sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Triste realidade da Umbanda.

Iniciantes fadados ao erro, comunidades inteiras que mais desaceleram a evolução da Umbanda prestam serviço para a ignorância, mais claramente falando apostam na apologia à burrice.
Devo acreditar que os donos destas comunidades mais incentivam o crime de desaprender do que se dão ao trabalho de buscar conhecimento e pregam uma falta de cultura e ignorância.

O resultado logo se vê quando somado a moderadores que sem preparo algum insuflam a ditadura virtual, mas observem a decadência nem ao menos sabem escrever Faike que na verdade seria fake, quer dizer que um perfil não existe, antes de poder tentar se expressar deveriam procurar no Google, o pai dos burros, mais fácil de se achar na net, o grande pesquisador que ajuda a qualquer um quando esta perdido.

Seguindo esta tendência logo a Umbanda estará fadada como disse acima ao esquecimento e não apenas aos erros que se amontoam como cálices numa pilha de alfafa ruminada e expelida...

Infelizmente esta realidade somada aos incidentes que assolam o país depõe a favor ao que vemos na TV, e fico imaginando o quanto estas comunidades contribuíram para que chegassem as noticias que nos revoltam hoje nos diários populares... Quando estaremos livres de tais apologias a burrices... Espero mesmo que um dia não precisaremos mais ver tantos avestruz religiosos intitulados de pais de santos e mães de santo depondo contra sua própria religião.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A Balança de um Aláààfin

Para o povo Nagô, o conceito de vida e morte é importantíssimo. O nascimento para uma nova vida e a perpetuação do ser, fazem parte integrante do seu ritual. A morte não é o fim, para os Nagô, é apenas um ciclo que reinicia, pois acreditam na reencarnação (Àtúnwa), o indivíduo retorna à sua família, reencarnando novamente. Seria algo terrível quebrar este ciclo que mantém assim com homens e mulheres dentro da sua família.

Ègun é a certeza que Ìkú está presente, ele volta do reino da morte afirmando que esta existe, e se faz visível para os olhos humanos.

Inicialmente a Orí é o conceito da individualidade procedente da criação de um Òrìṣà, esta Orí será cultuada no Àiyé como uma divindade. Esta cabeça estará fechada a certos Èwọ̀ (proibições) e riquezas que a ela e somente ela poderá carregar.

Uma Orí é a personificação do elemento humano, podem lhe retirar tudo – roupas, cabelos, dignidade, dinheiro e poder – mas jamais retirarão o seu intelecto, porque ele está incrustado no seu ser, na sua Orí. Você é quem é pelo simples fato de carregar uma Orí. Esta Orí faz parte do comunitário e está ligada ao seu ancestral, você foi e será um elemento cultuado através da sua Orí.

[i]O Igbá-orí representa o nosso destino e nossa ancestralidade

Este conceito é totalmente preservado dentro da cultura Nagô. Encontramos esta mesma consciência no RS, mesmo que algumas Ilé se abstraiam da consciência do ato e ritual, mas estão preservando de alguma forma seus rituais e conceitos de individualidade e pessoa.

Sabendo que ao olhar para o Igbá-orí para entender o que está em suas mãos, é necessário abster-se de todo e qualquer conceito para chegar ao entendimento do que é a sua personalidade alma, imortal e eterna. Só assim saberá quem é, e o que faz na religião perguntando para onde irá. O Bori tem a finalidade de cultuar a Orí separado da feitura do Òrìṣà, o Bori nada mais é do que a consciência da pessoa, a imortalidade e perpetuação daquele indivíduo como membro de uma comunidade que deverá ser cultuada mesmo após a transição para o reino de Ìkú.

[ii]No Brasil, nas comunidades de candomblé e demais denominações religiosas afro-brasileiras que seguem mais de perto a tradição herdada da África, a morte de um iniciado implica a realização de ritos funerários. O rito fúnebre é denominado Aṣeṣe na nação Ketu, tambor de choro nas nações mina-jeje e mina-nagô, sirrum na nação jeje-mahim, Nago e no batuque, ntambi ou mukundu na nação angola, tendo como principais fins os seguintes:

1) desfazer o assentamento do ori, que é fixado e cultuado na cerimônia do bori, cerimônia que precede o culto do próprio orixá pessoal;

2) desfazer os vínculos com o orixá pessoal para o qual aquele homem ou mulher foi iniciado, o que significa também desfazer os vínculos com toda a comunidade do terreiro, incluindo os ascendentes (mãe e pai-de-santo), os descendentes (filhos-de-santo) e parentes-de-santo colaterais;

3) despachar o egum do morto, para que ele deixe o aiê e vá para o orum. Como cada iniciado passa por ritos e etapas iniciáticas ao longo de toda a vida, os ritos funerários serão tão mais complexos quanto mais tempo de iniciação o morto tiver, ou seja, quanto mais vínculos com o aiê tiverem que ser cortado (Santos, 1976).
Mesmo o vínculo com o orixá, divindade que faz parte do orum, representa uma ligação com o aiê, pois o assentamento do orixá é material e existe no aiê, como representação de sua existência no orum, ou mundo paralelo. Mesmo um abiã, o postulante que está começando sua vida no terreiro e que já fez o seu bori, tem laços a cortar, pois seu assento de ori precisa ser despachado, evidentemente numa cerimônia mais simples.



Retornando ao Sirrum ou conhecido como Aṣeṣe tem a finalidade de desfazer o assentamento da Orí, Neste ritual será preparado o templo para a passagem daquele indivíduo e a iniciação do culto ao mundo dos Egungun. Algumas manifestações ocorrem durante o ritual, porém não são os Òrìṣà que costumam dançar nos templos durante as “rodas de santos”. Chegam em silêncio, e se portam totalmente diferente das divindades de alguns cavalos que estão no transe.

Este ritual possui também a finalidade de quebrar os vínculos com os parentes religiosos, nota-se que a Ori foi escolhida por um orixá durante a vida do ẹlẹ́gún ela carrega o Òrìṣà harmonizando Orí + Òrìṣà durante a vida toda deste Omoriṣá, o Sirrum está desfazendo este vínculo, e formalizando para aquela Orí que a partir desta iniciação ele não pertence mais ao, que ele será cultuado no Ìgbálẹ̀ e que sua realidade é outra.

Porém mesmo assim ele não perde os vínculos com o Òrìṣà e mantém suas características, preservando a consciência e mantendo sua existência representada pela forma daquele Òrìṣà ao qual foi iniciado.

Cada etapa ao qual foi designado o ẹlẹ́gún como Orí-bibọ́, Bori ou feitura cria vínculos com o terreiro. Estes rituais se repetem durante a sua extensão religiosa, podendo-se notar que nem um deles é retirado, porém ele se repete acima de cada um deles, como se o primeiro fosse reafirmado em cima de cada um dos rituais na seguinte ordem - os Akọ awùrẹ̀ (cabrito), Àkùkodìẹ e Adìẹ (galos e galinhas) e finalmente por cima de tudo os ẹyẹlé (pombo) -. Apesar de já ter ouvido por uma Iyalorisá que o Orí-bibọ não tem importância alguma eu não consigo vê-lo ele desta forma, basta saber um pouco do ritual para entender a importância perpetuada neste ritual que finaliza todas as obrigações descendentes.

Exigindo a responsabilidade de desfazer cada etapa para liberar aquela Orí para o ọ̀run - da mesma forma que ocorre com o Òrìṣà que é despachada suas ferramentas, Otá e tudo que lhe pertence - ficando esporadicamente apenas aquele Òrìṣà daquela Orí, raras vezes o herdeiro do Ilé fica com o Otá para manter o culto á aquele Òrìṣà.

O Aṣeṣe na cultura Nagô mantém o Yara-bọ fechado, durante sete dias apenas, as quartinhas permanecerão sem água, os santos sem velas e cobertos e com Alá brancos em sinal de luto, nada se faz para eles apenas o Aláààfin Baru está presente na Ilé regendo o ritual.

No Quinto dia iniciam-se os rituais finais. Eu acredito que seja porque para o povo Yorubá a semana tem apenas quatro dias, ainda assim leva mais ou menos dois dias, até que o Egungun seja tratado.

E é no sexto dia que se abre o Ìgbálẹ̀ quando se forra o chão com folhas de mamona, faz-se uma cama com canjica amarela dependendo do fundamento da Ilê, em acima dela deposita-se o amalá (com uma verdura especialmente usada nos rituais de Egungun), tempera-se com Oyin (mel) e Epo pupa (dendê), vela-se os quatro cantos do buraco.

A partir deste momento inicia-se o ritual propriamente dito, Baru come com Egungun e chama os ancestrais masculinos de um lado e os femininos do outro lado para começar a derrubar os Akọ awùrẹ̀ (cabrito) e Àkùkodìẹ e Adìẹ (galos e galinhas). As cerimônias dependem do grau iniciático do ẹlẹ́gún. Os que possuem iniciações mais simples, o sirrum será mais simples, determinando desta forma a quantidade de bichos e tipos que serão derrubados naquele Ìgbálẹ̀.

Este ritual demora em média, um dia e meio, pois irá corear e depenar todos os animais, porém não será servido nem um bicho que foi morto no Ìgbálẹ̀, eles são despachados limpos e inteiros. Até o final da celebração o Ilé fica com o quarto de santo fechado e não joga búzios, não passa serviços não atende clientes, a casa simplesmente fica sem trabalhar, pois se acredita-se que os Òrìṣà deram lugar para os Egungun. A única divindade que permanece na Ilé é Baru, como um rei que supervisiona os rituais e impera sobre a Nação. Quem sabe seja por isso que não entregam cabeças para esta divindade, apesar de ser o grande rei e patrono de algumas Ilé Nagô, acredita-se que ele não deve ser cultuado na Orí.

A presença do Rei Baru é notada pelo som do Ilú (tambor de dois lados), empachado com cordas que devem ficar frouxas neste ritual dando um som abafado. Os membros da Ilé permanecerão no recinto com as vestimentas adequadas e só poderão sair após embalar o Egungun para fora do templo. E assim finalizando o Sirrum embalando o carrego para fora nas cantigas de Egungun, lhe dizendo que o seu tempo não é mais o tempo dos vivos. Acenando pequenos pedaços de pano branco se despedindo suavemente, levando os Eguns que vieram buscar o novo membro da confraria. Nota-se que todo ritual será praticado em cima do assentamento do Kamuká, situado no meio do salão das Ilé Nagô. Acredito que seja mais um motivo do cuidado que não assentar Aláààfin Baru na Orí de algum ẹlẹ́gún.

Quem é Baru
Na África o culto à este Aláààfin esta cercado de tabus, pois durante seu reinado cometeu muitas atrocidades, motivo pelo qual os africanos não o raspam nem assentam. Não fazia prisioneiros, matava todos, incendiou seu reinado e possuía um temperamento incontrolável.

Kamuka = Baruolofina, Aláààfin de Oyó



[i] Conceito - Luiz marins

[ii] Conceitos de vida e morte no ritual do Aṣeṣe - Reginaldo prandi




Por Erick Wolff∞

QUANDO ÀṢẸ́ NÃO É AXÉ !

Quando à não é axé !
(Revisto e aumentado)
Luiz L. Marins
Dezembro de 2010

Em uma conversa descontraída com um amigo iorubá de Ijebu-Ode, mostrei a ele um jornal voltado para o segmento da religião dos Orixás. Ele começou a folhear e de repente parou numa página que trazia a propaganda de uma casa de candomblé e começou a rir disfarçadamente. Ao olhar a página, verifiquei que estava escrito em letras grandes a seguinte frase: Ilé Àṣẹ́ Sàngó.

Sem me dar conta, perguntei qual era o motivo do riso, e ele, esforçando-se por falar, entre risos, disse-me que ali estava escrito, mais ou menos isto: “Casa da Menstruação de Xango”, e explicou: àṣẹ́ não é àṣẹ.

Posteriormente consultei os dicionários de iorubá, e verifiquei que ele tinha razão.

Devido a nossa falta de hábito com a ortografia e gramática da língua iorubá, nós, falantes nativos de português, cometemos muitos erros quando tentamos escrevê-la corretamente, e na maioria das vezes não damos importância a detalhes que, para nós são insignificantes, mas que aos olhos de um iorubá nativo, o que escrevemos não faz sentido.

Vamos relembrar alguns aspectos básicos do idioma do iorubá e os tons:

( à ) tom descendente
( á ) tom ascendente
( a ) tom médio
( àá ) = ( ã ) tom duplo[1]

Vogais:
a e ẹ i o ọ u

Fonética em português:
a ê é i ô ó u

Consoantes
B D F G GB H J K L M N P R S ṣ T W Y

A letra s em português tem o som de X ou CH.

Assim, uma alteração no tom da palavra, tanto falada quanto escrita, altera completamente o significado, e neste estudo vamos usar como exemplo a palavra “axé”, devido às diversas formas que ela aparece escrita nos jornais distribuídos nas lojas de artigos religiosos, como também na internet.

Para elucidar melhor a questão, vamos transcrever dos dicionários de iorubá que dispomos, não apenas a palavra àṣẹ, mas também outras palavras similares que podem induzir-nos ao erro. Veremos que muitas palavras são realmente parecidas, motivo pelo qual devemos ficar atentos aos tons, pois são eles que fazem a diferença do sentido.

Entretanto, a questão maior não é nem mesmo a ortografia ioruba, mas transliteração e reinterpretação (ìtúùmò) para o iorubês[2], pois adaptados à fonética da língua portuguesa, muitos vocábulos são escritos da mesma forma.
Vejamos:


A Dictionary of the Yoruba Language, CMS, Ibadan, Oxford University Press, 1977 [1913]:
YORÙBÁIORUBÊS
- Àse: festa, entretenimento.
assê
- Ase: um tipo de animal como o esquilo. assê
- Asẹ́: coador. assé
- Ãsẹ̀: porta larga. ãssé
- Àṣẹ́: menstruação. axé
- Àṣẹ: lei, ordem, instrução, comando. axé
- Ãṣẹ: amém. ãxé


Dictionary of Modern Yoruba, R. C. Abraham, London, Hodder and Stoughton, 1981 [1946]
- Àsè: ato de estar cozinhando.
assê
- Àsé: bloquear, represar. assê
- Àsé: prefixo usado na composição de palavras. assê
- Asẹ́: coador. assé
- Àṣé: (expressão) to fora! axê!
- Àṣe: prefixo usado na composição de palavras. axê
- Aṣe: idem axê
- Àṣẹ: uma ordem, um comando, um poder. axé!
- Àṣẹ́: prefixo usado na composição de palavras. axé
- Àṣẹ́: menstruação. axé
- Aṣẹ́: prefixo usado em composição de palavras. axé
- Áṣẹ́: tipo de pássaro (Macrodipteryx Longipennis) axé
- Ààṣẹ̀: porta larga aaxé



De fato, podemos constatar que meu amigo ioruba tinha razão, e como vimos, esta palavra, e mais pelo menos uma centena delas, adaptadas ao iorubês, originalmente com significados completamente diferentes, tornam-se praticamente uma, gerando enormes erros conceituais quando tentamos reinterpretar e traduzir a nossa “herança fonética africana”[3].

Existe um sem número de palavras com as quais poderíamos nos estender neste espaço, por exemplo, orum. Esta palavra é uma verdadeira armadilha para pseudo-tradutores de plantão. A primeira tentação que vem à mente, é traduzi-la por céu, entretanto, aproveitando o tema, vejamos nos dicionários de iorubá outras palavras que, em iorubês, tem a mesma fonética, e que podem nos levar a errar um ìtùúmò.



A Dictionary of the Yoruba Language, CMS, Ibadan, Oxford University Press, 1977 [1913]:
YORÙBÁ IORUBÊS
- Õrùn: sol
orum
- Õrun: sono; dormir orum
- Òrùn: aroma, cheiro, odor orum
- Orun: inclinar a cabeça em reverência, laço, arco órum
- Òrùn: pescoço órum
- Òrún: uma centena, cem órum
- Òrun: céu, mundo espiritu órum


Dictionary of Modern Yoruba, R. C. Abraham, London, Hodder and Stoughton, 1981 [1946]
- Oorun: sono
orum
- Õòrùn: soL orum
- Òórùn: odor, cheiro orum
- Òrun: céu espiritual órum
- Òrùn: pescoço órum
- Orun: reverencia, saudação, arco órum
- Orún: semana ioruba de cinco dias órum
- Òrùń: cem, uma centena órum

Complementando, vejamos estas expressões que nos parecem seriam capazes de iludir até mesmo um falante nativo:
Olórùn: aquele que tem um pescoço
Olorum
Olórun: Deus Olorum
– Olóõrun: dorminhoco Olorum
– Olóòórùn: cheiroso (ou fedido) Olorum

Outra palavra que tem gerado muita discussão é “bara”, que um certo livro- tese defende a ideia de ser o “ânimo” que dá vida e movimento ao ser humano, tese esta que não concordamos, pois contraria tudo que se escreveu até hoje sobre a Noção de Pessoa Iorubá. Apenas por curiosidade, sem entrar no âmago da questão, vejamos como esta palavra aparece nos dicionários:


Dictionary of Modern Yoruba, R. C. Abraham, London, Hodder and Stoughton, 1981 [1946]:
YORÙBÁ IORUBÊS
- Bàrà = melancia > citrullus vulgaris.
Bara
- Bàrà = mausoléu real onde são enterrados os Aláààfin. Bara
- Bàrà = bàrà-bàrà = correr balançando o corpo. Bara
- Bára = encontro, reunião. Bara
- Bárà = uma coisa podre. Bara
- Bààrà = expressão ligada ao ato de defecar. Baara
- Báárà = o ato de estar começando algo. Baara
- Bárá-bárá = o ato de amarrar algo com firmeza. Bara-bara
- Bára-bàra = fazer algo superficialment Bara-bara


A Dictionary of the Yoruba Language, CMS, Ibadan, Oxford University Press, 1977 [1913]
- Bàrà = planta rasteira que fornece o óleo de semente egunsi.
Bara
- Bara = deus do engano, o demônio, Ifá Bara
- Bárabára = pequena quantidade. Barabara
- Bàrabàra = rapidamente, apressadamente Barabara

Assim, pelo exposto, nota-se a facilidade de cometermos erros de tradução e de conceitos, contrários ou talvez até inexistentes, em suas raízes africanas.

Outrossim, sugiro que sejam revistas todas as reinterpretações apresentadas à guisa de tradução da nossa “herança fonética africana”, ou corremos o risco de reinventar a roda ao quadrado.

Axé para todos !

[1]Embora o “til” não corresponda exatamente à grafia do vocábulo.
[2]Expressão coloquial para designar uma palavra iorubá escrita em língua portuguesa, cuja ortografia não corresponde gramaticamente nem ao iorubá, nem ao português, visando apenas atender à adaptação tonal.
[3]Conjunto de canções, hinos e orações, sacras ou profanas, conservadas em dialeto de matriz africana em forma de tradição oral, transmitidas de uma geração à outra.

https://uiclap.bio/luizlmarins

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Ìtàn e o Ese na aculturação da palavra

Extrato do livro “Obàtálá e a Criação do Mundo Iorubá”, de Luiz L. Marins, (a ser publicado) cujo capítulo visa esclarecer o uso da palavra ìtàn (história) como sinônimo de ese (verso) no eléseese “Òrìsà Dídá Ayé”, poema da criação do mundo iorubá, do Odù Ejìogbè.

Algumas palavras iorubás em virtude das convenções gráficas adotadas depois da colonização europeia vem recebendo importantes modificações conceituais, sendo que muitos textos escritos em línguas europeias que usam palavras iorubás apresentam, sem perceber, estas modificações, criando alguns embaraços. Uma delas é a palavra ìtàn (história).

Em língua portuguesa uma história geralmente é contada em prosa, mas pode ser contada em verso (como no caso de “Os Lusíadas”, de Camões) sem deixar de ser ou ter o conceito de história, portanto, em português, uma história pode ser em prosa ou verso, mas em iorubá isto não ocorre, pois a palavra iorubá para história é ìtàn, enquanto que a palavra ese é utilizada para verso.

Como o idioma iorubá era originalmente ágrafo, talvez seja este o motivo que os dicionários não registraram uma palavra nesse idioma que tenha os dois conceitos, tal qual ocorre para “história”, story (inglês) e histoire (frances).

O primeiro ese (verso) Ìtàn àtowódówo[1], informa que o eléseese[2] Òrìsà Dídá Ayé é uma “história tradicional passada de geração para geração”. De acordo com a gramática iorubá, isto é um contrassenso, um poema jamais será uma história, e vice-versa, o que nos leva a um estudo um pouco mais profundo neste assunto.

Sobre o conceito iorubá de prosa e poesia, Olatunde Olatunji (in Afolayan, 1982:70) fornece uma breve definição:
“A distinção entre prosa e poesia iorubá não é absoluta, mas relativa. Poesia iorubá pode ser falada, entoada ou cantada, com ênfase na sua forma artística, paralelismo, jogo de palavras, repetição, contraponto tonal, combinação léxica, etc; possui itens de léxico arcaico, distorções ou divergências tonais e gramaticais, socialmente e tradicionalmente fixo em um assunto definido. A prosa iorubá, por outro lado, coloca ênfase sobre um assunto definido, o qual é individualmente escolhido conforme a linguagem comum de falar onde a inteligibilidade é primordial. Contudo, nada demais lembrar que a distinção não é absoluta. A linguagem e o ritmo da prosa, entretanto, formam a base de fundação do verso”

Na diáspora afrobrasileira a palavra ese não é usual, ficando restrita aos meios intelectuais, enquanto que ìtàn, ao contrário, é muito conhecida, mas adquiriu o conceito utilizado em português para palavra “história”; assim, arriscamos a afirmar que a palavra iorubá ìtàn está aculturada. A seguir, vamos dar alguns exemplos disso.

Pierre Verger (1972: 7, apud, Braga, 1988: 27) na transcrição abaixo, relata um encontro mensal dos babalaôs. Veja que Verger usa a palavra “história” quando está referindo-se aos versos de Ifá, percebendo-se claramente embutido o conceito europeu da palavra “história” sobre a palavra “verso” (ese). Talvez Verger nem percebeu isso.

“Este ensino constante se faz por meio da troca mútua do saber entre os babalaôs, ao longo de numerosas reuniões em que os adivinhos se encontram para discutir consultas que lhes são feitas sobre os mais diversos casos. Eles se reúnem também cada dezesseis dias em assembleias organizadas em todas as cidades, no dia do segredo (ojó awô), a cada quatro semanas, sendo a semana iorubá de quatro dias. Nessas ocasiões, após uma refeição comunal, os babalaôs relatam cantando algumas histórias de Ifá. Um dos sacerdotes conta, em solo, as estórias que são retomadas, frase a frase, pelos demais adivinhos. É nesse momento que eles exibem sua erudição. Aquele que inicia o canto tenta ofuscar seus companheiros com um relato novo e desconhecido para eles, pois se trata de uma grande glória assumir o papel de mestre e escuta-los repetir docilmente, verso por verso, uma nova história. É assim que os babalaôs presentes transmitem uns aos outros a sua ciência.”

Wande Abimbolá (1976: 43) referindo-se aos ese-ifá também utiliza o conceito inglês da palavra story, assim conceituando-os:
“Ese Ifá trata de todos os assuntos. Ele trata de historia, geografia, religião, musica e filosofia. Ese Ifá pode ser uma simples historia sobre um homem que está indo viajar e está querendo saber o que fazer para que a viajem tenha sucesso. Ele pode ser uma história altamente filosófica mostrando os méritos e deméritos da monogamia. Ele pode tratar da fundação de uma cidade. Não existe limite para os assuntos que ese Ifá pode tratar.” (Abimbola, 1976:32, apud, Abimbola, 1965:14). [o grifo é nosso]

“Ese Ifá tem uma estrutura original que o distingue de todas as outras formas de literatura oral iorubá. Uma vez que o ese Ifá é histórico em seu conteúdo, sua estrutura é também baseada sobre a sua natureza histórica.”

Juana Elbein, (1993: 149) em “Os Nagô e Morte” segue a mesma linha de pensamento de Verger e Abimbola, quando referindo-se a um extenso eléseese do Odù Osetura, assim o apresenta:
“Esta é a história de Òsetùwá tal qual é revelado pelo Odù Ifá. Diz a história como Èsù chegou a transportar todas as oferendas aos pés de Olódùmarè, fazendo aceita-las, e como Èsù se tornou Òjíse-ebo, o encarregado e transportador de oferendas, na terra e no òrun. Òsetùá é o oráculo que relata claramente o desenvolvimento desta história da maneira como segue. Diz ele:”
No mesmo livro, agora na página 171, Juana Elbein apresenta interessante registro etnográfico da tradição oral por ela recolhida em campo de pesquisa na Nigéria, o qual mostra a palavra ìtàn no primeiro verso do eléseese na própria versão original iorubá, ou seja, a língua nativa já utiliza
“história” como sinônimo de “verso”:
Odù Osetura

1. Itàan Èsù!2. Níbi tí Èsù gbé gba àgbà
[...]
Assim, do ponto de vista técnico, embora aculturada, a forma que utilizamos se faz correta, uma vez que o uso que fazemos da palavra ìtàn dentro de um ese procura atender aos conceitos da diáspora dos falantes de língua portuguesa, porém, mantendo tanto quando possível a forma iorubá tradicional na sua construção poética. Desta forma, podemos afirmar que se trata de um “poema de versos livres”.

[1] [1] O poema Òrìsà Dídá Ayé (Orixá criou o mundo) é composto por 396 ese (versos), sendo este o verso nº 1.
[2] [2] Uma coletanea de versos, um poema

Por Luiz L. Marins

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O perigo para o candomblé: extrato da entrevista de Pierre Verger para a Revista EXU.

O perigo para o candomblé: extrato da entrevista de Pierre Verger para a Revista EXU.


Luiz L. Marins
22/10/2009





Na edição de setembro/outubro de 1988, a revista EXU, publicou uma entrevista de Pierre Verger concedida a Conselheira Editorial da mesma, Myrian Fraga, com coordenação editorial de Claudius Portugal, editada pela Fundação Casa de Jorge Amado, Largo do Pelourinho, s/n, Salvador, BA.
Nesta entrevista Verger fala de sua chegada à Bahia, de seu encantamento pela cultura afro-baiana, de preconceito, de seu trabalho como fotógrafo, de início como escritor, etc., mas a resposta de Verger que fez valer toda a entrevista foi aquela que ele adverte sobre os perigos que ameaçam o candomblé.
Vamos reproduzir na íntegra a pergunta da entrevistadora Myrian Fraga e a resposta de Verger, que servirá como advertência, não só para a geração atual, como ainda para as futuras gerações, que tem buscado cada vez mais conhecimentos nos livros. Vejamos a entrevista:

[...]
MYRIAN FRAGA: E o candomblé hoje. Como o senhor o vê nesses quarenta anos, já que a Bahia foi modificada, principalmente pelo turismo?

PIERRE VERGER: O turismo é muito perigoso. Mas o que é perigozíssimo são as teorias dos intelectuais. Coisas que não têm nome, que não se justificam, que não se justificam, mas que são apresentadas com muita inteligência. São coisas muito inteligentes! Mas, inteligente, podem se dizer coisas que são estupidezas tremendas. Muito bem explicadas, mas que são completamente falsas.
Infelizmente, há recentemente coisas publicadas, que dizem exatamente o contrário do que são.
Tem uma pessoa que escreveu que é proibido agente comer as comidas que fazem parte das oferendas que se faz a um certo santo. Fez um trabalho minucioso e conseguiu a confirmação do ponto de vista que queria mostrar, mas que é completamente o reverso. Quando uma pessoa faz um trabalho com uma “hipótese de trabalho”, consegue provar qualquer coisa. E isso, porque baseou a teoria sobre a teoria de outra pessoa, da qual não quero dar nome, que escreve de maneira inteligente, mas que escreve coisas completamente estúpidas. É muito grave! O raciocínio é perfeito, mas a base é falsa. Tem muita gente inteligente que é completamente falsa. E isso é perigoso para o candomblé, porque o conhecimento do candomblé não é conseguido pela gente do candomblé de maneira didática. Nunca um pai de santo, digno de seu nome, ensina as coisas. Eles demonstram como se faz, sem explicar. Se a gente é inteligente, entende o que é.

MYRIAN FRAGA: E a utilização do candomblé, os mitos africanos, religiosos ou não, numa recriação literária? Como vê isto?

PIERRE VERGER: Eu acho que é um meio de usar os mitos africanos para a gente conhecer. Eles são de uma poesia e uma beleza muito grande. Não acho inconveniente algum, se não fizer uma deformação de caráter. Digo que há livros muito bonitos, Vasconcelos Maia, por exemplo. Se não deformar o caráter do santo, por que não.

*********

Nestes tempos de Internet, de tanto informação, contra-informação e desinformação, julguei oportuno registrar um extrato desta entrevista, para que a advertência de Pierre Verger se perpetue através dos computadores. Esta revista consta dos acervos da Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo.

[É permitida a cópia desde que cite a fonte].

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Homenagem aos homens que lutam pela religiao Afrobrasileira

Dar início a uma nova era para discussão das necessidades e carências dos quesitos religiosos e da cultura afrobrasileira, foi por Iniciativa do Nobre Deputado José Cândido e organização e escolha dos sacerdotes do Portal do Candomblé que convidamos as personalidades, autoridade e sacerdotes para serem homenageados no mês que marca o Dia Dos Pais, propositalmente escolhida esta data para expressar a importância e respeito que devem receber estes homens que lutam pela cultura e tradição das religiões influenciadas pelo ritual afro.

Difícil foi escolher entre tantos nomes ilustres que fazem parte da história do Brasil e da nossa fé, por isso que elegemos alguns que estão ao nosso lado, trabalhando diariamente e lutando contra o preconceito, discriminação e injurias confinada à nossa religião. Por isso que na data de 6 de Agosto de 2009 iremos prestar mais um serviço à comunidade religiosa que confia e espera mais do sistema.

Eu acredito que este movimento é apenas uma folha numa àrvore que tem raiz no solo brasileiro, porem sua semente é africana.

Eu acredito na igualdade dos segmentos religiosos e na tradição que cada uma segue, por isso que escolhemos vários segmentos religiosos dentro de cada cultura para poder agregar todas e demonstrar que todos são importantes e possuem valores equivalentes à tradição, que através da união e do trabalho comunitário que poderemos fazer-nos compreender e nos respeitar, mais que isso cada religioso aqui escolhido têm trabalho social, cultural e religioso na defesa da nossa cultura e patrimônio da humanidade.

Agradeço aos que estão ao meu lado trabalhando e aos que perpetraram este evento.

Profa Patricia Hauff Martins, Iya Ekedji Ogunlade, Erick Sosni, Babalorisa Vadinho de Ogun, Oyaberetemi, Angélica de Oya, Flávio de Iansã, Marcia Farro, Kika de Bessen, Ogan Rafael, Kayandewa, Ada, pai rozevaldo, entre tantos outros que me abraçaram nas horas de dor, meu especial agradecimento a meu babalorisa Kaobakessy.

Serviço
Data - dia 06 de Agosto de 2009 as 19:hs

Local - auditório Franco Montoro na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Av. Pedro Alvarez Cabral S/ nº Parque do Ibirapuera.

Eduardo Brasil - Tata Matâmoride
Relação dos Homenageados


Autoridades:
1. Álvaro Batista Camilo Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo
2. Dr. Antonio Carlos Malheiros Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
3. Antônio Ferreira Pinto Secretario de Estado de Segurança Pública
4. Edson Santos Ministro da SEPPIR
5. Hédio Silva Júnior
6. José Eduardo Oliveira Presidente do CNAB – Congresso Nacional Afro Brasileiro
7. Luis Flávio Borges D’Urso Presidente da OAB-SP
8. Luiz Antônio Guimarães Marrey Secretario de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo
9. Marco Antônio Zito Alvarenga Presidente da Comissão Antisdiscriminatória da OAB-SP
10. Antônio Ferreira Pinto Secretario de Estado de Segurança Pública
11. Otunba Adenkule Aderonmu PRINCIPE
12. Paulo Paim Senador da República
13. Renato Simões Movimento Nacional de Direitos Humanos
14. Roberto Tameilini Junior Advogado
15. Sebastião Arcanjo
16. Sinvaldo José Firmo ADVOGADO
17. Sikiru King Salami - Prof. KING
18. Ubiraci Dantas de Oliveira Vice Presidente do CNAB
19. Vicente Cândido - Deputado Estadual
20. Vicente Paulo da Silva Deputado Federal
21. Zulu Araujo Presidente da Fundação Cultural Palmares

Sacerdotes Candomblé

1. Babalorisá Alaepeoni
2. Babalorisá Alabiy
3. Áwò Akanì Ífàtokunmbo Erin Epega
4. Babalorisá Celso de Osalá
5. Babalorisá Cesar d’Osun “Iyamife”
6. Babalorisá Erick de Osala
7. Babalorisá Eduardo de Logunede
8. Babalorisá Flávio de Osossi
9. Babalorisá Flávio de Iansã
10. Babalorisá Francisco d’ Osun
11. Babalorisá Gladston ti Inlé
12. Babalorisá Gilmar d’Ogun
13. Babalorisá Jamil Rachid
14. Babalorisá João Batista M de Souza de Aira
15. Babalorisá José Carlos de Ibualamo
16. Babalorisá Karlito de Oxumare
17. Babalorisá Kaobakessy
18. Babalorisá Kilombo de Omolu
19. Babalorisá Lilico d’Osun
20. Babalorisá Loagikaceny
21. Babalorisá Marcelo Fomo de Logunede
22. Babalorisá Nenen de Obàtálá
23. Babalorisá Obasoji
24. Babalorisá Ogun Dimoloko
25. Babalorisá Paulo de Ode “Odemutakeregi”
26. Babalorisá Pérsio de Sangó
27. Babalorisá Rodney de Osossi
28. Babalorisá Rozevaldo de Osumare
29. Babalorisá Sidnei de Sango
30. Babalorisá Tinho de Ode
31. Babalorisá Vadinho do Ogun
32. Babalorisá Valter Logun Ede
33. Hungbono Jeferson de Azansu
34. Tat’etu Alabure
35. Tata Alamussangi de Lembarenganga
36. Tata Gil de Malé
37. Tata Katuvanjesi
38. Tat’etu Koneji
39. Tat’etu Nzaziankembu
40. Ogan Rafael de Obaluaye

Umbanda

Pai Alfredo Scheibel Junior – “Júnior de Xangô”
Pai Anderson Artur Dezen
Pai Carlinhos d’Oxum
Pai Edson Ludugero
Pai Guimarães do Ogum
Pai Juberli Varela
Pai José Valdivino
Pai Joãozinho Sete Pedreiras
Pai Marcos Roberto de Haro Azinar
Pai Milton Aguirre
Pai Roberto Carlos Zangrande
Pai Ronalde Linares
Pai Ronald de Ogun
Pai Osvaldo Trajano
Pai Olinto Nunes de Souza
Babalaô Anísio de Oxalá
Babalorisá João Roberto Dominicale de Ogun
Sacerdote Obashanan – William de Airá

Mesa

1. Iyalorisá Ada de Omolu
2. Iyalorisá Kayandewá
3. Iyá Ekedji Ogunlade
4. Dra. Tallulah Kobayashi de Andrade Carvalho
5. Maria Aparecida Nalessio
6. Deputada Federal Janet Rocha Pietá
7. Senadora Fátima Cleide
8. Major Suzuki
9. Doné Kika de Bessen

Enviado por Eduardo Brasil

TIKTOK ERICK WOLFF

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