domingo, 3 de agosto de 2025

GRUPO DA DIÁSPORA IORUBA SE OPÕE AO PROJETO DE LEI DO CONSELHO DE GOVERNANTES TRADICIONAIS

 

 Por Uche Usim 

Uma organização pan-ioruba sediada no Reino Unido, a Oyo Alaafin na Diáspora (OAD), solicitou a retirada imediata ou uma reformulação fundamental do projeto de lei do Senado que visa estabelecer um Conselho Nacional de Governantes Tradicionais.

Em uma declaração do Secretário da OAD, Afolabi Paul, a organização observou que o projeto de lei designava o Sultão de Sokoto e o Ooni de Ifé como co-presidentes permanentes do Conselho proposto, uma disposição que o grupo descreveu como etnicamente tendenciosa, historicamente enganosa e constitucionalmente indefensável.

O grupo acusou o projeto de lei de promover dois monarcas de grupos étnicos específicos (Fulani e Ioruba), enquanto marginaliza outras grandes civilizações nigerianas, como os Haussa, Igbo, Kanuri, Tiv e outros. Argumentou que a legislação proposta não promove a unidade em um sistema federal de governança e arrisca aprofundar divisões étnicas em vez de promover a coesão nacional.

No centro da objeção da OAD está a afirmação de que o Ooni de Ifé não pode representar legitimamente o povo ioruba em detrimento do Alaafin de Oyo, que, segundo ela, é há muito considerado o líder histórico e político da terra ioruba.

O projeto de lei atual não apenas exclui outras grandes nacionalidades étnicas, como também distorce a hierarquia histórica dentro da própria Yorubalândia.

"Qualquer estrutura de liderança tradicional nacional deve ser fundamentada em legitimidade histórica documentada, equidade étnica, caráter federal e diálogo inclusivo, não em favoritismo político ou proeminência nas mídias sociais", disse Paul.

A posição da OAD baseia-se em uma extensa coleção de registros coloniais, tratados, diários governamentais e trabalhos acadêmicos, que, segundo ela, afirmam de forma esmagadora a supremacia dos Alaafin sobre os assuntos iorubas. O grupo citou os memorandos políticos de Lord Frederick Lugard de 1917, que designavam explicitamente o Alaafin como "Chefe dos Reis Iorubas", e citou historiadores proeminentes, incluindo os professores Toyin Falola e Banji Akintoye, que descreveram a pesquisa e as classificações de Lugard como confiáveis.

O grupo também destacou tratados assinados entre 1881 e 1893, nos quais o Alaafin era o signatário exclusivo representando a Terra Ioruba em acordos com a Coroa Britânica, declarou o grupo, observando a ausência do Ooni de Ifé nesses documentos fundamentais:

"O tratado de 1881 nomeia especificamente Alaafin Adeyemi I como Rei da Terra Ioruba" ...

O grupo citou ainda um Relatório de Inteligência Colonial desclassificado de 1897, do Capitão R.L. Bower, que declarou:

"O Alaafin continua sendo a autoridade política suprema sobre todos os reinos iorubas, com o Ooni desempenhando principalmente funções espirituais".

Para reforçar suas alegações, a OAD apresentou um memorando colonial de 1938 detalhando os salários anuais dos governantes iorubas, o que, segundo ela, era uma indicação clara da hierarquia reconhecida pelos britânicos. Segundo o grupo, o Alaafin recebia £ 4.200 o valor mais alto entre os governantes iorubas e comparável a emires proeminentes do Norte, enquanto o Ooni recebia £ 1.440, um valor equivalente ao de chefes de distrito, como o Baale de Ibadan.

A organização também relembrou um precedente legal de 1991, quando o Alaafin Lamidi Adeyemi III contestou uma tentativa do Ooni Olubuse II de conferir o título de "Akinrogun da Terra Ioruba" ao Chefe Tom Ikimi. O Governo Militar do Estado de Oyo apoiou o Alaafin, decidindo que o poder de conferir títulos pan-ioruba era de “jurisdição tradicional exclusiva do Alaafin”. Citando o princípio legal Nemo dat quod non habet (não se pode dar o que não se tem), o governo afirmou que somente o Alaafin possui essa autoridade sobre tratados e decretos coloniais, explicou o OAD.

O grupo também observou que Alaafin Siyanbola Ladigbolu II presidiu o Conselho Estadual Ocidental de Obas entre 1960 e 1965, com o Ooni de Ifé servindo como membro, e que o arranjo foi restabelecido em 1976 sem protestos. Atribuiu mudanças posteriores nessa hierarquia estabelecida a intervenções políticas na década de 1950, incluindo a deposição e morte do Alaafin Adeyemi II após um confronto com o Chefe Bode Thomas, bem como à proeminência política de Ooni Aderemi como governador da Região Ocidental.

O grupo foi além, fazendo referência à correspondência real da Coroa Britânica, incluindo a mensagem de aniversário da Rainha Elizabeth II em 1953, que se dirigiu ao Alaafin Ladigbolu I como "Alaafin de Oyo, Rei e Chefe da Terra Ioruba", uma formulação usada consistentemente durante todo o período colonial. O historiador David Pratten acrescentou e documentou que:

“o Império de Oyo mantinha um formidável exército permanente, em contraste com a dependência de Ifé como estado vassalo de Oyo”.

Invocando o alerta do falecido Alaafin Adeyemi III que:

"a história não pode ser reescrita para se adequar a conveniências temporárias e devemos distinguir entre arranjos políticos temporários e verdades históricas duradouras",

o OAD solicitou ao Senado que revogasse o projeto de lei ou o revisasse radicalmente:

“Pedimos um processo guiado pelos princípios de equidade étnica, legitimidade histórica baseada em registros verificáveis, tratados, boletins informativos, documentação colonial e verdadeiro caráter federal", concluiu o grupo.

"Nenhum monarca pode ou deve alegar representar regiões inteiras, ou a diversidade de religiões na Nigéria. A estrutura deve ser inclusiva e refletir as verdades históricas documentadas das diversas civilizações da Nigéria."

O desafio do grupo injeta estudos históricos complexos em um debate político já delicado, destacando a influência duradoura das instituições tradicionais na Nigéria e as narrativas contestadas em torno do passado do país.

O Senado ainda não se pronunciou formalmente.

 

https://thesun.ng/yoruba-diaspora-group-opposes-traditional-rulers-council-bill/


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Transcrição, tradução e adaptação:

Luiz L. Marins – https://uiclap.bio/luizlmarins

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