segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A Matriz Africana construindo a cidadania

Todos os povos, mesmo os mais primitivos, tiveram e têm uma cultura, transmitida no tempo, de geração a geração. Mitos, lendas, costumes, crenças religiosas, sistemas jurídicos e valores éticos refletem formas de agir, sentir e pensar de um povo e compõem seu patrimônio cultural.
Nossa ancestralidade trouxe uma cultura única e específica que conquista o mundo, jazz, samba, hip hop, axé-music, carnaval, heróis, bispos, políticos, artistas, pais e mães de santo. As religiões da Matriz Africana sempre foram relegadas ao limbo pela direita social, homofóbica e racista. Este movimento só é lembrado pelo grande público em época de carnaval e de eleições, ou cotidianamente pelas TVs neo pentecostais para o achincalhe.
A construção de uma cidadania plena se dá na instância imediata à do respeito, da pluralidade e da tolerância religiosa e às suas diversidades.
Criamos uma rede informal de trabalho, são artesãos, costureiras, cozinheiras, tecelões, pintores, gráficos. Através de dessa rede informal criamos empregos, e geramos renda social, e elevamos o consumo per capita, que ajuda o País.
Em função da beleza de nossos cultos somos mantenedores de um movimento cultural que gera renda, trazendo turistas para conhecer nossas crenças.
A Matriz Africana é o grande guarda chuva da pluralidade social, que abriga culturas de todas as nações, de todas as etnias, de todos os níveis sociais, além de uma gama de excluídos.
Denunciamos a questão da intolerância religiosa dos meios de comunicação como é o caso exemplar da TV Record, apesar das garantias explícitas da Constituição deste País quanto ao direito à liberdade religiosa. Somos desrespeitados em nossa fé.
Denunciamos a intolerância religiosa nas escolas onde nossos filhos não podem se expressar em suas crenças. Funcionários consideram nossa fé como sendo de segunda classe.
Denunciamos o fato que nossos filhos têm que cumprir preceitos com roupas brancas, diretorias e instituições de ensino não permitem sua presença em salas de aulas, num claro constrangimento a violação da Constituição deste País.
Denunciamos a intolerância religiosa na questão política onde sequer o censo adita nossa existência.
Denunciamos a falta de respeito a nossa liturgia nos:Cemitérios, casas de repouso, hospitais, presídios, IML (uma pessoa que da nossa religião não pode passar por autopsia).
Denunciamos o IBAMA por uma liminar que fere a Constituição, onde podem invadir uma casa de candomblé a qualquer hora, com a desculpa de procurar animais silvestres. Constrangendo a liturgia, constrangendo pessoas, sob a égide da legalidade.
Denunciamos que uma lei aprovada no governo anterior proíbe venda de animais vivos, no estado de SP esta foi apenas uma questão de intolerância religiosa.
Denunciamos a lei 1639, onde a educação religiosa não nos alcança. Que deixa novamente a cultura da matriz africana desprotegida.
Isso nos faz pensar a necessidade de um projeto político de resgate a memória dos terreiros de Matriz Africana, uma referência primeira da resistência; onde a diversidade étnica e as diferenças sociais são tratadas com respeito, dignidade e, sobretudo um espaço de cidadania das pessoas discriminadas pela sociedade.
Nós da matriz africana queremos objetivar ações sociais válidas:
1. O ensino e cultivo de ervas medicinais e plantas ligadas ao Asé.
2. O ensino das línguas africanas para aprimoramento da cultura ancestral.
3. Elaboração de uma cartilha de direitos da matriz africana.
4. Normas para o uso das cachoeiras, rios, pedreiras, bosques, praias, para a questão litúrgicas.
5. Normas estaduais de garantias que servidores públicos sejam punidos em caso de intolerância religiosa,
6. Normativa estadual para prosseguimento da venda de animais “in vivum”.
7. A criação urgente de uma delegacia para recepção de casos de intolerância religiosa.
8. Criação de tombamento de casas históricas de nossa religião.
9. Criação de um acervo da memória cultural da matriz africana.
10. A criação de um abrigo aos velhos desamparados da matriz africana com direito ao seu culto.
11. Doações de terras devolutas para casa de culto de que tiverem interesse em voltar a suas origens.
12. Criação do curso de teologia da matriz africana na USP.
13. Criação De um primeiro cemitério para a Matriz Africana.
14. Abertura de créditos para que os templos da matriz africana possam ser usados para cursos diversos, alfabetização, artesanato típico, confecção de roupas para uso na matriz africana, bordados, paramentos para serem usados na liturgia.

São Paulo, 06 maio de 2008.
Assinam Eduardo Brasil - Tata Matâmoride

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