domingo, 15 de maio de 2016

SOBRE O CONFLITO MITO POÉTICO IORUBA

Luiz L. Marins
www.luizlmarins.com.br

Maio de 2016



Entendo que uma religião precisa ter uma gênese, pois sem ela não há religião, apenas culto.

Assim, numa etnia onde há várias gêneses, consequentemente há várias religiões.

Todas estas culturas podem conviver em paz dentro de uma etnia, desde que cada uma respeite o limite da outra.

Quando uma tenta apresentar sua teologia como verdade para todas, os conflitos ocorrem.

Tradição oral apresenta oralidade. Tradição escrita apresenta escritos. (óbvio)

Em qualquer um dos casos, o formador de opinião e semeador de ideias precisa, para evitar os conflitos, precisa respeitar o limite do outro evitando as generalizações em uma etnia que possui várias religiões dentro dela.

A sugestão para a convivência pacífica é que o fomentador use das expressões:

"... em minha família tal, do chief tal, de tal cidade, nós acreditamos que ..."

Com isto, o formador de opiniões, via vídeo ou escritos manifesta sua fé, respeitando a do outro.
Generalizações visando o embasamento de uma forma única como regra geral só trarão conflitos, como:

"..na cultura ioruba .." (qual? há várias)

".. na religião tradicional ioruba.." (qual? há várias)

"..na Iorubalândia.." (qual? há iorubas em Ghana e Togo)

Os iorubas, sem perceberem, estão modificando sua teologia ao abandonarem o orixaísmo nativo (quando o orixá possui o poder de realização da criação delegado por Olodumare - Obatalá e Odudua) ... para adotar o teísmo estrangeiro (quando existe a atuação direta de Olodumare na criação - Akamara).

Este novo modelo teológico tira o poder de criação de Obatalá e/ou Odudua, devido à ação direta de Olodumare (Popoola), surgindo então a necessidade de supervalorizar a intermediação de Orunmila.

" O Estado é laico e o culto é livre " .. ok ... este conceito também vale para os iorubas; mas é preciso que se esclareça qual é o conceito teológico que se está a divulgar.

Ire o!

terça-feira, 3 de maio de 2016

ÈSÙ CONHECE O SEGREDO DAS ÌYÁMI

Por Luiz L. Marins
Maio de 2016


Com o crescente interesse pelo culto de Ìyámi Òsòròngà convém lembrar que a literatura afro-brasileira apresenta informações importantes sobre a ligação delas, com Èsù.

Pierre Verger registra um ese (verso) do odù ogbè ògúndá, signo divinatório do oráculo de Ifá, o qual revela que Èsù não só conhece o segredo das Ìyámi, como também ensina o ebo correto à Òrúnmìlà, para, por seu intermédio, apaziguá-las.

Juana Elbein no livro Os Nàgó e a Morte faz algumas considerações conceituais sobre Èsù, onde demonstra que Èsù é o òrìsà que recebeu um àse especial de Olódùmarè para resolver todas as situações, inclusive no trato com as Ìyámi.

Assim, convém que os religiosos afro-brasileiros reflitam sobre a busca desenfreada e desesperada por um culto apenas para satisfazer o ego e a vaidade, quando temos dentro nossas casas o òrìsà que tem o poder delegado de Olódùmarè para resolver todas as questões: Èsù!

OGBÈ ÒGÚNDÁ

[...]
Nijó ti nwon mu omi meje ti nwon kókó mu,
Nijó ti nwon bèrè si mu ú, isejú Èsù ni nijó náà.
Nijo nwon nse ipadé, ìsejú Èsù ni.
[...]
No dia que elas beberam das sete águas,
No dia que elas começaram a beber, foi na presença de Èsù
No dia que elas fizeram a reunião, foi na presença de Èsù.
[...]


ÈSÙ ODÁRA

“Em virtude da maneira como Èsù foi criado por Olódùmarè, ele deve resolver tudo o que possa aparecer e isso faz parte de seu trabalho e de suas obrigações [...] Olódùmarè fez Èsù como se fosse um medicamento de poder sobrenatural. ”

Olórun delegou este poder a Èsù ao entregar-lhe o àdó-iràn, uma cabaça de longo pescoço apontando para o alto que Èsù carrega em sua mão. Èsù só precisa apontar seu àdó para transmitir a força inesgotável que tem. ”

Èsù é o princípio reparador do sistema nàgó. [...] por isso, os quatrocentos irúnmalè deram um pedaço de suas próprias bocas à Èsù, quando ele foi representa-los aos pés de Olórun. Èsù uniu estes pedaços em sua própria boca e, desde então, fala por todos eles. [...] apenas por seu intermédio é possível adorar as Ìyámi. ”


REFERENCIAS:

Pierre Verger. Grandeza e decadência do culto de Ìyámi Òsòròngà. Ed. Corrupio, Artigos Tomo I. São Paulo, 1992, pg. 50.
Juana Elbein. Os Nàgó e a Morte. Ed. Vozes. Petrópolis, R. J., 1976, pgs. 131; 134; 163
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quinta-feira, 24 de março de 2016

NAÇÕES RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS NÃO SÃO NAÇÕES POLÍTICAS AFRICANAS

Erick Wolff8

Março de 2016

 

SOBRE NAÇÕES

Nos diversos segmentos religiosos afro-brasileiros todos querem legitimar-se afirmando que sua “nação” é originalmente oriunda de solo africano, desta ou aquela região, iniciado por fulano ou ciclano cujo nome jamais poderá ser checado, supostamente nascido na África. É louvável o desejo da legitimização africana, se não fosse ilusório.

Todas as nações religiosas afro-brasileiras, de todos os segmentos, nasceram no Brasil, são afro-brasileiras, não são africanas, não representam nenhum Estado ou Cidade africana, não praticam nenhum culto na forma tradicional africana mesmo que possuam nomes de cidades africanas em suas definições afro-sociais. É verdade que foram formadas por elementos de matrizes africanas aqui repensadas e reestruturadas, mas estas heranças culturais e religiosas não fazem de nenhuma nação de religião afro-brasileira uma nação pura africana. NENHUMA!

Entretanto, o fato de terem nascido no Brasil não significa que são uma fraude, pois se assim fosse, todas os segmentos religiosos afro-brasileiros seriam, mas não, todas são legítimas para o Brasil. O erro está em considerar que a nação do outro é uma fraude, e a sua é verdadeira, supostamente original de algum lugar da África.
 
A nação afro-brasileira de Kétu refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, e não à cidade ioruba africana de Kétu, localizada no Dahome. (José Beniste)

A nação afro-brasileira Angola refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, e não ao país africano de Angola.

A nação afro-brasileira Jeje refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, batuque ou tambor de mina. Segundo o professor Reginaldo Prandi (USP), não existe nenhuma nação política denominada “jeje” em solo africano. O mesmo vale para a nação religiosa afro-brasileira “nagô”.

A nação religiosa afro-brasileira Oió refere-se a uma nação religiosa do batuque, e não à cidade Iorubá de Oió, na Nigéria.


A nação religiosa afro-brasileira Ijexá refere-se a uma nação religiosa do batuque ou candomblé, e não à cidade Iorubá de Ijexá, na Nigéria.

A nação religiosa afro-brasileira kambina, do batuque, refere-se a uma nação religiosa criada e estrutura aqui no Brasil, tanto quanto as outras, e não à alguma cidade ou nação na África. Se as outras aqui formadas são legítimas para o Brasil, a kambina também é. Alguns sacerdotes tentam equivocadamente afirmar que a kambina trata-se de Cabinda, província de Angola, apenas pela semelhança do nome.

Não existe nenhuma nação religiosa afro-brasileira, de qualquer segmento, que seja a extensão pura e legitima de uma cidade, estado ou nação africana, que exista aqui tal qual existe em África. Acreditar nisto é utopia, ou má fé. Todas, sem exceção, foram pensadas, criadas e estruturadas no Brasil.

As nações afro-religiosas da forma como existem aqui não existem na África, e vice-versa. Que isto fique claro para que não se arvorem prepotentemente sobre falsos conceitos de pureza. Não existe ninguém puro (Mãe Stella).

Sobre o conceito de nação religiosa afro-brasileira separamos alguns extratos de pessoas conceituadas e referenciadas na bibliografia afro-brasileira:




 

José Beniste, Òrun-Ayé, pg. 116. 
 
Reginaldo Prandi, Herdeiras do Axé, Hucitec, 1996.


“ Nação passou a ser, desse modo, o padrão ideológico e ritual dos terreiros.”
 
(Vivaldo Costa Lima, “O Conceito de Nação”, Afro-Ásia, 12, 1976, p. 65)


Mãe Stella de Oxóssi,

 

 
SOBRE REIS E PRÍNCIPES


O conceito que um rei de uma nação afro-brasileira precisa ter sangue nobre africano para ser reconhecido é utópico. Não existe nenhuma prova exata e certa que algum rei, rainha, príncipe ou princesa africanos que aqui fundaram qualquer nação pura, tal qual em África.

Sempre em algum momento da história das religiões afro-brasileiras surgiram “reis” desta ou aquela nação religiosa aqui formada que, ou se auto intitularam, ou foram titulados pelos seus seguidores. Reis não nasceram com o mundo, eles foram feitos reis pelos homens, e para os homens.

Se as nações religiosas afro-brasileiras não são nações políticas africanas, reis e os príncipes religiosos afro-brasileiros também não são, nunca foram. Exigir sangue nobre como base para seu reconhecimento e legitimação não faz sentido, até porque tal, mesmo que verdade fosse, não se poderia provar.

Afirmar através de documentações discutíveis que um africano puro vindo de uma nação africana pura, veio ao Brasil há “duzentos” e aqui fundou uma nação pura, é zombar da inteligência dos estudiosos e explorar a boa-fé dos leigos.

O que dá legitimidade a um “rei” religioso afro-brasileiro (ou em qualquer lugar do mundo) é o reconhecimento de seus súditos e a reverencia a ele prestada, independentemente de ser autointitulado, ou de ter sido titulado. É importante para uma nação religiosa afro-brasileira aqui formada conhecer suas origens e ser respeitada através de um ícone.

Mas estas origens estão aqui mesmo no Brasil, todas as nações religiosas afro-brasileiras têm seu fundador mítico. Estas nações devem respeitar-se mutuamente respeitando seus fundadores. Se o rei em questão é reconhecido por seus súditos, então ele é rei, independente do sangue de família e de sua suposta origem africana, ou não. O mesmo conceito vale para os príncipes e princesas.

Entre os iorubas, o conceito de principado é diferente do europeu, pois não é preciso ter sangue nobre para ser príncipe. Quando um rei é coroado, todas as crianças que nascem no lugar de origem do rei, a partir desta data, são considerados príncipes (Nathan Lugo).
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Completando Asa Orisa Alaafin Oyo  informa que;

Todos os Oba tem que ter linhagem real, somente em Ibadan não, pois foi uma cidade criada para proteger Òyó




Àse !





TIKTOK ERICK WOLFF