3 CABINDAS HISTORIA - CRENÇAS - USOS E COSTUMES: TOMO III


 

CAPITULO III
 

O ENSINO NO PAíS DE CABINDA

Ninguém desconhece que o ensino, especialmente o primário e da língua portuguesa, de começo, o tomaram sempre a seu cargo as Missões Católicas, uma vez instaladas nas terras descobertas e conquistadas para Portugal.

Eram os próprios missionários e seus auxiliares, ou pessoal por eles angariado, quem o administrava. E isto em toda a parte.

Mas a oficialização do ensino nunca impediu os missionários de continuarem a leccionar nas suas escolas. Antes pelo contrário.

Nas terras do País de Cabinda o ensino também aparece com as Missões.

E pode bem dizer-se que as primeiras escolas foram as delas.

Reportando-nos só ao século XIX, a primeira Missão, a de Lândana, é fundada oficialmente em 25 de Julho de 1873. Pois, o cuidado dos missionários, logo que conseguem as primeiras instalações, é o de procurar alunos. E até alunos internos. E tendo-os, não descuram a sua educação e ensino.

E bem digno de nota é o facto de, a 20 de Outubro de 1879 - somente seis anos depois da fundação - com 15 alunos, abrir um pequeno Seminário em Lândana onde, em anos posteriores, se começa a leccionar também a filosofia e teologia.

O primeiro sacerdote vem a ser um mestiço, filho de um francês que trabalhava em Lândana. Foi ordenado a 17 de Dezembro de 1892 e chamava-se Luís Goulert. Faleceu cedo: a 2 de Janeiro de 1895 e jaz sepultado no cemitério de Lândana.

De 1936 a 1947 este Seminário passa a funcionar na Missão Católica do Lukula-Zenze. É da  leva de alunos passados de Lândana para o Lukula que saiu o actual Bispo Auxiliar de Luanda, Dom Eduardo André Muaca.

A partir de 1947 este mesmo Seminário tem estado a funcionar ao lado da Missão Católica de Cabinda.

Na Arquidiocese de Luanda, até ao presente, foram as gentes do País de Cabinda quem mais sacerdotes deu à Igreja.

Mas sempre, desde que tivemos missionários portugueses - e até estrangeiros - a par do ensino da moral e religião cristãs se ensinavam os rudimentos da língua pátria e de mais matérias ligadas ao ensino primário.

Os catequistas, considerados muitas vezes e justamente «a menina dos olhos» dos missionários, ao lado do ensino da catequese, foram levados a ensinar nos seus postos, quase sempre as suas próprias aldeias, os rudimentos da língua-mãe usando-se, de começo, a «Cartilha Maternal» de João de Deus.

Esses catequistas eram, por princípio, escolhidos de entre os alunos ou ex-alunos dos internatos das Missões. Estavam mais ou menos preparados para esse simples e rudimentar ensino e assim eram o que se tinha de melhor, posto que não a perfeição desejada.

Os dois primeiros professores oficiais, no País de Cabinda, foram irmãos auxiliares: Irmão Gervásio Dantas e Irmão Evaristo Campos, espiritanos.


Fig. P 11 - Irmão Evaristo Campos,1' Prof. oficial de Cabinda


Fig. P 12 - Irmão Gervásio Dantas, 1' Prof. oficial de Landana


Com a criação do Distrito do Congo, com sede em Cabinda, depois da Conferência de Berlim em 1885, foi fundada uma paróquia em Cabinda e outra em Lândana. Os respectivos párocos deveriam exercer igualmente o professorado primário. Mas nunca foram nomeados os párocos. Por isso não havia quem exercesse oficialmente o ensino primário.

Em 1885 dentro do actual País de Cabinda só existia ainda a Missão de Lândana. Cabinda veio a ser fundada em 1891 (8 de Dezembro).

Em Lândana, na Missão, era professor o Irmão Gervásio Dantas desde que ali chegou em 1889. Já havia sido professor na Escola Agrícola de Sintra, dos Padres do Espírito Santo.

Para Cabinda, onde chegou a 11 de Junho de 1894, veio o Irmão Evaristo Campos. Encarregou-se logo do ensino escolar. Também havia sido professor na Escola Agrícola de Sintra.

Continuando ,a não haver pároco em Cabinda e nem em Lândana e, pelo facto mesmo, não havendo professores oficiais, os Irmãos Gervásio e Evaristo, em 17 de Setembro de 1895, são nomeados professores oficiais respectivamente de Lândana e Cabinda.

Só em 1922 veio a ser criada, em Cabinda, uma escola municipal. Nessa altura o Irmão Evaristo deixa o ensino oficial mas continua a leccionar na Missão até 1942.

O Irmão Gervásio, tendo também deixado o ensino oficial, continua, até 1936, a ensinar na Missão e no Seminário.

Estes valentes obreiros da causa de Deus e da Pátria, a quem Lândana e Cabinda tanto devem, faleceram:

- Irmão Gervásio Dantas, a 28 de Maio de 1949, com 80 anos de idade e 60 de Residência no País de Cabinda;

Irmão Evaristo Campos, a 23 de Novembro de 1970, com 98 anos de idade e 75 de Cabinda.

Mas também se ensinavam nas Missões artes e ofícios.

Os melhores carpinteiros, pedreiros, trolhas, etc., etc., eram os saídos das Missões. Os pedreiros que aprenderam e ajudaram o Irmão Ludwig (alemão) a construir as Igrejas do Lukula e de Cabinda e outras obras, a si mesmos se apelidavam -e eu o ouvi várias vezes -, por terem tido tal mestre, «pedreiros de primeira.»

Bons mecânicos (aprendizes do saudoso Irmão Cosme, também alemão), tipógrafos e encadernadores só na Missão de Lândana, durante longos períodos, se encontravam.

Até os bons criados para mesa os europeus os escolhiam entre os ex-alunos das Missões.

A melhor recomendação que um nativo podia fazer de si mesmo e de suas possibilidades e qualidades de trabalho era dizer que esteve, que foi aluno, que aprendeu na Missão.

A este respeito é bem sugestiva a inscrição que se pode ler no artístico túmulo do dito Rei Makongo, à entrada da aldeia de Bumelambuto:


Cf. Fig. P 13 - Promenor do tumulo de um Makongo com os dizeres


«FEITO POR JOÃO BAPTISTA FRANQUE DO CAIO APRENDEU NA MISSÃO CATÓLICA DE CABINDA»

Criada uma ou outra escola primária nos meios de maior população, v.g. Cabinda, Lândana, Buku-Nzau - até algumas em empresas particulares como a Companhia de Cabinda, Forte Faria & Irmão, Lda. - o ensino nunca diminuiu nas escolas das Missões, escolas masculinas e femininas.

A par das Missões masculinas dos Padres do Espírito Santo é justo lembrar as das Irmãs de S. José de Cluny, em Lândana e Cabinda, que com o mesmo ardor de sempre dispensam a suas alunas internas e externas o ensino da catequese, ensino escolar e de labores.

Mas o actual panorama do ensino no País de Cabinda é verdadeiramente surpreendente. Todo o ensino está oficializado, mesmo o das Missões.

Os dados e alguns números que vamos apresentar, e que são oficiais, dispensam todos os comentários.

No Ensino Primário:

 Escolas Primárias  .......................... 13

 Postos de Ensino  167

 Professores e outros Agentes de Ensino  ...... 422

 Alunos matriculados no ano escolar 1970/71  14.026

Só o ensino escolar primário custa ao Estado, em Cabinda, mensalmente o melhor de 1.400 a 1.500 contos.

Outros estabelecimentos de ensino:

Liceu Nacional Guilherme Capelo (Cabinda)

Escola Industrial e Comercial Silvério Marques (Cabinda)

Escola Preparatória Barão Puna (Cabinda)

Escola de Professores de Posto João Tiroa (Cabinda)

Escola Elementar Profissional de Artes e Ofícios Américo Mendóça Frazão (Cabinda) Escola Elementar Profissional de Artes e Ofícios António Fernandes Júnior (Buku-Nzau)

Escola Elementar Profissional de Artes e Ofícios D. Maria Helena Tiroa (Beira-a-Nova)

Escola Elementar Profissional de Artes e Ofícios do Nkuto.

Juntar a tudo isto o belo, magnífico Lar do Estudante de Cabinda.

Proporcionalmente não se deve encontrar em parte alguma da Província maior surto no ensino! Não se trata só de edifícios, mas de edifícios repletos de alunos.

Todo este incremento e impulso dado ao ensino em Cabinda, é justíssimo afirmarse, deve-se ao Secretário Provincial de Educação - actualmente Inspector Superior de Educação do Ultramar - Ex.mo Senhor Doutor José Pinheiro da Silva.

E mais se fez ou se pôde fazer nestes últimos anos do que, digamos sem ofensa para ninguém, em muitíssimos anos anteriores.

Se as terras de Cabinda puderam beneficiar, possivelmente, um pouco mais do que outras, não se pode atribuir somente ao facto do Senhor Doutor José Pinheiro da Silva ser um digno filho das sonhadoras terras de Cabinda. Não. É que Cabinda é uma terra à parte.

As gentes de Cabinda são gentes diferentes e com uma capacidade receptiva dificilmente igualada por outros povos Africanos.

Estes três primeiros capítulos, com assuntos de carácter histórico, foram vistos e corrigidos pelo Senhor Padre António Brásio.
 

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