6 CABINDAS HISTORIA - CRENÇAS - USOS E COSTUMES: TOMO VI

OS BASUNDI EM TERRAS DE KAKONGO



Estes «nossos» Basundi, no dizer do P. Bittrernieux, são, antes, um Sub-clã, uma ramificação dos de Mboma.

«Généologiquement ils sont tous Bakongo, depuis S. Salvador et au delá jusque vers l'Alima, depuis l'Océan jusque Léo plutot jusqu'aux Batege et aux abords du Pool (Phumbu) et du Kasayi.
Qu'ils se nomment Bakongo, Bambata, Bayornbe, Baluangu, etc., etc.
Les Basundi ne sont pas une race à part, mais une branche de Mboma ... »

(De uma carta do P. Bittremieux ao autor , 1945).

Na história dos primeiros Reis do Congo (D. João I, D. Afonso I) fala-se muito na província de Sundi, a nordeste de Mbanza Kongo (S. Salvador).

Essa província, tornada mais tarde num ducado, era confiada ao príncipe herdeiro da coroa do Congo.

O que veio a ser D. Afonso I, do Congo, e que levou o Sundi a ducado, quando Rei, havia sido o Mani Sundi, o Senhor do Sundi.

Os seus habitantes dever-se-iam chamar Basundi.

Algum ramo destes Basundi, a quando da emigração das terras de S. Salvador, então Mbanza Kongo, teria passado para a margem direita do Zaire dando a descendência aos «nossos» Basundi?

Cremos bem que sim, posto que o P. Bittrernieux, bem maior autoridade, diga que são um ramo de Mboma.

Não há conhecimento de Basundi em terras de Kakongo antes de 1900 -1901. Viviam do outro lado do rio Lukula no, então, já Congo Belga.
Os Missionários do Espírito Santo fundaram, em 1893, a Missão do Lukula-Zenze.
Por 1900, a doença do sono grassou entre os Bakongo que viviam à volta da Missão. Dizimou a população, reduzindo-a ao mínimo. As aldeias quase se mudaram para os... cemitérios. Junto à Missão mui poucos Bakongo ficaram.

Povoar novamente aquela terra necessário se tornava. Do outro lado do rio Lukula havia bastante gente: os Basundi. Não eram muito bem quistos e as melhores terras eram para os «donos».

A Missão tinha que ter gente para educar e ensinar e, não haja dúvida, para evangelizar.

Os nossos padres começaram por captar a simpatia dos «bafumu-babuala», dos chefes de aldeia. Procuraram alunos para a catequese e para a escola e internato, vestindo-os, alimentando-os e educando-os gratuitamente.

Acabou por se conseguir que os donos de Kakongo dessem terras aos Basundi para que pudessem vir para o nosso lado.

E assim se fez.

O Superior da Missão do Lukula que tanto trabalhou nesse sentido foi o P. Biech. Ainda hoje anda na memória das gentes, passando o seu nome de pais a filhos. Mas ainda há gente viva baptizada por ele. São bons velhos.

Foi o P. Biech quem deu aos Basundi, vindos do outro lado da fronteira, as sementes (de milho, de feijão, paus de mandioca) para as primeiras plantações.

As gentes ficaram-lhe gratas. Em sinal de gratidão, comprometeram-se a dar à Missão uma pata traseira de cada animal abatido na caça. O uso ainda estava de pé quando lá cheguei, em 1941, e pelos anos seguintes.

O P. Biech veio a falecer na Europa a 20 de Maio de 1910.

Foi o Mansasa de Kakongo quem, com o P. Biech, andou a demarcar os terrenos para cada um dos chefes Basundi que vieram fixar-se em terras de Kakongo em Cabinda.

O Mansasa desse tempo 1900 - era Vito Tempo. Em 1941, quando o conheci e tudo isto me contou, com o nome das terras concedidas e mais o dos chefes Basundi, passava bom dos 60 anos.

Fig. P 17 - O Mansasa Vito Tembo com um colar de dentes de leopardo


Disse-me que essa repartição de terras havia sido em 11 de Janeiro de 1901.
 

    Os nomes desses chefes e das terras que tomaram:

1. - Madundo-Manduta, ocupou o Kinsiaku-Bantu.
2. - Matuda, tomou o Kinsuá-Kinfumu.
3. - Mpadi, no Bonde-Kakongo.
4. - Nguli-Nsungu, em parte do mesmo Bonde.
5. - Alberto Nfuka, numa parte de Makanga-Kakongo.
6. - Lingues Mateki, ficou junto ao Limanu, margem esquerda do Kiluango.
7. - Liluala, ocupou uma outra parte de Makanga-Kakongo.

Não me lembro de ter visto o Madundo-Manduta e nem o Nguli-Nsungu.

Conheci e estive em suas aldeias com todos os outros chefes Basundi.

Também nas aldeias de Uângulo, Kiobo, parte de Santo Eugénio, aldeia de S. João, aldeia de S. Miguel, parte do Fubu - tudo pertencente à Missão Católica do Lukula - se vieram fixar gentes Basundi.

E mais ainda no Kindende, Kai-Kongo e parte do Kakata.

Pode afirmar-se, sem perigo de grande erro, que a população da Missão Católica do Lukula, em 1941 e anos seguintes, era formada, no mínimo, por 80% de povos Basundi vindos do Congo ex-Belga.

Foi baseado nestes dados e nesta percentagem de população emigrada do Congo vizinho que o autor conseguiu do Sr. Governador Geral, Agapito da Silva Carvalho, em 1947- 48, uma boa Escola e um óptimo Posto Sanitário.
 

 Vamos voltar ao nosso Mansasa.

  A lista dos Mansasas fornecida pelo Víto Tembo:

1. - Mansasa Mue Nfuti
2. - Mansasa Bandamina llu
3. - Mansasa Mue Nlandi
4. - Mansasa Mue Ntebo
5. - Mansasa Mue Vala
6. - Mansasa lTembo (o Vito Tembo, em anos seguintes).

Os Mansasas, em tempos passados, também eram senhores da faca Mbele Lulendo (Kulenda = Odiar, detestar) - a que outros chamam Mbele Lusimbu (de Kusimba = Segurar, ter em mão) - que passava de descendente para descendente e que servia nas sentenças capitais.

Esta faca, disse-nos o Mansasa Vito Tembo, foi enterrada com todas as coisas do Mansasa Mue Ntebo, visto o sobrinho que lhe sucedera ser ainda muito pequeno para receber tal herança.
 

        Insígnias do Mansasa:

O «Ngundu» - espécie de barrete que, outrora, era confeccionado com fibra da folha do ananás.

Também uma «Kinzemba» - espécie de murça, romeira.

Uma pele de «Kingolo Kinhundu».
9 dentes de Nkose (meno mankose=dentes de leão).
9 dentes de Ngo (meno mangó=dentes de leopardo).

A descrição do leão feita por Vito Tembo: «um animal muito grande, que comia gente e que tinha uns olhos que davam luz como a de um holofote, Mas agora não há cá.»
Não consta que em terras do País de Cabinda tivesse havido leões.
 

   Segundo Vito Tembo, as autoridades de Kakongo eram as seguintes:

1. - O Rei, o Kapita (uma vez que deixou de haver Makongos).
2. -  O Mansasa. Segundo Vito Tembo era como que um Vice-Rei, Vice-Kapita.
3. - Makaía (Makaia-Mansi) - Era o encarregado de ver as questões que havia nos povos e levá-las ao arbítrio do Kapita.
4. - Mambuku - 0 que recebia as ordens do rei, do Kapita, e as publicava.
5. - Ngovo - Nome dado ao primeiro filho da mulher favorita do Kapita. Era encarregado da fiscalização da pesca. Tomava o peixe necessário para o Rei e distribuía o mais pelos pescadores.
6. - O Nkotokuanda - O orador e advogado nas grandes festas e grandes «fundações», julgamentos
7. - Mankaka - Encarregado de manter a ordem e da aplicação das sentenças. Era chefe de polícia e carrasco ao mesmo tempo.

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