quarta-feira, 25 de maio de 2016

ÈSÌN ÒRÌSÀ E ... ÌSÈSÈ.

Luiz L. Marins
www.luizlmarins.com.br

Maio de 2016


Há publicações na internet divulgando o conceito que Ìsèsè é a origem da èsìn Òrìsà (religião dos Òrìsà), que por extensão, aplica-se também Ifá, Orúnmìlà, Egúngún, Àsà ati Ìse (usos e costumes), etc.


O que se pretende dizer é que Ìsèsè é a causa, enquanto tudo o que se segue é o efeito. Discordamos deste pensamento.

Na iorubalândia tal afirmação não tem maiores consequências, pois os nativos sabem diferenciar os conceitos tradicionais. Entretanto, no Brasil, este conceito pode ter diferente interpretação.

Não afirmamos, mas faz parecer que, ao se dizer que Ìsèsè (ioruba) seria a origem, disfarçadamente tenta-se dizer que um segmento Ìsèsè na diáspora, é a origem de quase todos segmentos religiosos afro-brasileiros, o que não é uma realidade.

Nos anos 90 este segmento chamava apenas de “Tradição de Òrìsà” visto que a palavra Ìsèsè era desconhecida do povo de santo. É um movimento importante, que transformou e faz parte da diáspora afro-brasileira.
 

Este movimento foi iniciado por Sikiru Salami (baba King) através da FITACO (Federação Internacional das Tradições Africanas e Culto aos Orixás), do qual faziam parte Bàbá Ribas de Èsù (em memória) (Ilé Àse Marabo, Santo Amaro, São Paulo) e Ìyá Sandra Epega. (Ver fotos no fim).
 
 
Em seu início, este movimento no Brasil nunca se chamou Ìsèsè, portanto, jamais o Ìsèsè diáspora pode ser a origem da religião dos Òrìsà no Brasil, se é isto que se pretende dizer com a divulgação de tal conceito.
 
 
Ìsèsè é uma palavra que não existe nos dicionários. Significa, a grosso modo, cultura tradicional, mas toda a cultura, incluindo o que não é religião, e não apenas religião.

A palavra é utilizada atualmente na Nigéria para satisfazer as elites das religiões estrangeiras dominantes, que não aceitam a Èsìn Òrìsà. (PgCulturalFoundation)

Gramaticalmente falando, ainda que o radical “sè” tenha o sentido de “origens” (Dic. R. C. Abraham, p. 614), Ìsèsè tal qual se compreende no Brasil, não é a origem do culto aos Imolè / Òrìsà / Ifá / Orúnmìlà.

Assim posto, entendemos que foram os Àsà, Ìse, Èsìn da cultura tradicional ioruba que deram origem ao Ìsèsè

Ire a todos!  

 


















Informativo Ilé Àse Marabo, n. 6, nov. 1994.



















Informativo Ilé Àse Marabo, n. 1, jul. 2016.





















Informativo Ilé Àse Marabo, n. 4 , set. 1994

domingo, 15 de maio de 2016

SOBRE O CONFLITO MITO POÉTICO IORUBA

Luiz L. Marins
www.luizlmarins.com.br

Maio de 2016



Entendo que uma religião precisa ter uma gênese, pois sem ela não há religião, apenas culto.

Assim, numa etnia onde há várias gêneses, consequentemente há várias religiões.

Todas estas culturas podem conviver em paz dentro de uma etnia, desde que cada uma respeite o limite da outra.

Quando uma tenta apresentar sua teologia como verdade para todas, os conflitos ocorrem.

Tradição oral apresenta oralidade. Tradição escrita apresenta escritos. (óbvio)

Em qualquer um dos casos, o formador de opinião e semeador de ideias precisa, para evitar os conflitos, precisa respeitar o limite do outro evitando as generalizações em uma etnia que possui várias religiões dentro dela.

A sugestão para a convivência pacífica é que o fomentador use das expressões:

"... em minha família tal, do chief tal, de tal cidade, nós acreditamos que ..."

Com isto, o formador de opiniões, via vídeo ou escritos manifesta sua fé, respeitando a do outro.
Generalizações visando o embasamento de uma forma única como regra geral só trarão conflitos, como:

"..na cultura ioruba .." (qual? há várias)

".. na religião tradicional ioruba.." (qual? há várias)

"..na Iorubalândia.." (qual? há iorubas em Ghana e Togo)

Os iorubas, sem perceberem, estão modificando sua teologia ao abandonarem o orixaísmo nativo (quando o orixá possui o poder de realização da criação delegado por Olodumare - Obatalá e Odudua) ... para adotar o teísmo estrangeiro (quando existe a atuação direta de Olodumare na criação - Akamara).

Este novo modelo teológico tira o poder de criação de Obatalá e/ou Odudua, devido à ação direta de Olodumare (Popoola), surgindo então a necessidade de supervalorizar a intermediação de Orunmila.

" O Estado é laico e o culto é livre " .. ok ... este conceito também vale para os iorubas; mas é preciso que se esclareça qual é o conceito teológico que se está a divulgar.

Ire o!

terça-feira, 3 de maio de 2016

ÈSÙ CONHECE O SEGREDO DAS ÌYÁMI

Por Luiz L. Marins
Maio de 2016


Com o crescente interesse pelo culto de Ìyámi Òsòròngà convém lembrar que a literatura afro-brasileira apresenta informações importantes sobre a ligação delas, com Èsù.

Pierre Verger registra um ese (verso) do odù ogbè ògúndá, signo divinatório do oráculo de Ifá, o qual revela que Èsù não só conhece o segredo das Ìyámi, como também ensina o ebo correto à Òrúnmìlà, para, por seu intermédio, apaziguá-las.

Juana Elbein no livro Os Nàgó e a Morte faz algumas considerações conceituais sobre Èsù, onde demonstra que Èsù é o òrìsà que recebeu um àse especial de Olódùmarè para resolver todas as situações, inclusive no trato com as Ìyámi.

Assim, convém que os religiosos afro-brasileiros reflitam sobre a busca desenfreada e desesperada por um culto apenas para satisfazer o ego e a vaidade, quando temos dentro nossas casas o òrìsà que tem o poder delegado de Olódùmarè para resolver todas as questões: Èsù!

OGBÈ ÒGÚNDÁ

[...]
Nijó ti nwon mu omi meje ti nwon kókó mu,
Nijó ti nwon bèrè si mu ú, isejú Èsù ni nijó náà.
Nijo nwon nse ipadé, ìsejú Èsù ni.
[...]
No dia que elas beberam das sete águas,
No dia que elas começaram a beber, foi na presença de Èsù
No dia que elas fizeram a reunião, foi na presença de Èsù.
[...]


ÈSÙ ODÁRA

“Em virtude da maneira como Èsù foi criado por Olódùmarè, ele deve resolver tudo o que possa aparecer e isso faz parte de seu trabalho e de suas obrigações [...] Olódùmarè fez Èsù como se fosse um medicamento de poder sobrenatural. ”

Olórun delegou este poder a Èsù ao entregar-lhe o àdó-iràn, uma cabaça de longo pescoço apontando para o alto que Èsù carrega em sua mão. Èsù só precisa apontar seu àdó para transmitir a força inesgotável que tem. ”

Èsù é o princípio reparador do sistema nàgó. [...] por isso, os quatrocentos irúnmalè deram um pedaço de suas próprias bocas à Èsù, quando ele foi representa-los aos pés de Olórun. Èsù uniu estes pedaços em sua própria boca e, desde então, fala por todos eles. [...] apenas por seu intermédio é possível adorar as Ìyámi. ”


REFERENCIAS:

Pierre Verger. Grandeza e decadência do culto de Ìyámi Òsòròngà. Ed. Corrupio, Artigos Tomo I. São Paulo, 1992, pg. 50.
Juana Elbein. Os Nàgó e a Morte. Ed. Vozes. Petrópolis, R. J., 1976, pgs. 131; 134; 163
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