Uma organização pan-ioruba sediada no Reino Unido, a Oyo Alaafin na Diáspora (OAD), solicitou a retirada imediata ou uma reformulação fundamental do projeto de lei do Senado que visa estabelecer um Conselho Nacional de Governantes Tradicionais.
Em
uma declaração do Secretário da OAD, Afolabi Paul, a organização observou que o
projeto de lei designava o Sultão de Sokoto e o Ooni de Ifé como co-presidentes
permanentes do Conselho proposto, uma disposição que o grupo descreveu como
etnicamente tendenciosa, historicamente enganosa e constitucionalmente
indefensável.
O
grupo acusou o projeto de lei de promover dois monarcas de grupos étnicos
específicos (Fulani e Ioruba), enquanto marginaliza outras grandes civilizações
nigerianas, como os Haussa, Igbo, Kanuri, Tiv e outros. Argumentou que a
legislação proposta não promove a unidade em um sistema federal de governança e
arrisca aprofundar divisões étnicas em vez de promover a coesão
nacional.
No
centro da objeção da OAD está a afirmação de que o Ooni de Ifé não pode representar
legitimamente o povo ioruba em detrimento do Alaafin de Oyo, que, segundo ela,
é há muito considerado o líder histórico e político da terra ioruba.
O
projeto de lei atual não apenas exclui outras grandes nacionalidades étnicas,
como também distorce a hierarquia histórica dentro da própria Yorubalândia.
"Qualquer estrutura de liderança
tradicional nacional deve ser fundamentada em legitimidade histórica
documentada, equidade étnica, caráter federal e diálogo inclusivo, não em favoritismo
político ou proeminência nas mídias sociais", disse Paul.
A
posição da OAD baseia-se em uma extensa coleção de registros coloniais,
tratados, diários governamentais e trabalhos acadêmicos, que, segundo ela,
afirmam de forma esmagadora a supremacia dos Alaafin sobre os assuntos iorubas.
O grupo citou os memorandos políticos de Lord Frederick Lugard de 1917, que
designavam explicitamente o Alaafin como "Chefe dos Reis Iorubas", e
citou historiadores proeminentes, incluindo os professores Toyin Falola e Banji
Akintoye, que descreveram a pesquisa e as classificações de Lugard como
confiáveis.
O
grupo também destacou tratados assinados entre 1881 e 1893, nos quais o Alaafin
era o signatário exclusivo representando a Terra Ioruba em acordos com a Coroa
Britânica, declarou o grupo, observando a ausência do Ooni de Ifé nesses
documentos fundamentais:
"O tratado de 1881 nomeia
especificamente Alaafin Adeyemi I como Rei da Terra Ioruba" ...
O
grupo citou ainda um Relatório de Inteligência Colonial desclassificado de
1897, do Capitão R.L. Bower, que declarou:
"O Alaafin continua sendo a
autoridade política suprema sobre todos os reinos iorubas, com o Ooni
desempenhando principalmente funções espirituais".
Para
reforçar suas alegações, a OAD apresentou um memorando colonial de 1938
detalhando os salários anuais dos governantes iorubas, o que, segundo ela, era
uma indicação clara da hierarquia reconhecida pelos britânicos. Segundo o
grupo, o Alaafin recebia £ 4.200 o valor mais alto entre os governantes iorubas
e comparável a emires proeminentes do Norte, enquanto o Ooni recebia £ 1.440,
um valor equivalente ao de chefes de distrito, como o Baale de Ibadan.
A
organização também relembrou um precedente legal de 1991, quando o Alaafin
Lamidi Adeyemi III contestou uma tentativa do Ooni Olubuse II de conferir o
título de "Akinrogun da Terra Ioruba" ao Chefe Tom Ikimi. O Governo
Militar do Estado de Oyo apoiou o Alaafin, decidindo que o poder de conferir
títulos pan-ioruba era de “jurisdição tradicional exclusiva do Alaafin”. Citando
o princípio legal Nemo dat quod non habet
(não se pode dar o que não se tem), o governo afirmou que somente o Alaafin
possui essa autoridade sobre tratados e decretos coloniais, explicou o OAD.
O
grupo também observou que Alaafin Siyanbola Ladigbolu II presidiu o Conselho
Estadual Ocidental de Obas entre 1960 e 1965, com o Ooni de Ifé servindo como
membro, e que o arranjo foi restabelecido em 1976 sem protestos. Atribuiu
mudanças posteriores nessa hierarquia estabelecida a intervenções políticas na
década de 1950, incluindo a deposição e morte do Alaafin Adeyemi II após um
confronto com o Chefe Bode Thomas, bem como à proeminência política de Ooni
Aderemi como governador da Região Ocidental.
O
grupo foi além, fazendo referência à correspondência real da Coroa Britânica,
incluindo a mensagem de aniversário da Rainha Elizabeth II em 1953, que se
dirigiu ao Alaafin Ladigbolu I como "Alaafin de Oyo, Rei e Chefe da Terra Ioruba",
uma formulação usada consistentemente durante todo o período colonial. O historiador
David Pratten acrescentou e documentou que:
“o Império de Oyo mantinha um formidável
exército permanente, em contraste com a dependência de Ifé como estado vassalo
de Oyo”.
Invocando
o alerta do falecido Alaafin Adeyemi III que:
"a história não pode ser reescrita
para se adequar a conveniências temporárias e devemos distinguir entre arranjos
políticos temporários e verdades históricas duradouras",
o
OAD solicitou ao Senado que revogasse o projeto de lei ou o revisasse
radicalmente:
“Pedimos um processo guiado pelos
princípios de equidade étnica, legitimidade histórica baseada em registros
verificáveis, tratados, boletins informativos, documentação colonial e
verdadeiro caráter federal",
concluiu o grupo.
"Nenhum monarca pode ou deve alegar representar regiões inteiras, ou a diversidade de religiões na Nigéria. A
estrutura deve ser inclusiva e refletir as verdades históricas documentadas das
diversas civilizações da Nigéria."
O desafio do grupo injeta estudos históricos complexos em
um debate político já delicado, destacando a influência duradoura das
instituições tradicionais na Nigéria e as narrativas contestadas em torno do
passado do país.
O Senado ainda não se pronunciou formalmente.
https://thesun.ng/yoruba-diaspora-group-opposes-traditional-rulers-council-bill/
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Transcrição,
tradução e adaptação:
Luiz
L. Marins – https://uiclap.bio/luizlmarins