quarta-feira, 13 de junho de 2018

A ORIGEM DE IFON OMIMA, IFON SEPETERI, E IFON OROLU: a história das três Ifons.


Mercy Agbeke Gbadamosi,
Julia Iniabasi,
Okeluse Orunmojo,
Sunshine Megaforce



March 26, 2015
A partir da esquerda: HRH The Ojima-Aujale of Okeluse, HRH The Olufon of Ifon Omimah, HRH The Olute of Ute Ilogi  @ Ute during Olute's Igogo festival.


OROLU

Orolu é outro nome para a antiga cidade de Ifon no estado de Osun da Nigéria. O nome Orolu é usado de forma intercambiável para Ifon. Às vezes, é chamado Ifon Osun porque está localizado na divisão Osun do sudoeste da Nigéria, agora Estado de Osun. A história desta cidade antiga é tão grandiosa quanto sua evolução, cresceu simultaneamente com a história de Ilè-Ifè, o berço de Iorubás.

Odùduwà, o famoso pai da nação iorubá, derrubou Obàtálá em Ilè-Ifè e Obàtálá foi para o exílio em Ilofi, um lugar ainda existente para os turistas em Ilè-Ifè agora. Odùduwà reinou como o Olufè (o Chefe de Ife [Yorubas]). Odùduwà teve apenas Okanbi que também teve sete filhos entre os quais Olowu de Owu, Orangun de Ila, Owa Obokun de Ijesa, etc., e o famoso Oranmiyan, o Governante do Reino de Benin e fundador do Império Òyó.

Após a morte de Odùduwà, Obàtálá voltou a Ilè-Ifè e reinou como o segundo Olufè, porque todos os netos de Odùduwà tinham ido estabelecer seus próprios reinos.

Após a morte de Obàtálá, alguns dos seus filhos contestaram o trono depois dele, eles são Olaosa Aladikun e Akogun Erujeje, Obalufon Alayemore, entre outros. De todos esses competidores, Obalufon Alayemore sucedeu seu pai e os outros tiveram que estabelecer seu próprio reino.

Olaosa Aladikun consultou Ifá para profetizar seu êxodo. Ele foi instruído a estabelecer um reino onde ele visse muitos pássaros tecelões em uma árvore com cogumelos por baixo. 

Um ditado em língua iorubá diz: “ibi ti olu ati olho eega fon si” (onde cogumelo e pássaros tecelão se espalham) assim, temos o nome curto “Olu fon” (propagação de cogumelos) que é agora o título do rei de Ifon ou seja, o Olufon de Ifon. Ifon pode ser simplesmente interpretado como (propagação, aquilo que se espalha).



O TERMO “OLU

O termo “Olu” quer dizer “cogumelo”. Embora seja uma planta fraca e frágil significa: proeminência, realização.



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Gramaticalmente, “Olu”, quando usado como um prefixo para um substantivo, significa primeiro entre iguais, assim, Olu de Ibadan (Olubadan) significa: o Rei de Ibadan, Olu omo significa: o melhor das Crianças etc. Assim Olufon (o governante de Ifon) tem tradicional destaque sobre e acima de tudo outros Oba na Iorubalândia.

Olufon é um governante coroado. Uma vez em posse tanto de Ade Ire como de Ade Sese-Efun, Olufon teve a reputação de ter coroado o Alaafin de Òyó com Ire Crown para elevar o status de Alaafin ao de Oba contra Baale ( um mero chefe de distrito). É por isso que a Olufon sempre foi membro permanente do Conselho de Chefes desde o período do governo colonial.

O SIGNIFICADO DE OROLU

Orolu é outro pseudônimo para Olaosa Aladikun a.k.a Akogun Erujeje (o fundador do Orolu / Ifon Orolu Kingdom). Ele conseguiu este apelido 'Orolu' depois de estabelecer o Reino. A tradição oral diz que:

“o pai de Orolu tinha uma favorita entre suas numerosas esposas, e as outras esposas maia velhas tinham muito ciúme da esposa mais jovem. A esposa estava grávida enquanto o marido foi para uma guerra.

Quando a jovem esposa estava em trabalho de parto, outra esposa sênior decidiu puni-la por inveja e a maltratou. Elas mentiram para ela dizendo que, quando tiveram o bebê: “nós sempre dormiríamos em grama de lenha em vez de esteiras”, “cozinhamos nossa sopa sem sal ou óleo de palma”, “andamos nuas até o banheiro”.

As esposas principais reforçaram essa mentira para a esposa mais jovem durante seis dias após o parto. Se ela perguntasse por que eles estavam fazendo isso com ela, eles diriam: “Oro ilu wa ni” significando: “Tradição de nossa cidade é” (Oro ilu' - tradição da cidade) e quando escrita abreviada, diz: Oro'lu; assim, é comumente pronunciado Orolu.

Quando o Akogun retornou no sétimo dia e encontrou sua esposa favorita com o semblante franzido, ele perguntou qual era o problema. A mulher narrou sua provação, e Olaosa decretou que essa seria a tradição de todas as suas esposas que viesse a se deitar. Desde então, tem sido uma tradição se deitar. Desde então, tem sido uma tradição de toda mulher que se deita, na família real Olufon de Ifon.”



A RELIGIÃO TRADICIONAL DO POVO DE IFON



Como um descendente direto de Obàtálá, Olufon adora Olódùmarè (Deus Todo-poderoso através de Obàtálá, ou Òrìsànlá, também conhecido como Òrìsà Olufon. Olufon tem o símbolo original de Obàtálá, o caracol. Inhame picado, sopa de melão cozida sem óleo de palmeira. Olufon continua a ser a cabeça espiritual dos adoradores de Obàtálá em todo o mundo. Esta religião é popular na Nigéria, Brasil, Cuba e América do Sul.


RELAÇÃO DE OROLU COM OUTRAS COMUNIDADES
  
Durante o crescimento do reino de Orolu, muitas outras cidades surgiram, como Ifon Omima, a sede do governo local de Ose no estado de Ondo de Nigéria, Ilobu, Estado de Osun, que é também um vizinho que é um descendente da filha de Olufon Orisafi ASAKE, Ifon Sepeteri, na área Oke-Ogun, no Estado de Òyó da Nigéria, entre outros.

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Publicado por Okeluse Sons and Daughters. Acessado em 27/05/2018. Disponível em:




Transcrição, tradução, adaptação e layout: Luiz L. Marins -  www.luizlmarins.com.br

domingo, 10 de junho de 2018

EWÉ, A FORÇA QUE VEM DAS FOLHAS !


Por
Bàbá Asògún Olúmo (Ulisses Manaia)

Texto publicado na revista:
Candomblés, nº 1, Editora Minuano,
Fevereiro de 2011

KÒ SÍ EWÉ, KÒ SÍ ÒRÌSÀ!

Expressão no idioma Yorùbá que quer dizer: "Se não há folhas, não há Òrìsà!" Esta expressão dá ao leitor o entendimento da importância das folhas dentro dos rituais de origem africana, no entanto, queremos aqui ampliar este conceito, traduzindo por folhas os vegetais de um modo geral, incluindo além de suas folhas, seus frutos, sementes, e até mesmo seu caule; e traduzindo por Òrìsà, os diversos usos "mágicos" desses vegetais.

Na caminhada evolutiva do homem, que hoje a maioria dos estudiosos acredita ter começado no continente africano, ele se valeu da observação da natureza para o desenvolvimento de habilidades que até então ele não possuía e, naquele continente onde "tudo começou", sociedades ditas "animistas" ou "tradicionais" continuam até hoje vivendo em harmonia com a natureza, dela tirando ensinamentos para a sua vida social. Animistas porque acreditam que "toda manifestação viva pressupõe a presença de uma força vital, determinante do ideal de viver", e que utilizando práticas específicas esta "força" poderá ser utilizada em seu favor! E dentro deste conceito os vegetais representam um grande potencial de possibilidades.

"Se para a medicina ocidental o conhecimento do nome científico das plantas usadas e suas características farmacológicas é o principal, para os Yorùbá o conhecimento dos ofò, encantações pronunciadas no momento da preparação das receitas e transmitidas oralmente, é o que é essencial. Neles encontramos a definição da ação esperada de cada uma das plantas que entram na receita." (Ewé,Pierre Verger, 1995).

Bom, diante dessa referência concluímos que as plantas e seus derivados não são utilizados aleatoriamente, visam atender necessidades específicas, ou seja, qual o resultado esperado? Ou ainda: utilizar a folha certa no momento certo! Vimos também que a ação esperada dessas folhas está ligada ao que vai ser dito no momento de sua utilização, o ofò, que nada mais é do que a utilização da palavra enquanto transmissora de àse. Verger diz ainda que à primeira vista é difícil perceber nas diversas "receitas", que tem como ingredientes elementos vegetais, qual é a parte "mágica", ou seja, aquela que o efeito vai se dar pelo àse nela contido, e quais as virtudes testadas experimentalmente dessas plantas, ou seja, ele diz com isso que muitas dessas plantas já tiveram suas propriedades farmacológicas comprovadas.

Dentro desse contexto quero destacar o trecho de uma canção brasileira, interpretada pela célebre cantora baiana Maria Bethânia:

"Salve as folhas brasileiras! Salvem as folhas para mim! Se me der a folha certa, e eu cantar como aprendi, vou livrar a Terra inteira de tudo que é ruim! Eu sou o dono da terra, eu sou o caboclo daqui! Eu sou Tupinambá que vigia, eu sou o dono daqui!"

O que me chamou atenção nessa composição, e que destaco para o leitor, é que ela ilustra o trecho acima de Verger, e mais ainda, a utilização das folhas está associada a um dos grupos indígenas brasileiros, sugerindo que esses nativos, primeiros habitantes do nosso País, também conheciam essa prática!

Ainda de Pierre Verger:

"Na língua Yorùbá, frequentemente existe uma relação direta entre os nomes das plantas e suas qualidades, e seria importante saber se receberam tais nomes devido às suas virtudes ou se devido a seus nomes, determinadas características foram a elas atribuídas."

Como ilustração, transcrevemos o trecho de uma preparação Yorùbá para obtenção de dinheiro:
PÈRÈGÚN NÍ Í PE IRÚNMOLÈ L'ÁT'ÒDE ÒRUN W'ÁYÉ!
Pèrègún que chama os espíritos do além para a terra!)

PÈRÈGÚN WÁ LO RÈÉ PE AJÉ TÈMI WÁ L'ÁT'ÒDE ÒRUN!
(Pèrègún, agora vá e chame minhas riquezas do além!)

Nesta preparação encontramos referência a uma folha, conhecida pela maioria de nós: o Pèrègún, cujo nome é a contração do verbo "PÈ", que significa chamar, com a palavra "EGÚN", que significa espírito, ancestral, etc. Percebe-se então que esta folha tem a finalidade de "chamar (invocar) espíritos", e que a própria pronúncia de seu nome já funciona como um ofò!

No caso da receita acima, a sabedoria daqueles nossos ancestrais yorubanos que a elaboraram fez esse trocadilho: se Pèrègún pode chamar espíritos, pode chamar a riqueza! Certa vez ouvi de meu "bàbá" que o negro yorubano tem sobre nós a vantagem do uso corrente do idioma, enquanto nós aqui no Brasil ficamos presos a textos prontos, que nos foram transmitidos ao longo do tempo.

Para algumas pessoas, principalmente para aquelas que não estão ligadas aos cultos de matriz africana, pode parecer um tanto "primitivo" pensar dessa maneira, digo, esperar resultados a partir da utilização de certas plantas, de sementes, etc., enfim de elementos da natureza, aparentemente inanimados. No entanto, repetimos, existe por traz da utilização desses elementos uma questão cultural. Eles se utilizam desses elementos da natureza acreditando que eles expressam as suas necessidades perante o "Criador", o destino final de seus pedidos:

"…uma composição mágica parece ser considerada como uma coleção de coisas materiais, às quais é dado um valor simbólico; juntas constituem uma mensagem…" (Ewé, Pierre Verger, 1995)

Entre os Yorùbá, os ofò são frases curtas nas quais muito frequentemente o "verbo" que define a ação esperada, chamado de "verbo atuante", é uma das sílabas do nome da planta ou do ingrediente empregado. No entanto, o elo entre o nome da folha e a ação esperada, invocada através do ofò, não se limita apenas ao verbo, mas pode aparecer em uma frase curta ou longa, nesse caso estabelecendo uma relação simbólica entre algumas "características naturais" daquela planta a as "necessidades" do homem.
Vejamos alguns exemplos:

ÀT'ÒJÒ ÀTEÈRÙN KÌ Í RE TÈTÈ
(Tètè nunca está doente, nem na estação chuvosa nem na seca)

Este ofò faz referência a uma folha conhecida popularmente por Bredo ou Caruru de porco, e cujo nome yorùbá é Tètè. É uma folha facilmente encontrada, tanto no meio urbano, nas margens de calçadas, como no meio rural, e confesso que antes de conhecer o seu valor ritual, passava-me despercebida, assim com muitas folhas que não conhecemos! Percebemos pela tradução que é uma planta resistente às variações da natureza, permanecendo sempre saudável, e não é este tipo de força que
queremos para nossa vida?

OJÚ ORÓ NI Ó N'LÉKÈ OMI, TÈMI Ó L'Á LÉ
(Ojú oró flutua na água, eu também ficarei por cima)

Ojú oró é conhecida popularmente por Erva de Santa Luzia, é uma planta aquática, encontrada em rios ou lagoas. Percebemos que nesse ofò evoca-se o poder dessa planta de conseguir manter-se sempre por cima da água!

Em território yorùbá, na preparação dos trabalhos ligados à obtenção de todo tipo de sorte, ou para afastar algum mal, esses vegetais são pilados e misturados ao sabão africano Ose (oxé) Dudu, com o qual toma-se banho, ou então são torrados, até a obtenção de um pó, que poderá ser misturado à comida, a bebidas destiladas, ou até mesmo esfregado em incisões feitas no corpo, particularmente nos punhos.

Essas práticas quase não sobreviveram aqui no Brasil, por ocasião da reestruturação do culto aos Òrìsà, no entanto há uma prática viva entre nós: o Oro Asa Òsónyìn ou Sassanha, como é mais conhecido, um ritual realizado nas casas de raízes yorùbá, que significa basicamente: Ritual de proteção de Òsónyìn. Utilizamos o recurso dos "cânticos da folhas" para determinar que as oferendas sejam cobertas de realizações, uma vez que esses cânticos possuem "verbos atuantes" que facilitam a comunicação entre o povo e os Ancestrais Divinizados. No caso de uma Iniciação para Òrìsà ou "Feitura de Santo", este ritual é realizado para preparar a "esteira", onde ficará deitado o iniciado e o "banho" para lavar todos os seus objetos rituais, bem como para os seus banhos matinais diários.

Referências Bibliográficas:

MONTEIRO, Marcelo. Curso Teórico e Prático de Folhas Sagradas:
Oro Asa Òsónyìn, Rio de Janeiro, 1999, 59 p., Biblioteca Nacional.

VERGER, Pierre. Ewé: o uso das plantas na sociedade Ioruba, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

BETHÂNIA, Maria. CD: Dentro do mar tem rio, Gravadora Biscoito Fino, RJ. Dados disponíveis em https://biscoitofino.com.br/produto/dentro-do-mar-tem-rio-3/#descricao


Transcrição e adaptação: Luiz L. Marins. www.luizlmarins.com.br

Primeira publicação na internet no site do grupo Boiadeiro Rei:

TIKTOK ERICK WOLFF

https://www.tiktok.com/@erickwolff8?is_from_webapp=1&sender_device=pc