Odé
Pierre Verger, em seu livro Òrìṣà, diz que o culto de Ọ̀ṣọ́si foi praticamente extinto na região de Ketu, na Iorubalândia, uma vez que a maioria de seus sacerdotes foram escravizados, tendo sido enviados à força para o Novo Mundo ou mortos.
Aqueles que permaneceram em Ketu deixaram de cultuá-lo por não se lembrarem mais como realizar os ritos apropriados ou por passarem a cultuar outras divindades.
Durante a diáspora negra, muitos escravos que cultuavam Ọ̀ṣọ́si não sobreviveram aos rigores do tráfico negreiro e do cativeiro, mas, ainda assim, o culto foi preservado no Brasil e em Cuba pelos sacerdotes sobreviventes e Ọ̀ṣọ́si se transformou, no Brasil, num dos Òrìṣà mais populares, tanto no candomblé, onde se tornou o rei da nação Ketu, quanto na umbanda, onde é patrono da linha dos caboclos, uma das mais ativas da religião.
Seu habitat é a floresta, sendo simbolizado pela cor verde, na umbanda e recebendo a cor azul clara no candomblé de ketu, verde escuro para alguns angolanos e azul escuro com branco para o povo nagô. Sendo assim, roupas, guias e contas costumam ser confeccionadas nessas cores, incluindo, entre as guias e contas, no caso de Ọ̀ṣọ́si e, também, seus caboclos, elementos que recordem a floresta, tais como penas e sementes (Umbanda).
Seus instrumentos de culto são o ofá (arco e flecha), lanças, facas e demais objetos de caça. É um caçador tão habilidoso que costuma ser homenageado com o epíteto "o caçador de uma flecha só", pois atinge o seu alvo no primeiro e único disparo tamanha a precisão. Conta à lenda que um pássaro maligno ameaçava a aldeia e Ọ̀ṣọ́si era caçador, como outros. Ele só tinha uma flecha para matar o pássaro e não podia errar. Todos os outros já haviam errado o alvo. Ele não errou, e salvou a aldeia. Daí o epíteto "o caçador de uma flecha só".
Aqueles que permaneceram em Ketu deixaram de cultuá-lo por não se lembrarem mais como realizar os ritos apropriados ou por passarem a cultuar outras divindades.
Durante a diáspora negra, muitos escravos que cultuavam Ọ̀ṣọ́si não sobreviveram aos rigores do tráfico negreiro e do cativeiro, mas, ainda assim, o culto foi preservado no Brasil e em Cuba pelos sacerdotes sobreviventes e Ọ̀ṣọ́si se transformou, no Brasil, num dos Òrìṣà mais populares, tanto no candomblé, onde se tornou o rei da nação Ketu, quanto na umbanda, onde é patrono da linha dos caboclos, uma das mais ativas da religião.
Seu habitat é a floresta, sendo simbolizado pela cor verde, na umbanda e recebendo a cor azul clara no candomblé de ketu, verde escuro para alguns angolanos e azul escuro com branco para o povo nagô. Sendo assim, roupas, guias e contas costumam ser confeccionadas nessas cores, incluindo, entre as guias e contas, no caso de Ọ̀ṣọ́si e, também, seus caboclos, elementos que recordem a floresta, tais como penas e sementes (Umbanda).
Seus instrumentos de culto são o ofá (arco e flecha), lanças, facas e demais objetos de caça. É um caçador tão habilidoso que costuma ser homenageado com o epíteto "o caçador de uma flecha só", pois atinge o seu alvo no primeiro e único disparo tamanha a precisão. Conta à lenda que um pássaro maligno ameaçava a aldeia e Ọ̀ṣọ́si era caçador, como outros. Ele só tinha uma flecha para matar o pássaro e não podia errar. Todos os outros já haviam errado o alvo. Ele não errou, e salvou a aldeia. Daí o epíteto "o caçador de uma flecha só".
Odé e Otim
No Nagô, estes dois Orixás são cultuados juntos. São os protetores das matas e dos animais silvestres e selvagens. Os filhos de Otim são quase inexistentes, pois na Mitologia, Otim não teve filhos na terra, dando assim as cabeças dos filhos para Odé. Com o passar dos tempos já se nota a existência de filhos de Otim, caso raro e absurdo para muitos Pais-de-Santo. Não se sacrifica para um sem dar para o outro, os animais são os mesmos, mudando apenas o sexo.
Otim, usa capanga e lança. Sempre representada com o jarro de água na cabeça, pois alem de ser guerreira também cuida das plantações.
Saudação: Okebambo
Dia da Semana: Sexta-feira, pois é o dia da Iemanjá, que é mãe de Odé
Número: 07 e seus múltiplos
Cor: Azul marinho e branco para Odé e Azul marinho e rosa para Otim
Guia: 01 conta azul, 01 conta branca, 01 conta azul para Odé
01 conta rosa, 01 conta azul, 01 conta rosa para Otim
Oferenda: Odé - Costela de Porco e feijão miúdo, Otim - Chuleta de Porco e feijão miúdo
Sete folhas mais usadas para Òṣòssi: Ewê odé, Akoko, Odé akoxu, Etítáré, Iteté, Igbá ajá, Bujê
Alguns Oriṣás que pesquisamos:
Odé wawa = Vem da origem dos Òriṣás caçadores. (azulão com branco)
Odé Walè = É velho e usa contas azuis escuro. É considerado como rei na África, pois, seu culto é ligado, diretamente, a pantera. É muito severo, austero, solteirão e não gosta das mulheres, pois, as acha chatas, falam demais, são vaidosas e fracas. (azulão com branco)
Odé Oseewe ou Ygbo = É o senhor da floresta, ligado as folhas e a òṣónyín, com quem vive nas matas. (azulão com branco)
Odé Inlé = o filho querido de oṣala e yemanjá, o caçador de elefantes. (azulão com branco)
Ode tókúeran = O caçador é quem mata a caça, diz-se da atuação do caçador. (azulão com branco)
Alguns Oriṣás Otim cultuados entre os templo do segmento Nàgó’Kọbi:
Otim Malé = esposa de Odé (lilás com azul claro)
Otim Bolá = outra esposa de Odé (lilás com azul claro)
Ferramentas: Arco e flecha, funda, bodoque, moedas e búzios
Ave: aves malhadas varias cores
Quatro pé: Casal de porco
Ode o m'óta! (Odé voce rende os inimigos)
Otìn bò rò Ode (Otin vem ajduar odé)
Lenda de Odé;
A cada ano, após a colheita, o rei de Ijexá saudava a abundância de alimentos com uma festa, oferecendo à população inhame, milho e coco.
O rei comemorava com sua família e seus súditos; só as feiticeiras não eram convidadas. Furiosas com a desconsideração enviaram à festa um pássaro gigante que pousou no teto do palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada. O rei mandou chamar os melhores caçadores da cidade. O primeiro tinha vinte flechas. Ele lançou todas elas, mas nenhuma acertou o grande pássaro. Então o rei aborreceu-se, mas mandou-o embora. Um segundo caçador se apresentou este com quarenta flechas; o fato repetiu-se novamente e o rei mandou prende-lo. Bem próximo dali vivia Òṣòssi, um jovem que costumava caçar à noite, antes do sol nascer; ele usava apenas uma flecha vermelha.
O rei mandou chamá-lo para dar fim ao pássaro. Sabendo da punição imposta aos outros caçadores, a mão de Ọ̀ṣọ́si, temendo pela vida do filho, consultou um babalaô e os obis mostraram que, se fosse feita uma oferenda para as feiticeiras, ele teria sucesso. A oferenda consistia em sacrificar uma galinha. Nesse exato momento, Ọ̀ṣọ́si deveria atirar sua única flecha. E assim o fez, acertando o pássaro bem no peito. O rei, agradecido pelo feito, deu ao caçador metade de sua riqueza e a cidade de Keto, “terra dos panos vermelhos”, onde Ọ̀ṣọ́si governou até a sua morte, tornando-se depois um Òrìṣà.
A cada ano, após a colheita, o rei de Ijexá saudava a abundância de alimentos com uma festa, oferecendo à população inhame, milho e coco.
O rei comemorava com sua família e seus súditos; só as feiticeiras não eram convidadas. Furiosas com a desconsideração enviaram à festa um pássaro gigante que pousou no teto do palácio, encobrindo-o e impedindo que a cerimônia fosse realizada. O rei mandou chamar os melhores caçadores da cidade. O primeiro tinha vinte flechas. Ele lançou todas elas, mas nenhuma acertou o grande pássaro. Então o rei aborreceu-se, mas mandou-o embora. Um segundo caçador se apresentou este com quarenta flechas; o fato repetiu-se novamente e o rei mandou prende-lo. Bem próximo dali vivia Òṣòssi, um jovem que costumava caçar à noite, antes do sol nascer; ele usava apenas uma flecha vermelha.
O rei mandou chamá-lo para dar fim ao pássaro. Sabendo da punição imposta aos outros caçadores, a mão de Ọ̀ṣọ́si, temendo pela vida do filho, consultou um babalaô e os obis mostraram que, se fosse feita uma oferenda para as feiticeiras, ele teria sucesso. A oferenda consistia em sacrificar uma galinha. Nesse exato momento, Ọ̀ṣọ́si deveria atirar sua única flecha. E assim o fez, acertando o pássaro bem no peito. O rei, agradecido pelo feito, deu ao caçador metade de sua riqueza e a cidade de Keto, “terra dos panos vermelhos”, onde Ọ̀ṣọ́si governou até a sua morte, tornando-se depois um Òrìṣà.
Ọ̀ṣọ́si mata o pássaro das feiticeiras
Todos os anos, para comemorar a colheita dos inhames, o rei de Ifé oferecia aos súditos uma grande festa. Naquele ano, a cerimônia transcorria normalmente, quando um pássaro de grandes asas pousou no telhado do palácio. O pássaro era monstruoso e aterrador. O povo, assustado, perguntava sobre sua origem.
A ave fora enviada pelas feiticeiras, a Ìyàmì-Òṣòróngà, nossas mães feiticeiras ofendidas por não terem sido convidadas. O pássaro ameaçava o desenrolar das comemorações, o povo corria atemorizado. E o rei chamou os melhores caçadores do reino para abater a ave grande.
De Ido, veio Òṣòtógum com suas vinte flechas.
De More, veio Oṣotogi com suas quarenta flechas.
De Ilarê, veio O Òṣòtógum otadotá com suas cinqüenta flechas.
Prometeram ao rei acabar com o perverso bicho, ou perderiam suas próprias vidas. Nada conseguiram, entretanto, as três odes. Gastaram suas flechas e fracassaram. Foram presos por ordem do rei.
Finalmente, de Irem, veio Oṣotocanṣoṣò, o caçador de uma só flecha. Se fracassasse, seria executado junto com os que o antecederam. Temendo a vida do filho, a mãe do caçador foi ao babaláwo e ele recomendou à mãe desesperada fazer um Ẹbọ que agradasse as feiticeiras. A mãe de Oṣotocanṣoṣò sacrificou então uma galinha. Nesse momento, Oṣotocanṣoṣò tomou o seu ofá, seu arco, apontou atentamente e disparou sua única flecha. E matou a terrível ave perniciosa. O sacrifício havia sido aceito. As Ìyàmì-Òṣòróngà estavam apaziguadas. O caçador recebeu honrarias e metade das riquezas do reino. Os caçadores presos foram libertados e todos festejaram.
Todos cantaram em louvor a Oṣotocanṣoṣò. O caçador ficou muito popular. Cantavam em sua honra, chamando-o de Òṣòssi, que na língua do lugar que dizer “O guardião é Popular”. Desde então Ọ̀ṣọ́si é o seu nome.
Odé desrespeita proibição ritual e morre
Naquele dia a caça era proibida, ninguém podia trabalhar, era dia de ir à casa de Ifá levar as oferendas, mas Odé queria caçar, como fazia todo dia.
Odé não se importou com o interdito, Odé não foi consultar o adivinho, Odé tranqüilamente foi caçar, seguiu o caminho da floresta.
Ọ̀ṣún, sua esposa, cansada de ver o marido quebrar os sagrados tabus, abandonou a casa e o esposo. Caminhando pela mata, Odé escutou um canto que dizia: "Eu não sou passarinho para ser morta por ti..." Era o canto de uma serpente, era Ọ̀ṣumare.
Odé não se importou com o canto e atravessou a cobra com a lança, partindo-a em vários pedaços, tomou o caminho de sua casa e, no percurso, continuou escutando o mesmo canto: "Eu não sou passarinho para ser morta por ti..."
Ao chegar a casa, Odé foi para a cozinha, preparou uma iguaria com o fruto de sua caça e comeu a saborosa comida imediatamente. Pela manhã Ọ̀ṣún retornou a casa para ver como estava o caçador, para seu espanto, encontrou morto o seu Odé.
Odé estava morto, o corpo caído no chão, ao lado de Odé, Ọ̀ṣún viu um rastro de serpente, desesperada, Ọ̀ṣún foi procurar Orumiláia, e ofereceu muitos sacrifícios.
Orumiláia ouviu o pleito da dolorosa Ọ̀ṣún, deixou Odé viver de novo, deu a Odé o cargo de protetor dos caçadores, e Odé foi transformado em Òrìṣà.
Ọ̀ṣọ́si ganha de Orumiláia a cidade de Keto
Um certo dia, Orumiláia precisava de um pássaro raro para fazer um feitiço de Ọ̀ṣún. Ògún e Òṣòssi saíram em busca da ave pela mata adentro nada encontrando por dias seguidos.
Uma manhã, porém, restando-lhes apenas um dia para o feitiço,Ọ̀ṣọ́si deparou com a ave e percebeu que só lhe restava uma única flecha. Mirou com precisão e a atingiu.
Quando voltou para a aldeia, Orumiláia estava encantado e agradecido com o feito do filho, sua determinação e coragem. Ofereceu-lhe a cidade de Keto para governar até sua morte, fazendo dele o Òrìṣà da caça e das flechas.
Erinlé é acusado de roubar cabras e ovelhas
Em Ijebu viveu um caçador chamado Erinlé, ele era generoso e imbatível na caça, por isso era admirado pela maioria da população, mas havia alguns moradores que invejavam Erinlé e que conspirava para arruinar o caçador, famoso pela caça de elefantes e de outros animais.
Decidiram roubar cabras e ovelhas do rei e culpar Erinlé, o rei intimou quem soubesse algo sobre o roubo a dizê-lo, os conspiradores foram até o rei fazer a acusação, disseram que Erinlé roubava cabras e ovelhas, escondia as peles em casa e dizia que as carnes eram de animais selvagens.
O rei quis ouvir a defesa de Erinlé, houve testemunhos a favor dele, diante do impasse, o rei ponderou que Erinlé parecia ser de fato um grande caçador, mas teria que provar sua inocência. Erinlé disse: "Minha caça falará por mim". "Minha caça será minha testemunha".
Erinlé foi até sua casa e trouxe coisas para o rei, Erinlé trouxe as peles dos animais selvagens que havia caçado presas de elefantes e de javalis, peles de gamos, veados e antílopes.
Então o rei reconheceu a inocência de Erinlé e ordenou que ninguém mais tocasse no assunto, Erinlé foi para casa, inocentado, porém triste. Erinlé nunca se conformou com a acusação que sofrera, Erinlé pensava e não entendia a razão de tentarem desgraçá-lo, não quis mais caçar nem comer com os seus.
Em momentos de desespero fustigava o próprio corpo com a sua chibata de cavaleiro, seu Bilala. Imaginava que seria acusado novamente caso acontecesse outro roubo de animais.
Erinlé perdera completamente a vontade de caçar, então entrou na água de um rio próximo e partiu de Ijebu, onde nunca mais foi visto, E se tornou o Òrìṣà do rio.
Erinlé agora é o rio, o rio Erinlé é Erinlé, o Òrìṣà caçador que já não caça.
Erinlé é chamado Ibualama
Havia um caçador chamado Erinlé, o grande caçador de elefantes. Um dia uma mulher passava perto de um rio e ali perto, junto ao bosque, avistou o caçador. Ele pediu a ela que lhe desse água para beber, a mulher entrou no rio até a altura dos joelhos e, quando se inclinou para apanhar água, ouviu de Erinlé a ordem de que entrasse mais fundo. Mais fundo no rio entrou a mulher, mas percebendo que o rio ia afogá-la, saiu imediatamente da água, com medo de ser morta.
Ela ouviu então a voz do caçador, que era o próprio rio, reclamando que ela não trazia oferenda alguma, ela queria recolher sua água, mas nada lhe dava em troca.
Ninguém pode entrar no rio profundo sem trazer presentes, tempos depois, quando Erinlé foi cultuado como Òrìṣà, seus seguidores o chamaram de Ibualama, que quer dizer "Água Profunda".
Ọ̀ṣọ́si aprende com Ògún a arte da caça.
Ọ̀ṣọ́si é irmão de Ògún. Ògún tem pelo irmão um afeto especial. Num dia em que voltava da batalha, Ògún encontrou o irmão temeroso e sem reação, cercado de inimigos que já tinham destruído quase toda a aldeia e que estavam prestes a atingir sua família e tomar suas terras. Ògún vinha cansado de outra guerra, mas ficou irado e sedento de vingança. Procurou dentro de si mais forças para continuar lutando e partiu na direção dos inimigos. Com sua espada de ferro pelejou até o amanhecer.
Quando por fim venceu os invasores, sentou-se com o irmão e o tranqüilizou com sua proteção. Sempre que houvesse necessidade ele iria até seu encontro para auxiliá-lo. Ògún então ensinou Ọ̀ṣọ́si a caçar, a abrir caminhos pela floresta e matas cerradas. Ọ̀ṣọ́si aprendeu com o irmão a nobre arte da caça, sem a qual a vida é muito mais difícil. Igun ensinou Ọ̀ṣọ́si a defender-se por si próprio e ensinou Ọ̀ṣọ́si a cuidar da sua gente. Agora Ògún podia voltar tranquilo para a guerra. Ògún fez de Ọ̀ṣọ́si o provedor.
Ọ̀ṣọ́si é o irmão de Ògún.
Ògún é o grande guerreiro.
Ọ̀ṣọ́si é o grande caçador.
Ọ̀ṣọ́si mata a mãe com uma flechada.
Olodumarè chamou Orumiláia e o incumbiu de trazer-lhe uma codorna. Orumiláia explicou-lhe as dificuldades de se caçar codorna e rogou-lhe que lhe desse outra missão. Contrariado, Olodumarè foi reticente na resposta e Orumiláia partiu mundo afora a fim de saciar a vontade do seu Senhor. Orumiláia embrenhou-se em todos os cantos da Terra. Passou por muitas dificuldades, andou por povos distantes. Muitas vezes foi motivo de deboche e negativas acerca do que pretendia conseguir. Já desistindo do intento e resignado a receber de Olodumarè o castigo que por certo merecia, Orumiláia se pôs no caminho de volta. Estava cansado e decepcionado consigo mesmo.
Entrou por um atalho e ouviu o som de cânticos. A cada passo, Orumiláia sentia suas forças se renovando. Sentia que algo de novo ocorreria. Chegou a um povoado onde os tambores tocavam louvores a Ṣàngó, Yemonjá, Ọ̀ṣún e Obàtálá. No meio da roda, bailava uma linda rainha. Era Ọ̀ṣún, que acompanhava com sua dança toda aquela celebração. Bailando a seu lado estava um jovem corpulento e viril. Era Ọ̀ṣọ́si, o grande caçador.
Orumiláia apresentou-se e disse da sua vontade de falar com aquele caçador. Todos se curvaram perante sua autoridade e trataram de trazer Ọ̀ṣọ́si à sua presença. O velho adivinho dirigiu-se a Ọ̀ṣọ́si e disse que Olodumarè o havia encarregado de conseguir uma codorna. Seria esta, agora, a missão de Ọ̀ṣọ́si. Ọ̀ṣọ́si ficou lisonjeado com a honrosa tarefa e prometeu trazer a caça na manhã seguinte. Assim ficou combinado.
Na manhã seguinte, Orumiláia se dirigiu à casa de Ọ̀ṣọ́si. Para sua surpresa, o caçador apareceu na porta irado e assustado, dizendo que lhe haviam roubado a caça. Ọ̀ṣọ́si, desorientado, perguntou à sua mãe sobre a codorna, e ela respondeu com ares de desprezo, dizendo que não estava interessada naquilo. Orumiláia exigiu que Ọ̀ṣọ́si lhe trouxesse outra codorna, senão não receberia o Àṣe de Olodumarè. Ọ̀ṣọ́si caçou outra codorna, guardando-a no embornal. Procurou Orumiláia e ambos dirigiram-se ao palácio de Olodumarè no Ọ̀run. Entregaram a codorna ao Senhor do Mundo. De soslaio Olodumarè olhou para Ọ̀ṣọ́si e, estendendo seu braço direito, fez dele o rei dos caçadores. Agradecido a Olodumare a agarrado a seu arco, Ọ̀ṣọ́si disparou uma flecha ao azar e disse que aquela deveria ser cravada no oração de quem havia roubado a primeira codorna. Ọ̀ṣọ́si desceu à Terra. Ao chegar a casa encontrou a mãe morta com uma flecha cravada no peito. Desesperado, pôs-se a gritar e por um bom tempo ficou de joelhos inconformado com seu ato. Negou dali em diante, o título que recebera de Olodumarè.
Ọ̀ṣọ́si desobedece a Obàtálá e não consegue mais caçar.
Havia uma grande fome e faltava comida na Terra. Então Obàtálá enviou Ọ̀ṣọ́si para que ele aí caçasse e provesse o sustento de todos os que estavam sem comida. Ọ̀ṣọ́si caçou tanto, mas tanto, que ficou obsessivo: ele queria matar e destruir tudo o que encontrasse. Obàtálá pediu-lhe que parasse de caçar, mas Ọ̀ṣọ́si desobedeceu. Ọ̀ṣọ́si continuou caçando. Um dia encontrou uma ave branca, um pombo. Sem se importar que os animais brancos sejam de Obàtálá, Ọ̀ṣọ́si matou o pombo. Obàtálá voltou a pedir que ele não caçasse mais, porém Ọ̀ṣọ́si continuou caçando. Uma noite Ọ̀ṣọ́si encontrou um veado e atirou nele muitas flechas. Mas as flechas não lhe causavam nenhum dano. Ọ̀ṣọ́si aproximou-se mais e flechou a cabeça do animal. Nesse momento, o veado se iluminou. Era Obàtálá disfarçado, ali, todo flechado por Ọ̀ṣọ́si. Ọ̀ṣọ́si não conseguiu caçar nunca mais. Profundo foi seu desgosto.
Lenda de Otim
"Otim esconde que nasceu com 4 seios"
Oquê, rei da cidade de Otã, tinha uma filha. Ela nascera com 4 seios e era chamada de Otim. O rei Oquê adorava sua filha e não permitia que ninguém soubesse de sua deformação. Este era o segredo de Oquê, este era o segredo de Otim. Quando Otim cresceu, o rei aconselha-a a nunca se casar, pois um marido, por mais que há amasse um dia se aborreceria com ela e revelaria ao mundo seu vergonhoso segredo. Otim ficou muito triste, mas acatou o conselho do pai. Por muitos anos, Otim viveu em Igbajô, uma cidade vizinha, onde trabalhava no mercado. Um dia, um caçador chegou ao mercado, e ficou tão impressionado com a beleza de Otim, que insistiu em casar-se com ela. Otim recusou seu pedido por diversas vezes, mas, diante da insistência do caçador, concordou, impondo uma condição: o caçador nunca deveria mencionar seus quatro seios a ninguém. O caçador concordou, e impôs também sua condição: Otim jamais deveria por mel de abelhas na comida dele, porque isso era seu tabu, seu ewó.
Por muitos anos, Otim viveu feliz com o marido. Mas como era a esposa favorita, as outras esposas sentiram-se muito enciumadas. Um dia, reuniram-se e tramaram contra Otim. Era o dia de Otim cozinhar para o marido; ela preparava um prato de milho amarelo cozido, enfeitado com fatias de coco, o predileto do caçador. Quando Otim deixou a cozinha por alguns instantes, as outras sorrateiramente puseram mel na comida. Quando o caçador chegou a casa e sentou-se para comer, percebeu imediatamente o sabor do ingrediente proibido. Furioso, bateu em Otim e lhe disse as coisas mais cruéis, revelando seu segredo: "Tu, com teus quatro seios, sua filha de uma vaca, como ousaste a quebrar meu tabu?"A novidade espalhou-se pela cidade como fogo. Otim, a mulher de quatro seios, era ridicularizada por todos. Otim, fugiu de casa e deixou a cidade do marido
Voltou para sua cidade, Otã, e refugiou-se no palácio do pai. O velho rei a confortou, mas ele sabia que a noticia chegaria também a sua cidade. Em desespero, Otim fugiu para a floresta. Ao correr, tropeçou e caiu. Nesse momento, Otim transformou-se num rio, e o rio correu para o mar. Seu pai, que a seguia, viu que havia perdido a filha. Lá ia o rio fugindo para o mar. Querendo impedir o Rio de continuar sua fuga, desesperado, atirou-se ao chão, e, ali onde caiu, transformou-se em uma montanha, impedindo o caminho do rio Otim para o mar. Mas Otim contornou a montanha e seguiu seu curso. Oquê, a montanha, e Otim, o rio, são cultuados até hoje em Otã. Odé, o caçador, nunca se esqueceu de sua mulher.
Fonte: "mitologia dos Orixás" - Reginaldo Prandi