sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quando foi que o culto Afrosul perdeu o conceito do Ojúbọ?

Para quem não sabe o que é um Ojúbọ - "é o lugar na casa usado para adoração de ancestrais e dos santos protetores da família. Altar dos “assentamentos” dos Egungun (mortos) da família”.

 
Entre a diversidade das religiões Afrobrasileiras, o Ojúbọ é um local sagrado comunitário onde os integrantes daquela família adoram as divindades, ancestrais e entidades cultuados no templo. Para muitas casas o Ojúbọ é um local onde as oferendas são comunitárias e abertas para todos iniciados daquela família, seria um local onde os integrantes teriam acesso e poderiam participar das celebrações e oferendas.

 
O Ìgbàlẹ̀ [pequena mata, lugar secreto, destinado ao culto a Egungun] na cultura Afrosul , foi um dos Ojúbọ que permaneceu nesta religião, porem deixou de ser um local de adoração aos ancestrais [Ojúbọ] para se tornar um ícone de temor e feitiçarias, bem do tipo tome cuidado, pois aquele Baba tem Ìgbàlẹ̀ e deve ser temido. Infelizmente o “Egungun” deixa de ser um ancestral cultuado com honrarias e respeito para virar um tipo de “Pit Bull” na porta dos templos, muito usado para as desavenças e brigas religiosas dos Batuqueiros, agora imagine os seus irmãos e mais velhos que viveram com honra e se dedicaram ao culto, pós morte se tornando carrego de "Ẹbọ Buruku", ou "galo de rinha" contra os inimigos. Um triste fim para quem viveu, seguiu os ensinamentos e se dedicou aos Òrìṣà. Por este conceito e contaminação ritualística que eu vejo os Egungun sendo mau usados entre as famílias mais velhas. Um ancestral deveria aconselhar e ajudar as comunidades nos piores momentos, diferente de te-los para terroristas ou para feitiçarias.

O conceito correto do Ojúbọ dentro da cultura afrobrasileira seria o de partilhar com toda a comunidade os assentamentos sagrados, como o exemplo acima citado sobre o Ìgbàlẹ̀.

Devo imaginar que a casa do Lode [o Òrìṣà Bara cultuado entre o povo Batuqueiro, seu assentamento fica na entrada dos templos], é a única que ainda se mantém como Ojúbọ, pois ela partilha da segurança e fundamentos coletivos desta nação, para isso ali são feitos cortes, serviços e Ẹbọ [oferendas, descarregos e feitiços] diversos para a comunidade. Apesar de que percebo que ainda existe um pequeno problema dentro do conceito Bọrí e Òrìṣà na estrutura Batuque Afrosul, a liturgia deste povo considera que o Bọrí deve ficar ao lado do Òrìṣà, quando um Ẹlẹ́gùn [iniciado] é do Bara Lode, logo este Bọrí deve ficar na casa dele, eu chego reconsiderar alguns pontos deste fundamento, pois todos nós sabemos que na casa do Lode muitas vezes fica troca de vida, Ẹbọ Dudu [descarrego] e Buruku [oferenda ligada a morte], além dos carregos que são atirados naquela casa. Agora imagina um Bọrí de um Ẹlẹ́gùn dentro desta casa, qual será o resultado?

O Lode que geralmente fica em contato com o chão, não deve ficar em prateleira, desta forma o Bọrí dos Ẹlẹ́gùn do Òrìṣà Lode não devem ficar acima do próprio Òrìṣà, sendo assim ou o Bọrí fica no chão ou o Bara Lode deve subir para uma prateleira. Mas então como fica o fundamento deste Ojúbọ? É justamente sobre o Lode que para muitos Baba e Iyá, são feitos feitiços de segurança e até mesmo feitiços de demanda para a comunidade religiosa e clientes pertencente ao templo, que gera o conflito de conceitos sobre o Ojúbọ do Lode. Então para onde iria este Bọrí?

Eu penso que o Bọrí deve ficar separado ao lado dos Bọrí de todos os filhos do templo, para que saibam que aquele local sagrado guarda apenas os Bọrí, mas para isso o conceito de pessoa e feitura deveria ser analisado com maior atenção, pois o Bọrí é feito para o Orí e não para o Òrìṣà, mesmo sabendo que o Ẹlẹ́gùn pertence uma ancestralidade divina ligando o Orí às divindades Africanas, isso não quer dizer que o Bọrí deva ser feito para o Òrìṣà, pois estamos falando sobre o trato e culto para fortalecer o Orí e não o Òrìṣà, assuntos distintos e muito bem separados para o culto e trato do Òrìṣà ao trato do Bọrí.

Se o Batuque Afrosul possui o conceito de Ojúbọ ele está muito dissipado entre as famílias, algumas nem mesmo sabem o que é um Ojúbọ, na maioria não devem saber nem a funcionalidade do Ojúbọ numa comunidade religiosa. Por isso quem sabe, haja necessidade de analisar profundamente os fundamentos e conceitos desta rica cultura, que possui grandes fundamentos e ritualística. Como o Bọrí de 4 pés para o Ẹlẹ́gùn, considerando que aqui no Brasil as vertentes afrobrasileiras, não costumam dar Bọrí de quatro pés, mas é comum vermos este procedimentos em algumas aldeias africanas, não sabemos ao certo o porquê o Batuque manteve esta tradição tão ativa, mas eu penso que foi para perpetuar o culto ao Orí [cabeça], relembrando a importância do mesmo no principio da estruturação desta religião.



Talvez o Ojúbọ funcionava como uma grande família que comungava dos assentamentos dos Baba e Iya chefes dos templos. Baseando-me nos preceitos desta religião, foi fácil perceber que todo sacerdote para abrir uma casa necessitava possuir o Irunmole completo, como os Òrìṣà comunitários da rua [que ficam do lado de fora do templo] e os Òrìṣà do Yara-bọ [quarto de santo], se um determinado Ẹlẹ́gùn viesse para o templo e o sacerdote não tivesse o Òrìṣà cultuado na nação do Batuque sento, não poderia fazer o Bọrí e muito menos assentar o Òrìṣà daquele Ẹlẹ́gùn, sendo assim, somente os Òrìṣà feitos seriam aqueles que o Baba ou Iyá possuísse sento. Com o tempo algumas divindades que ficavam do lado de fora dos “Templos” entraram para o Yara-bọ, com exceção das divindades Lode, Legba, Avagâ, Timbuá, Dirã, Kamuká, Sapakta, Zina entre outros. Talvez para que o Igbá-Orí [louça do Bọrí] pudesse ficar ao lado do Òrìṣà e comungar do Ojúbọ, estes assentamentos deveriam servir como base para a veneração comunitária daqueles que possuem o Bọrí com 4 pés e seu respectivo grau de aprontamento.

Em algum lugar do passado os sacerdotes podem ter parado de usar o Ojúbọ para os filhos e os seus assentamentos se tornaram um Irunmole pessoal, perdendo assim totalmente o conceito do Ojúbọ. Mesmo assim ainda podemos notar alguns vestígios apontando para os sacerdotes abrindo casa com todos os santos assentados, Bọrí ao lado ou abaixo dos santos em prateleiras, Bọrí de 4 pés respondendo como uma feitura de Bọrí e Ẹlẹ́gùn com quartinha do Bara respondendo pelo Bara do Yara-bọ. Entre estes pontos é possível notar que em algum tempo remoto os mais antigos devem ter usado a estrutura do Ojúbọ nos templos e decaiu este conceito com o passar dos anos e a modernização.

Resgatar a cultura de um povo seria buscar os vestígios dos Ojúbọ, conceitos e costumes que sobreviveram numa cultura tão rica e laqueada, pois os Batuqueiros Afrosul costumar se orgulhar da sua religião, que por sinal consigo ver uma grande riqueza na simplicidade dos rituais fechados.

Porem qual a importância do Ojúbọ para a cultura Afrosul? Um Ojúbọ é o alicerce daquela comunidade, quanto mais rezar, quanto mais louvar aquele Ojúbọ, mais aquela comunidade terá poder, eu tenho a plena certeza que a estruturação e o alicerce de uma nação afrobrasileira estão no seu Ojúbọ, são fundamentos e conceitos que geram uma energia ao redor daqueles assentamentos que fazem com que a comunidade inteira se fortifique e prospere.



Porem note um pequeno comentário.


Ter um Ojúbọ não quer dizer que este coletivo seja o coletivo dos Igbá-Òrìṣà [louça do Òrìṣà] e Igbá-Orí de cada Ẹlẹ́gùn, afinal ele necessita do seu Igbá-Òrìṣà  e Igbá-Orí, porem o Ojúbọ da cultura religiosa Afrosul pode ser considerado o Igbá-Lode, que cumpre a função de responder pela comunidade, sabendo que cada integrante possui o seu Igbá-Òrìṣà e Igbá-Orí, porem é um Igbá-Lode para responder pela comunidade fortalecendo o templo e os alicerces religiosos.


Minha matéria teve inicio na observação do aprontamento dos iniciados do Batuque Afrosul, que muitos são considerados feitos de Bọrí, mas não possuem Igbá-Òrìṣà, por isso que percebi que em algum lugar do passado o conceito de Ojúbọ deve ter sido usado, mas perdeu-se com o tempo dentro deste povo.




Por Erick Wolff8 

5 comentários:

  1. Quando o batuque perdeu o conceito de ojubó, não saberia dizer. Os motivos talvez fossem histórico-sociológicos. Carece de mais estudos.

    Quanto ao bori, já passou da hora dos sacerdotes do batuque abrirem os olhos e desvincularem o rito do bori, do assentamento ou encostamento do orixá.

    Quando bori come, okuta não come ... quando okuta come, bori não come. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não existe bori de santo.

    Unir estes dois ritos numa única liturgia não faz parte dos fundamentos religiosos iorubá, até porque os conceitos de um e outro são completamente diferentes.

    Sei que esta afirmação entra em conflito com os "mais velhos" que por fazerem errado a tanto tempo, jamais admitirão.

    O mundo digitalizado e globalizado de hoje não nos deixa mentir ...

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  2. Algumas vertentes do Batuque Gaucho assim como a minha ainda "alimenta" dá de comer para o ori separado do Orixá.
    O culto ao ori difere e muito ao do orixá, é comum darmos de comer para a cabeça (ori) em dia separado do Orixá, por comodidade e custo muitos juntaram os dois cultos.

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  3. Eu acredito que o problema não seja exclusivamente dos mais velhos, eu acho que com o tempo e a falta de recursos os mais velhos deixaram muitos pontos passar, muitos conceitos foram sendo esquecidos pela necessidade do dia-a-dia, porem o problema atual está no resgate, até onde é resgatar uma cultura ou invenção... eu vejo alguns exemplos de estudiosos seguindo caminhos que distanciam da própria cultura, como por exemplo, outro dia conversando com um estudioso ele me disse que o Axé de búzios do Batuque vinha de angola e do povo Bantu, mas aí eu me pergunto onde é que entra Orunmila (Yorùbá) na cultura Bantu, sendo que o sistema do jogo de búzios do Batuque gira em torno desta divindade, mesmo sabendo que não tem nada haver com os Odù, pois o sistema do jogo do Batuque tbm foi muito bem adaptado para a realidade brasileira, distanciando do sistema tradicional do candomblé e os Odù.
    Um exemplo do mais antigo atualizando o seu conhecimento é o meu Baba que lê minhas pesquisas e assimila o seu conteúdo, estando aberto para discussões e novos pensamentos sobre a própria religião, ele não é uma pessoa que se fechou no passado e não aceita entender o presente... ele é inteligente e sabe onde pisa.

    Qto ao passado infelizmente aqueles que não aceitam mudar ou fazer um upgrade do seu conhecimento já morreram para o culto, pois uma pessoa que não aprende não está vivo.

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  4. É sabido que na Santeria, ou algumas naçoes dela, fazem bori com okuta, onde este okuta simboliza a própria pessoa.

    Este "fundamento" de bori cubano está em desacordo com a Religião Tradicional Iorubá, e não sabemos como isto foi introduzido lá.

    Aqui no sul das Américas, falantes nativos de espanhol que praticam o rito do batuque do RS, talvez pela facilidade do idioma, estão adotando, ou estão sugerindo em livros, que esta prática deve ser adotada.

    Quero reiterar, que o batuque não tem, nunca teve, o uso de okuta no bori como símbolo de Ori.

    Bori tradicional, de forma nenhuma vai okuta, nem como simbolo de Ori, nem como simbolo de Orixa.

    São totalmente duvidosas as informações do autor Omobatala, se não me engano, do Uruguai, onde sugere que o assentamento do Ori, no batuque, deve levar ota (okuta). Isto nunca existiu como fundamento do batuque.

    Alguns lados do batuque cometem o erro de unirem o rito de assentamento do okuta do Orixa ao rito de bori, mas o fazem, embora que errado, como ritual para Orixa.


    E isto é outro erro que precisa ser revisto.

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  5. Caro Luiz

    Concordo plenamente que o Bori do batuque jamais houve okuta, mesmo porque a maioria dos bori sÃo feitos com buzios, moeda, irun e a louça bca, nunca houve relatos de existencia de um ota no mesmo, o que o escritor omobatala deve ter confundido, foi ter visto um otá do orisa da pessoa comendo com o Bori, mas não deve ter visto o levamento desta obrigação, logo o engano enorme relatado pelo escritor.

    Porem este Bori que segue com o Otá do orisa, o mesmo fica separado, pois deveriam considerar que quem comeu foi o ori e o orisa, mas como todos nos sabemos o ori pode comer o que qusier, menos comer com orisa, pois orisa e ori sao distintos e n se misturam. Apesar dele dividir o elegun não quer dizer que o orisa jamais sorepoe a ori.

    Eu fico pensando as vz que o omobatala expoe certas teses, mas não oferece fontes, por isso muita coisa dele postado chega a ser duvidosa. tenhoc erto receio dos trabalhos dele.

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TIKTOK ERICK WOLFF

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