domingo, 20 de março de 2011

Egungun pertence à Mitologia Yoruba.

Por Arrundegy Ojé Deyi

Maio de 2008
Egungun, espírito ancestral de pessoa importante, homenageado no Culto aos Egungun, esse culto é feito em casas separadas das casas de Orixá. No Brasil o culto principal à Egungun é praticado na Ilha de Itaparica no Estado da Bahia mas existem casas em outros Estados.

Normalmente chamado de Babá (pai) Egun, Babá-Egun. Também pode ser referido como Êssa nome dos ancestrais fundadores do Aramefá de Oxóssi (conselho de Oxóssi, composto de seis pessoas). Ou Esa espírito dos adoxu e dignatários do egbe (casa).

Os nagôs, cultuam os espíritos dos mais velhos de diversas formas, de acordo com a hierarquia que tiveram dentro da comunidade e com a sua atuação em pról da preservação e da transmissão dos valores culturais. E só os espíritos especialmente preparados para serem invocados e materializados é que recebem o nome Egun, Egungun, Babá Egun ou simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse culto todo especial. Porque o objetivo principal do cultos dos Egun é tornar visível os espíritos dos ancestrais, agindo como uma ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. E ao mesmo tempo que mantém a continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito controle das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem clara entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois níveis da existência).

Assim, os Babá trazem para seus descendentes e fiéis suas bênçãos e seus conselhos mas não podem ser tocados, e ficam sempre isolados dos vivos. Suas presença é rigorosamente controlada pelos Ojé (sacerdotes do culto) e ninguém pode se aproximar deles. Os Egungun se materializam, aparecendo para os descendentes e fiéis de uma forma espetacular, em meio a grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e coloridas, com símbolos característicos que permitem estabelecer sua hierarquia. Os Babá Egun ou Egun Agbá (os ancestrais mais antigos) se destacam por estar cobertos com uma roupa específica do Egun — chamada de eku na Nigéria ou opá na Bahia, são enfeitadas com búzios, espelhos e contas e por um conjunto de tiras de pano bordadas e enfeitadas que é chamado Abalá, além de uma espécie de avental chamado Bantê, e por emitirem uma voz característica, gutural ou muito fina.

Os Aparaká são Egun mais jovens: não têm Abalá nem Bantê e nem uma forma definida; e são ainda mudos e sem identidade revelada, pois ainda não se sabe quem foram em vida. Acredita-se, então, que sob as tiras de pano encontra-se um ancestral conhecido ou, se ele não é reconhecível, qualquer coisa associada à morte. Neste último caso, o Egungun representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos morais e são os mais respeitados e temidos entre todos os Egungun, guardiães que são da ética e da disciplina moral do grupo. No símbolo "Egungun" está expresso todo o mistério da transformação de um ser deste-mundo num ser-do-além, de sua convocação e de sua presença no Aiyê (o mundo dos vivos). Esse mistério (Awô) constitui o aspecto mais importante do culto.

O criador de culto dos ancestraisSegundo a tradição, o culto de Egungun é originário da África, região de Oyò. O culto de Egungun, é exclusivo de homens, sendo Alápini o cargo mais elevado dentro do culto tendo como auxiliares os Ojés. Todo integrante do culto de Egungun é chamado de Mariwó. Xangô (Sòngó), é o fundador do culto aos Egungun, somente ele tem o poder de controlá-los, como diz um trecho de um Itan:

"Em um dia muito importante, em que os homens estavam prestando culto aos ancestrais, com Xangô a frente, as Iyami-Ajé fizeram roupas iguais as de Egungun, vestiram-na e tentaram assustar os homens que participavam do culto, todos correram mas Xangô não o fez, ficou e as enfrentou desafiando os supostos espíritos. As Iyami ficaram furiosas com Xangô e juraram vingança, em um certo momento em que Xangô estava distraido atendendo seus súditos, sua filha brincava alegremente, subiu em um pé de Obi, e foi aí que as Iyami-Ajé atacaram, derrubaram a Adubaiyni filha de Xangô que ele mais adorava. Xangô ficou desesperado, não conseguia mais governar seu reino que até então era muito próspero, foi até Orunmilà, que lhe disse que Iyami é que havia matado sua filha, Xangô quiz saber o que poderia fazer para ver sua filha só mais uma vez, e Orunmilà lhe disse para fazer oferendas ao Orixá Ikù (Oniborun), o guardião da entrada do mundo dos mortos, assim Xangô fez, seguindo a risca os preceitos de Orunmilà. Xangô conseguiu rever sua filha e pegou para sí o controle absoluto dos Egungun (ancestrais), estando agora sob domínio dos homens este culto e as vestimentas dos Egungun, e se tornando estremamente proibida a participação de mulheres neste culto, provocando a ira de Olorun, Xangô, Ikú e os próprios Egungun, este foi o preço que as mulheres tiveram que pagar pela maldade de suas ancestrais as Iyami".

BrasilCulto aos Egungun é uma das mais importantes instituições, tem por finalidade preservar e assegurar a continuidade do processo civilizatório africano no Brasil, é o culto aos ancestrais masculinos, originário de Oyo, capital do império Nagô, que foi implantado no Brasil no início do século XIX. O culto principal aos Egungun é praticado na Ilha de Itaparica no Estado da Bahia mas existem casas em outros Estados. Quanto ao aspecto físico, um terreiro de Egungun ou Egun apresenta basicamente as seguintes unidade: * um espaço público, que pode ser freqüentado por qualquer pessoa, e que se localiza numa parte do barracão de festas; * uma outra parte desse salão, onde só podem ficar e transitar os iniciadores, e para onde os Egun vêm quando são chamados, para se mostrar publicamente; * uma área aberta, situada entre o barracão e o Ilê Igbalé (ou Ilê Awô - a casa do segredo), onde também se encontra um montículo de terra preparado e consagrado, que é o assentamento de Onilé; * um espaço privado ao qual só têm acesso os iniciados da mais alta hierarquia, onde fica o Ilê Awô, com os assentamentos coletivo, e onde se guardam todos os instrumentos e paramentos rituais, como os Isan pronuncia-se (ixan), longas varas com as quais os Ojé invocam (batendo no chão) e controlam os Egungun.

OrigensEgungun veio da África junto com os Orixás trazidos pelos escravos. Era um culto muito fechado, secreto mesmo, mais que o dos Orixás por cultuarem os mortos. A primeira referência do Culto de Egun no Brasil segundo Juana Elbein dos Santos foram duas linhas escritas por Nina Rodrigues, refere-se a 1896, mas existem evidências de terreiros de Egun fundados por africanos no começo do século XIX. Os Terreiros de Egun mais famosos foram:
• Terreiro de Vera Cruz, fundado +/- 1820 por um africano chamado Tio Serafim, em Vera Cruz, Ilha de Itaparica. Ele trouxe da África o Egun de seu pai, invocado até hoje como Egun Okulelê, faleceu com mais de cem anos.
• Terreiro de Mocambo, fundado +/- 1830 por um africano chamado Marcos-o-Velho para distingui-lo do seu filho, na plantação de Mocambo, Ilha de Itaparica. Teria comprado sua carta de alforria, anos mais tarde teria voltado à África junto com seu filho Marcos Teodoro Pimentel conhecido como Tio Marcos, lá permanecendo por muitos anos aperfeiçoando seus conhecimentos litúrgicos, onde também seu filho foi iniciado. Quando voltaram trouxeram com eles o assento do Baba Olukotun, considerado o Olori Egun, o ancestre primordial da nação nagô.
• Terreiro de Encarnação, fundado +/- 1840 por um filho do Tio Serafim, chamado João-Dois- Metros por causa de sua altura, no povoado de Encarnação. Foi nesse terreiro que se invocou pela primeira vez no Brasil o Egun Baba Agboula, um dos patriarcas do povo Nagô.
• Terreiro de Tuntun, fundado +/- 1850 pelo filho de Marcos-o-Velho, chamado Tio Marcos, num velho povoado de africanos denominado Tuntun, Ilha de Itaparica. Marcos possuiu o título de Alapini, Ipekun Ojé, Sacerdote Supremo do Culto aos Egungun, na tradição histórica Nagô, o Alapini representa os terreiros de Egun ao afin, palácio real. Tio Marcos, Alapini, faleceu por volta de 1935, e com sua morte desapareceu o terreiro do Tuntun, porém a tradição do culto a Baba Olokotun continuou através de seu sobrinho Arsênio Ferreira dos Santos, que possuia o título de Alagba, este migrou para o Rio de Janeiro levando o assento de Baba Olokotun para o município de São Gonçalo. Depois do falecimento de Arsênio, os assentos dos Baba retornaram para Bahia, através do atual Alapini, Deoscoredes M. dos Santos, conhecido como Mestre Didi Axipá, presidente da Sociedade Cultural e Religiosa Ilê Axipá. Mestre Didi foi iniciado na tradição do culto
aos Egungun por Marcos e Arsênio.
• Terreiro do Corta-Braço, na Estrada das Boiadas, ponto de reunião de praticantes da capoeira, atualmente bairro da Liberdade, cujo chefe era um africano conhecido como Tio Opê. Um dos Ojé, sacerdotes do culto aos Egungun, conhecido como João Boa Fama, iniciou alguns jovens na Ilha de Itaparica, que se juntariam com os descendentes de Tio Serafim e Tio Marcos para fundarem o Ilê Agboulá, no bairro Vermelho, próximo à Ponta de Areia. Outros terreiros de Egungun foram registrados no final do século XIX, um localizado em Quitandinha do Capim, que cultuava os Egun Olu-Apelê e Olojá Orum, o de Tio Agostinho, em Matatu que se tornou ponto de concentração de vários Ojés de outras casas inclusive o Alapini Tio Marcos, o Terreiro da Preguiça, ao lado da Igreja da Conceição da Praia.
• Ilê Babá Agboulá, Localizado em Ponta de Areia, na Ilha de Itaparica, o Ilê Agboulá é, hoje, no Brasil, um dos poucos lugares dedicados exclusivamente ao culto dos Egun. Sua fundação remonta ao primeiro quarto do século XX por Eduardo Daniel de Paula, Tio Opê, Tio Serafim e Tio Marcos, mas a comunidade que lhe deu origem e que lhe mantém os fundamentos está estabelecida na Ilha, como já vimos há cerca de duzentos anos.
• Ilê Babá Olokotun, na Ilha de Itaparica * Ilê Axipá- Sociedade Cultural e Religiosa Ilê

Axipá.
Ritual
Tanto a tradição Nagô como a Jeje e a Congo-Angola cultuam os ancestrais. Para os Nagôs existem no Brasil três formas de cultuar os ancestrais, os Esa, os Egungun e as Iya-mi Agba. Os terreiros de Candomblé possuem um local apropriado de adoração do espírito de seus mortos ilustres, esse local é denominado de Ilê ibo aku, casa de adoração aos mortos, enfim todos iniciados no culto aos Orixás, os essa, que são considerados os ancestrais coletivos dos afro-brasileiros. Seu culto se refere à comunidade em geral. O que destaca o Esa é o fato dele ter-se destacado em vida por servir a comunidade e de continuar atuando em outro plano, contribuindo para o bom desenvolvimento do destino dos fiéis e da casa.

O Ilê ibo aku onde são assentados e cultuados os Esa é afastado do templo onde são cultuado os Orixás. Os sacerdotes que são iniciados especialmente para cuidar do Ilê ibo aku não são adoxu, isso é, não manifestam Orixá. Os ancestrais cultuados no Ilê ibo aku são diferentes dos cultuados no Culto aos Egungun, no primeiro são os espíritos dos falecidos da casa de Candomblé e o segundo são os ara-orun em geral e aos espíritos dos Ojé africanos ou brasileiros. Os Esa são invocados e cultuados em diversas situações, especialmente no padê, e no axexê quando é constituído o assentamento de um adoxu ou dignitário ilustre falecido. O assento de Esa se caracteriza pela representação da existência genérica, e o Egungun pela representação do espírito individualizado, o Egungun se caracteriza pela aparição no aiyê. Os Esa e os Egun são invocados no padê.

Ìyámi Agbá Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Ìyámi Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Ìyámi Oxorongá chamada também de Ìyá NIa, a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder da ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades Gëlèdé", compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso poder. O medo da ira de Ìyámi nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.Além da Sociedade Gëlèdé, existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados. Oro é uma divindade tal qual Ìyámi Oxorongá, sendo considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado somente por homens. Tanto Ìyámi quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de Ìyámi é maior e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro. Outra forma, e mais importante, é culto aos ancestrais masculinos é elaborada pelas "Sociedades Egungun". Estas têm como finalidade elaborar ritos a homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade.

Esses mortos surgem de forma visível mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte , denominada Egun ou Egungun. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantêm a individualidade; às mulheres é negado este privilégio, assim como o de participar diretamente do culto.Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos do culto dos Orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a iorubana. No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungun , cujo tronco comum remonta ao tempo da escravatura : Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em Itaparica, Bahia. Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos do culto dos Orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a iorubana.
http://aulobarretti.sites.uol.com.br/Egungun.htm

Os mortos do sexo feminino recebem o nome de Ìyámi Agbá (minha mãe anciã), mas não são cultuados individualmente. Sua energia como ancestral é aglutinada de forma coletiva e representada por Ìyámi Oxorongá chamada também de Ìyá NIa, a grande mãe. Esta imensa massa energética que representa o poder da ancestralidade coletiva feminina é cultuada pelas "Sociedades Gëlèdé", compostas exclusivamente por mulheres, e somente elas detêm e manipulam este perigoso poder. O medo da ira de Ìyámi nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.Além da Sociedade Gëlèdé, existe também na Nigéria a Sociedade Oro. Este é o nome dado ao culto coletivo dos mortos masculinos quando não individualizados. Oro é uma divindade tal qual Ìyámi Oxorongá, sendo considerado o representante geral dos antepassados masculinos e cultuado somente por homens. Tanto Ìyámi quanto Oro são manifestações de culto aos mortos. São invisíveis e representam a coletividade, mas o poder de Ìyámi é maior e, portanto, mais controlado, inclusive, pela Sociedade Oro. Outra forma, e mais importante, é culto aos ancestrais masculinos é elaborada pelas "Sociedades Egungun". Estas têm como finalidade elaborar ritos a homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes de forma privilegiada, mantendo na morte a sua individualidade.

Esses mortos surgem de forma visível mas camuflada, a verdadeira resposta religiosa da vida pós-morte, denominada Egun ou Egungun. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições, pois só os homens possuem ou mantêm a individualidade ; às mulheres é negado este privilégio, assim como o de participar diretamente do culto.Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos do culto dos Orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a iorubana. No Brasil existem duas dessas sociedades de Egungun , cujo tronco comum remonta ao tempo da escravatura : Ilê Agboulá, a mais antiga, em Ponta de Areia, e uma mais recente e ramificação da primeira, o Ilê Oyá, ambas em Itaparica, Bahia.

Esses Eguns são cultuados de forma adequada e específica por sua sociedade, em locais e templos com sacerdotes diferentes dos do culto dos Orixás. Embora todos os sistemas de sociedade que conhecemos sejam diferentes, o conjunto forma uma só religião: a iorubana.
http://aulobarretti.sites.uol.com.br/Egungun.htm

O salão e a festaO espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os tambores e seus alabês e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia de outros, sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos. Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é totalmente restrito aos homens.

Mas existem raras e privilegiadas mulheres que são exceção, como se fossem a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto dos Orixás e possuem simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de Egun — estas posições de grande relevância causam inveja à comunidade feminina de fiéis. São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas, mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais para Egun, elas fazem uma roda para dançar e cantar em louvor aos Orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas manias, e sabem como agradá-los . Este espaço sagrado é o mundo do Egun nos momentos de encontro com seus descendentes. A assistência está separada deste mundo pelos ixan que os amuixan colocam estrategicamente no chão, fazendo assim uma divisão simbólica e ritual dos espaços, separando a "morte" da "vida". É através do ixan que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o invoca e o controla.

As vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egun com o ixan no seu peito, tal é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o Ojé que por ele zela e o invoca, pelo qual ele tem grande respeito. O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam mulheres e crianças e à direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cânticos preferidos, porque cada Egun em vida pertencia a um determinado Orixá.

Como diz a religião, toda pessoa tem seu próprio Orixá e esta característica é mantida pelo Egun. Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo como Egun, ele terá em suas vestes as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um oxê (machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é o ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e excitantemente marcadas pelos oiê femininos, que também responderão aos cânticos e exigirão a mesma animação das outras pessoas ali presentes. Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e ser bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um possível iorubá arcaico e seu atokun funcionara como tradutor. Babá-Egun começará perguntando pelos seus fiéis mais freqüentes, principalmente pelos oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às pessoas que ali chegaram pela primeira vez. Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o papel de um verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim a moral e a disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos costumes e das tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egun parte, a festa termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e abençoando os que foram vê-lo. Esta é uma breve descrição de Egungun, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada, mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também para se compreender a morte e a vida através das ancestralidade cultuadas nessas comunidades de Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.

Todos os aspectos do ser, não morrem junto com ele voltam as suas origens, isto é, ao orun, pois pertencem a olorun e só ele pode liberá-las. Estas forças divinas, animaram os antepassados, os ancestrais, as raízes mães do asé orisá, ao partirem do aiyê e voltam ao aiyê para animar seus descendentes e discípulos. A ancestralidade confirma a imortalidade, pois a vida continua no orun como ancestrais.do orun a ancestralidade a tudo assiste.no culto de orisá, ancestrais significa:"aqueles que um dia tiveram a energia de vida no aiyê e que cuja energia de vida é repassada as novas gerações, garantindo a continuidade da vida e do culto aos deuses africanos".

"Como conclusão a vida presente depende da vida passada de nossos ancestrais"Através do culto aos ancestrais, os Egun ou Egungum é possível reconstruir origens, etnias, memória.

Essa memória, enraizada na multiplicidade da herança negro-africana, expande com força total, um ethos que passando a diversidade de suas expressões manifestas - Nagô, Jeje, Angola, Cango, etc. - permite revelar estruturas, valores, normas, denominadores comuns onde a questão da ancestralidade mítica e histórica, marca a existência de uma forte comunalidade. É na memória e no culto aos antepassados que essa comunalidade se afirma. Egungun ou Egun, espírito ancestral de pessoa importante, homenageado no Culto aos Egungun, esse culto é feito em casas separadas das casas de Orixá. No Brasil o culto principal à Egungun é praticado na Ilha de Itaparíca no Estado da Bahia mas existem casas em outros Estados.

Os yorubás, então, cultuam os espíritos dos "mais velhos" de diversas formas, de acordo com a hierarquia que tiveram dentro da comunidade e com a sua atuação em prol da preservação e da transmissão dos valores culturais. E só os espíritos especialmente preparados para serem invocados e materializados é que recebem o nome Egun, Egungun, Babá Egun ou simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse culto todo especial. Porque o objetivo principal do cultos dos Egun é tornar visível os espíritos dos ancestrais, agindo como uma ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. E ao mesmo tempo que mantém a continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito controle das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem clara entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois níveis da existência)

Os Egungun se materializam, aparecendo para os descendentes e fiéis de uma forma espetacular, em meio a grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e coloridas, com símbolos característicos que permitem estabelecer sua hierarquia. Os Babá-Egun ou Egun-Agbá (os ancestrais mais antigos) se destacam por estar cobertos de búzios, espelhos e contas e por um conjunto de tiras de pano bordadas e enfeitadas que é chamado Abalá, além de uma espécie de avental chamado Bantê, e por emitirem uma voz característica, gutural ou muito fina. Os Aparaká são Egun mais jovens: não têm Abalá nem Bantê e nem uma forma definida; e são ainda mudos e sem identidade revelada, pois ainda não se sabe quem foram em vida. Acredita-se, então, que sob as tiras de pano encontra-se um ancestral conhecido ou, se ele não é reconhecível, qualquer coisa associada à morte.

Neste último caso, o Egungun representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos morais e são os mais respeitados e temidos entre todos os Egungun, guardiães que são da ética e da disciplina moral do grupo. No símbolo "Egungun" está expresso todo o mistério da transformação de um ser deste-mundo num ser-do-além, de sua convocação e de sua presença no Aiyê (o mundo dos vivos). Esse mistério (Awô) constitui o aspecto mais importante do culto.

O Egun é a morte que volta à terra em forma espiritual e visível aos olhos dos vivos. Ele "nasce" através de ritos que sua comunidade elabora e pelas mãos dos ojé (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixan, que, quando tocado na terra por três vezes e acompanhado de palavras e gestos rituais, faz com que a "morte se torne vida", e o Egungun ancestral individualizado está de novo "vivo".

A aparição dos Eguns é cercada de total mistério, diferente do culto aos Orixás, em que o transe acontece durante as cerimônias públicas, perante olhares profanos, fiéis e iniciados. O Egungun simplesmente surge no salão, causando impacto visual e usando a surpresa como rito. Apresenta-se com uma forma corporal humana totalmente recoberta por uma roupa de tiras multicoloridas, que caem da parte superior da cabeça formando uma grande massa de panos, da qual não se vê nenhum vestígio do que é ou de quem está sob a roupa. Fala com uma voz gutural inumana, rouca, ou às vezes aguda, metálica e estridente — característica de Egun, chamada de séégí ou sé, e que está relacionada com a voz do macaco marrom, chamado ijimerê na Nigéria.

Fontes:

https://aulobarretti.wordpress.com/a-revista/o-culto-dos-eguns-no-candomble/
http://arrundegy.blogspot.com.br/

Pesquisa e organização de texto:
Luiz Marins / Grupo Orixas
http://grupoorixas.wordpress.com

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Hierarquia - direito de resposta

Caro Hendrix,

Eu preferi trazer o senhor para este campo, meu blog, pois tantas vezes eu postei comentários e foram apagados quando os mesmo não suportavam a realidade, ditando assim apenas uma realidade pessoal e restrita, sendo assim, prometo que manterei cada post, desde que não haja ofensas pessoais ou palavrões cada palavra aqui postada será de suma importância para o conhecimento da tradicional família Afro-brasileira.

Segundo suas palavras eu devo lembra-lo de que o senhor também é caucasiano, como eu e o amigo Luiz L. Marins que pertence à mesma religião que o senhor, pois ambos foram iniciados no Batuque, devo lembrá-lo também que ambos lutam pela comunidade religiosa e que ambos são detentores de uma posição importante na cultura e perante a comunidade, sabendo que o Luiz acabou de lançar um livro “Dos Yorubá ao candomblé d e Ketu, editado pela Edusp, que por sinal é um grande livro, aconselharia e lê-lo, que mais uma vez tem um trecho de autoria de um escritor "Norton Correa", que seria interessante ficar a par do tema, mas vamos ao assunto que interessa.

Eu acredito que poderia levar horas para explicar aqui o conteúdo da matéria, para que o senhor entendesse, mas irei resumir, assim abreviamos o tempo de cada um afinal o material enviado é muito extenso e quero dar espaço para que o senhor responda.

  • “Acabei de ler alguns trechos da revista online Olorun.com.br, editada pelo jornalista (branco) e babaloriá Erick Wolff de Oxalá onde o próprio, num pequeno artigo sobre Hierarquia, cita uma frase de Luiz L. Marins (branco que só aparece como escritor e que acho que é iniciado no candomblé) afirmando que tenta-se camuflar o “autoritarismo e absolutismo dos reis negros [...] jogando a culpa do tráfico nos europeus, quando a guerra e a captura eram feito pelos próprios negros contra negros, dentro do território africano”. “

Gostaria também de esclarecer que apesar de pertence à religião afro-brasileira, em momento algum eu uso títulos ou cargos para engrandecer o meu conteúdo. Faço um trabalho voluntario para a comunidade Negra e a tradicional família Afro-brasileira, a qual tenho lutado bravamente em prol da mesma.

Devo imaginar que o senhor deve ter lido muito rápido e pelo calor do tema, que realmente é um assunto que envolve certa calma para ler e entender, não deve ter  chegado ao amago do conteúdo.

Não estou acusando ninguém das atrocidades acometidas pelo passado, mas sim comentado a história a qual vemos nua e crua, pois sabemos que os negros eram vendidos na  África pelos próprios  negros,  consta da história universal, não falei e nem distorci nem um centímetro da realidade, mas o tema em momento algum é este... O assunto da matéria é justamente o contrario, pois eu faço uma clara menção da inversão dos valores e onde vemos um Òrìṣà tendo que se prostra aos pés de um sacerdote ao invés de vermos o contrario...

Concorda que o assunto não tem nada haver com preconceito e ou racismo?

  • “Questão essa que o jornalista acredita ser “um ponto importantíssimo a ser estudado e discutido pelos estudiosos”.   Ora, de que história estamos falando aqui então? Da história contada pelos brancos que querem se eximir da responsabilidade histórica que sua raça possui? Ou a da verdade, que esses brancos difundiram o seu mal no continente Mãe, espalhando a mentira, o ódio e o medo entre comunidades agrícolas, pastorís e mineradoras. “

Hendrix como disse acima o senhor também é caucasiano e sei que um grande estudioso, deve saber que estamos falando de duas coisas diferentes, onde o amigo Luiz L. Marins cita fatos claros da história, agora o que os Europeus fizeram com os irmão negros, aí é outro assunto, porem como eu jamais participei disso, não posso testemunhar e muito menos acusar ou assumir uma culpa a qual eu não participei, da mesma forma que sou solidário com os demais povos que sofreram no mundo antigo e  ainda sofrem no mundo  contemporâneo. Pois é fácil culpar  os  outros e não fazer  nada, por isso que me  dedico voluntariamente para  a comunidade Afro residente no Brasil e mundo afora, pois de certa forma eu possuo sangue negro na minha família e tenho orgulho, foi por este sangue que resolvi lutar e contribuir culturalmente, sem distorcer  realidade e ou a história.
  • “O Egbé Òrun Àiyé nacional e todas as suas seccionais regionais se integram aos quadros do movimento social negro em defesa da reparação histórica através de políticas públicas e do estudo metodologicamente qualificado das culturas africanas como pressuposto opositor ao esvaziamento da africanidade do culto e ao seu branqueamento.   Trabalhamos na perspectiva do enegrecimento, conceito fundamentado em valores afrocentrados. De forma alguma apoiamos o racismo e suas formas intelectualizadas de expressão, pois só servem para destituir de legitimidade as lutas em pról do povo negro.  “

Aqui temos um ponto muito interessante que apesar de não ter a oportunidade de presenciar alguma palestra sua, sempre dei apoio e até postei nos meus veículos a sua programação, sendo sempre simpatizante com o seu trabalho. Eu devo acreditar que diferente da luta que tenho empenhando aqui em São Paulo, a sua critica é em vão, e ofereço espaço para que assim que houver algum tema que ofenda ou deprecie realmente  a cultura, a família e os descendes afro-brasileiros, para que possa expor suas ideias e conceitos, desde que haja uma responsabilidade com a moral, leis e fatores religiosos, afinal a magazine Ọlọrun é um veículo que agrega e soma a diversidade, por isso sinta-se convidado a expor uma matéria e ou um estudo.



Mensagem enviada pelo professor e Bàbálòrìṣà
Prof. Bàbá Hendrix Ifáomi Silveira ti Òrúnmìlá
Dir. Pres. Egbé Òrun Àiyé/RS
www.egbeorunaiye.blogspot.com

Segue o material ao qual eu acredito que todos devam partilhar.

Por Erick Wolff8

O culto aos ancestrais


A segunda edição da Magazine On Line Ọlọrun, aborda conceitos importantíssimos para a comunidade Afro-brasileira, o estudo de quatro colunistas  abordando o tema “noção de pessoa”, discutindo abertamente sob as considerações de várias vertentes religiosas.

Aulo Barretti Filho e Luiz. L. Marins –,Concepção Iorubá da Alma – os dois escritores traduzem e comentam um texto riquíssimo de Willian Bascom, que aborda noções de pessoa e posiciona conceitos sobre a alma que ainda é muito confundido aqui no Brasil.

Rudinei Oliveira – Arísùn Ara Okú -, trouxe um texto do Chief Adisa Awoyemi Olaifa, muito interessante que exemplifica costumes e rituais, mais tarde o colunista apresenta o conceito do Arísùn Ara Okú afrosul, também muito interessante permeando   o Batuque em geral.

Tateto Oluandeji, que fala sobre – Nascimento nos tempos antigos -, este sacerdote pertence a cultura Bantu, e  colabora muito com texto e matérias que somam a rica diversidade deste veiculo.

Entre estas matérias  temos ainda mais algumas postadas que abrangem o tema ancestralidade.

Visite a magazine On Line - www.olorun.com.br

Por Erick Wolff8

domingo, 16 de janeiro de 2011

“Deusa dos Fluídos” o declínio de uma Divindade

Vulgaridade e pretenciosismo desfigurando a face de Yèyé omo ejá (Mãe cujos filhos são peixes), esta é uma exposição fotográfica assinada por Gal Oppido, que abrirá no próximo dia 26 de Fevereiro, no  Museu Afro Brasil.

Há algum tempo um lixo cinematográfico – Yansan, produzido por Carlos Eduardo Nogueira, para o Porta Curtas Petrobras, no ano de 2006, patrocinado pelo Ministério da Cultura, Petrobras e Sabesp. A família tradicional Afro-brasileira se constrangeu diante da criação depreciativa e distorcida daquele filme, ofendendo assim os pais que desejam educar seus filhos sem o vulgar e infeliz material divulgado.

E agora me deparo com outra possível aberração artística que transforma Yemonja, numa vulgar efígie saliente e insensível. Para meu desagrado um significativo texto que continha partes intima de uma masturbação ótica, distorcendo mais uma vez a cultura Afro-brasileira, transformando num avacalhamento cultural.

Devo imaginar que a visão do ensaísta Gal, foi sob uma perspectiva nublada que tenta transformar um ensaio sexual feminino, para derrubar a tradição do orixá africano. Chegando a misturar “Nossa Senhora” à “Yemonja”, sem ao menos decifrar a própria essência da Odò (rio) ìyá (mãe) do povo Egbá. A mostra também inclui uma instalação para a exibição dos vídeos  "Bras au Vent” e "Iemanjá Deusa dos Fluídos: processo de construção de um ensaio”.


E não para por aí, ainda temos a apresentação da tal “Obra”


A concepção da criação dos deuses Yorùbá transformado num simples  anódino orgasmo vulvário, em alguns momentos parece que as águas mencionadas, assemelham a corrimentos vaginais, sem pretensão alguma para desmerecer o trabalho que me chegou as mãos, o leitor poderá acompanhar no próprio texto que segue.

Deusa dos Fluido

A partir da figura de Iemanjá, despojada de suas vestes marianizadas e entendida como aparição palpável, aquela que com o cordão umbilical alimenta dentro de seu mar interno a vida sêmen-ada que jorra para o mundo seus oceanos vaginais com felizes náufragos incubados durante meses para aportarem na praia dos humanos.

O erótico como provedor dos ritos de celebração e pró-criação da vida, o corpo da mãe que se orgulha da não-virgindade, pois possibilita o outro corpo, que protege o irmão, o companheiro de luta e desespero; o mesmo corpo que na vigília e no caminhar épico pelos campos africanos religou todos os continentes.

Num sincretismo distorcido e despregado da cultura afro-brasileira, devo imaginar que a própria divindade se sentiria coagida  diante tal comparação, devo imaginar que o criador de qualquer obra possa registrar o que gosta de levar para a  cama, porem transformar o sagrado numa copula, já excede a liturgia desta cultura.

A Maria das Marias, a Maria do Mar, a Maria Preta, a Maria Ninguém, portanto etérea, fluída, onipresente, dos terreiros, terrenos e da terra.


"Humanos úmidos, uni-vos!"  Gal Oppido


Considero que Yemonja ou Nossa Senhora não sejam duas vadias retratadas dê propositalmente, espero que os artistas comecem a estudar melhor a cultura Afro-brasileira e a Cristã para colaborarem para ambas as culturas, que apesar de não conhecer muito a cultura cristã, devo imaginar que ambas as famílias possam não ficar satisfeitas em levar seus filhos para ver um trabalho com um teor sexual tão vulgarizado.

Diretor curador: Emanoel Araujo
Diretor executivo: Luiz Henrique Marcon Neves
Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/ nº
Parque Ibirapuera- Portão 10
São Paulo- SP - Brasil
CEP: 040094-050
Fone: 55 11 3320-8900
www.museuafrobrasil.org.br


Abertura: 26 de fevereiro
Hora: 12h00
Duração: 26 de fevereiro a 17 de abril
Funcionamento: de terça a domingo, das 10 às 17 horas (permanência até às 18h)
Estacionamento: Portão 3 – Zona Azul
Entrada: Grátis
Classificação: Livre
Para maiores informações: faleconosco@museuafrobrasil.org.br
Para agendar visitas: agendamento@museuafrobrasil.org.br ou
Fone: 55 11 3320-8900 ramal 121
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O direito de resposta do Ensaista


“Deusa dos Fluídos” – o direito do olhar

Quando resolvi em viagem a África em 2010 a iniciar um ensaio sobre Iemanjá eu começava a descortinar um véu que sempre carreguei de que essa Deusa tão cultuada no Brasil, tinha na África, uma essência muito mais humana do que eu estava habituado a ver.

Envolta sempre em grandes rituais, vestes, e na liturgia, eu não conseguia dissociar a imagem de Iemanjá de uma santa, mais uma imagem de Maria, de mãe, como na igreja católica.

Percorrendo os vilarejos, vivenciando a simplicidade do culto em terras africanas, percebi que Iemanjá é uma Deusa Palpável. Aliás, fui mais longe, Iemanjá pra mim é a única santa possível do século XXI.

Por quê? Porque sua vida, seus amores, seus filhos e a própria cultura africana, possibilitam, devolvem a ela e a mulher, o direito a sexualidade, sem que ela perca absolutamente nada do que representa dentro do culto. Essa é a grande vitória de Iemanjá, a grande vitória das mulheres que representa, a grande vitória de um culto que não coibi, e que mesmo permeando o lúdico, carrega em si, muito mais da realidade que enfrentamos todos os dias e que precisamos enfrentar para crescer.

Caro editor, o direito ao olhar é um direito adquirido. Sua interpretação, seus significados, também percorrem um caminho que é muito pessoal. Aceito a crítica, mas preciso expressar que talvez sim em minha vida eu tenha conhecido mulheres de Iemanjá, e talvez de Oyá ou Oxum. No entanto, nessa exposição eu mostro a imagem de uma Iemanjá que eu conheci não na intimidade de dois corpos que se encontram, mas aquela que me surpreendeu na África. Despojada de vestes, de luxo. Uma Iemanjá que me olhou fundo no olho e que me mostrou que além de deusa é mulher, e que enquanto mulher exercia seu direito maior, o de existir, o da sua sexualidade sim. Fluídos vaginais, fluídos do leite que alimenta, fluídos do rio, do mar, do vaso de água que carregavam por caminhos longos, as filhas de Iemanjá, e não só de Iemanjá, que encontrei em terras áridas.

Espero poder contar com sua presença. Espero que juntos tenhamos o direito do olhar. Iremos compartilhar dos fluídos dessa Deusa que também são aqueles fluídos invisíveis. Energéticos. Esses com certeza mais visível a você do que a mim, que só enxergo a imagem palpável, e permaneço no campo do estético, enquanto a ti, foi dado o campo da essência.

Iemanjá nessa exposição está longe da decadência, mas sim da mulher que exerce a sua sexualidade sem, pelo contrário, perder sequer uma gota de seu valor. Essa é uma ideia que deixa refém mulheres e mulheres ao longo de toda uma história, que sabemos injusta. Não caia nessa armadilha fácil do julgamento. Banhe-se nas águas profundas da Deusa. Banhe-se de sua energia fluídica e compartilhemos.

Atenciosamente,

Gal Oppido
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Comentário do Redator

Gostaria de comentar que o fotógrafo Gal Oppido, não deve ter frequentado os atuais terreiros que aboliram o sincretismo com a cultura Cristã, fazendo uma enorme confusão entre os rituais da Umbanda e do Candomblé, onde Yemonjá não é mais associada a imagem de Maria, são pontos importantíssimos que fariam diferença na hora de fotografar, mesmo porque todos os sacerdotes que mostrei a matéria se sentiram ultrajados com a postura orgástica da modelo, que em momento algum traduz o prazer  de ser mãe, passando para teor sexual e  deixando de  lado a pureza e o sentimento de ser mãe, sabemos que na África é comum as mulheres andarem com os seios de fora, contudo adornar uma mulher com o Adé de Yemonja e colocar em poses maliciosas não faz desta exposição o merecimento de carregar uma homenagem à Deusa, sugerimos que reformule o conteúdo e  destine apenas a Maria, que quem sabe possa ser melhor aceita, não precisamos de mais conteúdo depreciativo para  a nossa  cultura.

Sugerimos também que retire nossos adornos sagrados, pois não são objetos d e chacota e muito menos desejamos que sejam usados desta forma, nossas Deusas e divindades possuem o poder da sedução e sensualidade, o que difere de uma vulgaridade registrada, nós sacerdotes e a família tradicional africana, esperamos que reconsiderem que está exposição irá nos ofender profundamente.

Por Erick Wolff8

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A assessoria de Imprensa do Museu Afrobrasil, antecipou um comunicado com o seguinte  recado - Olá amigos, comunico que a exposição do fotógrafo ensaísta,  Gal Oppido,  que abrirá no próximo dia 26 de fevereiro, às 12 horas, será “Antífona” e não mais “Deusa dos Fluídos”, como divulgado anteriormente.

Será uma mostra com 27 imagens baseada na obra de mesmo nome do escritor negro, Cruz de Souza. - esta vitória nos proporciona o respeito e o reconhecimento ao qual lutamos, chega  de  marginalizarem os nossos ícones e religião.
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Grato pelo bom censo ao redefinirem uma nova exposição, tenho certeza que será um sucesso.

Erick Wolff8 - redator

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Dia de Yemonja: homenageie com consciência

Erick Wolff8
14/01/2011
Concordando com a preocupação do Esotérico Daniel Atalla (escola esotérica), que defende a tradição da cultura Afro-brasileira e ao mesmo tempo se preocupar com a responsabilidade ambiental, eu resolvi dar um espaço à Yemonja e fazer pequenas correções culturais pertinentes ao material enviado por ele.


O Brasil costuma homenagear Yemonja no dia 02 de Fevereiro, todos se movem para o Litoral em busca da água salgada, na intensão de prestar uma singela homenagem, sabemos que neste dia o mar fica realmente lotado de pessoas e com muitos detritos originários da fé dos mesmos. Porem não devemos esquecer que não é apenas a cultura afro-brasileira que costuma ir as ruas para expressar sua fé.

Acredito que todos já devem ter visto os belos tapetes bordados a mão por artesãos cristões que usam vários produtos coloridos para desenhar nas ruas que segue a procissão de "Corpus Christi", resultando o mesmo pós-evento que a comemoração para Yemonjá, sujeira para todo lado.

Claro que num país onde a maioria da população procura a fé dos Orixás e camufla com os santos católicos, o peso em cima da cultura Afro-brasileira é maior, sendo que sempre será alvo de perseguição das demais culturas. Uma pena, saber que até o estado deveria ser “Laico”, e o Legislativo jamais deveria ter uma nossa senhora na entrado do prédio, muito menos uma cruz logo acima, mas este assunto quem sabe discutiremos outra hora, pois hoje vamos focar a “mãe cujos filhos são peixes”.

O batuque das festas à beira mar neste dia é muito lindo, folcloricamente devemos até considerar que emociona os turistas e adeptos de outra religião, mas culturalmente, chega a ser um equivoco que para os visitantes não terem conhecimento de quem é Yemonja, passa desapercebido, mas para os adeptos da cultura afro-brasileira chega a ser um crime, tanto para os iniciados que dirá os sacerdotes, não saber a origem desta Deusa nem saber onde fica o seu reino, deveria ser a primeira lição de casa.

Para começar não irei nem entrar no parâmetro sincretismo, pois acredito que este seja o resultado de uma mistura sem noção, o responsável e grande mau que destrói a cultura afro-brasileira, deveria ser banido de vez sem retorno, pois ele enfraquece a religião e cria confusão aos que procuram pela primeira vez os templos e religiosos afro-brasileiros.

Yemonja é, e sempre será a dona do rio “Yèyé omo ejá" ("Mãe cujos filhos são peixes"), Na Mitologia Yorùbá, a dona do mar é Olokun que é a mãe de Yemonja, ambos de origem Egbá.

Yemonjá, que é saudada como Odò (rio) ìyá (mãe) pelo povo Egbá, por sua ligação com Olokun, Òrìṣà do mar (masculino (em Benin) ou feminino (em Ifé), muitas vezes é referida como sendo a rainha do mar em outros países. Cultuada no rio Ògùn em Abeokuta
(fonte www.olorun.com.br)


Então sabendo que Yemonja, não é dona do mar, apesar de poder ser cultuada no mesmo, sabemos que ela é dona do Yèyé omo ejá, então porque a cultura afro-brasileira a enterrou no mar?

Por muito anos os Brasileiros cultuaram as divindades africanas em segredo, os adeptos e recém-iniciados conviveram sem ter acesso aos fundamentos, houve muita confusão principalmente por parte da Umbanda que se estruturava, nascendo de uma exclusão das entidades que o espiritismo repudiava, porem tais entidades possuíam grande carisma e sabedoria, se não era permitido que estas entidades trabalhassem no espiritismo, poderiam fazer livremente na Umbanda. Como o candomblé que surgia da influencia africana, a Umbanda surgiu da miscigenação de várias culturas, inclusive o candomblé.

Os recém-sacerdotes denominados como Babalorixá ou Pais de santo, usufruíram do sincretismo africano para batizar suas entidades, dando nomes dos Orixás africanos para as entidades, que mais tarde se transformariam em orixás da Umbanda, tais Orixás não tem nada haver com os Orixás da cultura tradicional do Candomblé, também não se apresentam num jogo de Búzios, na verdade nem é possível defini-los num jogo de búzios segundo a tradição do candomblé, pois as entidades e Orixás da Umbanda não costumam responder em jogo sacralizado pelas vertentes do Candomblé, desta forma estamos falando de energias diferente e culturas diferentes. Mesmo havendo muita confusão por parte dos adeptos da umbanda em cima dos nomes e das divindades por eles cultuados, podemos dizer que a Yemanjá da Umbanda é diferente da Yemonja, ambas culturas cruzam-se nesta data.

E virou uma tradição no Brasil, o segundo berço dos Orixás, entregar flores ao mar para Yemonja, mas distante do Oceano ser o reino dela, o mar nada mais é do que a morada de "Olokun, Òrìṣà do mar (masculino (em Benin) ou feminino (em Ifé)". E infelizmente os não iniciados na cultura Afro-brasileira costumam jogar muitos objetos no mar nestes dias, algo muito perigoso, afinal uma garrafa de vidro pode vir a quebrar e os cacos voltarem para a praia causando ferimentos nos banhistas e ou coisa pior.

Por isso que o bom censo deve sempre contar nestas horas, afinal todos nós queremos usufruir das praias, rios e lagoas. Procure não jogar objetos cortantes, que possam cortar ou enferrujar, machucando as pessoas. Pense nos seus filhos e parentes que desejam usufruis das belezas da natureza.
Flores e até mesmo comida como canjica e ou alguns docinhos podem substituir objetos perigosos, agora se você tem uma promessa de entregar um champanhe e ou perfume, cumpra sua divida, apenas não descarte a garrafa ou vidro na natureza, traga para uma lixeira mais próxima.

Algumas dicas do que não fazer, mas não se esqueça de que estas dicas são sugestões, não quer dizer que deva seguir a risca.

Sal grosso - Procure não usar o sal grosso, ele é um elemento que os antigos usavam para batizar ou queimar energias negativas, seu poder chega a ser maior do que imagina, então aposente este elemento até quem sabe um dia possa usar em um bom churrasco.

Flores e ou frutas – Quer ofertar alguma flor, coloque em algum lugar da sua casa que seja arejado para embelezar e trazer um bom perfume. Caso queira ofertar frutas, faça, mas aproveite e coma, afinal desperdício não é bom. Ao querer despachar procure um local com verde, pode ser um jardim e deixe as flores lá, assim você não joga no lixo um presente que deu para uma entidade, faça o mesmo com as frutas, os passarinhos irão adorar.

Água e banhos - Caso use água e ou algum banho energético, recolha com uma bacia ou vasilha e despache no verde, pode ser um jardim também, afinal não queremos que nossos desejos se encaminho para o esgoto, concordam?

Velas e incensos – cuidado com velas, são muito perigosas, deixem longe de crianças, animais, idosos, janelas, moveis de madeira e etc... Também evitem acender velas no banheiro, é um lugar intimo e para higiene, acho desagradável, deixar velar ali queimando.

Àṣẹ Pupo
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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Òrìsà Orí


Luiz Carlos Teixeira de Oliveira
(ori'nu ogunsina)


Para termos idéia quanto a importância e precedência do ORÍ em relação aos demais ORISA, um Itan do ODU OTURA MEJI, ao contar a história de um ORÍ que se perdeu no caminho que o conduzia do ORUN para o AIYE, relata: "... OGUN chamou ORÍ e perguntou-lhe, "Você não sabe que você é o mais velho entre os ORISA? Que você é o líder dos ORISA?'..." . Sem receio podemos dizer, "ORÍ mi a ba bo ki a to bo ORISA", ou seja, "Meu ORÍ, que tem que ser cultuado antes que o ORISA" e temos um oriki dedicado à ORÍ que nos fala que "Ko si ORISA ti da nigbe leyin ORI eni", significando, "... Não existe um ORISA que apoie mais o homem do que o seu próprio ORÍ...".

Quando encontramos uma pessoa que, apesar de enfrentar na vida uma série de dificuldades relacionadas a ações negativas ou maldade de outras pessoas, continua encontrando recursos internos, força interior extraordinária, que lhe permitam a sobrevivência e, inclusive, muitas vezes, mantém resultados adequados de realização na vida , podemos dizer, "ENIYAN KO FE KI ERU FI ASO, ORI ENI NI SO NI", ou seja, "as pessoas não querem que você sobreviva, mas o seu
ORÍ trabalha para você", trazendo, essa expressão, um indicador muito importante de que um ORÍ resistente e forte é capaz de cuidar do homem e garantir-lhe a sobrevivência social e as relações com a vida, apesar das dificuldades que ele enfrente.

Esta é a razão pela qual o BORI, forma de louvação e fortalecimento do ORÍ utilizada em nossa religião, é utilizado muitas vezes, precedendo ou, até, substituindo um EBO. Isso se faz para que a pessoa encontre recursos internos adequados, esta força interior de que falamos, seja à adequação ou ajustamento de suas condições frente às situações enfrentadas, seja quanto ao fortalecimento de suas reservas de energia e consequente integração com suas fontes de vitalidade.

É importante dizer que é o
ORÍ que nos individualiza e, por consequência, nos diferencia dos demais habitantes do mundo. Essa diferenciação é de natureza interna e nada no plano das aparências físicas nos permite qualquer referencial de identificação dessas diferenças. Sinalizando essa condição, talvez uma das maiores lições que possamos receber com respeito a ORÍ possa ser extraída do Itan ODU OSA MEJI, que reproduzimos a seguir e que é a resposta que foi dada por IFA para Mobowu, esposa de OGUN, quando ela foi lhe consultar:



"
ORÍ buruku ki i wu tuulu.
A ki i da ese
asiweree mo loju-ona.
A ki i m'
ORÍ oloye lawujo.
A dia fun Mobowu
Ti i se obinrin Ogun.
ORÍ ti o joba lola,
Enikan o mo

Ki toko-taya o mo
pe'raa won ni were mo.
ORÍ ti o joba lola,
Enikan o mo.
"

TRADUÇÃO


"Uma pessoa de mau
ORÍ não nasce com a cabeça diferente das outras.
Ninguém consegue distinguir os passos do louco na rua.
Uma pessoa que é líder não é diferente
E também é difícil de ser reconhecida.
É o que foi dito à Mobowu, esposa de OGUN, que foi consultar IFA.
Tanto esposo como esposa não deviam se maltratar tanto,
Nem fisicamente, nem espiritualmente.
O motivo é que o
ORÍ vai ser coroado
E ninguém sabe como será o futuro da pessoa."

Para os yoruba o ser humano é constituído dos seguintes elementos:
ARA, OJIJI, OKAN, EMI e ORÍ.
ARA é corpo físico, a casa ou templo dos demais componentes.
OJIJI é o "fantasma" humano, é a representação visível da essência espiritual.
OKAN é o coração físico, sede da inteligência, do pensamento e da ação.
EMI, [1] está associado a respiração, é o sopro divino.
Quando um homem morre, diz-se que seu EMI partiu.

ORÍ é o ORISA pessoal, em toda a sua força e grandeza. ORÍ é o primeiro ORISA a ser louvado, representação particular da existência individualizada (a essência real do ser). É aquele que guia, acompanha e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda vida e após a morte, referenciando sua caminhada e a assistindo no cumprimento de seu destino.

ORÍ em yoruba tem muitos significados - o sentido literal é cabeça física, símbolo da cabeça interior (ORÍ Inu). [Transcentetalmente, tudo que espiritualmente é superior e está acima do ser humano (llm)]

Enquanto ORISA pessoal de cada ser humano, com certeza ele está mais interessado na realização e na felicidade de cada homem do que qualquer outro ORISA. Da mesma forma, mais do que qualquer um, ele conhece as necessidades de cada homem em sua caminhada pela vida e, nos acertos e desacertos de cada um, tem os recursos adequados e todos os indicadores que permitem a reorganização dos sistemas pessoais referentes a cada ser humano. Reforçando esta questão temos um oriki que nos diz

"
ORÍ lo nda eni
Esi ondaye ORISA lo npa eni da
O npa ORISA da
ORISA lo pa nida
Bi isu won sun
Aye ma pa temi da
Ki
ORÍ mi ma se ORÍ
Ki ORÍ
mi ma gba abodi"

TRADUÇÃO


"
ORÍ é o criador de todas as coisas
ORÍ é que faz tudo acontecer, antes da vida começar
É ORISA que pode mudar o homem
Ninguém consegue mudar ORISA
ORISA que muda a vida do homem como inhame assado
AYE*, não mude o meu destino
Para que o meu
ORÍ não deixe que as pessoas me desrespeitem
Que o meu
ORÍ não me deixe ser desrespeitado por ninguém
Meu
ORÍ, não aceite o mal."
(* AYE - conjunto das forças do bem e do mal)

Como foi dito, não existe um ORISA que apoie mais o homem do que o seu próprio
ORÍ.
Um trecho do adura (reza) feito durante o assentamento de um IGBA-ORÍ diz:

"KORIKORI,

Que com o ase
do próprio ORÍ,
O
ORÍ vai sobreviver
KOROKORO

Da mesma forma que o
ORÍ de Afuwape sobreviveu,
O seu sobreviverá.
...Ele será favorável a você.
Tudo de que você precisa,
Tudo o que você quer para a sua vida,
É ao seu
ORÍ que você deverá pedir.
É o
ORÍ do homem que ouve o seu sofrimento..."

O que é então
ORÍ, de que a natureza é constituído e qual o seu papel na vida do homem? Em primeiro lugar, acredita-se que o corpo humano é constituído de duas partes: a cabeça e o suporte - ORÍ e APERE.
Acredita-se que este corpo adquire existência na medida em que recebe de OLODUNMARE o sopro vivificador - o EMI.[2]

Este sopro foi o agente do processo da criação em seu primeiro momento e tem sido o responsável pela geração e continuidade de toda a vida no universo.

Este modelo descrito e de entendimento abrangente para todas as formas de vida é repetido no ser humano. A cabeça e o seu suporte, ORI-APERE são formados a partir dos elementos matrizes, enquanto o ORI-INU, interior, representa, na sua constituição, uma combinação de elementos, porções de matéria-massa que é particularizada durante o processo de modelagem de cada
ORÍ. Ele é único e, por conta disso, particulariza e dá individualização à existência.
Essa combinação "química" definirá parte das relações do homem com o mundo sobrenatural e a religião, na medida em que determina o seu ELEDA, ORISA - símbolo do elemento cósmico de formação, a que chamamos, adiante, de IPORI, daquele ORI-INU em particular.

No Brasil vimos, com certa frequência, o ELEDA ser chamado de ORISA-ORI, simplificação da relação aqui exposta. ELEDA segundo Juana Elbein dos Santos em Os Nagô e a Morte, "se refere à entidade sobrenatural, à matéria-massa que desprendeu uma porção da mesma para criar um
ORÍ, consequentemente Criador de cabeças individuais..."

Segundo a autora , "A espécie de material com o qual são modelados os
ORÍ individuais indicará que tipo de trabalho é mais conveniente, proporcionando satisfação e permitindo a cada um alcançar prosperidade. Indica também as interdições - EWO - aquilo que lhe é proibido comer, por causa do elemento com o qual o seu ORÍ foi modelado".

Ou seja, os EWO
representam a proibição de que o indivíduo "coma" alimentos que contenham a mesma "matéria" da qual foi retirada uma porção para modelagem do seu ORÍ. A não observância da interdição traduz-se por uma disfunção energética de consequências profundamente negativas para o equilíbrio do indivíduo, seja do ponto de vista orgânico, seja do ponto de vista do mundo emocional, seja quanto as suas condições de realização do "programa" particular de existência.

Falamos até aqui sobre a natureza e a constituição do
ORÍ. Agora, qual o seu papel na vida do homem?
O conceito de ORÍ está intimamente ligado ao conceito de destino pessoal e à instrumentalização do homem para a realização deste destino. Um Itan do ODU OGUNDA MEJI, nos dá a exata dimensão da matéria quando nos relata sobre a correspondência entre o ORÍ e o homem e a relação de causa e efeito existente nesta correspondência:

"...
ORÍ, eu te saúdo!
Aquele que é sábio,
Foi feito sábio pelo próprio
ORÍ.
Aquele que é tolo,
Foi feito mais tolo que um pedaço de inhame,
Pelo próprio
ORÍ..."

No ODU OGBEYONU (Ogbe Ogunda) vamos encontrar ainda, "...Quando acordo pela manhã coloco minha mão no
ORÍ. ORÍ é fonte de sorte. ORÍ é ORÍ!...". e um oriki dedicado à ORÍ, mostrando o papel que ORÍ tem na vida de cada pessoa quanto as suas relações interpessoais, suas relações com as outras pessoas, e as suas condições de realização e progresso em todos os empreendimentos da vida, nos diz:

"ORI mi
Mo ke pe o
o
ORI mi
A pe je

ORI mi
Wa je
mi o
Ki ndi olowo o
Ki ndi olola
Ki ndi eni a pe sin
Laye
O, ORI mi
Lori a jiki
ORI mi lori a ji yo mo
Laye"

TRADUÇÃO

"Meu
ORÍ
Eu grito chamando por você
Meu
ORÍ,
Me responda
Meu
ORÍ,
Venha me atender
Para que eu seja uma pessoa rica e próspera
Para que eu seja uma pessoa a quem todos respeitem
Oh, meu
ORÍ!
A ser louvado pela manhã,
Que todos encontrem alegria comigo"

Toda existência no universo da Criação se processa em dois planos: O mundo visível, o AIYE, universo concreto que habitamos, e o mundo invisível, ORUN, onde habitam os seres sobrenaturais e os " duplos" de tudo o que se encontra manifestado no AIYE. Não são, como é possível pensar, mundos independentes ou rigidamente separados. Na realidade podemos afirmar que o AIYE é, antes de mais nada, uma "projeção" da realidade essencial que tem existência e se processa no ORUN.

Como diz a Profa. Dra. Iyakemi Ribeiro, em seu livro "Alma Africana no Brasil: os iorubás", "Para o negro-africano o visível constitui manifestação do invisível. Para além das aparências encontra-se a realidade, o sentido, o ser que através das aparências se manifesta. Sob toda manifestação viva reside uma força vital: de Deus a um grão de areia, o universo africano é sem costura. (Erny, 1968:19) Universo de correspondências, analogias e interações, no qual o homem e todos os demais seres constituem uma única rede de forças."

É necessário entender, assim, que AIYE e ORUN constituem uma unidade e, enquanto expressões de dois níveis de existência, são inseparáveis e complementares. Essa unidade é simbolizada pelo IGBA-ODU, cabaça formada de duas metades unidas onde a parte inferior representa o AIYE e a parte superior representa o ORUN. No interior, os "elementos indispensáveis à existência individualizada". Poderia ser representada por uma figura e sua imagem refletida no espelho - há plena identidade entre elas, uma é apenas a imagem invertida da outra.

Podemos dizer nessa figuração que o AIYE é a imagem refletida do ORUN. Essa analogia provavelmente explica a situação conhecida de que os ODU, quando vieram do ORUN para o AIYE, tiveram sua ordem de precedência invertida. Ou seja, muito embora no AIYE considere-se OGBE MEJI como o mais antigo dos ODU, todo Babalawo saúda OFUN MEJI, ou ORANGUN MEJI como é também conhecido, em sua realeza, dizendo: eepa ODU!, louvando assim sua antiguidade e sua precedência efetiva.

Temos assim que toda existência no AIYE reflete uma realidade anterior existente no ORUN. A existência no AIYE implica em processar-se uma "modelagem" anterior no ORUN, a partir da qual porções de matérias-massas que constituem a base da existência genérica são tomadas em fragmentos particulares e vão constituir a manifestação dessa existência em forma individualizada no AIYE.

Esses elementos matrizes possuem, por consequência, dupla existência: uma parcela presente no ORUN e a outra parcela dando vitalidade ou formação às diferentes partes que formam a "realidade" individualizada de vida. A esses fragmentos particulares retirados da massa genitora chamamos IPORI e é ele, IPORI, que determinará o ORISA que cada indivíduo cultuará no AIYE, condicionando também sua instrumentalização particular na relação com a vida e o repertório possível de escolhas que possa realizar.

Aqui é importante reforçarmos que ORUN não tem o mesmo significado que céu, assim como AIYE não tem a mesma representação que terra. ORUN - AIYE nos trazem conceitos muito diferentes do binômio céu - terra a que possamos ter nos acostumado pelas condições sincréticas que a religião dos ORISA terminou por apresentar no Brasil. Ao par céu - terra correspondem os conceitos de SANMO
- ILE.

A RESPEITO DO DESTINO HUMANO [3]

Podemos perceber que a compreensão sobre o papel que
ORÍ desempenha na vida de cada homem está intimamente relacionado à crença na predestinação - na aceitação de que o sucesso ou o insucesso de um homem depende em larga escala do destino pessoal que ele traz na vinda do ORUN para o AIYE. A esse destino pessoal chamamos KADARA ou IPIN e é entendido que o homem o recebe no mesmo momento em que escolhe livremente o ORÍ com que vai vir para a terra.

ORÍ desempenha um papel importante para os seguidores de IFA. Nele acredita-se que escolhemos nossos próprios destinos. E nós o fazemos mediante os auspícios do ORISA IJALA MOPIN. A esfera de ação de IJALA é junto a OLODUNMARE e é ele que sanciona as escolhas de destino que fazemos. Essas escolhas são documentadas pelas divindades que chamamos de ALUDUNDUN. Um verso de IFA [do Odu Ogbe-Ogunda] explica esta questão:

"Você disse que foi apanhar o seu
ORÍ.
Você sabia onde Afuwape apanhou o seu
ORÍ?
Você poderia ter ido lá para apanhar o seu.
Nós pegamos nossos
ORÍ nos domínios de IJALA,
Assim somente nossos destinos diferem"

IJALA é responsável pela modelação da cabeça humana, e acredita-se que o
ORÍ e o ODU - signo regente de seu destino que escolhemos, determina nossa fortuna ou atribulações na vida, como foi dito.
IJALA, embora notável em sua habilidade, não é muito responsável e, por isso, muitas vezes modela cabeças defeituosas: pode esquecer de colocar alguns acabamentos ou detalhes desnecessários, como pode, ao levá-las ao forno para queimar, deixá-las por um tempo demasiado ou insuficiente.

Tais cabeças tornam-se assim, potencialmente fracas, incapazes de empreender a longa jornada para a terra, sem prejuízos. Se, desafortunadamente, um homem escolhe uma dessas cabeças mal modeladas, estará destinando a fracassar na vida.

Durante sua jornada para a terra, a cabeça que permaneceu por tempo insuficiente ou demasiado no forno, poderá não resistir à ação de uma chuva forte e chegará mais danificada ainda. Todo o esforço empreendido para obter sucesso na vida terrena terá grande parte de seus efeitos desviada para reparar tais estragos.

Pelo contrário, se um homem tem a sorte de escolher uma das cabeças realmente boas, tornar-se próspero e bem sucedido na terra, uma vez que sua cabeça chega intacta e seus esforços redundam em construção real de tudo aquilo que se proponha a realizar.

O trabalho árduo trará, ao homem afortunado em sua escolha, excelentes resultados, já que nada é necessário dispender para reparar a própria cabeça. Assim, para usufruir o sucesso potencial que a escolha de um bom ORI acarreta, o homem deve trabalhar arduamente. Aqueles, entretanto que escolheram um mau ORI têm poucas esperanças de progresso, ainda que passem o tempo todo se esforçando.

Sendo estes os pressupostos, retomamos as perguntas: Como saber se a escolha do próprio
ORÍ foi boa ou má? Pode um homem conhecer as potencialidades da própria cabeça ou da cabeça de outrem?

O Jogo divinatório de IFA possibilita que a pessoa tome conhecimento dos desígnios do próprio
ORÍ, saiba a respeito do ORISA ou IRUNMALE que deve ser cultuado e conheça seus EWO - proibições quanto ao consumo de alimentos, uso de cores e condutas morais.

Muitas referências são feitas às relações entre
ORÍ e o destino pessoal. O destino descrito como IPIN ORI - a sina do ORI - pode ser dividido em três partes: AKUNLEYAN, AKUNLEGBA E AYANMO.

AKUNLEYAN é o pedido que você fez no domínio de IJALA - o que você gostaria especificamente durante seu período de vida na terra: o número de anos que você desejaria passar na terra, os tipos de sucesso que você espera obter, os tipos de parentes que você deseja.

AKUNLEGBA são aquelas coisas dadas a um indivíduo para ajudá-lo a realizar esses desejos. Por exemplo: uma criança que deseja morrer na infância pode nascer durante uma epidemia para garantir a morte dele ou dela.

AYANMO
é aquela parte do nosso destino que não pode ser mudada: nosso gênero (sexo) ou a família em que nascemos, por exemplo.

Ambos, AKUNLEYAN e AKUNLEGBA podem ser alterados ou modificados quer para bom ou para mau, dependendo das circunstâncias.

Assim o destino descrito como IPIN
ORÍ - a sina do ORÍ pode sofrer alterações em decorrência da ação de pessoas más chamadas como ARAYE - filhos do mundo, também chamadas AIYE - o mundo ou ainda, ELENINI - implacáveis (amargos, sádicos, inexoráveis) inimigos das pessoas.

Entre estes encontram-se as AJE
- bruxas, os OSO - feiticeiros, os envenenadores e todos aqueles que se dedicam a práticas malignas com intuito de estragar qualquer oportunidade de sucesso humano.

Sacrifício e ritual podem ajudar a melhorar as condições desfavoráveis que podem ter resultados destas maquinações maléficas imprevisíveis.

Todo
ORÍ, embora criado bom, acha-se sujeito a mudanças. Vimos que feiticeiros, bruxas, homens maus e a própria conduta podem transformar negativamente um ORÍ, sendo sinal dessa transformação uma cadeia interminável de infelicidades na vida de um homem a despeito de seus esforços para melhorar.

O
ORÍ, entidade parcialmente independente, considerado uma divindade em si próprio, é cultuado entre outras divindades, recebendo oferendas e orações. Quando ORÍ INU está bem, todo o ser do homem está em boas condições.

Como foi dito, nossos
ORÍespirituais são por eles mesmos subdivididos em dois elementos:  
APARI-INU = representa o caráter (natureza),
ORÍ APERE = representa o destino.

Um indivíduo pode vir para a terra com um destino maravilhoso, mas se ele ou ela vem com mau caráter (natureza), a probabilidade de desempenho (cumprimento, execução) desse destino é severamente comprometida.

O destino também pode ser afetado, então, pelo caráter da própria pessoa. Um bom destino deve ser sustentado por um bom caráter.

Este é como uma divindade: se bem cultuado concede sua proteção. Assim, o destino humano pode ser arruinado pela ação do homem. IWA RE
LAYE YII NI YOO DA O LEJO, ou seja, - "Seu caráter, na terra, proferirá sentença contra você".

No ODU de OGBEOGUNDA, IFA diz:

"Um pilão realiza três funções
Ele tritura inhame
Ele tritura índigo
Ele é usado como uma tranca atrás da porta
Foi feito um jogo adivinhatório para Oriseku,
ORÍ-Elemere e Afuwape
Quando eles foram escolher seus destinos nos domínios de IJALA - MOPIN
Foi solicitado para eles que realizassem rituais
Somente Afuwape realizou os rituais que foram solicitados
Ele, em consequência, tornou-se muito afortunado

Os outros lamentaram, disseram que se soubessem onde Afuwape escolheria seu
ORÍ, eles teriam ido até lá para escolher os seus também.

Afuwape respondeu que, embora seus
ORÍ fossem escolhidos no mesmo lugar, seus destinos é que diferiam."

A questão que aí se apresenta é que somente Afuwape mostrou bom caráter. Respeitando sua crença e realizando seus sacrifícios, ele trouxe as bençãos potenciais de seu destino para a efetiva realização. Seus amigos Oriseku e
ORÍ-Elemere falharam em mostrar bom caráter pela recusa em realizar seus rituais e, por isso, suas vidas sofreram as consequências.

O nome IPIN está igualmente associado à ORUNMILA, conhecido como ELERI-IPIN - o Senhor do Destino e que é aquele que esteve presente no momento da criação, conhecendo todos os
ORÍ, assistindo o compromisso do homem com seu destino, os objetivos de cada um no momento de sua vinda para o AIYE, o programa particular de desenvolvimento de cada ser humano e sua instrumentalização para o cumprimento desse programa.

ORUNMILA
conhece todos os destinos humanos e procura ajudar os homens a trilhar seus verdadeiros caminhos. Temos, assim, que um dos papeis mais importantes de IFA em relação ao homem, além de ser o intérprete da relação entre os ORISA e o homem, é o de ser o intermediário entre cada um e o seu
ORÍ, entre cada homem e os desejos de seu ORÍ. Apenas como registro, é preciso entender que esse mesmo papel ORUNMILA tem na relação com os demais ORISA, sendo o intermediário entre cada um e o seu ORÍ. E ORUNMILA, Ele mesmo, consulta IFA!

Nos momentos de crise, a consulta ao oráculo de IFA permite acesso a instruções a respeito dos procedimentos desejáveis, sendo considerados bons procedimentos os que não entram em desacordo com os propósitos do
ORÍ.
O ser que cumpre integralmente seu IPIN-ORÍ (destino do ORÍ), amadurece para a morte e, recebendo os ritos fúnebres adequados, alcança a condição de ancestral ao passar do AIYE para o ORUN.

Há a crença na existência de duas áreas ocupadas por espíritos dos mortos: ORUN RERE - o bom "céu", habitado pelas divindades e ancestrais, e ORUN APAADI - o "céu" de muitas infelicidades, habitado pelos infelizes que sofreram má sorte e pelos maus, julgados pelo Ser Supremo, segundo o ser caráter. Estes últimos ficam condenados à solidão e ao esquecimento, sem direito a lembrança ou a aparecerem em sonhos e visões - morrem totalmente.

ORUN RERE, por outro lado, é prazeiroso e sereno, vivendo os espíritos numa comunidade composta de parentes e amigos. Podem também permanecer junto aos familiares e intervir em suas atividades diárias, sendo-lhes permitido reencarnar em alguma criança nascida no âmbito familiar.

A respeito do
ORÍ, resta ainda lembrar que trata-se de uma divindade pessoal, a mais interessada de todas no bem estar de seu devoto. Se o ORÍ de um homem não simpatiza com sua causa, aquilo que ele deseja não pode ser concedido nem por OLODUNMARE, nem pelos ORISA.

Da mesma forma se o caráter de um indivíduo é mau, sua escolha de destino pode não se realizar. Se nossa situação é realmente de um mau destino, e não é uma consequência de nosso caráter ou comportamento, então nosso
ORÍ-APERE precisa ser apaziguado.

Oferendas prescritas ou rituais devem ser realizados para nos trazer de volta a um alinhamento saudável.

Considera-se vital para todo homem recorrer a IFA, sistema divinatório de consulta a ORUNMILA, a intervalos regulares para tomar conhecimento do que agrada ou desagrada o próprio
ORÍ. Enquanto intermediário entre a pessoa e as divindades ( entre as quais o próprio ORÍ )

IFA não apenas informa sobre os desejos divinos mas também conduz os sacrifícios ofertados às divindades para que estas possam cumprir seu papel: ajudar os
ORÍ a conduzirem as pessoas à realização do próprio destino.

Se as coisas estão indo mal em sua vida, antes de apontar um dedo acusador para as bruxas, para feitiços ou para seus inimigos, examine sua natureza.

Se Você tem por hábito maltratar as pessoas ou não considerar seus sentimentos, não procure qualquer felicidade ou sorte em sua vida, não importando o quanto Você possa ser bem sucedido materialmente.

Se, por outro lado, Você ajuda os outros e dá felicidade a eles, sua vida será cheia, não só de riquezas mas também de alegria e felicidade. No entanto, lembre-se, é decididamente muito mais fácil alterar seus destino do que sua natureza.

"Por toda parte onde
ORÍ seja próspero, deixe-me estar incluído,
Por toda parte onde
ORÍ seja fértil, deixe-me estar incluído,
Por toda parte onde
ORÍ tenha todas as coisas boas da vida, deixe-me estar incluído.
ORÍ, coloque-me em boa situação na vida,
Que meus pés me conduzam para onde as coisas me sejam favoráveis.
Para onde IFA está me levando eu nunca sei
Jogaram para Assore no início de sua vida.
Se há qualquer condição melhor do que aquela em que estou no presente,
Que possa meu
ORÍ não falhar em colocar-me nela.
Meu
ORÍ me ajude!
Meu
ORÍ, faça-me próspero!
ORÍ é o protetor do homem antes das divindades."

BORI [4]

BORI é o ritual de "dar comida" ou alimentar o ORI (bo
ORI). Deve ser sempre precedido de um jogo que defina sua necessidade e, ao mesmo tempo, oriente o sacerdote sobre os procedimentos particulares para o caso, os ingredientes a serem utilizados naquela situação e o encaminhamento adequado a ser dado para aquela necessidade.

Assim, pode-se realizar um BORI apenas com um ou dois obi e água ou com todo um conjunto de alimentos e a louvação de objetos-símbolos especialmente sacralizados para a ocasião.
É importante entender que sempre que se louva algum tipo de alimento no ORÍ de alguém está se procedendo a alimentação daquele ORÍ.

O BORI pode se apresentar como necessário para alguém em função de algumas situações.

Entre elas:

· como processo de religação do
ORÍ com o seu duplo no ORUN,

· como resposta à condições de "stress" ou fragilização das estruturas psicológicas
do indivíduo resultantes de situações particulares de vida,

· como ritual propiciatório ou complementar a um ebo,

· como ritual propiciatório a processos iniciáticos,

· como resposta a uma necessidade espiritual resultante de feitiço ou destino,

· como indicação de algum Odu (IFA), a partir da interpretação das condições ligadas ao personagem mítico que se apresenta em um dos Itan correspondentes ao Odu.

Pode-se, no geral das situações, estabelecer um ritual básico a ser seguido, não significando isso que o sacerdote deva entender esse ritual básico como limitador da sua ação ou fórmula a ser seguida em todos os casos e situações.

É importante lembrar sempre que o uso e a combinação dos elementos a serem utilizados deve levar em conta as propriedades excitantes (gun) ou calmantes (ero) de cada elemento que está sendo manipulado.


[1]A palavra è significa vida, espírito. A palavra exata para "sopro, respiração", é èémí. Estas duas palavras tem sido objeto, em diversos trabalhos, de confusão ortográfica e conceitual. (Nota de Luiz L. Marins). Ver “A Imortalidade Ioruba” em : http://luizmarins.wordpress.com/afro

[2]Ver “A imortalidade ioruba” em: http://luizmarins.wordpress.com/afro

[3]Segundo Abimbola (1971), o ORÍ escolhido na casa de Ajala pelo ara-òrun antes de nascer, é uma metáfora para “destino” e não deve ser confundido com o ORÍ físico/espiritual criado por Obàtálá. Este ori-destino é colocado sobre o ori físico/espiritual quando o ara-òrun vem para o ayé. [Nota de Luiz L. Marins]. Ver “A imortalidade ioruba” em http://luizmarins.wordpress.com/afro

[4]É importante lembrar que no rito do bori não deve contar nada que seja de Orixa, e qualquer ritual ou objeto que lembre Orixá ou esteja ligado a Orixá não faz parte do bori. Caso contrário, não é um bori. [Nota de Luiz L. Marins]



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