quarta-feira, 13 de junho de 2012

Quem é Exu? (parte 3)

Exú por  Alessandro Coi
Terceira parte


Esse ponto a essência de Exú, que é o movimento e o novo, se manifesta. O mensageiro dos Orixás trás para nosso plano a Criação de uma nova realidade, que mostrava mais que nunca a necessidade da manifestação de uma nova ancestralidade, que ao longo dos séculos se construiu no já então Brasil.


E quem melhor que ele para ser homenageado com seu nome para representar nessa nova fase a ancestralidade nativa, em um período em que se torna necessário se unificar as raças que fazem bater o coração desse novo povo movido pela mistura do sangue de guerreiros nativos e nobres sábios, usurpados por desbravadores que se tornaram um, mamelucos, mulatos, cafuzos, enfim, brasileiros.
O fim da escravidão e a urbanização vêm com uma avalanche de mudanças no contexto geral da vida do povo brasileiro. Agora existiam de fato cidadãos e um país nessa terra. Era então formada uma nação de fato e de direito. Ainda engatinhando e cheia de mazelas, mas com uma identidade própria, sem mais viver a sobra dos colonizadores, seja no âmbito político para o branco, ou no âmbito de liberdade em relação ao negro e o índio.

Pelas características específicas da religiosidade Bantu, o mundo é um encontro cruzado de dois ou quatro submundos. Ou melhor, são quatro os mundos, interligados, à maneira das quatro esferas de luz de Swedenborg: (1) “este mundo”; (2) o “outro mundo próximo”; (3) o “outro mundo distante”; e (4) o “outro mundo do nada”. As relações das pessoas comuns e de suas famílias se dão com seus antepassados antecedentes ou muito próximos (pais, avôs, etc) e (b) com os antepassados de seus antepassados (avos dos avôs, avôs dos avôs dos avôs, etc). A maioria de nossas desavenças se encontra assim nas relações dos dois mundos, ou seja, (1) este mundo; e (2) o outro mundo próximo. É claro que podem se dar relações mais profundas e mais complicadas, com soluções até fora de alcance. No entanto, a maioria das relações entre-mundos compreende esses dois mundos iniciais.

Isso, aliado a essa identidade que se forma na nação e que já tem uma ascendência brasileira de varias gerações (a essa altura os habitantes do Brasil tinham sua ancestralidade conhecida, de forma pessoal ou oral, toda brasileira, por estarem a gerações aqui.

Está formada assim a ancestralidade brasileira, não da terra no sentido geográfico, mas do povo, da nação que passa a existir e precisa descobrir e assumir sua identidade.

Creio que toda religião é única, o que vejo na Kimbanda como um traço muito forte, que pelas conseqüências disso acaba dando esse caráter diferenciado, é ela sempre ter sido um foco de resistência ativa, todas religiões que foram perseguidas foram focos de resistência, mas quase a totalidade foi de forma passiva, enquanto a Kimbanda sempre teve clara e aberta a política de não-aceitação e de reação a essa perseguição. Se alguma coisa a faz temida é a filosofia de não passividade que gera uma conseqüente reação por parte dela a qualquer tipo interferência externa, independente do da forma que essa reação vai se manifestar.

Acho que pela concepção de mundo da Kimbanda e o respeito a liberdade individual de cada um que ela tem como base faz com que ela por respeitar todo tipo de religião seja respeitada da mesma forma. Na Kimbanda acima de tudo se respeita a liberdade e a individualidade de cada um decidir seu destino e escolher seu caminha, acho que isso parte daí.

Na verdade não terminei o texto mas a linha de raciocínio dele segue a lógica de como se formou a presença da entidade que se chama Exú, e por que ele sendo um ancestral nativo, uma expressão maior da nossa cultura individual brasileira, absorveu o nome e também a essência da divindade Exú, que ao contrário da religião na origem do culto, está presente e manifesta desde esse período manifesta em nossa cultura religiosa. A origem e base do culto é uma, mas nossa realidade é baseada em outra cultura. Uma cultura própria, onde os traços humanos são bem melhores retratados nos antepassados através da figura dos Exús.

Não me apego a esse conceito de evolução, é estranha a minha realidade, mas com certeza eles são a melhor expressão da ancestralidade brasileira, como são os pretos velhos a ancestralidade africana que formou o que existe hoje junto com o índio representado no caboclo expressando nossa ancestralidade nativa, agregado a outras étnicas e culturas que fizeram sermos o que somos hoje.

A diferença é que eles expressam uma realidade contemporanea, por isso se tornam mais próximos de nós.


Pretendo ainda na continuação dos posts ainda falar de onde na visão Bantu e no seu culto religioso essas entidades se encaixam, e de onde e como esse culto se adaptou a nossa realidade, para com isso ser um digno representante de nossa natureza espiritual, do que somos hoje. Nisso pretendo também passar pelo fatores e expressões culturais interligadas a isso dentro da realidade da cultura religiosa que se formou no Brasil, originada dos Bantus, mas modificadas por influências indígenas, nagos e que se expressam na essência em figuras com Zé Pelintra, o malandro...

Para vc ter uma idéia da visão através da cultura Bantu, os Exús e demais entidades se classificam basicamente nas seguintes classes de espíritos:


Miondonas são espíritos tutelares. Nascem conosco e herdam-se principalmente do ramo paterno. Defendem-nos do mal. Deriva de kukondona: limpar (do mal).


Calundus são espíritos justiceiros e medicantes. Herdam-se principalmente do ramo materno. Representam almas de pessoas que viveram em épocas remotas. Distingue-se o diculo – ancião e o diculundundo – ancião de idade mais avançada. Deriva de kulundula: herdar.

Malungas são espíritos simpatizantes. As entidades que, na vida terrena, constituíram indivíduos da raça branca, assumem, por influência do catolicismo, a qualificação particular “santo”. Deriva de M’akuá-lunga: relativos aos do Além.


De qualquer forma se refere a ancestrais nativos, contemporâneos ou componentes da raíz que formou o que somos hoje. Podem ser ancestrais diretos ou ancestrais provenientes da coletividade que pertencemos.


Se sempre houve a busca de manter viva as raízes ancestrais, seguindo as crenças e costumes dos antepassados, seja no negro e suas rodas, sejam de Capoeira, Candomblé, Batuque, Samba ou no índio, com seu culto a natureza, seu xamaniismo da pajelança, seu catimbó ou mesmo no branco com suas missões jesuítas, não seria diferente dessa vez, onde finalmente ele teria uma cultura própria, formada de várias matrizes, unificadora e libertadora, um foco de resistência contra toda opressão que sofreram, um grito de liberdade, ainda que pequena, mas enorme pelo que lhes foi tirado, sua terra, sua cultura, suas famílias e seus antepassados, que ficaram do outro lado do Atlântico, além do horizonte da Kalunga Grande, restando apenas aos que aqui estavam sua memória e seus ensinamentos milenares, que vieram e foram transmitidos pelas bocas daqueles que cruzaram o mar nos navios negreiros.

Dentre esse caldeirão se manifesta com força total Exú. O Orixá que era o guardião dos templos, mercados, aldeias, vilas e cidades ressurge reinventado em um modo arquétipo-ancestral da cultura do novo povo. Não é um ancestral divinizado como algumas divindades africanas, ao contrário, é o mais humano habitante do Orun.

Em busca de uma identidade própria, mas que se formou na junção de várias outras, que tiveram inclusive papéis antagônicos entre si novamente Exú se manifesta, agora pela dualidade, os opostos que se completam e não se anulam, trazendo o opressor e o oprimido, juntos em um terceiro, o mestiço.

Exú é o mestiço. Não é branco nem negro, nem vermelho nem amarelo. É a esfera, p todo num só.

Por isso temos exús de todo tipo de identidade étnica. Ele é um retrato de nosso povo, miscigenado, sensual, alegre, esperto, brincalhão, lutador, perspicaz,, audaz e sempre pronto para a mudança, dono de um jogo de cintura para levar a vida e suas intempéries que só de Exú podia herdar.


Uma herança ancestral que devemos aprender a usar com sabedoria, como faziam os pioneiros usando os santos para cultuar suas divindades, usando a arma de opressão e domínio cultural e religioso do homem branco para, irônicamente, manter vivas suas tradições.. Enquanto o branco roubava ouro através das imagens, não pagando tributos a coroa, o negro o qual era o meio usado para obter o mesmo ouro que o branco roubava entre si, usava as mesmas imagens para guardar "pedras", sem nenhum valor financeiro, mas com algo de valor inestimável: Sua fé e o axé que lhe foi passado e ali depositado pelos seus ancestrais, ali estava contida a força divina, o axé que se perpetua geração após geração, sendo transmitido em rezas, mitos, rituais, ritos de passagem, no contar de histórias, nos itans, nos orikis que embalam o sono dos nenês, nas danças e nos atos dos Orixás e no gestual das entidades, carregado de pura neurolinguística subliminar, algo milenar que nos faz sentir a energia e reconhece-la intuitivamente, pois faz parte de nós desde o inicio de nossa existência. É a energia que cria pelo movimento constante, algo simultaneamente estável e caótico.

Esse Oriki¹ reflete bem a face de Exú

ORIKI de EXU:


Laroiê!
Rei da Astúcia.
Senhor dos Ardis.
Margem, Zona de Fronteira.
Ruas, Esquinas, Estradas.
Interstícios.
Personalidade Liminóide.
Inocência de criança e licença de ancião.
Protetor do Terreiro.
Porteiro e guardião.
Sempre invocado para o bom desenrolar da festa.
Madeira que cupim não rói.
Braço direito de Orunmilá.
Anda pelos campos, anda entre os ebós.
Atirando uma pedra hoje,
Mata um pássaro ontem.

Pelo menos uma delas, a outra é e sempre será o grande mistério. O teatro mágico dos iniciados, como já foi dito, ainda que não se referindo a ele.


Exu. Nas palavras de Jorge Amado: “Exu come tudo que a boca come, bebe cachaça, é um cavaleiro andante e um menino reinador. Gosta de balbúrdia, senhor dos caminhos, mensageiro dos deuses, correio dos orixás, um capeta. Por isso, sincretizaram-no com o Diabo; em verdade ele é apenas o orixá em movimento, amigo de um bafafá, de uma confusão mas no fundo, excelente pessoa. De certa maneira é o não onde existe o sim; o contra em meio ao favor; o intrépido e invencível.”


Ele é compreendido na África como um deus do movimento, come tudo que a boca come,e que é "quente". Exu mora nas encruzilhadas. É a idéia é "o que é, mas não é", sempre. Uma encruzilhada a princípio não é caminho algum e é ao mesmo todos eles, certo?. Mas ao contrario de todos os pesquisadores eu tenho certeza que Exu sabe muito bem o que é e o que tem a fazer.


Essa forma de ver o Orixá Exú condiz bem com ο papel que essas entidades ancestrias hoje exercem na nossa cultura religiosa.

Exu é controvertido, porque tem um gênio travesso (Em Cuba, por causa disso ele é o Menino Jesus) e faz o que lhe pedem. O que eu considero um equivoco ridículo. Não tem noção de bem e de mal e se movimenta apontando o pênis pro lugar onde quer ir. Isso não quer dizer que faça o mal, nem o bem, ele é a Pureza (oara ser tão controverso não podia faltar isso né? rsrsrs). Sua Pureza consiste na inocência de seus atos. Só não se confunda Pureza com ingenuidade. Sua Pureza é de uma consciência plena, e justa, nunca usando o mal, nem o bem. Captaram o que quis dizer? Ou como diria um Exú " catou??? " rsrsrs

Sem Exu, os Orixás não podem ajudar seus fiéis. Exu transforma o conflito em harmonia. Tudo sabe, ouve e transmite. Garante a eternidade do povo e a continuidade do homem.

Exu também é associado à sexualidade, a segunda fome humana.

Não existe lugar, no passado, presente ou futuro a que Exu não possa ir. Existe um oriki (verso sagrado) que diz, inclusive, que "Exu mata ontem um passarinho com pedra que atirou hoje para o amanhã."


¹ ORIKI- Escreveu certa vez Antônio Risério: “Tudo o que existe, aqui ou no outro mundo, pode ser premiado com a composição de um oriki. Orikis são emitidos para ninar crianças, celebrar deuses,receber visitas, batizados, noivados e funerais. Em suma, pontuam todos os momentos da existência social na Iorubalândia. Oriki. Música verbal. Melopéia. É bom enfatizar que ninguém emite um oriki de orixá em vão. Recitar ou cantar um oriki de Oxossi, por exemplo, é o mesmo que recitar um poema de Blake, ou cantar um blues de Billie Holiday.”

Bibliografia
África, mitos y leyendas - Alice Webner
Traduzido por Mametu Ndenge Mutarerê

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ajala e o mito das mulas sem cabeça


    Imagem: Internet, autor desconhecido.

Por Erick Wolff8
08/06/2012

Revisado em Março de 2018


Esta postagem tem a intenção de mostrar como um equívoco mitológico pode influenciar milhares de pessoas através de um conceito religioso, também equivocado.

O mito abaixo é corrente na etnografia afro-brasileira. Foi publicado no livro "Mitologia dos Orixás", Reginaldo Prandi, Cia. das Letras, São Paulo, p. 470.

Um dos versos diz que "Obatala esqueceu de fazer a cabeça". Não sabemos onde Prandi encontrou esta informação, pois a fonte informada pelo autor, a saber: Sixteen Greats Poems of Ifa", Wande Abimbola, Unesco, 1975, não traz este dado.

Na contra-mão, as informações colhidas em Oyo por Paula Gomes, Oloye do Alaafin Oyo, dizem o contrário: que Obatala cria o ser humano, ainda no òrun, completo, isto é, com a cabeça (babalaô Ifatokun, Aare Isese Alaafin Oyo).


Vamos ao mito publicado por Prandi:

Ajalá modela a cabeça do homem

Odudua criou o mundo,
Obatalá criou o ser humano.
Obatalá fez o homem de lama,
com o corpo, peito, barriga, pernas, pés.
Modelou as costas e os ombros, os braços e as mãos.
Deu-lhe ossos, pele e musculatura.
Fez os machos com pênis
e as fêmeas com vagina,
para que um penetrasse o outro
e assim pudessem se juntar e se reproduzir.
Pôs na criatura o coração, fígado e tudo o mais que está dentro dela,
inclusive o sangue.
Olodumare pôs no homem a respiração
e ele viveu.
Mas Obatalá se esqueceu de fazer a cabeça
e Olodumare ordenou a Ajalá que completasse
a obra de Oxalá.
Assim, é Ajalá quem faz as cabeças dos homens e das mulheres.

Quando alguém está para nascer,
vai à casa do oleiro Ajalá, o modelador de cabeças.
Ajalá faz as cabeças de barro e as cozinha no forno.

Se Ajalá está bem. faz cabeças boas.
Se está bêbado, faz cabeças mal cozidas,
passadas do ponto, malformadas.
Cada um escolhe sua cabeça para nascer.

“Cada um escolhe o ori que vai ter na terra.
Lá escolhe uma cabeça para si.
Cada um escolhe seu ori.

Deve ser esperto, para escolher cabeça boa.
Cabeça ruim é destino ruim,

cabeça boa é riqueza, vitória, prosperidade, tudo que é bom.

O povo Yorùbá acredita que Obatala (a maior divindade cultuada entre os yorùbá, o primeiro ser divino criado, conhecido por Òòsàálá) modela o homem do barro do òrun (mundo espiritual), ou seja, ele cria o homem, com elementos do próprio òrun, porem em momento algum diz que ele cria "mulas sem cabeça".
Entre muitos erros conceituais na literatura afro-brasileira, este acima é o pior, que faz com que o homem seja criado como uma mula sem cabeça, para mais tarde buscar orí na casa de Ajalá.

Todos sabem que Ajalá é o oleiro do òrun, que possui poder de modelar orí, que o culto a orí é individual  tanto que é cultuado antes mesmo da feitura do òrìsà.

O babalaô Ifatokun, de Oyo, esclare que o orí de Ajala é um àse que o ara-orun coloca em sua cabeça (espiritual), ainda no òrun, antes vir para o mundo (ayé)


Bibliografia no corpo do texto.

 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os direitos humanos é um Titanic pronto para afundar no Brasil


Por Erick Wolff8
25/05/2012

Durante 17 anos, o congresso discutiu a união entre pessoas do mesmo sexo. E tentando tapar o sol com a peneira, mais uma vez este congresso não fez nada, nesta quinta-feira, 24 de maio,  ele enrolou e caiu no dedo do pé, pois a lei disfarça a falta de preocupação da Comissão dos Direitos Humanos, que segundo esta lei, não haverá mudança alguma, pois existe um Pitt bull, chamado Comissão de Constituição e Justiça, que diante dos senadores preconceituosos e fanáticos, sendo a maioria, lutam contra os direitos homoafetivos, sem ao menos entender a necessidade da causa. Depois disso, deverá seguir para a Câmara, que ali sim a bancada evangélica, ou melhor, falando a totalidade Cristã, irá lutar de unhas e dentes contra.

Mas porque articular tanto entre o atraso e a necessidade?

Simplesmente porque, os direitos dos casais do mesmo sexo de poderem construir uma vida e principalmente adquirir bens nunca foram respeitados, que no caso de falecimento de um dos dois, simplesmente a família do falecido se apossa de tudo, deixando o outro sem direito algum, resumindo o drama, deixa o outro sem nada...

Atualmente a lei chegou até o estúpido entendimento que o individuo compete com os herdeiros, diferente dos casais heteros onde o individuo é meeiro, então porque a lei ignora a união entre pessoas do mesmo sexo? Sendo que o INSS e a Receita Federal já os reconhece?

Esta é a intolerância e o medo dos nossos  políticos de votarem a favor e  perderem os eleitores mais fanáticos que lutam contra os direitos dos homoafetivos de constituir  família e viver dignamente.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Quem é Exu? (parte 2)

Exú por  Alessandro Coi
Segunda parte

Nos anos (18)40 e (18)50 foi constante a referência, nas páginas dos jornais do Rio de Janeiro e São Paulo, de reuniões de pretos (nomes dos negros de então), com finalidade aparente de praticar a religião. Tais reuniões, quando descobertas ou denunciadas, eram dissolvidas a pata de cavalo ou a golpe de bastões policiais, sendo seus praticantes recolhidos presos, quando não logravam fugir.

A partir dos anos (18)50, é nítida a separação de semelhantes “pagodes”, sempre destruídos, em duas famílias, o Candombe ou Candomblé e a Macumba ou Imbanda. Aparece, portanto, pela primeira vez (1853) a Nbandla bantu como ramo independente das religiões ou “cultos” afro-brasileiros.

Quanto ao nome de “pagodes”, eram dados por deboche pelas autoridades policiais, em virtude do caráter enfeitado e complicado dos rituais e dos instrumentos de culto ali evidenciados. Os objetos eram recolhidos ou ali mesmos destruídos.

A Nbandla foi assim uma ideologia social de importância nas condições do século XIX, em função do grande número de componentes dos povos Bantu, que na realidade sócio-cultural de então conformavam as populações locais brasileiras. No que se refere às aproximações com outras religiões, a destruição massiva dos elementos de culto e dos rituais eliminou a possibilidade de uma reconstituição dos caminhos culturais percorridos.

No entorno da Guerra do Paraguai (1860-1880), a `Nbandla sofreu forte impacto do Kardecismo, recém-implantado no Brasil e muito forte então no corpo de oficiais do exército e da marinha. A `Nbandla, sendo já à época conhecida como Umbanda (corruptela gerada pela pronúncia), no Rio de Janeiro tinha mesmo acesso às igrejas católicas onde concentravam as tropas que eram enviadas para o “front” paraguaio. Era então nítida a associação das cores das nações africanas, na escolha dos santos católicos que deviam favorecer os iniciados ou adotados pela Umbanda.

Os cânticos (ou “pontos”) expressam assim uma parte congelada das relações religiosas inter-étnicas, que necessitariam para ser corretamente datados de – ao menos uma preservação de amostras da estatuária sagrada ao longo das gerações. Dessa, ainda hoje – o pouco que resta se encontra nas mãos da polícia. Por isso, torna-se muito difícil chegar à definição dos lugares específicos das identidades religiosas (*dai o distânciamento dos Jinkisi, e conseqüente absorção dos Orixás no culto, mais conservado pela maior visibilidade de alguns terreiros com raízes Yorubas), com uma teoria adequada do papel das identidades eventualmente duplas ou triplas, nas fases históricas precedentes (da época contemporânea). A multiplicidade de papéis a desempenhar que se gera naturalmente numa sociedade em urbanização devia requerer oportunidades também múltiplas de transformação religiosa nos contextos étnico-sociais de então (*Nagotização).

No culto Bantu, a tenda pode atender coletiva ou individualmente. Os dias de atendimento eram coletivos geralmente às segundas e às sextas, sendo os demais dias – todos ou parte deles – dedicados a atendimentos individuais e à “prática da caridade”.


 Mas e Exú? Se perdeu em alguma encruzilhada?

Claro que não, como Senhor dos Caminhos estava abrindo as portas da religião para o novo que surgia com o advento da abolição da escravatura e da nova situação do Brasil, que deixaria de ser mera propriedade de Portugal, assim como os escravos de seus senhores, e passaria, a ser uma nação independente que construiria a partir de então, identidade própria..

O atendimento coletivo substituía a antiga roda comum de delírio das aldeias Bantu na África (Ku Yinga). Ali podia-se entoar cânticos reelaborados para expressar a nova coletividade, evidentemente híbrida, de parentela e consangüinidade desconhecidas. Os antepassados eram invocados de acordo com uma nova terminologia mais abrangente,produzida pelos sacerdotes para cobrir um arco mais abstrato de relações com os fiéis. Nesse sentido, pode-se observar um deslocamento do outro mundo próximo para o outro mundo distante. A necessidade de generalizar as relações de parentesco para todos os Bantu e não-Bantu agora (então) desaldeiados levou à mitologia das Sete Linhas, cujas cores incorporam diferentes culturas e escolhas africanas. Constituiu-se assim nova hierarquia geopolítica da vida espiritual, para corresponder aos movimentos populacionais devidos à guerra, ao recuo da escravidão e ao avanço urbanizador.


Bibliografia
África, mitos y leyendas - Alice Webner
Traduzido por Mametu Ndenge Mutarerê

segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Câmara Municipal de São Vicente não aprova a colocação da Imagem de Iemanjá na Praia.

Muitas vezes eu vejo Umbandistas e Candomblecistas  brigando para retirada dos símbolos cristãos nas assembléias etc... Infelizmente não é possível retirar, pois os  símbolos foram tomados com o prédio, desta  forma faz parte do patrimônio, ou seja, não é possível retirar, infelizmente terá que manter para sempre...

E em São Vicente, existe uma polêmica, a cidade recebeu como doação uma imagem de Mãe Iemanjá, no entanto, o estado é laico e ao colocar esta imagem na praia irá causar transtorno, pois o que as pessoas não entendem que da mesma forma que uma imagem pode se tornar um ponto turístico, ou local para comemorações pode vir a criar problema com as demais religiões que não podem colocar seus símbolos em qualquer lugar.

Então diante de tantas questões, como é que o povo Umbandista quer construir seus direitos, mediante a imposição de um símbolo, e se não aceitam as leis impostas para todos?

Uma imagem como esta não irá trazer nada favorável, nem mesmo oferecerá espaço e segurança para os adeptos  praticarem seu culto. Por isso seria muito melhor se a comunidade comprasse um trecho numa praia particular para poder fundamentar a  sua estátua e aproveitar para comemorar  seus eventos ao redor,  apesar que Yemanja não é a senhora dos mares, sendo até melhor à beira de um rio, afinal ela é senhora de um rio na África. O mar pertence a  Olokun o senhor dos oceanos.

Câmara Municipal de São Vicente
http://www.camarasaovicente.sp.gov.br/

quarta-feira, 16 de maio de 2012

ÁFRICA HOJE

A CAIXA Cultural São Paulo apresenta, de 29 de maio a 10 de junho de 2012, o projeto “África Hoje”, primeira mostra exclusiva e internacional de documentários africanos realizada no Brasil. Ao todo, 24 filmes serão exibidos em sessões únicas. O evento tem curadoria do moçambicano Pedro Pimenta, organizador do Dockanema, principal festival internacional de documentários na África, e da cineasta Luciana Hees. A organização é do cineasta Marco Abujamra e da produtora Mariana Marinho.

A mostra contará também com a realização de debates conduzidos por Marco Abujamra, Luciana Hees e o doutor em Cinema e Estética, também especialista em cinema africano, Mahomede Bamba. Esse encontro acontece no dia 1º de junho, às 19h45min.


“África Hoje” pretende oferecer um vasto panorama da produção africana contemporânea de documentários, realizados por cineastas de diversas nacionalidades (França, Egito, Espanha, Inglaterra, EUA e outros). Os filmes tratam de questões prementes do continente, que em muitos aspectos dialogam com a realidade brasileira, além de oferecer uma vasta reflexão sobre a diversidade da condição humana. “O documentário africano reflete essa diversidade e paradoxo de forma honesta. O olhar sobre as realidades do continente por parte dos documentaristas proporciona a possibilidade de enxergamos, sem demagogia fácil, a complexidade de um continente que muitos já apontam como sendo o continente do século XXI”, afirma o curador Pedro Pimenta.

São abordadas questões como a convivência entre brancos e negros numa piscina pública, na África do Sul pós-apartheid (Dias de Sea-Point, de François Verster), e o decreto do governo para combater o banditismo, que gerou uma onda de mortes da população de Douala, na República dos Camarões (Um Assunto de Pretos, de Oswalde Lewat-Hallade). Os documentários incluem ainda reflexões sobre a condição da mulher africana, segregação social, relações internacionais, seqüelas e subprodutos das guerras, novas gerações e o futuro do continente.

A programação oferece uma ampla amostragem do que de melhor foi produzido nos últimos anos, com a escolha de filmes que abordam temas e situações emblemáticas de diversos países. “África Hoje vem como uma possibilidade de trazer os múltiplos universos africanos, pouco ou mal conhecidos, que estão do outro lado do Oceano Atlântico, num lugar romanticamente chamado pelos brasileiros de Mãe-África”, comenta a curadora Luciana Hees.


Confira a programação detalhada e informações sobre os filmes: http://mostraafricahoje.blogspot.com.br/


São Paulo    Sessão 16h    Min.    Sessão 17h30min    Min.    Sessão 19h     Min.
Dia 29    Dolce Vita    59    Nomads Home    61    Dias de Sea Point    96
Dia 30    Khanimambo Moçambique    54    Congo in Four Acts    71    Sister in Law    104
Dia 31    Egito, estamos vigiando você    53    The Witches of Gambaga    60    Kinshasa Symphony    95
Dia 1    Marrabentando    52    Dolce Vita    59    Andar é dançar    40
Dia 2    Behind the Rainbow    138    Não haverá sessão nesse dia    Dansa Als Esperits    78
Dia 4    Nem allah, nem mestre    75    Egito, estamos vigiando você    53    A Milícia de Camarões    90
Dia 5    Nomads Home    61    Dansa Als Esperits    78    Congo em quatro atos    71
Dia 6    Cartas de Angola         Walking is dancing    40    As bruxas de Gambaga    60
Dia 7    Batuque    52    Subverses    45    Angano... Angano... Tales from Madagascar    65
Dia 8    Fronteira de Amor de Ódio    33    Marrabentando    52    Oxalá Cresçam Pitangas    60
Dia 9    Subverses    45    Khanimambo Moçambique    54    Mahaleo    102
Dia 10    Outras Frases    52    Batuque    52    As duas faces da guerra    52

Ficha Técnica

Curadoria: Pedro Pimenta e Luciana Hees
Concepção e produção executiva: Marco Abujamra e Mariana Marinho
Coordenação de produção: Mariana Marinho
Produção: Flávia Naliato
Assistente de produção: Lucas Iozzi
Produção local SP: Alex Andrade
Design gráfico: Clarice Soter e Eneida Déchery
Revisão e adaptação de textos: Laura Figueira
Tradução de textos: Cynthia Soibelman e Bem Produções
Tradução e legendagem eletrônica: 4 Estações
Produção gráfica: Sidnei Balbino
Realização: Dona Rosa Produções Artísticas


SERVIÇO:
Mostra de filmes ÁFRICA HOJE
Datas: de 29 de maio a 10 de junho de 2012
Horário: de terça-feira a domingo, às 16h, 17h30min e 19h
Local: CAIXA Cultural São Paulo - Praça da Sé, 111
Entrada: franca (os ingressos poderão ser retirados na bilheteria com uma hora de antecedência)
Capacidade: 50 lugares
Duração: vide a programação
Classificação etária: 12 anos
Informações - Tel: (11) 3321-4400
Acesso para pessoas com necessidades especiais
Patrocínio: Caixa Econômica Federal
(fonte assessoria)

TIKTOK ERICK WOLFF