quarta-feira, 13 de maio de 2015

A RELIGIÃO IORUBA E A FILOSOFIA

Baba Erick Oxalá
13/05/2015

A religião Ioruba, de tradição oral, é formada por vários cultos independentes. Cada qual possui sua própria forma de ser, sua própria classe sacerdotal.

  Os babalorixás detêm a filosofia e a liturgia do Orixá.
  O babalaô detêm a filosofia e a liturgia de Orúnmila.
  Os Ojé detêm a filosofia e a liturgia de Egungun.

Não há supremacia de um sobre o outro. Cada qual é supremo "apenas" dentro do culto que professa. Nenhum está subordinado ou ao comando de outro.

Entretanto, com o recente advento do culto de Orúnmila no Brasil, alguns babalorixás iniciaram-se também neste culto, alguns praticando as duas formas, o Orixaísmo, e o Orunmilaísmo, e outros abandonaram completamente o Orixaísmo.

Nada errado nisso, pois o Estado é laico e culto é livre.

A questão é que, enquanto na Iorubalândia os cultos são independentes, aqui no Brasil está acontecendo uma espécie de colonização Orunmilaísta alimentada pela sede de poder, não dos Iorubás, mas dos próprios brasileiros, que querem tomar para si o controle da filosofia das religiões afro-brasileiras.

Claro que há honrosas exceções de alguns poucos babalaôs, que sabe respeitar nossas tradições.


Direito de resposta;
Asa Orisa Alaafin Oyo

Bom dia gostaria de comentar, não podemos alterar a filosofia litúrgica da religião Yoruba, mas infelizmente e o k estão a tentar fazer e não entendo a razão. 


A religião Yoruba não se divide em olorisa e babalawo de orunmila, isso nunca existio. Orunmila e um orisa como todos os outros. Os sacerdotes de Orunmila são olorisas como todos os outros. 

Babalawo significa o pai do segredo e esta expressão e usada para todos os sacerdotes k tem a sabedoria de adivinhação, como baba awo sango, osun, obatala, Orunmila, etc. 

Depois Odu não são divindades de criação, as divindades de criação são os irunmoles e eledumare. Orisa existe sim sem Odu, temos por exemplo o povo de Ogun que não tem Odu na sua iniciação porque o seu método de adivinhação e feito através do Obi, assim como os olojes, esu e elegbe. 

Todos estes novos conceitos não são verdadeiros e infelizmente estão a estragar o nome e a liturgia de Orunmila. Ifa e a mensagem de Eledumare k e dada através do Obi, orogbo, buzios, ikin e opele. Ifa pertence a todos os sacerdotes não exclusivamente a Orunmila.

Vamos entender e falar a verdade da filosofia e liturgia da religião Yoruba. Se assim fosse como se explica de que a 1 arte de adivinhação são os buzios e não o ikin e opele? a 1 forma de contato k eledumare teve com os irunmole quando vieram para o aye e com os seres humanos foram os buzios, foi o 1 IFA. Porque razão estão a invertir todo o prosesso de criação, filosofia e liturgia da religião? TODOS SÃO OLORISAS, BABALAWO NÃO E UM TITULO; mas sim todos os Olorisas k dominam a adivinhação são baba awos pai do segredo
.


Ainda, é preciso destacar que Òsun, recebe de Obatalá o Eérìndílógún, indicado por Asa Orisa Alaafin Oyo; (os grifos sao nossos)


NEWSLETTER MAY 2015



Tradução




Àsà Òrìsà /06 Òyó Maio 2015 / 2
Edição Quinzenal



O boletim de hoje ABRE com um campo de Notícias com uma notificação, incluindo um Novo Verso de Odù Eérìndílógún (16 búzios) e seção Notas Culturais que podem ser de interesse!



Notícias


A Comissão Executiva da Associação Àsà Òrìsà Aláààfin de Òyó notifica todos os seguidores interessados neste Boletim Informativo de que a edição deste será mensal a partir de junho.
 
Verso Novo


Òsun aprende a adivinhação de Eérìndílógún
(16 búzios) de Òrìsà Nlá
Com base nos versos do Òfún Odù, Òrìsà Nlá ensina Osun o Eérìndílógún depois de todos os Ìrúnmolè chegaram do céu.
Breve história de Odù Òfún:
Òfún Saa Lefun
Òfún Saa Losun
Òfún Saa ni moriwo ope
Yeeyeye
Òsun
Awura Olu consulta o oráculo
Ela foi autorização a Obaala
Depois de todos os Ìrúnmolè chegarem a terra
Òsun é a primeira mulher entre eles
Mas ela não sabia nada
As pessoas visitavam na para adivinhação
Mas ela não sabia como para consultar
Então, ela decidiu ir e ver Òrìsà Nlá
Òrìsà Nlá deu-lhe o Eérìndílógún (16 búzios) e o Ide (pulseira)
E ensinou-a a usá-lo


Chefe Sangodina Agbolori, Òyó, estado de Òyó, Nigéria
Notas Culturais
Uma pequena citação do Canto (Oriki) de Òsun


Obaala me deu conhecimento
Usei-o para me alimentar
Obaala me deu a pulseira
Para meu orgulho
Ele também me deu os 16 búzios juntamente com ela.

Fonte - (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1473984109559399&set=pcb.1473989186225558&type=1&theater) 
Asa Orisa Alaafin Oyo



 



Resposta coletada do Facebook, em dialogo aberto conceituando o tema.



Esta questão que os itan falam do nascimento dos Orixás através de alguns odus, não tenho conhecimento disso. Coloquei a questão a 3 pessoas em Oyo para me responderem e assim, certificar-me. As pessoas questionadas foram:

Aare Isese que é seguidor de Orunmila e titulado pelo Alaafin,
O Elegun Sango
O sacerdote Aaje de Obatala

Todos me deram a seguinte informação:

Nenhum Orisa “nasceu” através de odu. Existem odus específicos que falam sobre Orixás específicos,  e é habito dizer que “o odu pertence a certo Orisa”. Por exemplo: o Eerindilogun Ejilasebora fala de Sango e pertence a Sango, assim como Okaranmeji pertence a Sango nos Ikin Orunmila.

Dentro do conhecimento deles, isso [que Orisa nasce de odu] não é verdade. Mas por favor, caso tenham conhecimento de algum odu, onde o itan fala que “nasceu” certo Orisa, estamos dispostos a aprender.


Aqui no Brasil, há um conceito crescente, afirmando que o sacerdote de Orisa, não pode fazer Orisa, sem que um Babalaô esteja presente.

Partindo deste conceito, invalidam as feituras e iniciações as quais não tiverem presente, ou seja, o culto a orixá sem um Babalao, não existe.

Por não participar deste conceito e não concordar que eu procurei explicar no texto.


Saudações.

Reproduzirei aqui um parte da conversa que tive faz alguns meses, com o Babalaô Marcos Arino, em sua página <http://blog.orunmila-ifa.com.br> o qual respeito pela sua lucidez, clareza e firmeza com que expõe seus pensamentos.

Segue o diálogo:

“Já tive discussões enormes por causa disso, pois a palavra "nascer", neste contexto, além de equivocada, está muito mal empregada. O único objetivo deste pseudo conceito é subjugar as religiões afro-brasileiras, algo que não podemos admitir de forma alguma.

[...]

Enquanto os babalaôs quiserem fazer valer o pseudo conceito absolutista, totalitarista e ditador que "o orixá nasce do odu" ou, "odu é quem dá nascimento a orixá" ou, "não existe orixá sem odu", ficará difícil tal interação, pois se tratará apenas de uma aproximação para subjugar, controlar e dominar.

Um exemplo disso é o Batuque (RS) onde não existe odu-ifá, não tem, nunca teve, e nunca terá, pois tem oráculo próprio baseado nos Orixás, e não nos odu. Os Orixás no Batuque existem vivos e fortes, sem que nunca fosse preciso tirar um odu, seja de Ifá ou de búzios.”



Babalaô Marcos Arino:

“Luiz, fui de Candomblé e sou de Ifá. Estudei Ifá por longos anos, muitos mesmo [...] Essa palhaçada que eles falam que orixá nasce em Odu querendo se colocar acima ou conhecedores é apenas farofa [...] Temos culto de orixá ha dezenas de anos. Orixá aqui sempre nasceu sem isso.”
[...]


Caro Luiz L. Marins, antes de mais nada saiba que sou um admirador do seu trabalho. Quanto ao Marcos Arino, conheço pessoalmente e sem dúvida, é um grande estudioso e sacerdote.

Contudo, permita - me discordar:

Se assim fosse, na Umbanda também existem orisàs como se tem noticias na África. O batuque tem força sim, mas a questão do nascimento dos orisàs não é tão fácil quanto gostaríamos que fosse.

Caro Daniel, vou repetir o que eu ouvi de um filho, sacerdote de Ifá, que procurou o Batuque para se iniciar, por que na família dele, Ifá não dá pleno poderes, é há diferença entre “dar um ojubó de Orixá através de odu” e “fazer uma iniciação em Orixá”.

E ele ainda fala que quando determinada divindade emerge Olôdumare, este momento é registrado, que os odu são somente registros de acontecimentos, que podem ser acessados conforme a necessidade, diferente de Orixa, que estão vivos, individualizados e conscientes.

E realmente o Batuque não usa e nem nunca usou Odu em seu jogo, e rituais, por que temos oraculo voltado para o culto a Orixá, e nossos rituais são presididos ou testemunhados pelas divindades, que nos sancionam ou corrigem qualquer coisa que estamos fazendo.



Bem, até onde pude alcançar, no Batuque os Orixás só são feitos pelas mãos dos Babalaôs. Ainda vou escrever sobre isto.


Alguns batuqueiros usam a palavra "babalaô" como expressão idiomática para referir-se ao babalorixá, e não ao babalaô do culto de Ifa-Orunmila.



Hendrix Silveira, sobre o conceito de Babalaô, não estamos nos referindo ao sacerdote de Orixá, nem aos iniciados em Oxalá Orunmilaia, no Batuque, mas aos sacerdotes de Ifa-Orunmila





Ficando bom... Queria ver opiniões dos babalaôs gaúchos. Escrevem ao vento, este é o momento, gosto muito deste tema. Tenho pavor desta pseudo supremacia idiota.


Voltando ao estudo do uso do verbo “nascer” utilizado nas expressões “orixá nasce de odu ... tal odu da nascimento a tal orixá”, entendemos que o significado desta expressão é “está registrado em tal odu … tal odu registra que”, e não que odu-ifá seja uma divindade criadora, que tenha criado os Orixás.

Comparando com nossa vida social, os odu-ifá seriam os livros de registro de nascimento dos cartórios civis. Todo recém-nascido para existir socialmente como pessoa precisa ter um registro de nascimento. Sem isso, a pessoa não existe.

Assim, a pessoa "nasce" a partir daquele livro de registro, ou o livro de registro "deu nascimento" à aquela pessoa. Neste exemplo, o verbo "nascer" aí é meramente figurativo para os fins sociais a que se destina.

A pessoa propriamente dita já havia nascido de fato de sua mãe biológica. A pessoa não nasce do livro do cartório, e nem é este que dá nascimento à pessoa.

No link a seguir vemos o uso do verbo "nascer" para diversos elementos, e não apenas para orixá <http://www.ifayemi.com.br/itadogun.php> (ao abrir a página, digite control+F, e na janela de pesquisa que abrir, digite a palavra ..nasce.. tecle enter para navegar entre as várias entradas.)

[obs. não se trata de nenhuma crítica ao site citado, que aqui aparece apenas como referencia].

O que ocorre com estas expressões, a meu ver, é uma inversão de seu sentido verdadeiro, que está sendo utilizado oportunamente por sacerdotes para arrebanhar seguidores e controlar, filosoficamente e teologicamente, as religiões afro-brasileiras.

Concluindo: Não, orixá não “nasce” de odu ... isto é uma inversão de conceito, não troquem seus Orixás por filosofias utópicas.


Concordo plenamente e complemento: odu, como signo de peixes, que foi época de março que eu nasci... Registra uma época, período, etc.


Bom, confirmando o conceito de que Orixá “não” nasce de Odu, o Batuque é o melhor exemplo que, sem usar Odu em seus rituais, ministra iniciações e rituais perfeitamente, e seus ebós são feitos adequadamente sem necessidade de odu.


Também corroborando nosso pensamento que, em odu-ifá, o significado de “nascer” é “registrar”, vemos no site Ifanilorun <http://ifanilorun.com.br/?page_id=1656> um itan onde está registrado o "nascimento", do opon, e do irofa.  O articulista conclui: “...Desta forma nasceu o Opon Ifá, o Irofá, ferramentas religiosas dos sacerdotes de Ifá.”

[obs. não se trata de nenhuma crítica ao site citado, que aqui aparece apenas como referencia].

Então é isso...finished.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Intolerancia e Racismo

Por Baba Erick Wolff
14/04/15


Ao olharmos o Facebook, podermos ter noção da perseguição contra as religiões de matriz africana, e o racismo está numa luta acirrada contra a nossa fé.

Na verdade os deputados alegam que querem acabar com os despachos em vias públicas, conforme a PL21, na verdade eles estão lutando mesmo para acabar com as tradições, não vejo ninguém querendo acabar com o cortejo na semana santa, que apesar de ser uma vez ao ano, polui da mesma forma, deixando um tapete extenso na via pública, ou será que pensam que não polui e chama insetos?





O que eu vejo é intolerância e racistas promovendo ataques contra a raça negra e a sua fé.

Infelizmente ninguém questiona ou cria problema com as igrejas que usam guitarras ou baterias até tarde, querem sempre parar os tambores e os nossos rituais.

Quando será que irão parar de chicotear a raça negra e a sua fé em nome de Deus?

Todos afro-religiosos contra a lei

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Atos criminosos contra a cultura negra no R.S.

Por Erick Wolff
09/04/15

(Errata) 

Templo da ìyá Re
A data de 08/04/2015, em Porto Alegre foi o marcada por algumas perseguições de cunho santo,  dois atos criminosos contra a tradição afro-brasileira, uma das vitimas foi um terreiro de tradição Òrìsàísta, o templo da Ìyálòrìsà Cleuza de Odé, do Bairro Rubem Berta, no Parque dos Maia, o templo foi totalmente queimado, após atearem fogo criminosamente, e neste mesmo dia queimaram uma imagem de Yemanjá em outra localidade, ainda não obtivermos informações sobre a Santa.
Imagem queimada
 
 
 
Nesta mesma data havia uma manifestação contra o projeto de Lei 019/15, que visa proibir o Abate de animais em rituais Afro-brasileiros, percebam que o foco são apenas as religiões de Africanas, num estado ao qual o churrasco é a tradição Gastronômica, chega a parecer irônico, mas na verdade esta lei é uma perseguição religiosa insuflada por religiosos evangélicos, que não aceitam que o culto de Matriz Africana, seja praticado, e querem transformar o Brasil num país regido pela Bíblia, acabando com o estado Laico. 

 
 
Aguardamos as investigações da policia, para acusar os culpados.
 
 
Errata - Informamos anteriormente que foi o templo da Ìyálòrìsà Re Silva, no entanto, ao entrarmos em contato com a Ìyálòrìsà, ela nos informou que foi a sua vizinha, e que foi Ìyá Rê de Oyá quem mobilizou a vizinhança e socorreu a pobre  Ìyálòrìsà e família, e graças a Rê, não houve uma tragédia maior, ela também nos informou que o fogo foi ateado por religiosos evangélicos da vizinhança. 
Fonte - Ìyálòrìsà Re Silva (https://www.facebook.com/rede.oya.7)

sexta-feira, 20 de março de 2015

ALTAIR TOGUN FALA SOBRE A POLÊMICA DO IGBÁ-ORÍ


[…]

Aí é que começa a história do igbá-orí, literalmente, cabaça da cabeça, pois os assentamentos eram feitos em cabaças – igbá, daí o nome ter virado sinônimo de assentamento de Òrìsà, a cabaça do orí. Costuma-se fazer assentamentos com as mais variadas coisas para representar o orí de uma pessoa.

Esta variedade de coisas deve-se, a que o orí seja o que individualiza o ser humano. Como no caso das impressões digitais, ninguém tem orí igual ao de outra pessoa, cada orí é único e exclusivo daquela pessoa. Então, faz-se o assentamento numa cabaça ou tigela, o mais comum entre nós, e esse assentamento é cultuado como igbá-orí, ou seja, a representação física do orí-inú da pessoa.


Tudo bem, este comportamento é usual e corrente. Mas, sem querer ser o único certo, longe de mim isso, eu não concordo com esse tipo de igbá-orí, porque eu penso que a melhor representação do nosso orí-inú é o nosso orí físico, ou seja, a nossa própria cabeça. A nossa cabeça física é a materialização da nossa cabeça interior, acho eu. Qual o melhor objeto para representar o nosso orí-inú, que não a nossa própria cabeça? É dentro dela que se instala a outra do òrun, por isso, chamado orí-inú (cabeça interior).

Mas interior onde? Da cabeça física que também, acho, tem o formato do igbá (cabaça).
Quando fazemos um borí, nós estamos cultuando esta cabeça interior. E onde nós fazemos os preceitos? Diretamente em nossa cabeça, pois é ali que mora o nosso ori-inú e o nosso Òrìsà. Então, é à nossa cabeça que devemos reverenciar, não aquela tigela com alguns objetos que dizem, ser o igbá-orí. Digo isso por que acredito assim.

E algumas vezes, quando sou questionado por algumas pessoas que por “n” motivos, perguntam o quê fazer com seu igbá-orí. Outros, preocupadíssimos porque seus zeladores não querem entregar ou que pior ainda, despacharam seus igbá-orí.

Então, converso com elas dizendo isso que acredito. Grande parte delas se acalma e acaba concordando comigo. Não que eu seja o dono da verdade, mas, há lógica em minha teoria.


Entretanto, se não houver, é um bom assunto para ser pensado por todos. Igbá-orí não deveria existir, pois não há lugar melhor para cultuar orí-inú que sobre orí-òde, porém ficou convencionado o uso dele.


Quanto ao igbá-orí, a representação material do Ori, a bandeja onde guardamos o double, este contém alguns itens de conhecimento restritos àqueles que tem o seu ori "assentado", posso, porém assegurar que entre estes itens jamais encontrarás um òkúta (ota). Igbá-orí, segundo a tradição [iorubá] de Òrìsà, não leva òkúta. (o grifo é nosso).


Leia a matéria completa na Revista Olorun N. 24, Março de 2015, com o título:

“ A reafricanização filosófica de Altair Togun”

quinta-feira, 19 de março de 2015

Carta dos Afrodescendentes aos que foram escravizados no Brasil.


Por Bàbálòrìsà Erick Òòsàálá
19/03/2015

 
O Brasil nunca esteve tão frágil, quanto a nossa atual situação, quando os nossos antepassados aportaram aqui, não trouxeram nada além do seu sangue, cultura, religião, tradição e fé, porem desde o momento que seus pés tocaram o chão os Deuses abençoaram esta terra santa.
 

Estes Deuses negros que acompanharam os povos que vieram da terra do sol e das aldeias dos tambores que contam histórias e lendas de bravos homens e mulheres, homens dignos foram escravizados e maltratados sem pena ou dó... Deixaram uma herança, um legado para nós brasileiros, muito além do sangue derramado nos troncos das fazendas brasileiras.


Lentamente a cultura dos negros foi sendo assimilada e incorporada na gastronomia, danças, no gingado da capoeira e nas lendas populares do país. Durante séculos o homem tentou colonizar os africanos que chegaram. Os homens brancos tentaram impor sua cultura, tentando os ensinar a serem brancos, se portarem como eles achavam que seria conveniente, sem respeitar a sua identidade, impondo até mesmo a sua fé.


O sofrimento e a falta de respeito com a identidade negra, o subjugando até hoje, quando vemos o homem colonizador tentando pregar o seu deus pessoal, negando a identidade negra, com seus anjos, santos e santas católicas, nos perseguindo nas ruas, lares e colégios, destruindo nossos terreiros e locais santos, queimando a nossa história e esfolando a memória dos negros e afro-descentes, levantando cruzes em nossas portas, tentando esconder o legado que os escravos nos deixaram.


O mundo foi testemunha do holocausto Judeu, e da degradação do homem negro, sendo vendido pelos seus próprios conterrâneos e se tornando lixo humano nas mãos de seres humanos desprovidos de sentimentos e humanidade, degradaram a sua dignidade e a sua alma, tentaram destruir o que possuem de mais puro, mas em momento algum o homem negro se rendeu a personificação do mal, não retornando a maldade a qual foram expostos.


E o que o homem contemporâneo nada fez para indenizar o homem negro escravizado em terras Brasileiras. Acredito que alguém, em algum momento pensou que o sangue derramado nas ruas, lavouras e senzalas jamais secou de verdade, que as vozes, choros e lamentos nunca pararam de ecoar por entre as ruinas das construções que abrigaram os terrores e atrocidades cometidas contra os descendentes africanos inocentes.


Parem e imaginem o sofrimento, pensem no negro e na sua cor, na chibata tocando a pele e cortando como se fosse uma faca afiada cortando o couro, sintam a dor e as lagrimas escorrendo, na angústia sufocada de cada alma que deixou nos deixou a sua riqueza, as custas do sofrimento, que dedicou a sua vida ao escravagista impiedoso e tirano...
 

Escutem as nossas cantigas que cantam alegrias e tristeza, sintam os nossos tambores marcando o compasso do coração em vários ritmos, eles jamais pode parar, por que estes tambores nos dão vida, estas cantigas acalmam as nossas almas.


Ouças os passos na roda, ouçam as letras do que cantamos, elas contam as lendas e histórias dos nossos antepassados e trazem alegria para esta terra, não nos amordacem, não nos calem, pois cantamos cantigas e lamentos de homens e mulheres que foram brutalmente massacrados, ou rezamos cantando para grandes homens e morreram por nós, e os lembramos nas cantigas, não no calem ou esqueceremos dos nossos antepassados e quem somos.


Não tentem apagar a chama do nosso coração, pois elas mantem a chama da fé, das nossas divindades e deuses, saibam que o Olódùmarè sempre foi um deus misericordioso, jamais amaldiçoou aqueles que escravizaram seu povo, jamais mandou pestes ou maldiçoes para aqueles que os roubaram de suas terras, que mataram seus filhos e parentes.


Olódùmarè é, e sempre será um bom Deus, abençoando a todos que existem no mundo, cedendo alimentos aos seres humanos e nos ensinando a compartilhar o pouco que temos com a comunidade, independente de credo ou fé, ele nos ensina a compartilhar o pouco que temos e dividir com as pessoas a nossa volta, isso se chama Ipèjé.

O ritual sagrado do Ipèjé, aproveita-se tudo, separando e aproveitando tudo que a natureza nos oferece, como grãos cozidos, verduras, legumes, doces, carne, tudo deve ser preparado, sacralizado e compartilhada para a comunidade.


Não exigimos nada além de podermos dar continuidade aos nossos rituais, de poder manter a tradição daqueles que foram abduzidos da sua terra e escravizados em terras distantes, morrendo sem nunca ver a sua terra novamente. Muito de nós morreram e foram indenizados, não nos tirem a única coisa que nos orgulhamos, não nos colonizem com deuses, deixe-nos cultuar as nossas divindades e honrar nossos antepassados em paz.


Não queremos nada além da liberdade de cultuar os nossos deuses, tocar nossos tambores, cantar nossas orações, lembrando os feitos dos nossos antepassados em cantigas.


Nos deixem viver a nossa vida simples e cotidiana, nos deixem sonhar com a terra dos nossos antepassados enquanto cantamos como são lindas as terras que eles viveram, como foram homens bravos e misericordiosos.


Não nos acorrentem, não nos matem, não nos escravizem novamente.

TIKTOK ERICK WOLFF