Por Baba Erick Wolff de Oxalá
09/05/2017
Este artigo pretende falar sobre o “axêro” do Batuque do RS, considerando informações sobre a tradição e informação de pessoas antigas nesta religião.
O “axêro” está presente durante as iniciações, toques de orixá, levantações e rituais diversos do Batuque do RS.
Em todos os momentos o “axêro” possui a função de ajudar nos afazeres dos terreiros, até auxiliando os sacerdotes durante os rituais.
A função do “axêro” é, segundo os mais velhos, auxiliar nas tarefas em dias de obrigação ou festas, após o orixá ficar montado no filho, de 3 até 7 horas ou mais, dançando ou participando de rituais. Algumas vezes o orixá dança e participa de rituais que envolvem fogo, mel ou dendê fervendo que são ingeridos pela divindade, sem que prejudique a matéria do iniciado, e o Axêro durante o período ao qual está manifestado ele pode e participa de alguns rituais semelhantes ao do orixá passou.
Mas quem é o “axêro”?
Existe quem o diga que são os próprios orixás, numa manifestação imitando crianças; outros já consideram que seja uma entidade diferente da divindade que se manifesta após a manifestação do orixá.
Interessante notar que, sempre que perguntamos ao Axêro sobre ele ser o próprio orixá, a resposta é sempre dada na terceira pessoa, ou seja, mostra de forma cristalina que é distinto do orixá.
Interessante notar que, sempre que perguntamos ao Axêro sobre ele ser o próprio orixá, a resposta é sempre dada na terceira pessoa, ou seja, mostra de forma cristalina que é distinto do orixá.
Para o Batuque do RS, o “axêro” se porta como criança, fala invertido, assim como crianças em suas brincadeiras, por exemplo:
Preto = Branco;
Comer = Botar para fora;
Fechar = Abrir.
Outras vezes usam um vocabulário engraçado como:
Piçanacola = Pepsi-Cola
Bicho de Bicheira = Arroz
Neguinho de gravatinha = Feijão preto
Zóio = Ovo
Bucha = Pão
Buchacha = Bolacha
Etc.
Sabe-se que o “axêro” não possui permissão de manifestar sem que o orixá queira; assim sendo, ele não vem antes do orixá, e quando ele vai embora o orixá manifesta novamente para dar o seu axé (responde novamente emitindo o som caracterizo da chegada do orixá), e vai embora.
Lembrando que o orixá poderá ir embora, sem acontecer a chegada do próprio “axêro”.
Não existe assentamento para o “axêro”, já que não possui iniciação para ele, e todos os eleguns que os orixás se manifestam possuem um “axêro” que não recebem nomes, mas são chamados assim:
"axêro” de Bara = Seu menino
“axêro” de Ogun = Ferreiro
“axêro” de Oyá = Ventania
“axêro” de Xangô = Fogueiro
“axêro” de Odé = Caçador
“axêro” de Otim = Caçadora
“axêro” de Obá = Senhora da navalha
“axêro” de Ossanhe = Perneta
“axêro” de Xapana = Seu vassoura
“axêro” de Oxum = Senhora mãe
“axêro” de Yemanja = Maizela
“axêro” de Osala = Babão
O nome “axêro” não está associado ao “ere” do Candomblé, nem mesmo existe uma tradução.
Entretanto, baseado nos depoimentos dos antigos que diziam que o “axêro” era para descansar ou acalmar o Elegun, podemos sugerir uma interpretação (imagens do Dicionário Ioruba-Portugues, 2011, de José Beniste):
1) “axêro” – A (prefixo) + Se (fazer, agir) + Èrò (acalmar)
2) Axêro - A (prefixo) + Seré (Brincar)
Verger registrou fato semelhante no livro Orixás, p. 139:
tolo; louco; ignorante; idiota; débil mental.
3) Asiwèrè (Dicionário Yoruba Ingles, CSM)
Neste último exemplo, poderíamos simplesmente associar o estado infantil ao qual o iniciado se encontra, considerando que a palavra “axêro”, poderia um dia ter sido “asiwèrè”.
Outra informação colhida dos próprios “axeros” ou “axeres”, é que, como no batuque o iniciado não pode saber que foi possuído pelo orixá, a função do “axero” é “tirar da cabeça do filho” qualquer traço ou vestígio que ele possa ter sido tomado pelo orixá.
Não sabemos explicar como isto ocorre mecanicamente, mas é o que, na sua simplicidade, informam os “axeros”.
Mas de qualquer forma vale lembrar que, o orixá poderá manifestar e ir embora sem deixar vestígios da sua manifestação, mesmo que o axêro não manifeste.
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