NASCIMENTOS
NOS TEMPOS ANTIGOS
Depois de dois ou três meses de gravidez, a mulher chamava o curandeiro-feiticeiro Mbenza. Este arranjava uma espécie de guizo e amarrava-o ao fio que as mulheres sempre trazem à cinta.
O guizo indicava a toda a gente que aquela que o trazia estava grávida. Ao lado do guizo era amarrado ainda o pendão da erva zika-zika. Deveria trazer tudo isto até dar à luz. Impediria, desta forma, um parto prematuro.
Quando se previa que estava para dar à luz, chama-se o nganga Malázi. Este enchia uma pequena quinda - pequeno cesto - de pó de tukula. Depois de rapado o cabelo da cabeça da parturiente, todo o corpo lhe era pintado com tukula.
E era logo chamado também o Mamázi.
Apenas a mulher acaba de dar à luz, e liberta dos principais trabalhos do parto, Malázi e Mamázi vestem-na com um pano tinto em tukula.
A porta da casa era colocado pelo Mamázi um ramo de palmeira.
Ficavam todos a saber que a mulher havia dado à luz e que ninguém poderia entrar sem, previamente, pedir autorização para isso.
Aos homens e mulheres que tivessem usado o direito de casados, bem como às mulheres que andassem nos seus dias, não se lhes poderia conceder essa licença. Eles próprios já não a pediam.
O filho recém-nascido não sairá dali senão passados uns três meses, o tempo suficiente para se prepararem as coisas para a festa da apresentação
A mãe poderá sair mas entrará logo que finde o motivo da saída.
O dia da «apresentação» do pequeno ao povo da aldeia era marcado pelos curandeiros-feiticeiros Mbenza, Malazi, Mamazi e Muebuanga, isto é, pelos curandeiros ligados à conceição e nascimento de uma criança.
A CERIMÓNIA DA «APRESENTAÇÃO»
Muebuanga com outros, os Nkuangi, ajudantes dos demais, espetam num largo, previamente limpo, paus altos e em círculo. Entre esses paus eram colocados ramos de palmeira fechando tudo ao redor o deixando uma única entrada.
Uma peça, ou mais, de pano era cortada aos bocados sendo estes amarrados às extremidades dos tais paus altos, servindo de bandeiras em sinal de festa.
Muitas mulheres cozinham várias qualidades de comida em panelas novas que, dias antes, haviam sido compradas para esse fim.
Tudo preparado para a cerimónia, Mbenza, Malazi e todos os outros curandeiros-feiticeiros entram na casa onde se encontra a mulher com o filho. Este é pintado com tukula e são-lhe amarrados vários fios e missangas à cinta, peito, pescoço, etc. Na testa, uma fita prende uma pena vermelha da cauda de um papagaio e uma outra de galinha do mato.
Os curandeiros-feiticeiros, por ordem de dignidade, colocam-se em fila atrás uns dos outros, junto à porta da casa.
A mãe aparece à porta com o filho nos braços. O primeiro nganga toma a criança pelas pernas lançando-o para trás das costas, segurando-o bem. A mãe bate três vezes as palmas das mãos, como quem agradece, e toma o filho passando-o ao nganga seguinte. Cada um deles repete o que fez o primeiro.
Terminada a cerimónia com os curandeiros-feiticeiros à porta da casa, a mãe vai sentar-se num pau, tronco de árvore, banco ou caixote, cá fora, no recinto circular que há muito está preparado para a festa.
Tem o filho no regaço. Em frente dela há um outro assento coberto com um pano. Cada um dos assistentes, então, começando pelos mais velhos, bate três vezes as palmas das mãos, toma a criança, senta-se no banco coberto com o pano e coloca a criança sobre os seus joelhos, acariciando-a por momentos.
Ao tomá-la das mãos da mãe cada um perguntava:
Sabeis quem é?
Não sabemos. (Isto por três vezes).
O seu nome é X. (cada um lhe dava o nome que recebera).
A mãe ajoelhava depois, batia as palmas por três vezes, tomava a criança e voltava a sentar-se no seu lugar.
E repetia-se isto com cada um dos assistentes. Pode-se, assim, imaginar bem o tempo que levaria.
Terminada esta cerimónia continua a festa por longas horas.
Há comida, bebida, dança, etc., etc. dentro do recinto que se preparou.
Os curandeiros-feiticeiros terminavam a sua acção dando à mãe da criança um Muana-Nkonde. Era um feitiço composto de uma pequenina cabeça que encerrava milho, tukula e giz. Quando a criança chorasse a mãe deveria abanar a cabeça para aninar o filho. Por isso, sempre que saía, levava o Muana-Nkonde pendente das costas e seguro à fita que, ordinariamente, trazia amarrada na cabeça.
Esta descrição, que nos foi feita pelo velho Kimpolo em 1943, dizíamos que era dos tempos passados.
Começa, contudo, entre os adeptos da seita NZAMBI KUNGULO (também chamada LASSISMO) um certo renascimento da festa da «apresentação».
Esta seita, nascida e fomentada no ex-Congo Francês (Congo Brazzaville ), muitíssimo florescente na Ponta Negra, teve certa influência e chegou a ganhar bastantes adeptos nas gentes da nossa Massábi e Ndinge. Entre estes recomeçou -a festa da «apresentação», como acabamos de saber em 1970, quando estivemos novamente em terras de Cabinda em trabalhos de investigação.
Nestes últimos tempos, pois, quem bebeu o Nsuingi - a água «benzida» na seita do Nzambi Nkungulo - concebendo e dando à luz, a criança terá que ser guardada dentro de casa pelo menos durante uns três meses. É, conforme me disseram, para dar tempo a que o pai consiga juntar as coisas para uma grande festa que se deve fazer quando o filho for apresentado ao povo da aldeia.
A mãe da criança, contudo, depois dos trabalhos do parto e das exigências do primeiro mês, poderá fazer a sua vida normal, mas a criança não sairá de casa.
No dia da «apresentação» há festa grande, muita comida e bebida, batuque animado e aos saltos, chegando a ficar como que fora deles, em transe, gritando durante a dança: espírito, espírito.
A mãe, vestida de branco - indumentária dos do Nzambi Nkungulu - é sentada numa cadeira com o menino ao colo e apresentando-o à assistência.
Entre os assistentes escolhe-se uma mulher que tome a criança e que, diante de todos, salte e dance com ela ao colo, acabando por a levantar nos braços e apresentando-a à assistência.
Só a mulher que tenha a dignidade de Libundu - que é uma espécie de «ordem» na hierarquia dos do Nzambi Nkungulu - pode tomar a criança para a apresentar ao povo.
De notar que ao descreverem-me esta nova e actualizada cerimónia da «apresentação» de uma criança ao povo de sua aldeia, não lembrei à informadora - Isabel Nzinga, de 53 anos - o costume dos velhos tempos.
Mas, afora este renascimento entre adeptos do Lassismo, pouco mais resta dos costumes antigos. Quase tudo perdeu de uso.
Há mesmo mulheres, como ainda voltaremos a ver, sentindo-se com forças bastantes para darem à luz, dispensam toda a ajuda no parto e vão para o campo ou floresta esperar a sua hora. E sozinhas darão à luz e voltarão para casa com o seu precioso fardo. Anunciará o bom sucesso. O pessoal feminino da família ou as vizinhas darão imediatamente um banho à criança, mesmo em água fria não havendo água quente à mão.
Além da alegria íntima que se lê nos olhos de todos os membros da família, sobretudo nos da mãe e do pai - os filhos são sempre presentes desejados e esperados - alegria acompanhada de um prato melhor e mais abundantemente regado (sempre se previa o dia), nem que seja só com vinho de palma, pouco mais se nota.
O garoto, ou garota, e a mãe brevemente começarão a aparecer aos olhos de todos.
Ficaram ainda algumas reminiscências dos antigos costumes.
As crianças, desde o nascer, aparecem-nos com missangas e fios atados à cinta e também, muitas vezes, nos pulsos e tornozelos.
São restos da antiga consagração ao nkisi.
E, pelos oito ou dez anos, as crianças fazem uma festa na aldeia. É a festa delas. Constroem todas juntas um cercado com folhas de palmeira, semelhante ao descrito na festa da «apresentação». Dentro desse recinto, saltam, dançam e brincam e comem as refeições que elas próprias - algumas já sabem - ou suas mães prepararam.
De resto, pouco mais há que lembre a festa do passado.
À VOLTA DAS PARTURIENTES
Imediatamente antes ou logo a seguir ao parto, é construído ao lado da cozinha um cercado de folhas de palmeira, suficientemente alto e muito cerrado, onde, a parturiente, durante um mês de convalescença, pelo menos, terá que tomar cada dia dois banhos a horas mais ou menos certas. De manhã será entre as 8 e as 9 e, de tarde, pelas 18 horas.
Se a mãe da parturiente não está com a filha na altura do parto, caso seja viva ainda, o genro vai chamá-la.
Também as amigas e vizinhas se juntam e se revezam nos trabalhos que a parturiente andava a fazer, v. g. plantações, recolha de sementeiras, trabalhos no campo e os trabalhos, agora, caseiros.
Nestas circunstâncias, como regra, serão as pessoas de família quem ajuda; doutra sorte, as amigas ou vizinhas.
O marido terá que alimentar toda essa gente.
Aliás, desde que a mulher fica grávida, o marido vai juntando peixe seco, pesca ou compra peixe fresco para defumar, bem como carne de caça, que também defumará, O marido entrega sempre, em qualquer circunstância, os quartos traseiros dos animais que abate na caça. A mulher, prevendo os seus dias futuros, seca a carne ou - o que é muito mais comum - a defuma para estas ocasiões.
A mãe ficará com a filha as duas ou três primeiras semanas depois do parto, pelo menos.
Para os banhos, em tempos, não havia bacia. Era cavado um buraco na terra, à guiza de bacia, dentro desse cercado, buraco que o uso vai tornando, de dia para dia, mais impermeável à água.
Ali a parturiente toma os seus banhos semicúpios. A água terá que ser o mais quente que possa suportar e, muitas vezes, chegam a sofrer graves escaldadelas,
Muitas cozem nessa água folhas e cascas de mangueira - são adstringentes - ou da planta muanga-mbizi. Essas cascas e folhas são conservadas até ao fim dos banhos e, dizem, são sempre as mesmas que se usam.
A água do banho nunca será tirada do buraco-bacia a não ser para um outro, previamente preparado ao lado daquele. A água terá que se infiltrar pelo solo. Desta sorte impede-se que «profanem» essa água ou a usem para fins de malefício e feitiçaria contra a parturiente ou o recém-nascido.
Os banhos da parturiente, quando do primeiro parto, nunca duravam menos de seis meses. Depois do primeiro parto podia reduzir-se o tempo dos banhos para 4 ou 5 meses. Mas também já há quem os reduza para 2 ou 3 semanas.
Durante o tempo desses banhos não cozinhavam para o marido.
As parturientes não deviam beber água que não fosse bem quente ou, pelo menos, bem morna. Não deviam comer saka-folha nem muamba.
Eram medidas de higiene muito rudimentares mas que lhes traziam - afirmam as mais velhas - benefícios para a saúde.
No dia do parto, antigamente, nunca faltava a galinha e um género de caldos, também de galinha. Deviam fazer, durante esse primeiro mês ou primeiros meses, a refeição a que chamavam Mbanga, que era uma espécie de guisado com a banana Séluka (que guardavam sempre para essa altura) e galinha ou peixe fresco. Tinha-se a preocupação de nunca faltar com peixe fresco, ora comprado ora pescado pelo próprio marido.
Sem se ter fugido totalmente ao «buraco-bacia», já usam tomar esses banhos em grandes bacias, quer de esmalte ou plástico, quer em selhas feitas de barris.
Depois do banho irá a mulher para junto do lume - deve haver sempre fogo ao lado do banho - onde se deitará, ora de costas ora de ventre para o lume, tendo, ordinariamente, só urna pequena tanga.
Se não tomarem estes calores ao lume dizem que a pele do ventre ficará enrugada! A maior parte das mulheres pintava-se, outrora, com tukula depois do banho, bem como ao filho, também depois do banho respectivo.
Apertam a cinta com uma espécie de faixa a que chamam Nkama-Mponde. 0 Nkama-Mponde é feito de ráfia ou da fibra exterior do luango, fibra entretecida entre si. Tem uns quatro a cinco centímetros de largo por cinco ou seis braçadas de comprimento.
Começa a ser atado à volta do ventre a partir da primeira semana e meia depois do parto. É para que o ventre «abata», dizem.
É também o símbolo - dos trabalhos que as mães sofrem em dar à luz os seus filhos. Por isso, no casamento das filhas, depois de passar uma semana a ensiná-las a trabalhar em casa do marido, a mãe, como paga do Nkama-Mponde - paga das dores do parto - nunca receberá do genro menos de dois panos, uma blusa e certa quantia em dinheiro.
Agora, como recompensa pelos trabalhos prestados à filha e ainda como pagamento do próprio Nkama-Mponde que teve de usar quando deu esta filha à luz, o genro lhe oferecerá um corte, peça de fazenda, um lenço, uma saia, e um litro de bagaceira.
Conforme o parto desta filha que agora é mãe foi mais ou menos difícil, a sogra se torna mais ou menos exigente. E o genro, praticamente, lhe dará o que pedir.
Em tempos não muito afastados, caso o ventre da parturiente tivesse ficado muito proeminente, a mulher era encostada, antes das refeições principais, de pé, contra o likunzi - suporte do pau de fileira que fica, quase sempre, no meio da casa - e ligada à volta com o Nkama-Mponde, operação feita por outras que a ligavam muito bem ao poste e sem muita piedade! Chegava a ter feridas. Mas isto, repetimos, só se podia começar a fazer semana e meia depois do parto.
Se não se julga necessário o uso do likunzi é a própria mulher quem enrola, ela mesma, o Nkama-Mponde.
No caso de ser ligada ao likunzi é só quando está para comer. E come de pé. Quando acaba de comer e reconhece que a comida já assentou no estômago, pode desamarrar-se.
Hoje, posto que ainda haja quem use o Nkama-Mponde feito da fibra do luango, já se empregam alguns de pano, de tecido de algodão ou lã. Até já há quem compre verdadeiras cintas de senhora!
O Nkama-Mponde é usado ainda, pelo menos, durante mês e meio.
As secundinas são colocadas numa pequena esteira, bem enroladas, e enterradas da parte de fora da casa, mesmo em frente ao likunzi libobo kinzó - que é o suporte exterior ,do pau de fileira.
O corte do cordão umbilical: puxa-se até ao joelho da criança e corta-se a essa distância.
O tratamento mais comum é feito com massagens, aquecendo a mão, o mais que se possa, ao fogo e comprimindo, a pouco e pouco, todos os dias e várias vezes ao dia, o local até que caia o cordão = Vuba ikumba kimuana.
Uma vez caído, é costume colocar-se no local cinza de nkunza, uma qualidade de capim.
O cordão umbilical deve ser cortado com uma lâmina nova, ou com a folha do capim lukenguzó, que parece uma fraca serra, ou então com a mbele leze, navalha de barba, bem limpa e afiada, ou até com uma banza, nervura da folha de palmeira, bem afiada.
A parturiente se tem coragem, e muitas vezes a tem, de dar à luz sem ninguém presente, no mato mesmo, se sabe tratar de si e da criança, trata de cortar o cordão umbilical, se puder. Doutra forma trás tudo como em manado para casa e, depois, com a ajuda das outras mulheres se desembaraça das secundinas, do corte do cordão, etc., etc.
Tudo isto se tem feito e tem sido possível entre estas mulheres, bem fortes e bem corajosas.
Nleze é o nome que se dá ao cordão umbilical.
Ainda quanto às secundinas, havia quem as enterrasse em cova mais funda ao centro da cova-bacia que servia para os banhos da parturiente.
Em certas clãs, sobretudo no dos Basundi, rapavam o cabelo da cabeça à parturiente. Dizem que se o não fizessem lhes cairia ou teriam doenças.
Conheci uma mulher a quem o marido, nestas circunstâncias, não deixou cortar o cabelo. Tendo ela adoecido dias mais tarde não tardou em culpar o marido!
Durante estes dias, pelo menos o mês de banhos e convalescença da parturiente, quer de dia quer de noite, não faltará fogo na casa onde está a mulher.
É esta a explicação das grandes pilhas de lenha atrás das cozinhas das mulheres que estão grávidas. É a lenha para aquecer a água para os banhos da mãe e do filho e para conservar fogo permanente durante todo esse tempo.
A mulher, logo que sente que está grávida, começa a juntar lenha, É tão certo isto que quando se vêem pilhas de lenha atrás das casas se pode afirmar, sem grande perigo de errar muito, que breve ali haverá mais um filho. A maior ou menor quantidade de lenha existente nos indicará se o nascimento está perto ou se ainda leva tempo.
Acaba sempre por sobrar alguma lenha. A que sobra não deve ser usada antes que o pequeno ou pequena comece a dar os primeiros passos. Por isso, essa lenha é depois chamada bisuali malu mamuana - a lenha das pernas do filho. E é que, se a gastar antes, mais tempo levará o filho a andar... Assim o acreditam.
Terão de ser guardadas, pelo menos, três achas da pilha da lenha usada no tempo dos banhos da parturiente, até que o filho ande e bem e ela, a mãe, haja aceitado coabitar com o marido.
Admitindo que o filho não anda, sendo já tempo, tinham de fazer a cerimónia do Madoko-Doko - o «chamar os pés».
Esta cerimónia consistia em passear com a criança ao colo, de uma ponta à outra da aldeia. A criança, nestas circunstâncias, devia ser levada, por uma mulher que haja tido gémeos, muito de manhãzinha.
E porque devia ser uma mulher que tivesse filhos gémeos?
É que, segundo eles, quem teve gémeos é uma pessoa escolhida e abençoada pelo Nkisi-Nsi, e aqueles que não andam, que não caminham, estão a ser castigados pelo mesmo Nkisi-Nsi.
Quem melhor que essa mãe abençoada com filhos gémeos podia alcançar do Nkisi-Nsi a «benção» para o pequenino que não caminha?
Não chegando a criança a andar acaba por ficar: Kata, nome dado à criança paralítica.
Durante os três primeiros dias, quase sempre, não dão de mamar aos filhos. Espremem os seios para que saía o primeiro leite.
Mas são capazes de dar logo à criança mamão, papaia ou alguma outra fruta leve...
Se a mãe não tem leite, passa-se a criança para o seio de urna pessoa de família que ande a amamentar. Por princípio algum a passarão a estranhos pois estes, mais tarde, tratariam e tomariam a criança como se fosse escrava deles.
Quando as mães não têm leite costumam tomar a seiva, ou cozer os frutos, da árvore Mbenene - (Mabene-Seios) - que tomam com vinho de palma muito doce.
A falta de leite materno ou de leite de alguma pessoa de família, chegam a alimentar as crianças com leite de cabra.
Um mês depois do nascimento, e às vezes antes, as crianças começarão a andar às costas das mães donde, escarranchadas (daí o haver muitas crianças com as pernas tortas, curvadas para dentro), mamarão puxando-lhes as mães as cabecitas para debaixo do braço e passando-lhes a longa teta. Podemos afirmar que não necessitam, em bastantes casos, os pequenitos de fazer grandes esforços para conseguirem, por este sistema, o seio da mãe...
Num parto difícil chegam a chamar homens, depois das mulheres já estarem cansadas e não conseguirem que a parturiente dê à luz.
Uns seguram a mulher por trás; outros abrem-lhe, quanto podem, as pernas e um outro tenta, com as mãos, ver se dilata a vagina e até se consegue apanhar e puxar a criança.
Os pais quando se lhes não entrega o alambamento combinado, chegam a amaldiçoar as filhas e a afirmar que enquanto o genro lhes não pagar tudo a filha não conceberá ou não dará à luz.
Há um medo real desta maldição.
Conhecendo o marido que a mulher não concebe ou tendo concebido, chegando ao termo da gravidez não consegue dar à luz, se não havia pago lodo o alambamento, persuade-se de que a maldição do sogro produziu efeito e trata logo de lhe pagar o que está em atraso.
Então, o pai vai ter com a filha e diz-lhe que, uma vez que recebeu o resto do alambamento, se era por isso que não concebia ou não dava à luz, podia agora conceber ou estava livre para lhe poder nascer o filho.
Dá a benção nos termos e modo seguinte:
o que quer dizer:
Tocando, depois, com a mão direita no pé esquerdo, e com a esquerda no pé direito; com a mão direita no sovaco esquerdo e com a esquerda no sovaco direito, estende as mãos abertas para a filha, como quem lhe entrega alguma coisa (a benção) e diz: UPU (soprando).
A filha responde: IOBO,
Isto faz-se por três vezes estando os dois de pé, sendo possível. No fim da terceira vez o pai, tomando as mãos da filha, levanta-as ao ar juntamente com as suas e depois, cada um, já com as mãos separadas, abre os braços para o alto.
Está, assim, terminada a maldição e dada a benção.
Se a mulher teve relações com outro homem durante a gravidez, deve procurar a Nganga-Funza para confessar essa falta ou o número de faltas cometidas.
Só pode ser Nganga-Funza a mulher que teve parto de gémeos.
Mas se uma mulher nasceu de um parto de gémeos e, por sua vez, também veio a ter gémeos, automaticamente torna-se Nganga-Funza.
Funza - Explicar, confessar.
Nganga-Funza - A que recebe a explicação, a confissão dessas pessoas.
Se a mulher não fizesse a confissão dessa falta à Nganga-Funza, cria-se que ela não daria à luz ou o filho morreria ao nascer.
Por princípio, quando a gravidez está bastante adiantada, as mulheres não aceitam mais o marido. Mas esta rejeição não era por medo que se prejudicasse o parto, traumatizasse a criança ou causasse outros transtornos -a cópula, entre eles e durante todo o tempo, era, outrora, praticada de lado - mas porque, dizem, aceitando a cópula o esperma iria sujar a criança, que nasceria com manchas, além de tornar o parto difícil!
Quando o parto era difícil a parturiente deveria chamar a Nganga-Funza, mesmo que não tivesse tido relações com outro homem durante a gravidez. Bastaria que tivesse dito alguma coisa em desabono de seu homem. E terá que o confessar, então, ao próprio marido.
Também nada tendo dito contra o marido, se o parto é difícil, ou atribuem o facto a fraqueza da parte da parturiente - e pedem a ajuda de outras mulheres ou mesmo, como se viu, de homens - ou ao Nkisi, Ndoki, que lhes quer vir tirar o filho para ter «carne».
Quando o pequeno ou pequena já anda, e anda bem, a dar boas passadas e seguras, as outras mulheres acabam por chegar à conclusão de que é tempo de isso lembrar à avó materna.
Esta compreende o que as amigas de sua filha querem dizer.
Vai, então, oferecer à filha uma esteira nova. Ao receber a oferta, a filha também entende perfeitamente que é tempo de começar a pernoitar com seu marido. Não esquecer que jamais o voltou a fazer desde o parto, pelo menos. E já lá vão uns três anitos ou perto disso...
Mas isto foi em tempos!
Mas só podia ficar com o marido desde que tivessem voltado os dias de seu mês.
Tendo relações com o marido e tendo escondido esses seus dias do mês - nesse caso teria de ter vivido uns quatro ou cinco dias na própria casa - a Nzo-Mpilo - e concebendo, essa gravidez tomava o nome de Nselo.
A falta de chuvas, de caça e de pesca, etc. etc. era por culpa deles, e todos o saberiam pois ela não passara pela Nzo-Mpilo.
Era falta às leis de Lusunzi, falta contra o Nkisi-Nsi.
Era a Nganga-Funza quem deveria preparar a cama da mãe que acaba de ter gémeos. Também penduraria à cinta de cada um dos gémeos o Biékelé - espécie de pequena lata com guizos, um pausito com que tocavam os olhos, nariz e boca dos gémeos, para que se abrissem quanto antes e em perfeito estado - antes que pudessem sair da casa.
Esse Biékelé indicaria a todos que se tratava de um gémeo, portanto, de alguém que era abençoado e como que filho de Nkisi-Nsi, a quem nada de mal se poderia fazer e a quem nada se recusaria, se viesse a pedir.
Quando falarmos de gémeos diremos que a mãe não deve chorar nem vestir luto quando morre algum deles. É que com esse luto e choro levaria a tristeza ao outro filho que morreu fazendo com que ele venha buscar o que ficou!
Os pais, sobretudo as mães, devem saber se os filhos e filhas são ou não capazes de contrariarem matrimónio. São culpadas aquelas que deixam casar o filho ou a filha incapaz de concorrer para a geração, incapaz, pelo menos, para o acto conjugal.
Culpada é ainda se, nos clãs que a isso obrigam, deixou o seu filho incircunciso. Nestes clãs é uma vergonha para uma mulher casar com um incircunciso. A falta de circuncisão pode permitir à mulher o abandonar o marido.
Se o rapaz se torna incapaz de contrair matrimónio já depois da maioridade, então a culpa não será atribuída à mãe e nem será vergonha para a família.
Fig. C 13 - Amor de mae |
Fig. C 14 - Sorriso de mae |
Fig. C 50 - Ja se viu imagem mais bela da inocencia e candura? |
Nenhum comentário:
Postar um comentário