Por Bàbá Erick Wolff de Oxalá
No meu entendimento, o ápice de uma iniciação, não está na festa nem no salão cheio de pessoas, ou, nas grandes roupas coloridas, cheias de brilhos, enfeites e joias... Sim, por que nem tudo é festa e pompa. A festa é apenas um detalhe que podemos ou não optar em ter, por que as festas sobrevêm os rituais iniciáticos, e se não foi completo no começo, não será no final que consertará...
Eu entendo que se o àse é movimentado pelas divindades, o ritual e iniciação pertence a estas mesmas divindades, e não é vergonha alguma para um sacerdote pedir orientação para as divindade, seja no jogo ou diretamente para alguma que esteja presente... Por que o òrìsà, detém o àse, e somente ele tem o poder de mudar algo ou intervir em seus rituais, e contamos com o seu apoio. Òrìsà sempre sabe o que faz, não se perde ou se confunde... Òrìsà não erra, nem muda de palavra.
Eu acredito que a magia começa quando acordamos cedo para colher ervas sagradas, alimentamos estas ervas e cantamos para as folhas que iremos trabalhar, momentos mágicos que transportam o DNA das divindades que iremos invocar, não esquecendo que os òrìsà que invocamos, cada um tem o seu àse em folha e devemos louvar cada um, por isso não basta apenas cantar para Ossanhe, mas lembrar de cantar para as divindades de cada folha colhida.
E no decorrer do dia, escolher o milho e por para torrar, assar batatas para os àse, cozinhas canjica, ou usar o pilão para moer feijão para o akaraje de Oya, ou, até mesmo canjica para o akassa de Osala.... E cada comida preparada tem uma finalidade e fundamento, que contamos aos iniciados através de lendas e contos que vamos lembrando e ensinando, conforme vamos trabalhando... Assim funciona uma casa tradicional de àse, por isso, não resumimos apenas numa festa, o que não foi feito durante os dias que antecedem.....
Após estes procedimentos preparatórios, no Yara-òrìsà (quarto de santo) que representa o órun, mundo espiritual dentro de um templo, para invocar as divindades, eu penso que é possível nos ajoelharmos diante dos igba-òrìsà (vasilhas) e falar em Português, Inglês, Japonês, Espanhol, Ioruba, ou qualquer idioma, que seja da sua origem, desde que seja sincero e verdadeiro... Desde que saiba o que está fazendo... Que òrìsà irá prestar atenção nos seus pedidos, suplicas e agradecimentos...
Claro que nada impede de um sacerdote fazer isso no idioma das divindades cultuadas... Desde que tenha um mínimo de introdução ao idioma, e possa ter uma base para tal, sem inventar palavras para impressionar as pessoas leigas, por isso, que eu ao recitar uma pequena frase no Ioruba eu repito em Português para que possam entender e partilhar deste àse.
Lembrando que Adura é uma oração ou reza, mas esta reza não é um Orin que é uma cantiga de roda, que os tamboreiros cantam e louvam durante os toques de òrìsà.
Para quem vivenciou estes momentos sagrados, entende a importância da preparação destes rituais, e seus momentos que antecedem, e que numa iniciação, uma divindade pode intervir e alinhar qualquer ritual que por ventura aconteça algo que não o complete... Somente as divindades possuem o poder de evitar erros ou danos para qualquer iniciado...
Por isso, eu conto sempre com o apoio das divindade em minha casa, e as deixo tomar a frente, seja na minha defesa, ou na defesa dos meus filhos, afinal, se os rituais são feitos para eles e com eles, não precisamos temer nada.
Referente a "Festa", então no meu entendimento a festa não abrange tudo isso que relatei acima, e encher um salão é lindo e acho maravilhoso... Mas eu sinceramente, prefiro ficar nos rituais secretos pertencentes as divindades, que me sinto bem mais confortável e feliz.
"Òrìsà Aláàse Igbákejì Olódùmarè"
Orixá, o segundo com autoridade após Olôdumare!