domingo, 10 de janeiro de 2016

Codificar a Umbanda

Erick Óbokún
10/01/2016


Muitas vezes o homem, na intenção de controlar o homem, cria regras para poder controlar a todos. Porem não é assim tão fácil como pensam, por que, partindo do ponto de vista que cada terreiro tem o seu mestre e mentor, que geralmente é uma entidade do dirigente ou, fundador que administra os rituais e conceitos religiosos.

Geralmente esta entidade segue uma linha de trabalho e espiritualidade a qual o médium seguia ou foi preparado, dando continuidade aos fundamentos que lhe foram passados, podendo ou não sofrer alterações conforme a entidade mestre determina, assim fica a cargo e responsabilidade desta entidade toda e qualquer modificação que efetuem naquele terreiro.

Se cada templo, tem o seu mestre, que orienta e trabalha, os médiuns e consulentes irão seguir e propagar o conhecimento e fundamentos, caso um dia cheguem a abrir uma casa religiosa. Este processo de perpetuar e difundir tradições de uma única família, deve ser respeitado e protegido, é o que faz com que pertença a uma linha filosófica e assim seja identificada.

Os rituais e tradições de uma família, geralmente são protegidos pela comunidade, qualquer elemento que venha a ser introduzido, será avaliado pela entidade chefe, ou pelo próprio mentor do templo, ou não farão parte daquela comunidade.

Por isso, quando alguém criar código para determinar o que pode ou não ser considerado Umbanda, deverá consultar todos os templos existentes, registrando cada templo, cada conceito, tradição e fundamentos, ou o trabalho além de tendencioso seria incompleto e mal feito.  

Por isso, qualquer tentativa de impor um código ou de ditar o que podem ou não fazer, é uma violência inadequada e competitiva, sendo assim, codificar uma religião viva, a qual cada templo é um universo religioso é um crime cultural e religioso.  

Por que ninguém irá aceitar, que invadam a sua casa, e ditem o que você pode ou não fazer, por que sabemos que alguns templos de Umbanda praticam certos rituais e outros templos não aceitam, e caso a codificação seja feita, todos serão obrigados a seguirem aquelas regras determinadas pelo código, ou serão banidos e até fechados... Pensem muito, por que é uma ida sem volta.

O mesmo serve para os terreiros de Candomblé e Batuque, que além de sofrer ataques diariamente dos evangélicos, ainda  sofrerão perseguição dos próprios irmãos religiosos.    





sábado, 2 de janeiro de 2016

AGANJU NÃO É ORIXÁ DOS VULCÕES

Nathan Lugo
Janeiro de 2016


“Não existem vulcões na iorubalandia. Aganju é um orixá que estudei com os sacerdotes de
Xangô em Oyó. Eles nunca mencionaram vulcões e quando perguntei sobre isso, eles não
compreenderam.
Seria interessante saber quando a diáspora Ioruba começou a associar Aganju com vulcões e
quando os Iorubas começaram a adotar as concepções cubanas de Orixá (pelo menos os
baba orixás e babalaôs mais jovens).”

domingo, 15 de novembro de 2015

A PRATICA DA FEITIÇARIA COMO ELEMENTO FOMENTADOR DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Luiz L. Marins

15/11/2015



Sei que gera polêmica, mas é preciso falar sobre o assunto. A intolerância religiosa não pode e não deve ser embasada apenas no fundamentalismo e no fanatismo evangélico. Eles existem, sabemos, mas não são os únicos motivos da intolerância religiosa contra as religiões afro-brasileiras.

A maioria das religiões afro-brasileiras visam a prática do bem. Os sacrifícios, quando necessários tem um objetivo de promover a cura, a prosperidade, a proteção espiritual, restabelecer a paz, promover a união, como também o louvor aos Orixás. Esta é a finalidade da maioria das religiões afro-brasileiras, mas nem todas. 

Há outra prática que vem sendo ignorada por aqueles que lutam contra a intolerância religiosa. É um segmento menor, praticado por uma minoria, com finalidades menores ainda, mas que existe e precisa ser sociologicamente debatido: a prática da feitiçaria dentro das religiões afro-brasileiras. 

Basta uma rápida pesquisa no YouTube para mostrar que elas existem:

Neste outro vídeo que selecionamos, arquivado na Biblioteca Orixás, o feiticeiro explica: https://drive.google.com/file/d/0B0QWMww0gZVYNXFNWFVtZjVBYTQ/view?pli=1  

Não julgaremos os vídeos. O leitor terá discernimento suficiente para fazê-lo. 

Os projetos de lei apresentados pelos evangélicos para a proibição dos sacrifícios em rituais religiosos tem a finalidade de combater a prática da feitiçaria, muito mais do que fundamentar sua própria religião. Esta prática causa uma revolta social. 

A única forma que a sociedade civil, evangélica ou não, tem para defender-se dela, é por vias legais, criando leis. A sociedade de uma forma geral não pode se curvar ante um segmento menor que pratica feitiçaria, ainda que se alegue inconstitucionalidades. Cabe aos líderes afro-religiosos esclarecerem a opinião pública e lutarem contra tal prática. 

 Assim, sugiro que incluam este tema nos fóruns que de forma isenta, pretendem debater a intolerância religiosa.



domingo, 1 de novembro de 2015

Homenagem a Waldemar Antonio dos Santos, patrono e fundador da tradição Kànbína do Batuque do R.S.

Por Erick Òòsàálá
02/11/2015

Revisado e aumentado em 14/09/2021


Imagem 1 - créditos ignorados; à saber









QUEM FOI WALDEMAR
Waldemar é o patrono e fundador da Raiz religiosa Kànbína (Cambina ou Cambini como tradicionalmente era chamado antigamente, e que atualmente é chamada de Cabinda). Teria nascido em 04 de agosto de 1883, em solo brasileiro, morrendo em 15 de setembro de 1935. Sabemos que Waldemar, era filho de Pedro dos Santos e Maximiliana dos Santos, e faleceu dia 15 de setembro, aos 52 anos, por complicações do coma, causado pela diabetes. Deixando a viúva Ottilia Tavares dos Santos e os filhos Antonio (21 anos), Manoel (16 anos) e Nair com (6 anos).

Filho de escravos, ele nasceu livre, pois a lei nº 2.040, lei do ventre livre, de 28 de setembro de 1871, que liberou as crianças nascidas de pais escravos, e, mais tarde quando ele estava com cinco anos, veio a Lei Áurea, Lei Imperial nº 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888, extinguindo a escravidão.

Waldemar deu início a uma tradição, que pode perpetuar os costumes Ioruba no Rio Grande do Sul, alinhada e estruturada com conceitos que encontramos até hoje na tradição Ioruba. Sendo filho de Sàngó Agodo, Waldemar uniu fundamentos das atuais tradições por meados de 1930, dando início a Kànbína que atualmente agrega descendentes religiosos em todo o Brasil e outros países da América do Sul. (fonte: 
KANBINA: ORIGENS IORUBÁ E CONTINUIDADE NO BATUQUE DO RS, Edição do autor, Ano 2019)

EÉGÚN
Imagem 2 - créditos ignorados; à saber

Ao lembramos dos mortos, e recordamos daqueles que conviveram conosco, ou nos deram a origem. Damos o nome de Eégún (osso, referindo-se aos mortos) para aqueles que morreram e pertenciam a família carnal ou religiosa.

Nos rituais Afro-religiosos, importante lembrar daqueles que se foram, que partiram para o Òrun (Mundo espiritual), e na tradição Kànbína do Batuque do R.S., homenagearmos o seu fundador Waldemar Antônio dos Santos, ao qual cultuamos a sua memória (iránti) no Ibókú (Ilé-ìbó-akú = casa de Adoração aos mortos).

Sabemos que a função de um Eégún (falecido) é proteger e orientar a Ebí (família) religiosa, e deve ser consultado sempre que necessário.

ÒRÌSÀ NÃO VIRA EÉGÚN
Determinados òrìsà possuem uma estreita ligação com Eégún no entanto jamais poderemos confundir òrìsà com Eégún, por que òrìsà não se torna Eégún. Para isso haveria necessidade do òrìsà estar encarnado e depois morrer, por isso, òrìsà não tem fundamento òrìsà ser cultuado no Ibókú ou Igbalè.


SÀNGÓ KAMUKA
Por muitos anos na Diáspora Ioruba Brasileira entendeu-se que Sàngó temia Eégún. No entanto no Batuque do RS. principalmente na tradição Kánbína, jamais Sàngó temeu Eégún.

A tradição Kànbína possui um Ojúbo chamado Sàngó Kamuka, que protege a comunidade contra Ikú (morte) e os inimigos, Kamuka também é responsável pelos rituais à Eégún, o que chegou até a criar um grande equivoco, a ponto de chamar de Sàngó de cemitério ou pensar que Sàngó Kamuka seria um Eégún, sem que seja verdade, ou que este òrìsà seja um Eégún.

As famílias que ainda mantem o culto deste Sàngó vivo possuem uma segurança feita no meio do salão, e ou, o seu próprio Igba-òrìsà, que fica na frente do templo, ao lado do Ilé Olóòde (Ojúbo òrìsà Èsù, que fica no pátio dos templos).

Vale lembrar que outras tradições do Batuque, possuem uma divindade muito semelhante, conhecido como o Sàngó do povo, que alguns o colocam no meio do salão como segurança enterrado, idêntico ao Kamuka da Kanbina, e ou, ele fica sento na frente do templo semelhante ao Kamuka.


Notem que na diáspora a comida preferida de Sàngó é o Quiabo. No entanto as tradições (Kànbína, Jeje, Ijesa e Òyó) do Batuque do R.S., preparam o Amalá de guisado de carne de peito de gado ou carneiro com folha de mostarda, acompanhado com pirão. Muito semelhante ao feito em Oyo, na Nigéria
Imagem 3: Créditos no final do texto

Oríkì Kamuka, tradição oral do templo Ilê Axé Nagô Kóbi.
1. Xangô Camuca 
2. Cabiesilê!
3. Alanã tooro can ayê Alanã tooro corun,
4. Bi Xangô Camuca uô Ilê Caô Cabiesilê, emo ló
5. O uô egun
6. Camuca unbe nilê ua o

1. Saúdo Xangô Camuca
2. Sua majestade!
3. Que cria caminho da terra para o céu
4. Se Xangô Camuca entrar na casa, o perigo vai embora
5. Ele cuida dos ancestrais
6. Camuca está na nossa casa

Sugestão de leitura
Kamuka na Nigéria 
Por Erick Wolff8

RESUMO

Este texto tem por finalidade revelar as recentes informações sobre o tema Kamuka nas atuais terras Nigerianas. O trabalho apresenta o CEP da região Kamuka, informações sobre a etnia Kamuka, além de registros de famílias e, até mesmo o parque nacional Kamuka, devidamente localizado em terras Nigerianas. 

https://iledeobokum.blogspot.com/2020/10/kamuka-na-nigeria.html


Bibliografia

Wolff, Erick, KANBINA: ORIGENS IORUBÁ E CONTINUIDADE NO BATUQUE DO RS, Edição do autor, Ano 2019.
https://iledeobokum.blogspot.com/2019/12/kanbina-origens-ioruba-e-continuidade.html 

AMALÁ DE XANGÔ EM OYO, Revisado e aumentado em 03/12/2020
https://iledeobokum.blogspot.com/2020/12/amala-de-xango-em-oyo.html 

Créditos das imagens 1 e 2 ignorada; à saber

TIKTOK ERICK WOLFF