Erick Wolff8
São Paulo 2011
São Paulo 2011
Primeiro passo seria definir noção de pessoa segundo a cultura Afro-brasileira, para quem não sabe do que eu estou falando, simplesmente a noção de pessoa poderia ser definida por três perguntas;
De onde eu vim?
Quem eu sou?
Para onde eu vou?
Ao ler as matérias publicadas por Luiz L. Marins, na revista on line Olorun (www.olorun.com.br), ao qual eu sou editor, eu começo a perceber quais são as três respostas, ao pensar quem eu sou de onde eu vim e para onde eu vou. Baseado na minha cultura eu tento entender a base da minha estrutura religiosa, nos princípios da minha própria religião, para que eu possa definir corretamente o que cultuo e o que eu pretendo trabalhar espiritualmente.
Na simplicidade do nosso culto, o primeiro passo é darmos um Ìborí, claro que quando cito o Ìborí eu me refiro ao culto Yorúbà, o que não quer dizer que as demais culturas (Bantu, Fon e Jeje) são obrigadas a seguir este ritual, sendo que não faz parte da sua liturgia e ritualística. Porem baseado na minha cultura o primeiro passo seria cuidar da Orí, mas o que seria esta Orí, que para os Yorúbà significa destino ou caminho, como poderia caminhar para frente sem definir qual estrada pegaria? Este mesmo Ìborí pode e deve ser renovado sempre que for solicitado, sem que seja preciso renovar a feitura do Òrìsà, que por sua vez posso considerar que os dois sejam distintos e separados, sendo que os dois partilham da cabeça do iniciado.
A grande dificuldade do Ocidental é entender que esta Orí ao qual cultuamos no Ìborí, não é uma Orí (cabeça) física, ela foi determinada ser chamada assim pelos Yorúbà, quem sabe para exprimir nosso intelecto ou caminhos aos quais deveremos seguir. Segundo a cultura Yorúbà, nós deveremos ir até a casa de Àjàlá (o oleiro das Orí) e pegar uma Orí, depois seguir até Olorun que ouvirá nossos votos e comprometimentos para a nova vida, que por sua vez teremos apenas Òrùnmílá como testemunha. Fico imaginando há uns 20 anos atrás a população religiosa recebendo está informação, de que nós pegamos uma Orí e vamos à frente de Olorun, isso deve ter gerado uma confusão tremenda e um novo conceito de mulas sem cabeça, onde andaríamos no Òrun sem cabeça (Quem sabe seja por isso que deu-se o inicio à confusão entre o Bara do corpo, afinal os sacerdotes não devem ter entendido que a Orí não era física (espiritual), e deram um elemento para que fosse buscar esta Orí, o que não justifica assim a existência do Bara do corpo, citado pelo livro "Os Nago e a morte", mesmo porque se este Bara do corpo fosse responsável por animar o corpo do ser vivo, este estaria presente na concepção Yorúbà, o que não existe dados algum que ateste além do material citado pela autora do livro.)... Justamente isso que eu imagino que aconteceu quando foi anunciado pela primeira vez como funcionava o sistema metafisico Yorúbà, causando assim mais confusão do que elucidou a Noção de Pessoa do povo do santo daquela época.
Então o que fazer com toda esta informação agora?
Onde guardar a Orí e o que podermos fazer com ela?
A meu ver houve varias readaptações no conceito e ritual do Ìborí em diversas vertentes religiosas do segmento Yoùbá da cultura Afro-brasileira, visto que o Ìborí era nada mais do que uma Orí e os sacerdotes entenderam que esta cabeça seria a própria cabeça do iniciado e não reavaliaram a possibilidade de estarem falando de um destino, afinal pouco se sabiam sobre Odù e destinos, pois o culto no Brasil ainda era pouco difundido, e a Umbanda e o Batuque Afrosul não precisaram do sistema de Odù para se instalar e sobreviveram até os dias atuais. Com exceção do Candomblé que usa o jogo de comunicação com as divindades pelo sistema de Ifá, este teve a oportunidade de estudar e remodelar seus conceitos para um Ìborí sob os conceitos Yorúbà. Esta oportunidade de rever os conceitos e ritualísticas, fez com que eles mexessem no seu Ìborí, criando assim um ritual reafricanizado, e o Ìborí de Òsàálá ou Yemonja deixou de existir, afinal entenderam que a Orí não deveria comer com Òrìsà e vice-versa e muito menos era de Òsàálá ou Yemonja.
Porem o Ìborí Afrosul vincula o Òrìsà ao Orí, em algum lugar do passado os sacerdotes decidiram vincular o Ìborí ao Òrìsà da pessoa, porem observe um pequeno adendo;
O Ìborí pode ser refeito todo ano ou quando assim a Orí desejar e comer o que ele desejar, sem que o Elégùn seja iniciado.
O Òrìsà pode comer quando desejar uma ou mais vezes por ano, tudo irá depender da vontade dele, porem a iniciação dele será apenas uma vez, para esta iniciação o Elégùn deverá ter Ìborí, sendo assim ele exigirá comer apenas uma vez na Orí, não será necessário o Elégùn deitar todas as vezes que ele for dar de comer ao Òrìsà, diferente da Orí que ele terá que deitar todas as vezes que a Orí dele for comer.
E segundo a cultura Afrosul, o Ìborí contém os elementos básicos, que são búzios, moeda e um recipiente, nada que ateste contra o conceito do Ìborí Yorúbà, apesar de seguir uma quartinha e fios, não é um erro tão grave que não possa ser reavaliado, sendo que a quartinha está ligada a ancestralidade, que no caso do Ìborí não deveria ser vinculado a ancestral algum mesmo que divinizado, o Ìborí deveria ser ligado apenas à Orí, com cantigas para Orí e comidas para Orí.
Desta forma se um Ìborí é para a Orí, nada mais lógico do que entender que quem deveria ocupar a cabeça ou seja manter a consciência do Elégùn na hora do ritual, seria a consciência do próprio iniciado, sem o Òrìsà responder ou a presença de divindade alguma, ou seja, nada além da própria Orí que por sua vez a Orí se transforma numa divindade. Esta Orí será cultuada aqui na terra, dentro de um templo, logo é fácil definir que existe uma ligação direta com o Òrun, mas então qual a finalidade deste Ìborí?
Se o meu Ìborí está ligado com o Òrun, é o meu destino e caminho, nada mais correto do que eu pedir a ele tudo que desejo, lembrando que ao dar o borí eu peço prosperidade, saúde, fartura, trabalho, dinheiro e etc... Neste momento eu estou renovando meus votos e pedindo uma segunda chance, ou melhor, suplicando um novo caminho, novas oportunidades, que serão atendidas se a minha Orí assim desejar. Desta forma cabe a minha Orí julgar se tenho ou não oportunidade de receber o que desejo.
Se o meu Ìborí está ligado com o Òrun, é o meu destino e caminho, nada mais correto do que eu pedir a ele tudo que desejo, lembrando que ao dar o borí eu peço prosperidade, saúde, fartura, trabalho, dinheiro e etc... Neste momento eu estou renovando meus votos e pedindo uma segunda chance, ou melhor, suplicando um novo caminho, novas oportunidades, que serão atendidas se a minha Orí assim desejar. Desta forma cabe a minha Orí julgar se tenho ou não oportunidade de receber o que desejo.
Mas se é a minha Orí que define o que eu devo ou não receber porque então cultuamos Òrìsà? Simplesmente porque os Òrìsà devem ser sento para servir a Orí e não o contrário conforme é costume notar no conceito global.
Se eu sei de onde eu vim, se eu percebo que estou seguindo meu caminho corretamente eu perceberei quem eu sou e para onde eu irei, seria interessante lerem o material ao qual citei no inicio deste artigo, onde poderão estudar e entender melhor o conceito sobre Noção de Pessoa.
Ilé-orí |
(Os Yorúbà consideram que o melhor lugar para se guardar um Ìborí, seria na Orí Inú, quer dizer a cabeça interna do iniciado, porem convencionaram que poderia ser usado um recipiente para guardar itens que simbolizem a Orí)
Orí inú Erick Wolff8 - Bàbálòrìsà de Òsàálá, dirigente da Ilé-ọba Óbokún Àṣẹ Nàgó'Kọbi, fundada em 05 de junho de 1990. |
Axé Erick,
ResponderExcluirEstou absolutamente de acordo.
O rito do bori é um culto ao Orí, e não ao Òrìsà, sendo que este ato não deve conter absolutamente nada que o vincule a nenhum Òrìsà, como quartinhas, fios de contas, rezas, etc. ... caso contrário, não será um borí, mas apenas uma "segurança de òrìsà".