segunda-feira, 10 de maio de 2010

85 ANOS DE MÃE ESTELA DE OXOSSI

Considerações sobre o ritual Afro-Gaúcho e o conceito do Bọrí

Observando a riqueza dos rituais Afro-Gaúchos, no Batuque e suas vertentes, eu percebi que muitas das comidas ofertadas para as divindades cultuadas por este povo sempre são acompanhadas de guloseimas e algumas vezes frutas. Sabemos que a fruta é um elemento muito comum em várias nações, já os docinhos como quindim, cocada, brigadeiros, pudim, sagu e etc... Estes são muito comuns nos rituais pertinentes ao culto ao Orí. [a imagem ao lado ilustra uma Orí]



Pesquisando intensamente os fundamentos dos Batuqueiros eu entendi que, o que ocorreu foi uma aglutinação de conceitos, onde a Orí e o Òrìṣà estão partilhando do mesmo ritual, mesmo contendo os itens necessários para a fundamentalização na hora de dar a comida a Orí, este povo deixou para trás em algum lugar do passado as rezas e saudações para a Orí.



Os elementos estão presentes para o conceito e noção de pessoa segundo o ritual da Orí, como o Igbá-Orí, búzios, moeda, uma mecha de cabelo do iniciado, mel, dendê, banha de Orí, entre outros elementos que fazem parte do Bọrí, mas tudo isso sem as tradicionais rezas de saudação declarando a Orí como o primeiro Òrìṣà a ser cultuado. 
[a imagem ao lado ilustra um dos formato do Igbá-Orí  usado no culto]  



Foi aí que comecei a perceber que numa mesa de Bọrí sempre continham os docinhos e guloseimas que fariam parte de toda a obrigação, porem, uma comida de uma determinada divindade poderia ser ofertada sem os docinhos, contudo não existem registros de docinhos arriados sem as comidas. Não é possível afirmar com certeza que os docinhos foram distribuídos para cada Òrìṣà na intenção de agradar a Orí daquela pessoa através da divindade ao qual foi iniciado. Mas é muito claro e conciso que os rituais foram assimilados para aglutinar os fundamentos do Bọrí e da feitura.



Eu cheguei a ver durante os rituais do Bọrí e ou iniciação para o Òrìṣà na cultura Afro-Gaúcha, o sacerdote dar o Bọrí ao mesmo tempo em que iniciava o Ẹlẹ́gùn a determinado Òrìṣà, muito diferente de outras nações que separam os rituais, com o conceito para fortalecer a Orí antes do Ìyáwó fazer seu santo.



Para esclarecer o meu pensamento, observem que algumas famílias do Batuque dão o Bọrí e a feitura ao mesmo tempo sem separar as aves do Bọrí com as aves do Òrìṣà, muitas vezes na mesma bacia descansam o Bọrí e o Òrìṣà. Enquanto algumas nações aboliram o Igba-Orí, o Batuque manteve o recipiente, mas sem o conceito e noção de pessoa, diferente das outras nações que exaltam a Orí em seus rituais e buscam o conceito e na noção de pessoa.



O Bọrí de Òrìṣà é considerado como uma feitura ou um Bọrí para o Òrìṣà e não para o Ẹlẹ́gùn nesta cultura? Este mesmo Bọrí é feito com a mesma reza dedicada ao Òrìṣà iniciado, eu posso considerar que exista uma ligação com a Orí e o Òrìṣà, porem o Bọrí não deveria ser executado com a reza do Òrìṣà daquele iniciado e sim com a reza da Orí.



Eu acredito que o Bọrí deva ser separado da iniciação para o Òrìṣà, pois são energias diferentes apesar do fundamento equivalente. E a grande dificuldade do Batuque contemporâneo é resgatar as rezas e saudações antigas desta cultura que ficaram para trás. Quem sabe daqui alguns anos após a febre da africanização possam ver o resgate do conceito, rezas, saudações e fundamentos do culto ao Orí na riquíssima Cultura Afro-Gaúcha.
[Ilé-Orí,-Yorùbá,-Nigeri]

Por Erick Wolff8

O despertar de Òòṣàálá.

Conversando com um grande amigo sobre o Yorùbá e seus problemas com a escrita, muito bem colocado pelo Luiz L. Marins que explica o que ocorre com a Língua mais polemica e difundida no Brasil;

  • “Como a língua originalmente era ágrafa, a forma para diferenciar os significados do que falavam era subindo ou descendo o tom da voz, alternando a nasalização entre aberto e fechado, aglutinando palavras para formar nomes. Foi isto, misturado com outros dialetos que veio para o Brasil.”
Eu fiz algumas aulas de introdução ao Yorùbá, e posso atestar que até mesmo os Nigerianos possuem dificuldade na grafia. Chego a suspeitar que nem mesmo eles entendem como funciona a mania de colocar acentos em cima das letrinhas, virando a famosa sopinha de letrinhas e suas confusões para quem não entende muito bem o Yorùbá ou o Português.

Eu gostaria de sugerir para que todos fizessem um pequeno exercício, ou uma lição de casa, pegue um ou dois CDs de cantigas para os toques religiosos e ou cerimônias e ouça, será muito interessante perceber que cada Alagbe ou Ogã canta diferente  a  mesma  cantiga, alguns cantando num dialeto perdido ao qual somente eles entendem...

Se existe tanta diferença entre um Alagbé cantado e outro, então imagina como foram adulteradas as cantigas que ouvimos durante estas decadas durante os toques de òrìṣà. Tudo isso para explicar que as tentativas de traduzir cantigas será sempre um engano para quem faz e para quem as recebe. Claro que podemos ter a essência do que cantamos numa pequena ressonância do arcaico e limitado Yorùbá que temos acesso. Sem esquecer-se do fator das misturinhas das palavras das várias etnias e tribos, por isso nem uma cantiga tirada durante os toques de hoje são puras e podem ser traduzidas ao pé da letra. Mal são escritas, segundo o Luis L. Marins que afirma; - Jamais, jamais, jamais, teremos "traduções corretas de orin, atetes, aduras" de qualquer segmento religioso de matriz africana. Cada um fará sua interpretação de acordo com seus estudos, mas nunca poderá afirmar que é uma tradução -.



Um exemplo muito simples, outro dia eu entrei num blog que por sinal fazia uma crítica construtiva porem infundada sobre o meu trabalho e mais alguns estudiosos e li o seguinte;




Esta foi a primeira vez que ouvi falarem sobre a tradução da palavra ẹbọra = Gay, bicha, homossexual. Tentei achar em algum dicionário e realmente não encontrei nada, nem mesmo com os amigos que possuem grande afinidade com o Yorùbá, por isso que temos que tomar muito cuidado com as palavras. Com certeza o ẹbọra foi uma delas, confundindo do autor do Blog ao qual eu colei este material.
"preservarei o endereço do blog".




E finalmente quero demonstrar aqui um momento muito importante de reconhecimento e evolução, onde eu já escrevi de várias formas o nome do meu òrìṣà, reconheço que segundo as fontes usadas sempre me foi apresentado de várias formas; òṣala, Oṣaalá, Oriṣalá, etc... Certo ou errado são traduzidas nos principais dicionários Yorùbá x Português. Hoje conversando com o escritor Luiz, ele comentou o seguinte; “Eu demorei um bom tempo para entender como se escreve OXALA em iorubá, e confesso, sem nenhuma crítica, que cometi durante um bom tempo o mesmo erro que a maioria comete até hoje. A tendência natural é substituirmos o X pelo S e colocarmos um tom agudo na ultima letra A, seguindo a regra da língua portuguesa, certo? Errado, Òòṣàálá é a maneira correta de escrever, sendo Òòṣà a sua forma abreviada”.

 
Por isso que convido aos amigos que estão acompanhando meus posts e me ajudem a caçar os Òòṣàálá que tiverem errados no meu blog e textos espalhados pela net, conto com a ajuda de todos e agradeço muito.
Por Erick Wolff8

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