religiões narram à origem do Deus central (contendo ou não mais deuses auxiliares), a origem do universo e do próprio homem, mantendo a tradição através da escrita e ou oralidade.
Neste mesmo processo encontramos o “Deus Reflexo”, que foi criado segundo os moldes e necessidades de determinada sociedade, que modela seus conceitos sobre a divindade criada, favorecendo os padrões e exigências daquele povo, ou seja, o Deus Reflexo será sempre um reflexo do seu povo, enquadrando as necessidades sociais e culturais para manter o controle e os desejos da sociedade que o cultua, impondo valores e controlando pessoas,  de forma a manter o poder do sacerdote, através das leis criadas por aquele Deus reflexo.
Ou seja Deus Reflexo – É um "deus" criado e nomeado para refletir os interesses coletivos da nação e necessidades individuais de uma pessoa.

Sobre o informante:

Awo Ifádámiláre Agbole Obeme, Awo Ifá, 37 anos, iniciado há 7 anos, pertence a família do Bàbá Ògúnjimi, Barra Bonita / SP,


Por:
Erick wolff8
Editor da revista www.olorun.com.br, www.sosni.com.br e sacerdote do òrìsàísmo Afro-sul (Batuque), iniciado em 1982, residente em SP, sacerdote desde 1989, fundador da sociedade Axé Nagô Kóbi.



[1] Òrìsàísmo – culto às divindades Yorùbá.
[2] Orí – tradução cabeça, no entanto se refere a uma cabeça abstrata que engloba tudo que está no spiritual, como destino, corpo espiritual, enfim todo o espiritual daquele individuo.  Cada individuo possui um orí e não existe outro igual.
[3]  Òrun - mundo espiritual.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A violência invisível - com Monja Coen Roshi

Por Bàbá Erick Òòṣàálá




Atualmente a palavra da moda é RACISMO, ouvimos isso a todo momento, até mesmo quando algum racista nos acusa de estarmos roubando a identidade do negro, só porque um homem caucasiano foi iniciado na religião de Matriz Africana e se posiciona como Afro-descendente, Mas o que impede de um sacerdote se posicionar como um Afro-descendente? A cor da sua pele?

O RACISMO é praticado diariamente, no entanto, ainda vemos pessoas que não perceberam serem vitima do próprio preconceito, e assume o SINCRETISMO como se fosse uma tradição, isso porque foi criado assim e acostumado a carregar o peso da cruz, não consegue se livrar do sincretismo, assim como não consegue entender que a liberdade depende do indivíduo saber quem ele é....

E foi através do discurso da Monja Coen Roshi, que eu percebi a minha fala, eu venho repetindo estes discurso há muitos anos, e venho sendo taxado de revolucionário, mas como podemos acreditar que uma entidade ou ancestral negro, possa ser reconhecido, ou, representado por uma imagem de um santo católico com traços Europeus, isso é o que eu considero um racismo velado e criminoso para  a nossa cultura, apesar de que muitos consideram fundamento.


Ouçam a fala da Monja e veja como ela de fora traduz a mesma fala que eu venho repetindo há anos; 

[…] mais tarde quando veio a escravatura, que coisa medonha né, nós todos tivemos uma participação nisto, por que nossos ancestrais estavam fazendo isso, nós estávamos lá, como eles estão aqui agora em nós, mas a diferença é o que nós  fazemos com estas informações, nós não podemos repetir aquilo que nós achamos que não foi digno,  de um ser humano… não foi ético…  não foi coerente com princípios, de PAZ, DE NÃO VIOLÊNCIA… Não permitam que você manifeste a religião que você escolheu, por que eu acho que ela não presta…. Aí começaram a esconder a misturar, daí vem a Umbanda... VAMOS FAZER O SINCRETISMO, vamos esconder as nossas deidades, as nossas entidades, por trás dos santos que vocês reconhecem... será que nós ainda não fazemos um pouco disso... no nosso dia-a-dia com filhos maridos, com irmãos parentes, pessoas com quem trabalhamos... tente fazer-me reconhecer o que você esta escolhendo para a sua vida... procure transforma para a minha linguagem [...] (o grifo é nosso)

Observem que a Monja Roshi, relata a violência passiva através do sincretismo e relata que através deste  uma cultura esmaga a outra e sufoca a fé e a liberdade de um povo...

Pos isso se puderem repensar e rever seus conceitos, quem sabe possamos ser mais respeitados e reconhecidos....

http://www.youtube.com/watch?v=nHWmHmwuhoA
próximo aos 21 segundo


Àdimó ore

TIKTOK ERICK WOLFF