No que se baseia a “Tradicional Família Afro-brasileira” há mais ou menos uns 200 anos houve um start na população brasileira, que fez prosperar a cultura Africana, miscigenando cultos, costumes e tradições, num país que estava à procura da sua identidade, numa terra que agregava povos e costumes diferentes. Mesmo com todas as tendências a favor do Cristianismo houve um apontamento para o culto aos Òrìsà, mesmo com toda perseguição e discriminação sobreviveu, dando origem à Tradicional Família Afro-brasileira.
O que realmente fez com que houvesse a formação de uma Família?
Para muitos a resposta seria um pai uma mãe e filhos, no entanto para à Tradicional Família Afro-brasileira, o alicerce está fundamentada no culto, logo a divindade do sacerdote ou sacerdotisa é o eixo que movimenta toda a tradição e conceito religioso familiar. Uma divindade no centro desta comunidade que determina os costumes e tradições, fazendo com que todas as divindades sigam as determinações do Òrìsà principal, claro que podemos observar que cada templo é regido por um único ser divino, este mesmo que pode comandar através da manifestação ou apenas pelo jogo sagrado usado para comunicação das divindades.

Analisando esta cultura podemos notar que aqui no Brasil a estruturação formou-se muito parecida com a situação das aldeias africanas, que por sua vez possuem uma divindade principal e algumas divindades agregadas ao culto, claro que para a nossa realidade foi estabelecido que houvesse uma sequencia ordenada entre as divindades originarias dos territórios Africanos, vinculadas assim com as nações originais, criando a estrutura das nações Afro-brasileiras, tais como citadas na revista on line Olórun, num texto que assinei - O Brasil e a diversidade religiosa Afro-brasileira (página 19)-, já que diferente da África onde eles já nascem pertencendo à divindade da aldeia, aqui no Brasil há a necessidade de determinar a divindade a qual o indivíduo será iniciado, claro que longe das referencias Africanas, foi necessário que o sacerdote adquirisse conhecimento de várias divindades além da divindade regente daquele templo.

A inversão de valores talvez tenha se dado pela dificuldade das divindades se comunicarem abertamente com os iniciados e mais velhos do templo, mesmo assim esta família religiosa possui seus meios de comunicação com as divindades, que por sua vez se faz pelos Erês (uma entidade de origem Angoleira, que traduz a vontade do Òrìsà, possui Igbá e ferramentas, além de festas e homenagens – Fonte Matâmoryde), Aseros (uma divindade cultuada junto com o Òrìsà que se manifesta somente depois da manifestação do mesmo, muito parecida com o Erê, porem não possui Igbá ou ferramentas) ou porta-vozes das divindades. Em contrapartida podemos notar que algumas vertentes religiosas se adaptaram muito bem para a necessidade brasileira, uma delas foi liberar a voz do Òrìsà dos Oyè (membros mais velhos da religião), que por sua vez depois de muitos anos de manifestação, passam por processos de confirmação, com apenas alguns presentes que observam aquela divindade se sujeitando a determinadas provas as quais um ser humano não passaria, por mais que o ser humano tenha estômago forte, seria difícil ele poder passar por aquilo. Dando origem a um Tabu muito comentado na cultura Afrosul que determina que os cavalos de Òrìsà não devam saber que seu Òrìsà manifesta, evitando assim que o Elégùn tenha, a saber, que um dia passou ou passara pelas provas. Criando a proibição do Elégùn jamais saber que seu Òrìsà manifesta.
Este Tabu ainda existe entre o povo Afrosul e determina a existência de um costume antigo de uma Família, diferente das demais famílias Afro-Brasileiras (Ketu, Angola, Djedje, Fon e Umbanda) que geralmente registram a feitura e festas dos Òrìsà e seus iniciados. Então se temos tanta diferença entre cada “Nação” o que nos faz sermos uma única Família cultuando divindades e costumes diferentes? É justamente esta diferença que nos faz ser uma única família, lutamos pela cultura africana e pelos costumes dos nossos antepassados e familiares, unindo o passado (nossos ancestrais), o presente (nós) e o futuro (nossos descendes), por isso lidando com a diversidade religiosa e cultural podemos entender que formamos uma única família.
Agora o que esperar da Tradicional Família Afro-Brasileira?
Ao olhar para dentro do culto afro-brasileiro seja qualquer vertente que possa referenciar, eu me deparo com o mesmo problema, mas qual receita está errada, qual formula se perdeu que segredo ficou para traz? Esta pergunta eu me faço sempre, ao perceber que se muda o personagem, mas a situação é a mesma, os problemas são sempre os mesmos, fazendo com que seja a religião que sempre perca ao final.
Se o sacerdote não possui valores seus filhos não terão valores, da mesma forma que um Àse se passa, os valores são passados pelos pais, noções e conceitos são agregados a estes valores, que diversas vezes não são somados a formação do filho, principalmente quando o iniciado já vem criado e com valores adquiridos por famílias que não pertence à cultura afro-brasileira, tornando-se mais difícil a criação do individuo que irá bloquear qualquer informação que venha e vá de encontro com os seus conceitos, dificultando assim a devida criação do iniciado.
Pois então aí temos um grande problema sobre valer do poder do sacerdote para impor noções e conceitos ao recém-iniciado?
Força um indivíduo a aprender sob a imposição hierárquica?
São questões discutíveis para a maioria dos não iniciados e recém-iniciados, que geralmente soam como agressão e ditadura mental, mas isso seria mais fácil se o iniciado se entregasse à criação religiosa sem lutar contra, se ele soubesse que seu aprendizado seria importantíssimo para a preparação de um bom sacerdotes, isso para aqueles que possuem caminho do sacerdócio.
Claro que o sacerdote tem uma culpa grande neste problema, pois nem todos necessitam de iniciação, a maioria poderia ser tratado com um Ebo ou Ìborí, tratando desta forma sua energia. Seria o correto porem nem sempre é assim, criando uma família grande e desordenada que refletira mais tarde em criadouros de Elégùn despreparados iniciados por sacerdotes incapazes.

Erick Wolff8 - Bàbálòrìsà de Òsàálá, dirigente da Ilé-ọba Óbokún Àṣẹ Nàgó'Kọbi, fundada em 05 de junho de 1990.
Zarcel Carnielli - Omo Awo: Ilésire Òsàlásínà Olóbàtálá do Ilé Esin àbòrìsà Àsà Yorùbá. Cel para contato 6448-9094.
Tata Matâmoride - Eduardo Brasil – Colaborador, iniciado na Angola, em 23/7/76, pelas mãos de Edson Ribeiro Mandarino (Kaobakessi).
Presidente eleito do Fórum de Sacerdotes de Matriz Afro Brasileira - FOESP, www.portaldocadomble.pro.br Diretor Presidente
Conselheiro do COMPAZ da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Conselheiro do Fórum Intereligioso da Secretaria de Estado da Justiça de SP, Presidente eleito do Indrab - Instituto Nacional de Defesa da Matriz Afro-brasileira
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