terça-feira, 6 de novembro de 2012

Nago kobi

O Nagô Kobí, Nàgó'kọ́bi, Nàgó Kọ́bì,' que refere-se a uma das raízes (Kànbínà) da Nação Nàgó Afrosul, conhecida por Batuque, que nada mais é que um oríkì (homenagem) a esta Nação.


O Nagô Kobí
Os Nàgó são todos os povos que falam a língua Yorùbá e cultuam suas divindades, ou seja, o Ketu é Nàgó, mas o Nàgó não é Ketu, o Batuque Afrosul pode e deve ser chamado Nàgó, porem o Nàgó não é o Batuque Afrosul, para facilitar criou-se um termo para o Batuque Afrosul de chamá-lo de Nàgó Afrosul, caracterizando desta forma o culto Batuque Afrosul que nos demais estados brasileiros possui problemas de identificar o nome ao culto, pois para alguns estados Batuque refere-se a musica ou dança, veja em Batuque (desambiguação).


Etimologia
A palavra "Kobí" se originou da palavra "Akọ́bi", um termo Yorùbá, subs primogênito. "Aremo", ex.: "Akobi je nã Aremo ti Ile"- o primogênito é o primeiro da casa.



Nàgó'kọ́bi - refere-se ao primeiro Aláàfìn Òyó a ser cultuado na cultura Afrosul, conhecido por Baru, ou Kamuka, uma divindade Yorùbá a qual deu origem ao segmento chamado Kànbínà.



Nàgó Kọ́bì - refere-se a construção no palácio do rei ou do chefe; cidadela. É uma pequena construção, ou seja, uma pequena casa que fica do lado de fora do templo, que guarda os fundamentos do Ṣàngó Baru, conhecido por Kamuka na cultura Afrosul.


História
O Nagô Kobí — Por muitos anos foi considerada uma raiz Banto, um pequeno erro cultural criado pela palavra Kànbínà, que por muitos anos foi considerada Canbinda, de origem Banto, esta assimilação foi feita por Norton Correia e Paulo Tadeu, que desconsideraram as divindades cultuadas, língua, rituais e conceitos Yorùbá, criando desta forma um grande problema cultural e religioso para os adeptos que sem perceber, estavam negando as suas origens.



Kànbínà — Waldemar Antônio dos Santos de Xangô Kamuka, considerado o ancestral mais antigo cultuado na raiz, no entanto, não é possível afirmar que realmente ele tenha sido feito para Kanuka.

Ler mais sobre


Divindades
Kànbínà cultua divindades Yorùbá como; Bara, Ògún, Oyá, Ṣàngó, Odé, Otim, Obá, Xapanã, Ọ̀ṣún, Yemonjá, Òòṣàálá.



Podendo ainda haver mais algumas divindades como Legba e Zina, de origem Djedje, cultuada entre os Yorùbá, assumindo o culto e seus rituais.



Xapanã - Apesar de ser um ancestral vodun (djedje), ele já veio incorporado no culto Yorùbá segundo JOHSON, Samuel. The History of de Yoruba, Routledge & Kegan paul Ltda, London, 1973 [1921].



Completando divindades como Yewá e Nanã são aglutinadas entre Yemonjá, Oduduwa aglutinado entre Òòṣàálá e Orumiláia que é cultuado mas não é sento na cabeça do povo na África algumas famílias chegam a iniciar filhos para ele, mas no templo Ilê Axé Nagô Kobí, não iniciamos ninguém para esta divindades, apenas o cultuamos como Ojúbo (assentamento coletivo do templo)


Curiosidades
A 'Kànbínà ou seja o Nagô Kobí é a única raiz da cultura Afrosul que possui rituais que ao deparar com um Lailẹ̀mí (morto), ou seja, falecimento de um dos integrantes da comunidade religiosa, durante rituais religiosos, não chega tem que encerrar os rituais e despachar, seguindo rituais próprios o Nagô Kobí dá segmento a cerimonia fúnebre sem ter que interromper os rituais que antecedem.



O que liga ainda mais ao ritual de Egungun encontrado em território Yorùbá, onde os Banto em momento algum cultuam, na verdade as divindades Banto se retiram do recinto quando há presença de um Egungun, diferente da maioria das divindades Yorùbá que presenciam e não precisam serem retiradas.



Tanto que o grande Aláàfìn Òyó é entronado seguindo rituais aos ancestrais (Egungun). (fonte Erick Wolff - A Entronação do Aláààfin e sua conservação: a nação Kambina no Batuque Nàgó do R.S.
Em todas as religiões de matriz africana, Ṣàngó come amalá feito com quiabo, apenas na cultura Afrosul que é servido um amalá para Ṣàngó com folhas deaoro ou mostarda.
Waldemar foi iniciado Kun Lulu, africano escravo vindo do porto de Cabinda, que não quer dizer que ele seja Banto, pois os Bantos não cultuam Ṣàngó. (fonte Bàbàláwo Ifágbaíyin Agboolà, Sango Kámu ká)
O Batuque afrosul já era tratado como Nàgó anterior aos anos 80, conforme afirma esta página com um disco gravado em 1978, Este e o Nago do Rio Grande do Sul com "Abelardo Pereira e coro"-Vol.1-Lp-ARTES DISCOS-1978, sendo assim o Batuque Afrosul, já era considerado Nàgó muito anotes do aculturamento africano que teve inicio ao final dos anos 90. Por isso, que é muito comum o Batuque ser tratado como Nàgó afrosul, baseado na língua Yorùbáe sua cultura.


Nota
Bàbá Erick Òòṣàálá Diretor do templo Ilê Axé Nagô Kobí é uma entidade Espiritualista, Òrìṣàteísta, Apolítica sem fins comerciais. O Templo Ilê Axé Nagô Kobí situa-se na zona sul da grande São Paulo, pertence à cultura Afro-brasileira, Axé Nagô Kobí, sob comando do dirigente espiritual Bàbá Erick de Òòṣàálá, que pertence à família do Ilé Xapanã - Bàbá Agnaldo de Xapanã (Porto Seguro), filho de Julia de Xapanã (falecida), iniciada por Neuza de Yemojá (falecida).



Saiba mais sobre o Bàbá Erick Òòṣàálá Em 1979 frequentou a Umbanda no Templo Aldeia de Oxosse, em 1980 Templo Guaracy. Iniciado em Janeiro de 1982 na Nação Angola, ficou praticamente até o final de 1982, quando migrou para o Nagô Kobí, culto à Òrìṣà, recebendo seu Oyè abrindo em 05 de Julho de 1989 o Templo Ilê Axé Nagô Kobí.

domingo, 2 de setembro de 2012

A ORIGEM DOS JEJES - REGINALDO PRANDI

A ORIGEM DOS JEJES
Reginaldo Prandi


A Nação Jeje 

A nação jeje-mahin, do estado da Bahia, e a jeje-mina, do Maranhão, derivaram suas tradições e língua ritual do ewê-fon, ou jejes, como já eram chamados pelos nagôs, e suas divindades centrais são os voduns. As tradições rituais jejes foram muito importantes na formação dos candomblés com predominância iorubá.
















A Palavra Jeje 

A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos povos mahins. Jeje era o nome dado de forma perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savê" que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje.


A Palavra Dahomé 

A palavra DAHOMÉ, tem dois significados: Um está relacionado com um certo Rei Ramilé que se transformava em serpente e morreu na terra de Dan. Daí ficou "Dan Imé" ou "Dahomé", ou seja, aquele que morreu na Terra da Serpente. Segundo as pesquisas, o trono desse rei era sustentado por serpentes de cobre cujas cabeças formavam os pés que iam até a terra. Esse seria um dos significados encontrados: Dan = "serpente sagrada" e Homé = "a terra de Dan", ou seja, Dahomé = "a terra da serpente sagrada". Acredita-se ainda que o culto à Dan é oriundo do antigo Egito. Ali começou o verdadeiro culto à serpente, onde os Faraós usavam seus anéis e coroas com figuras de cobra.

Encontramos também Cleópatra com a figura da cobra confeccionada em platina, prata, ouro e muitos outros adornos femininos. Então, posso dizer que este culto veio. descendo do Egito até Dahomé.





















Idioma do Povo 

Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus, etc. Portanto, teríamos dezenas de idiomas para uma tribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge evidentemente às leis da lingüística - muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os mesmos Voduns. As diferenças vinham, por exemplo, dos Minas - Gans ou Agonis, Popós que falavam a língua das Tobosses, que a meu ver, existe uma grande confusão com essa língua. 

Jejes no Brasil 

Os primeiros negros Jeje chegados ao Brasil entraram por São Luís do Maranhão e de São Luís desceram para Salvador, Bahia e de lá para Cachoeira de São Félix. Também ali, há uma grande concentração de povos Jeje. Além de São Luís (Maranhão), Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia), o Amazonas e bem mais tarde o Rio de Janeiro, foram lugares aonde encontram-se evidências desta cultura

A origem da Nação 

Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses voduns só cresceram no antigo Dahomé. Muitos desses Voduns não se fundiram com os orixás nagos e desapareceram totalmente. O culto da serpente Dãng-bi é um exemplo, pois ele nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até as Antilhas. 

Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-se a classificação do povo da terra, ou os voduns Caviunos, que seriam os voduns Azanssu, Nanã e Becém. Temos, também, o vodun chamado Ayzain que vem da nata da terra. Este é um vodun que nasce em cima da terra. É o vodun protetor da Azan, onde Azan quer dizer "esteira", em Jeje. Achamos em outro dialeto Jeje, o dialeto Gans-Crus, também o termo Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os voduns da terra encontramos Loko. Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso, também está na família Caviuno, porque Loko é árvore sagrada; é a gameleira branca, que é uma árvore muito importante na nação Jeje. Seus filhos são chamados de Lokoses. Ague, Azaká é também um vodun Caviuno. A família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho de Sogbô, chamado de Runhó. Mawu-Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbô também tem particularidade com o Orixá em Yorubá, Xangô, e ainda com o filho mais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é filho de Ague e irmão de Anaite. Anaite seria uma outra família que viria da família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobosses que viriam a ser as Yabás dos Yorubás, achamos assim Aziritobosse. Estou falando do Jeje de um modo geral, não especificamente do Mahin, mas das famílias que englobam o Mahin e também outras famílias Jeje. 

Como relatei, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade, esta família, ou seja, nós que pertencemos a esta nação deveríamos ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon seria a nossa verdadeira denominação. Nós seríamos povos Ewe ou povos Fons. Então, se fôssemos pensar em alguma possibilidade de mudança, nós iríamos nos chamar, ao invés de nação Jeje, de nação Ewe-Fon. Somente assim estaríamos fazendo jus ao que é encontrado em solo africano. Jeje é então um apelido, mas assim ficamos para todas as nossas gerações classificados como povo Jeje, em respeito aos nossos antepassados. 

(Texto de Reginaldo Prandi)

Publicado primeiramente em:

NOSSAS RAIZES - 17/03/2012


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Editorial do Blog Ilê Axé Nagô Kóbi

Fonte do texto atualizada em 17/02/2023

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Quem é Exu? (parte 3)

Exú por  Alessandro Coi
Terceira parte


Esse ponto a essência de Exú, que é o movimento e o novo, se manifesta. O mensageiro dos Orixás trás para nosso plano a Criação de uma nova realidade, que mostrava mais que nunca a necessidade da manifestação de uma nova ancestralidade, que ao longo dos séculos se construiu no já então Brasil.


E quem melhor que ele para ser homenageado com seu nome para representar nessa nova fase a ancestralidade nativa, em um período em que se torna necessário se unificar as raças que fazem bater o coração desse novo povo movido pela mistura do sangue de guerreiros nativos e nobres sábios, usurpados por desbravadores que se tornaram um, mamelucos, mulatos, cafuzos, enfim, brasileiros.
O fim da escravidão e a urbanização vêm com uma avalanche de mudanças no contexto geral da vida do povo brasileiro. Agora existiam de fato cidadãos e um país nessa terra. Era então formada uma nação de fato e de direito. Ainda engatinhando e cheia de mazelas, mas com uma identidade própria, sem mais viver a sobra dos colonizadores, seja no âmbito político para o branco, ou no âmbito de liberdade em relação ao negro e o índio.

Pelas características específicas da religiosidade Bantu, o mundo é um encontro cruzado de dois ou quatro submundos. Ou melhor, são quatro os mundos, interligados, à maneira das quatro esferas de luz de Swedenborg: (1) “este mundo”; (2) o “outro mundo próximo”; (3) o “outro mundo distante”; e (4) o “outro mundo do nada”. As relações das pessoas comuns e de suas famílias se dão com seus antepassados antecedentes ou muito próximos (pais, avôs, etc) e (b) com os antepassados de seus antepassados (avos dos avôs, avôs dos avôs dos avôs, etc). A maioria de nossas desavenças se encontra assim nas relações dos dois mundos, ou seja, (1) este mundo; e (2) o outro mundo próximo. É claro que podem se dar relações mais profundas e mais complicadas, com soluções até fora de alcance. No entanto, a maioria das relações entre-mundos compreende esses dois mundos iniciais.

Isso, aliado a essa identidade que se forma na nação e que já tem uma ascendência brasileira de varias gerações (a essa altura os habitantes do Brasil tinham sua ancestralidade conhecida, de forma pessoal ou oral, toda brasileira, por estarem a gerações aqui.

Está formada assim a ancestralidade brasileira, não da terra no sentido geográfico, mas do povo, da nação que passa a existir e precisa descobrir e assumir sua identidade.

Creio que toda religião é única, o que vejo na Kimbanda como um traço muito forte, que pelas conseqüências disso acaba dando esse caráter diferenciado, é ela sempre ter sido um foco de resistência ativa, todas religiões que foram perseguidas foram focos de resistência, mas quase a totalidade foi de forma passiva, enquanto a Kimbanda sempre teve clara e aberta a política de não-aceitação e de reação a essa perseguição. Se alguma coisa a faz temida é a filosofia de não passividade que gera uma conseqüente reação por parte dela a qualquer tipo interferência externa, independente do da forma que essa reação vai se manifestar.

Acho que pela concepção de mundo da Kimbanda e o respeito a liberdade individual de cada um que ela tem como base faz com que ela por respeitar todo tipo de religião seja respeitada da mesma forma. Na Kimbanda acima de tudo se respeita a liberdade e a individualidade de cada um decidir seu destino e escolher seu caminha, acho que isso parte daí.

Na verdade não terminei o texto mas a linha de raciocínio dele segue a lógica de como se formou a presença da entidade que se chama Exú, e por que ele sendo um ancestral nativo, uma expressão maior da nossa cultura individual brasileira, absorveu o nome e também a essência da divindade Exú, que ao contrário da religião na origem do culto, está presente e manifesta desde esse período manifesta em nossa cultura religiosa. A origem e base do culto é uma, mas nossa realidade é baseada em outra cultura. Uma cultura própria, onde os traços humanos são bem melhores retratados nos antepassados através da figura dos Exús.

Não me apego a esse conceito de evolução, é estranha a minha realidade, mas com certeza eles são a melhor expressão da ancestralidade brasileira, como são os pretos velhos a ancestralidade africana que formou o que existe hoje junto com o índio representado no caboclo expressando nossa ancestralidade nativa, agregado a outras étnicas e culturas que fizeram sermos o que somos hoje.

A diferença é que eles expressam uma realidade contemporanea, por isso se tornam mais próximos de nós.


Pretendo ainda na continuação dos posts ainda falar de onde na visão Bantu e no seu culto religioso essas entidades se encaixam, e de onde e como esse culto se adaptou a nossa realidade, para com isso ser um digno representante de nossa natureza espiritual, do que somos hoje. Nisso pretendo também passar pelo fatores e expressões culturais interligadas a isso dentro da realidade da cultura religiosa que se formou no Brasil, originada dos Bantus, mas modificadas por influências indígenas, nagos e que se expressam na essência em figuras com Zé Pelintra, o malandro...

Para vc ter uma idéia da visão através da cultura Bantu, os Exús e demais entidades se classificam basicamente nas seguintes classes de espíritos:


Miondonas são espíritos tutelares. Nascem conosco e herdam-se principalmente do ramo paterno. Defendem-nos do mal. Deriva de kukondona: limpar (do mal).


Calundus são espíritos justiceiros e medicantes. Herdam-se principalmente do ramo materno. Representam almas de pessoas que viveram em épocas remotas. Distingue-se o diculo – ancião e o diculundundo – ancião de idade mais avançada. Deriva de kulundula: herdar.

Malungas são espíritos simpatizantes. As entidades que, na vida terrena, constituíram indivíduos da raça branca, assumem, por influência do catolicismo, a qualificação particular “santo”. Deriva de M’akuá-lunga: relativos aos do Além.


De qualquer forma se refere a ancestrais nativos, contemporâneos ou componentes da raíz que formou o que somos hoje. Podem ser ancestrais diretos ou ancestrais provenientes da coletividade que pertencemos.


Se sempre houve a busca de manter viva as raízes ancestrais, seguindo as crenças e costumes dos antepassados, seja no negro e suas rodas, sejam de Capoeira, Candomblé, Batuque, Samba ou no índio, com seu culto a natureza, seu xamaniismo da pajelança, seu catimbó ou mesmo no branco com suas missões jesuítas, não seria diferente dessa vez, onde finalmente ele teria uma cultura própria, formada de várias matrizes, unificadora e libertadora, um foco de resistência contra toda opressão que sofreram, um grito de liberdade, ainda que pequena, mas enorme pelo que lhes foi tirado, sua terra, sua cultura, suas famílias e seus antepassados, que ficaram do outro lado do Atlântico, além do horizonte da Kalunga Grande, restando apenas aos que aqui estavam sua memória e seus ensinamentos milenares, que vieram e foram transmitidos pelas bocas daqueles que cruzaram o mar nos navios negreiros.

Dentre esse caldeirão se manifesta com força total Exú. O Orixá que era o guardião dos templos, mercados, aldeias, vilas e cidades ressurge reinventado em um modo arquétipo-ancestral da cultura do novo povo. Não é um ancestral divinizado como algumas divindades africanas, ao contrário, é o mais humano habitante do Orun.

Em busca de uma identidade própria, mas que se formou na junção de várias outras, que tiveram inclusive papéis antagônicos entre si novamente Exú se manifesta, agora pela dualidade, os opostos que se completam e não se anulam, trazendo o opressor e o oprimido, juntos em um terceiro, o mestiço.

Exú é o mestiço. Não é branco nem negro, nem vermelho nem amarelo. É a esfera, p todo num só.

Por isso temos exús de todo tipo de identidade étnica. Ele é um retrato de nosso povo, miscigenado, sensual, alegre, esperto, brincalhão, lutador, perspicaz,, audaz e sempre pronto para a mudança, dono de um jogo de cintura para levar a vida e suas intempéries que só de Exú podia herdar.


Uma herança ancestral que devemos aprender a usar com sabedoria, como faziam os pioneiros usando os santos para cultuar suas divindades, usando a arma de opressão e domínio cultural e religioso do homem branco para, irônicamente, manter vivas suas tradições.. Enquanto o branco roubava ouro através das imagens, não pagando tributos a coroa, o negro o qual era o meio usado para obter o mesmo ouro que o branco roubava entre si, usava as mesmas imagens para guardar "pedras", sem nenhum valor financeiro, mas com algo de valor inestimável: Sua fé e o axé que lhe foi passado e ali depositado pelos seus ancestrais, ali estava contida a força divina, o axé que se perpetua geração após geração, sendo transmitido em rezas, mitos, rituais, ritos de passagem, no contar de histórias, nos itans, nos orikis que embalam o sono dos nenês, nas danças e nos atos dos Orixás e no gestual das entidades, carregado de pura neurolinguística subliminar, algo milenar que nos faz sentir a energia e reconhece-la intuitivamente, pois faz parte de nós desde o inicio de nossa existência. É a energia que cria pelo movimento constante, algo simultaneamente estável e caótico.

Esse Oriki¹ reflete bem a face de Exú

ORIKI de EXU:


Laroiê!
Rei da Astúcia.
Senhor dos Ardis.
Margem, Zona de Fronteira.
Ruas, Esquinas, Estradas.
Interstícios.
Personalidade Liminóide.
Inocência de criança e licença de ancião.
Protetor do Terreiro.
Porteiro e guardião.
Sempre invocado para o bom desenrolar da festa.
Madeira que cupim não rói.
Braço direito de Orunmilá.
Anda pelos campos, anda entre os ebós.
Atirando uma pedra hoje,
Mata um pássaro ontem.

Pelo menos uma delas, a outra é e sempre será o grande mistério. O teatro mágico dos iniciados, como já foi dito, ainda que não se referindo a ele.


Exu. Nas palavras de Jorge Amado: “Exu come tudo que a boca come, bebe cachaça, é um cavaleiro andante e um menino reinador. Gosta de balbúrdia, senhor dos caminhos, mensageiro dos deuses, correio dos orixás, um capeta. Por isso, sincretizaram-no com o Diabo; em verdade ele é apenas o orixá em movimento, amigo de um bafafá, de uma confusão mas no fundo, excelente pessoa. De certa maneira é o não onde existe o sim; o contra em meio ao favor; o intrépido e invencível.”


Ele é compreendido na África como um deus do movimento, come tudo que a boca come,e que é "quente". Exu mora nas encruzilhadas. É a idéia é "o que é, mas não é", sempre. Uma encruzilhada a princípio não é caminho algum e é ao mesmo todos eles, certo?. Mas ao contrario de todos os pesquisadores eu tenho certeza que Exu sabe muito bem o que é e o que tem a fazer.


Essa forma de ver o Orixá Exú condiz bem com ο papel que essas entidades ancestrias hoje exercem na nossa cultura religiosa.

Exu é controvertido, porque tem um gênio travesso (Em Cuba, por causa disso ele é o Menino Jesus) e faz o que lhe pedem. O que eu considero um equivoco ridículo. Não tem noção de bem e de mal e se movimenta apontando o pênis pro lugar onde quer ir. Isso não quer dizer que faça o mal, nem o bem, ele é a Pureza (oara ser tão controverso não podia faltar isso né? rsrsrs). Sua Pureza consiste na inocência de seus atos. Só não se confunda Pureza com ingenuidade. Sua Pureza é de uma consciência plena, e justa, nunca usando o mal, nem o bem. Captaram o que quis dizer? Ou como diria um Exú " catou??? " rsrsrs

Sem Exu, os Orixás não podem ajudar seus fiéis. Exu transforma o conflito em harmonia. Tudo sabe, ouve e transmite. Garante a eternidade do povo e a continuidade do homem.

Exu também é associado à sexualidade, a segunda fome humana.

Não existe lugar, no passado, presente ou futuro a que Exu não possa ir. Existe um oriki (verso sagrado) que diz, inclusive, que "Exu mata ontem um passarinho com pedra que atirou hoje para o amanhã."


¹ ORIKI- Escreveu certa vez Antônio Risério: “Tudo o que existe, aqui ou no outro mundo, pode ser premiado com a composição de um oriki. Orikis são emitidos para ninar crianças, celebrar deuses,receber visitas, batizados, noivados e funerais. Em suma, pontuam todos os momentos da existência social na Iorubalândia. Oriki. Música verbal. Melopéia. É bom enfatizar que ninguém emite um oriki de orixá em vão. Recitar ou cantar um oriki de Oxossi, por exemplo, é o mesmo que recitar um poema de Blake, ou cantar um blues de Billie Holiday.”

Bibliografia
África, mitos y leyendas - Alice Webner
Traduzido por Mametu Ndenge Mutarerê

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ajala e o mito das mulas sem cabeça


    Imagem: Internet, autor desconhecido.

Por Erick Wolff8
08/06/2012

Revisado em Março de 2018


Esta postagem tem a intenção de mostrar como um equívoco mitológico pode influenciar milhares de pessoas através de um conceito religioso, também equivocado.

O mito abaixo é corrente na etnografia afro-brasileira. Foi publicado no livro "Mitologia dos Orixás", Reginaldo Prandi, Cia. das Letras, São Paulo, p. 470.

Um dos versos diz que "Obatala esqueceu de fazer a cabeça". Não sabemos onde Prandi encontrou esta informação, pois a fonte informada pelo autor, a saber: Sixteen Greats Poems of Ifa", Wande Abimbola, Unesco, 1975, não traz este dado.

Na contra-mão, as informações colhidas em Oyo por Paula Gomes, Oloye do Alaafin Oyo, dizem o contrário: que Obatala cria o ser humano, ainda no òrun, completo, isto é, com a cabeça (babalaô Ifatokun, Aare Isese Alaafin Oyo).


Vamos ao mito publicado por Prandi:

Ajalá modela a cabeça do homem

Odudua criou o mundo,
Obatalá criou o ser humano.
Obatalá fez o homem de lama,
com o corpo, peito, barriga, pernas, pés.
Modelou as costas e os ombros, os braços e as mãos.
Deu-lhe ossos, pele e musculatura.
Fez os machos com pênis
e as fêmeas com vagina,
para que um penetrasse o outro
e assim pudessem se juntar e se reproduzir.
Pôs na criatura o coração, fígado e tudo o mais que está dentro dela,
inclusive o sangue.
Olodumare pôs no homem a respiração
e ele viveu.
Mas Obatalá se esqueceu de fazer a cabeça
e Olodumare ordenou a Ajalá que completasse
a obra de Oxalá.
Assim, é Ajalá quem faz as cabeças dos homens e das mulheres.

Quando alguém está para nascer,
vai à casa do oleiro Ajalá, o modelador de cabeças.
Ajalá faz as cabeças de barro e as cozinha no forno.

Se Ajalá está bem. faz cabeças boas.
Se está bêbado, faz cabeças mal cozidas,
passadas do ponto, malformadas.
Cada um escolhe sua cabeça para nascer.

“Cada um escolhe o ori que vai ter na terra.
Lá escolhe uma cabeça para si.
Cada um escolhe seu ori.

Deve ser esperto, para escolher cabeça boa.
Cabeça ruim é destino ruim,

cabeça boa é riqueza, vitória, prosperidade, tudo que é bom.

O povo Yorùbá acredita que Obatala (a maior divindade cultuada entre os yorùbá, o primeiro ser divino criado, conhecido por Òòsàálá) modela o homem do barro do òrun (mundo espiritual), ou seja, ele cria o homem, com elementos do próprio òrun, porem em momento algum diz que ele cria "mulas sem cabeça".
Entre muitos erros conceituais na literatura afro-brasileira, este acima é o pior, que faz com que o homem seja criado como uma mula sem cabeça, para mais tarde buscar orí na casa de Ajalá.

Todos sabem que Ajalá é o oleiro do òrun, que possui poder de modelar orí, que o culto a orí é individual  tanto que é cultuado antes mesmo da feitura do òrìsà.

O babalaô Ifatokun, de Oyo, esclare que o orí de Ajala é um àse que o ara-orun coloca em sua cabeça (espiritual), ainda no òrun, antes vir para o mundo (ayé)


Bibliografia no corpo do texto.

 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os direitos humanos é um Titanic pronto para afundar no Brasil


Por Erick Wolff8
25/05/2012

Durante 17 anos, o congresso discutiu a união entre pessoas do mesmo sexo. E tentando tapar o sol com a peneira, mais uma vez este congresso não fez nada, nesta quinta-feira, 24 de maio,  ele enrolou e caiu no dedo do pé, pois a lei disfarça a falta de preocupação da Comissão dos Direitos Humanos, que segundo esta lei, não haverá mudança alguma, pois existe um Pitt bull, chamado Comissão de Constituição e Justiça, que diante dos senadores preconceituosos e fanáticos, sendo a maioria, lutam contra os direitos homoafetivos, sem ao menos entender a necessidade da causa. Depois disso, deverá seguir para a Câmara, que ali sim a bancada evangélica, ou melhor, falando a totalidade Cristã, irá lutar de unhas e dentes contra.

Mas porque articular tanto entre o atraso e a necessidade?

Simplesmente porque, os direitos dos casais do mesmo sexo de poderem construir uma vida e principalmente adquirir bens nunca foram respeitados, que no caso de falecimento de um dos dois, simplesmente a família do falecido se apossa de tudo, deixando o outro sem direito algum, resumindo o drama, deixa o outro sem nada...

Atualmente a lei chegou até o estúpido entendimento que o individuo compete com os herdeiros, diferente dos casais heteros onde o individuo é meeiro, então porque a lei ignora a união entre pessoas do mesmo sexo? Sendo que o INSS e a Receita Federal já os reconhece?

Esta é a intolerância e o medo dos nossos  políticos de votarem a favor e  perderem os eleitores mais fanáticos que lutam contra os direitos dos homoafetivos de constituir  família e viver dignamente.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Quem é Exu? (parte 2)

Exú por  Alessandro Coi
Segunda parte

Nos anos (18)40 e (18)50 foi constante a referência, nas páginas dos jornais do Rio de Janeiro e São Paulo, de reuniões de pretos (nomes dos negros de então), com finalidade aparente de praticar a religião. Tais reuniões, quando descobertas ou denunciadas, eram dissolvidas a pata de cavalo ou a golpe de bastões policiais, sendo seus praticantes recolhidos presos, quando não logravam fugir.

A partir dos anos (18)50, é nítida a separação de semelhantes “pagodes”, sempre destruídos, em duas famílias, o Candombe ou Candomblé e a Macumba ou Imbanda. Aparece, portanto, pela primeira vez (1853) a Nbandla bantu como ramo independente das religiões ou “cultos” afro-brasileiros.

Quanto ao nome de “pagodes”, eram dados por deboche pelas autoridades policiais, em virtude do caráter enfeitado e complicado dos rituais e dos instrumentos de culto ali evidenciados. Os objetos eram recolhidos ou ali mesmos destruídos.

A Nbandla foi assim uma ideologia social de importância nas condições do século XIX, em função do grande número de componentes dos povos Bantu, que na realidade sócio-cultural de então conformavam as populações locais brasileiras. No que se refere às aproximações com outras religiões, a destruição massiva dos elementos de culto e dos rituais eliminou a possibilidade de uma reconstituição dos caminhos culturais percorridos.

No entorno da Guerra do Paraguai (1860-1880), a `Nbandla sofreu forte impacto do Kardecismo, recém-implantado no Brasil e muito forte então no corpo de oficiais do exército e da marinha. A `Nbandla, sendo já à época conhecida como Umbanda (corruptela gerada pela pronúncia), no Rio de Janeiro tinha mesmo acesso às igrejas católicas onde concentravam as tropas que eram enviadas para o “front” paraguaio. Era então nítida a associação das cores das nações africanas, na escolha dos santos católicos que deviam favorecer os iniciados ou adotados pela Umbanda.

Os cânticos (ou “pontos”) expressam assim uma parte congelada das relações religiosas inter-étnicas, que necessitariam para ser corretamente datados de – ao menos uma preservação de amostras da estatuária sagrada ao longo das gerações. Dessa, ainda hoje – o pouco que resta se encontra nas mãos da polícia. Por isso, torna-se muito difícil chegar à definição dos lugares específicos das identidades religiosas (*dai o distânciamento dos Jinkisi, e conseqüente absorção dos Orixás no culto, mais conservado pela maior visibilidade de alguns terreiros com raízes Yorubas), com uma teoria adequada do papel das identidades eventualmente duplas ou triplas, nas fases históricas precedentes (da época contemporânea). A multiplicidade de papéis a desempenhar que se gera naturalmente numa sociedade em urbanização devia requerer oportunidades também múltiplas de transformação religiosa nos contextos étnico-sociais de então (*Nagotização).

No culto Bantu, a tenda pode atender coletiva ou individualmente. Os dias de atendimento eram coletivos geralmente às segundas e às sextas, sendo os demais dias – todos ou parte deles – dedicados a atendimentos individuais e à “prática da caridade”.


 Mas e Exú? Se perdeu em alguma encruzilhada?

Claro que não, como Senhor dos Caminhos estava abrindo as portas da religião para o novo que surgia com o advento da abolição da escravatura e da nova situação do Brasil, que deixaria de ser mera propriedade de Portugal, assim como os escravos de seus senhores, e passaria, a ser uma nação independente que construiria a partir de então, identidade própria..

O atendimento coletivo substituía a antiga roda comum de delírio das aldeias Bantu na África (Ku Yinga). Ali podia-se entoar cânticos reelaborados para expressar a nova coletividade, evidentemente híbrida, de parentela e consangüinidade desconhecidas. Os antepassados eram invocados de acordo com uma nova terminologia mais abrangente,produzida pelos sacerdotes para cobrir um arco mais abstrato de relações com os fiéis. Nesse sentido, pode-se observar um deslocamento do outro mundo próximo para o outro mundo distante. A necessidade de generalizar as relações de parentesco para todos os Bantu e não-Bantu agora (então) desaldeiados levou à mitologia das Sete Linhas, cujas cores incorporam diferentes culturas e escolhas africanas. Constituiu-se assim nova hierarquia geopolítica da vida espiritual, para corresponder aos movimentos populacionais devidos à guerra, ao recuo da escravidão e ao avanço urbanizador.


Bibliografia
África, mitos y leyendas - Alice Webner
Traduzido por Mametu Ndenge Mutarerê

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