NOMES E APELIDOS
«Le nom - diz Foucart - (chez les anciens Eqyptiens comme chez nombre d'autres peuples), n'était (oú n'est) pas une simple désignation ... »
(Citado por P. Leo Bittremieux em «La Société Secrète des Bakhimba ou Mayombe»).
Podemos colocar muito bem entre o número de outros povos para os quais o nome não é uma simples designação os nossos Bakongo, Bauoio, Basundi, etc., etc.
A imposição, de facto, de um nome a um indígena - pelo menos já depois de crescido - representa, de certo modo, urna mudança de individualidade. E essa mudança dá-se com mais frequência do que se desejaria.
Não há missionário algum ou funcionário, a cargo de registos de indígenas, que não tenha encontrado a comprovação do que acima se afirma.
Foram baptizados ou registados com um nome de família ou o nome que as circunstâncias indicaram na altura do nascimento. Posteriormente outras circunstâncias - de ordem individual, familiar ou social - os levam (lhes impõem mesmo) a mudar de nome.
E, não raro, esquecem o que tinham antes, aquele com que foram baptizados ou inscritos no registo civil.
Segundo Van Wing - e explanado pelo B. Bittremieux- os elementos constitutivos do homem (na filosofia dos Bakongo, Bauoio, etc.), são:
a) o corpo com o sangue;
b) a alma (espiritual) princípio de vida e que reside no sangue;
c) o nfumu-nkutu - chefe da orelha - espécie de alma sensual que reside na orelha, faz funcionar o ouvido e a vista e pode divagar (durante o sono e a síncope);
d) o NOME. Este completa a individualidade humana. O nome parece ser a alma sensual, isto é uma espécie de «dualidade» e deve, pois, mudar sempre que haja como que mudança substancial do indivíduo .
( J. Van Wing, Etudes Bakongo, 2.a ed., Desclée de Brouwer, Bruxelles, 1959, pp. 289 e 376).
Creio bem que se notará esta mudança em alguns dos casos que irão aparecer.
A criança recebe, não havendo circunstâncias especiais que acompanhem o parto, o nome dos avós. Este parece-nos o princípio geral.
Temos, para o caso, um exemplo frisante. E até, para mais facilidade de comprovação, aparecem três filhos, sendo os dois primeiros do sexo masculino e o terceiro, do sexo feminino.
Baptizei, na aldeia do Fubu, junto ao Tando-Nzinze, no mesmo dia, essas três crianças irmãs.
O mais velho dos pequenos no baptismo tomou o nome de Lourenço e tinha, em família, o nome de NGUTU. Ficou a ser Lourenço NGUTU.
O segundo foi baptizado com o nome de Francisco. Em família tinha o de MADEKA Francisco MADEKA.
O terceiro, a menina, recebeu, no baptismo, o nome de Josefina e, em família, tinha o nome de MAMBU. Ficou Josefina MAMBU.
Pode notar-se, perfeitamente, o seguinte:
O mais velho tomou o nome do avô paterno;
O segundo, o do avô materno;
O terceiro, a menina, tomou o nome da avó paterna.
É esta, na verdade, a regra: tomam os nomes dos avós.
(Pode ser conferido o que aqui afirmamos pelos registos da Missão Católica do Lukula-Zenze, de 1944).
Há, porém, circunstâncias que acompanham o nascimento da criança ou afectam, posteriormente, a vida deles como que mudando-lhes a individualidade...
ALGUNS CASOS
Isabel LUFUA
Lufuá vem do verbo Fuá, Kufuá - morrer.
E porque deram o nome de LUFUÁ a esta pequena que, mais tarde, veio a ser baptizada com o nome de Isabel?
Por que nasceu tão em perigo de vida que todos diziam: «vai morrer».
Daí o dar-se-lhe o nome de Lufuá.
Faustino BUMUENIKO
BUMUENIKO, palavra composta de: BU (por ABU) - MUENE - e KO.
BU - Agora.
BUMUENIKO - (Até) Agora (ainda) não se viu.
Razão de tal nome? Foi tão difícil o parto, tão demorado que chegaram a perder as esperanças de verem a criança fora do ventre materno. E o pai dizia-me: «Foi mesmo mistério, mesmo milagre. Toda a gente julgar não ver mais o filho.»
KINZIMBUKILA
Nome que se dá a uma criança depois de a mãe ter vivido bastantes anos e sem ter filhos até ali.
Conhecemos uma boa velhota, na aldeia do Lusiese, com este nome.
Vem, o termo, do verbo Zimbukila - Aparecer - de repente, sem ser esperado. Ser surpreendido por...
LELO
Nome que recebe a criança que nasce depois da morte de vários de seus irmãos.
Vem da expressão: Lelo - Lelo, lukeba - Cautela, ter cuidado.
Ou do advérbio de modo Lelo - Apesar de tudo, desta vez.
Era, também, como que um aviso à família para que tivesse cuidado e «não fizesse feitiço» para que, «apesar de tudo», este não morresse.
MANTANDU
Está por MUNA-NTANDU - Na planície.
Criança que a mãe deu à luz fora de casa, no campo, na planície.
PELESO
Deturpação do nosso termo «Preso».
Criança nascida :estando o pai na cadeia, preso.
LISUKULULO
Nome que acaba por receber-e pode ser até o primogénito - o filho que ficou depois de todos os seus irmãos terem falecido.
Vem da expressão: Sukulula ou Sukula kinsamu - Falar, narrar o acontecido.
Espécie de aviso e de anúncio para que todos saibam que, apesar de hoje não ter mais filhos (ou de não ter agora outros irmãos), outras teve que morreram.
PINTASELIGO
Está por Pintassilgo. Foi dado este nome a uma criança que nasceu precisamente no momento em que o P. Pintassilgo passava na aldeia.
NTUTI
SONSA
Quando alguém passa muito tempo sem ler filhos, o primeiro que nasce toma o nome de SONSA.
Sonsa, Kusonsa - Falar, narrar.
Notar que há certa diferença entre Kinzimbukila e Sonsa.
No caso de Kinzimbukila quase se haviam perdido todas as esperanças, ou tinham mesmo sido perdidas. Aparece sem ser esperado.
No caso de SONSA não se haviam perdido as esperanças, ainda que a criança venha a nascer muito depois do casamento.
NSAFU ou NSELO
Não o fazendo, o filho que nasça destas relações (ilegais para eles) toma o nome de NSAFU ou NSELO (NSELO = bastardo, degenerado).
As pessoas presentes - e serão muitas ou mesmo todo o povo - gritava:
Oh!... NSAFU... NSAFU...
Para NSAFU encontram-se as significações seguintes:
NSAFU, nome dado à criança nascida fora das leis da decência!
A criança que ao nascer, ou mesmo depois, é levada ao curandeiro ou adivinho, toma o nome do Nkisi consultado.
Os mais comuns, neste caso, são:
Assim, se a criança vai ao nkisi Malonda, tomará este nome.
Se vai ao Umba, chamar-se-á UMBA.
E são bem comuns estes nomes.
Nomes dados aos Gémeos - Bana Bibaza ou Bana Basimba - e a superstição que os acompanha:
Os gémeos são tidos por filhos do Nkisi-Nsi. São Bana Babakisi - filhos do Nkisi.
Receberão, conforme o sexo, os seguintes nomes:
Se são dois rapazes - NHIMI e KUMBU.
Se são duas raparigas - NZUZI e SIMBA.
Um rapaz e uma rapariga - BAZA e SIMBA.
Uma rapariga e um rapaz - NZUZI e KUMBU.
Em Cabinda também aparece o nome de Baza dado a raparigas e o de Simba a rapazes.
Os gémeos são excepção em toda a parte. Para os Bakongo, Bauoio, etc., etc., são tidos por filhos do Nkisi-Nsi. Ora este, o Nkisi-Nsi, é essencialmente bom. Os Basimba também são bons e, até certo ponto, são uma benção.
Portanto, há que os considerar, fugir de os ofender, guardar-lhes respeito e não lhes recusar o que pedirem.
Os gémeos vivem muito unidos um ao outro. As vezes adoecem ao mesmo tempo e até podem morrer quase a seguir um ao outro.
Como se consegue ter gémeos?
É que há gémeos espíritos diferentes dos nascidos dos homens!
Os gémeos espíritos habitam nas lagoas e nos rios, regra geral nos pontos em que a água faz redemoinhos.
Há também alguns pequenos montes, raros, que são o seu habitat.
Ora estes gémeos espíritos, que vivem nos rios e lagoas, têm, debaixo da água, uma verdadeira aldeia onde nada lhes falta.
Cada gémeo vive dentro de uma caixa tendo a tampa a servir de porta.
Acontece que estes gémeos, como qualquer ser humano, podem simpatizar com qualquer ser mortal.
Assim farão os próprios gémeos, quando já crescidos, todas as vezes que passem pelas lagoas ou redemoinhos dos rios.
FUTI e NLANDO
Será o nome que recebe a criança que venha a nascer depois de um parto de gémeos. Dá-se um ou outro nome indiferentemente.
SUNDA ou ISUNDA
Nome que recebem - e são também tidos por Bana babakisi - os que nascem saindo primeiro as pernas.
É que «saltam» por cima de regra geral, que é de nascerem começando pela cabeça.
SUNDA, ISUNDA vem do verbo Kusunda = Saltar.
ALCUNHAS E APELIDOS
Raros são, entre os indígenas, os que não têm uma alcunha.
E o europeu não escapará a este «baptismo».
Quem viver entre os Cabindas - País de Cabinda - que procure saber a alcunha que lhe deram. Pode ser que leve tempo a sabê-la. Mas tem-na.
Muitas das alcunhas, senão a maioria, são tiradas dos belos provérbios que possuem.
Alguns exemplos
LIMANHA LIMBU = Pedra do mar.
Pedra do mar:
Só Deus a derrubará.
ILOLO KINTANDU
É a Anona das planícies (Annona arenaria, Thonn)
Contrariedades, quase perseguições não «queimaram» tal pessoa (que conhecemos, bem como a Limanha Limbu), Saiu delas com mais vigor e coragem.
FINGA NGO
Finga Ngo mu lutambi
Insultar o leopardo (por se lhe verem) as pègadas.
E se, em lugar de pègadas, fosse o próprio leopardo?
Faltariam pernas para fugir...
Finga Ngo é o nome que se dá ao que critica o superior na ausência, pelas costas. Que de frente nada diz. Que é cobarde.
BIPALA SISI
Apelido dado à pessoa que de nada tem medo.
LUVALI
É o esquilo. Aplica-se a pessoa esperta e que com nada se atrapalha.
DUKULA
Do verbo Dukula - Verter, derramar.
Pessoa que fala muito, que passa o tempo a «verter» palavras pela boca fora, mas de poucas obras.
KUNDUMBILI
Carraça.
Pessoa agarrada a suas ideias e que não volta atrás nos trabalhos encetados e ordens dadas.
KUANGA NSOLO
O que corta o caminho. Dado aos que têm uni caminhar marcial, batido, como quem marca ou corta o caminho por onde passa.
NKOKO NDIBU
O tantã dos surdos... Indivíduo que fala tão alto que até os surdos ouvem!
Não nos queremos alongar mais neste capítulo.
Tudo o que aí fica é do nosso conhecimento directo e, no que diz respeito a costumes e tradição, colhido da boca dos «velhos».
Os nomes, apelidos, alcunhas são todos de pessoas que connosco contactaram.
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