A Umbanda solicita atenção e ao mesmo tempo em que sente a necessidade de serem reconhecidos perante a comunidade religiosa afro-descendente brasileira, desde o início da sua fundação, seus rituais sofrem constantemente uma violação cultural e ritualística, contaminando a sua origem e estrutura religiosa pelo sincretismo africano e católico.
Foi lendo alguns livros antigos, que eu notei um deles, em que o sacerdote Matta e Silva, tentou fazer, ao equiparar os caboclos e entidades aos Òrìsà do povo do candomblé, no livro “Umbanda De Todos Nós”, revigorando uma religião que surgia com espíritos que de certa forma foram expulsos do espiritismo, criando assim uma desqualificação destas entidades, que para a época eram considerados sem evolução e sem graduação para pertencerem ao espiritismo que os repudiava. A existência de orixás na Umbanda seria primordial, afinal se o candomblé possuía seus Deuses e Òrìsà, porque a Umbanda seria diferente?
(Mapa das sete linhas dos Orixás da Umbanda)
(Mapa das sete linhas dos Orixás da Umbanda)
Surgindo assim a linha dos “Orixás caboclos de Oxosse, Orixás caboclos de Xango” e assim vai classificando cada uma das sete linhas da Umbanda elevando cada uma delas a classificação de Orixá da própria Umbanda.
Tal sincretismo foi mais uma vez criticado pelos sacerdotes e adeptos da umbanda kardecista ou espiritismo de terreiro, que tentavam definir o espaço para aqueles espíritos que não possuíam intelecto ou evolução para presidir as sessões espíritas, que não definiria nada menos do que um gesto arrogante separatista, que mais tarde se transformaria numa nova vertente religiosa com entidades carregando características primitivas e uma linguagem muito simples de se dirigir ao povo que ali procurava conforto, popularizando a nova Umbanda que surgia a trazendo fama e destaque na época.
Socialmente a Umbanda sofria preconceito vindo da sociedade, política e religiosos que menosprezavam a nova religião que surgia. O próprio segmento religioso que deu a origem à Umbanda, o espiritismo, não via com bons olhos as entidades e costumes que iniciavam os seus rituais e preceitos. Sem falar no próprio candomblé que subjugava a Umbanda, por confrontar seus conceitos e rituais que mexiam constantemente com os Oku (espíritos).
Eu tenho certeza que o sincretismo foi a base da sua estrutura, para agradar tanto os católicos e os espíritas, havendo uma super valorização dos santos católicos nos Congas (altares) e templos. Na tentativa de promover uma simpatia vinculando assim a Umbanda com os anjos e santos, uma forma simples de usar uma religião mais conhecida e respeitada à frente da própria religião que nascia. Na intenção de ser aceita na sociedade da época e usufruir dos resultados que ela poderia trazer, compartilhando do mito em que os adeptos escondiam fundamentos religiosos atrás das imagens católicas.
Mas onde surgem os problemas?
Como toda religião que se estrutura, o caminho é árduo e chega a sofrer uma metamorfose durante a sua jornada, e claro que mais uma vez usaram a força de uma religião mais famosa e forte na tentativa de estabelecer respeito e fama para aquela que nascia. Mesclando assim dicionários africanos aos rituais, cargos e funções, claro que muitas delas nem deveriam existir dentro da Umbanda, simplesmente porque não possui vínculo ou fundamento para tal.
Alguns exemplos podemos observar nos rituais adquiridos em meados dos "anos 80", que surgiam nas mãos dos sacerdotes desta época. Eu tive oportunidade de conhecer pessoalmente o Templo Guaracy, que temperou seus rituais com os conceitos da liturgia Bantu[1], mesclada com as divindades Yorùbá[2], uma pequena mistura que deu certo na época, onde a internet ainda não era a vilã dos grandes templos. Hoje em dia com a interação dos meios virtuais, ficou mais difícil de conseguir manter por muito tempo a falta de informação e equívocos. Mas não ache que eu estou criticando o ritual do templo, afinal o sacerdote responsável pelo Templo Guaracy fez muito pela Umbanda, estruturando e reorganizando a sua liturgia, o que para a própria era muito confusa antigamente, dando origem a nova Umbanda, readaptada para a sociedade contemporânea.
Os danos desta aculturação vieram a longo prazo, onde tivemos o resultado dos iniciados deste templo que partiram para abrir sua casa sem grandes conhecimentos do conceito que estava surgindo. E aqueles Orixás que antigamente eram os representantes das sete linhas de caboclos foram substituídos pelos Òrìsà cultuados entre o povo Yorùbá. Mas antes que possam reinterpretar o que acabo de relatar é preciso entender que os mesmos Òrìsà cultuados pelo Templo Guaracy, ainda sim eram espíritos, que assumiam os mesmo nomes e identidade originários da Umbanda, (sincretisando) só que sob a influência muito maior da cultura afro-brasileira.
Com um ritual sem o Ejé (sangue) e o sacrifício de animais, ela foi crescendo, com os assentamentos muito semelhantes ao do Candomblé, só que consagrados apenas com cânticos, Amacis (banhos de ervas) e sementes sagradas. Em alguns rituais até a Lobassa (cebola) era usado, porem não era cortada conforme a tradição afro-brasileira, quiçá por não terem passados pelos rituais africanos o sacerdote deste templo cortava em duas e oferecia as “Entidades e Orixás” ali cultuados, mais exemplos de vestígios da aculturação religiosa.
Entre os rituais, logo se estabeleceram os cargos para os adeptos do templo e foi alastrando entre as demais escolas Umbandistas dando o start para a africanização da Umbanda. Surgindo assim uma feroz corrida para quem trouxesse mais itens e fundamentos afro-culturais para os rituais, contaminando e distorcendo a filosofia inicial da Umbanda.
Surgindo casos como a Oxum que antigamente era conhecida pela cor azul marinho, que representava as águas profundas dos rios dotadas dos valores doces, movimentos meigos e fertilidade, para se transformar no dourado do candomblé, revigorado da beleza, vaidade, luxo e desejos, um caminho na contramão do passado simples e dedicado da Umbanda inicial. Em alguns casos vemos os Orixás da Umbanda perdendo até a vestimenta e os apetrechos tradicionais da sua vertente religiosa para se vestir como no candomblé, sem conhecimento algum da cultura e paramentos que cada divindade carrega, transformando o Orixá da Umbanda num fantoche desarticulado e sem graça.
(Oxum da cultura Yorùbá)
(Oxum original da Umbanda)
Lembrando das escolas que começaram a reinventar Orixás, alguns universais outros cósmicos, com a finalidade de vender mais livros e conseguir o primeiro lugar no Pódio cultural Umbandista, abrindo uma disputa nacional para quem inventasse mais fundamentos misturando conceitos com tradição e ciência, criando uma confusão cultural e sócio-religiosa.
Algumas escolas começaram a introduzir os “Búzios” nos rituais, mas porque a necessidade dos búzios dentro da Umbanda? Mas por quê? Se a mesma não precisa e nem nunca precisará usar dos mesmos para seus rituais, simplesmente porque as entidades se comunicam aberta e claramente com o consulente e iniciados da Umbanda, sem necessidade de consulta pelos sacerdotes (isas). Os búzios só são necessários nos rituais Afro-brasileiros, porque as “Divindades” não dão passe, não usam da fala para a comunicação direta, salvo em raros casos onde uma divindade pode pedir ou solicitar algo, mas nem uma delas fica horas conversando ou dando passe nos iniciados do Candomblé.
Então porque fazer o uso dos Búzios numa religião que o contato com o espiritual é direto? O pior é quando vemos uma entidade jogando búzios, esta chega a ser a decadência da evolução da própria religião que conta com a confiança e relação da entidade com o mundo dos vivos, para que traga mensagens e até mesmo alertas para os seguidores daquela religião. Então por que uma entidade necessitaria de um jogo de búzios para ver e falar, seria o fim da espiritualidade e da própria estrutura religiosa.
Mas seria impossível relatar tantos casos e problemas religiosos sem dar exemplos, então vamos lá.
A Umbanda produziu um vocabulário próprio, misturando línguas como Tupi-guarani, Kassange, Fon, Yorùbá, o resultado para muitas casas foi um verdadeiro desastre que chega a doer quando vemos. Palavras como Babá que significa pai é usado para as sacerdotisas e Babalao que significa pai do segredo, é usado para os sacerdotes, contudo, o Babalawo é um cargo apenas para os sacerdotes de Ifá, onde nem mesmo os sacerdotes do Candomblé usam, então o que faz na Umbanda? Justamente chegou a hora de entender o porquê do choque cultural e a desvalorização da mesma, se os cargos como estes que são respeitados por todas as vertentes religiosas são usados sem cerimônia alguma nos templos Umbandistas, então como pode haver reconhecimento da mesma perante a comunidade afro-brasileira?
Seria tão mais harmonioso se usassem o titulo de Babalorixá (pai de orixá) e Iyalorixá (mãe de orixá), para seus rituais, seria tão mais confiante ver o Yorùbá devidamente empregado, respeitando assim a origem e a hierarquia da cultura Africana. Mas para quem pensa que o problema está apenas na Umbanda, se engana, há pouco tempo foi lançada uma obra – "Dos Yoruba ao candomblé de Ketu" – onde um dos colaboradores da coletânea registrou o seguinte – [ Ìyá monde ou Bàbá – mulher que cultua espíritos dos reis mortos. Chamam-na também de Bàbá. O Alafim dirige-se a ela como “pai”, pois elas detêm a autoridade do “pai”, como as dirigentes da Umbanda brasileira, também chamadas de Babá] – pág 149. Reginaldo Prandi
Observem que o Roberval, incentiva o uso e ainda confunde conceitos e cargos ao qual não tem como ser absorvido na cultura da Umbanda, sem falar que ele cita a “Umbanda brasileira”, sem dizer quais mais Umbandas existente, será que a Umbanda nasceu no Brasil ou veio de outro lugar sem ser anunciada?
São erros como estes criados por escritores que geram conflitos entre os membros das religiões afro-brasileiras sedentos por falta conhecimento, um caos acadêmico impresso para qualquer um ler a qualquer momento.
Há algum tempo eu postei uma matéria falando sobre o Politeísmo na cultura afro-brasileira, afinal a sua estrutura não condiz com a existência de um único Deus criador de tudo, oportunamente posso observar que a Umbanda é uma religião monoteísta, afinal ela acredita num Deus que ainda não foi definido se é Olorun ou NZambi ou Oxalá, alguns adeptos chegam a confundir o criador com Jesus, claro é o resultado claro dos danos causados pelo sincretismo na cultura Umbandista. Mas uma coisa é certa o monoteísmo é a estrutura desta religião tão clara como podemos ver que as entidades necessitam pedir permissão nos seus trabalhos a uma divindade maior, para que possam atuar. Outras nem chegam a trabalhar, apenas orientam e se exumam de qualquer responsabilidade, deixando a cargo das forças divinas escolherem o resultado final.
E por fim, chego ao resultado desta confusão expressa na mídia, que ainda não projetou nem uma novela, seriado ou filme com um retrato respeitado da Umbanda, que geralmente é representada numa caricatura deformada e mal divulgada, diferente do Candomblé e o espiritismo que já vimos grandes obras produzidas pelas grandes emissoras e Cia. de cinema. Eu acredito que seria preciso uma reciclagem nos conceitos, comportamento e rituais da Umbanda para que pudesse limar aqueles pequenos equívocos que retiram a credibilidade e confiabilidade da mesma.
Por Erick Wolff8
[1] - Cultura Bantu = Camarinha, muzenza, feitura, Bori (nome dado para uma obrigação de Caboclo que não tem nada haver com o conceito do Bọrí).
[2] - Divindades Yorùbá = Òòṣàálá, Ṣàngó, Ọ̀sányìn e etc.
Foi lendo alguns livros antigos, que eu notei um deles, em que o sacerdote Matta e Silva, tentou fazer, ao equiparar os caboclos e entidades aos Òrìsà do povo do candomblé, no livro “Umbanda De Todos Nós”, revigorando uma religião que surgia com espíritos que de certa forma foram expulsos do espiritismo, criando assim uma desqualificação destas entidades, que para a época eram considerados sem evolução e sem graduação para pertencerem ao espiritismo que os repudiava. A existência de orixás na Umbanda seria primordial, afinal se o candomblé possuía seus Deuses e Òrìsà, porque a Umbanda seria diferente?
(Mapa das sete linhas dos Orixás da Umbanda)
(Mapa das sete linhas dos Orixás da Umbanda)
Surgindo assim a linha dos “Orixás caboclos de Oxosse, Orixás caboclos de Xango” e assim vai classificando cada uma das sete linhas da Umbanda elevando cada uma delas a classificação de Orixá da própria Umbanda.
Tal sincretismo foi mais uma vez criticado pelos sacerdotes e adeptos da umbanda kardecista ou espiritismo de terreiro, que tentavam definir o espaço para aqueles espíritos que não possuíam intelecto ou evolução para presidir as sessões espíritas, que não definiria nada menos do que um gesto arrogante separatista, que mais tarde se transformaria numa nova vertente religiosa com entidades carregando características primitivas e uma linguagem muito simples de se dirigir ao povo que ali procurava conforto, popularizando a nova Umbanda que surgia a trazendo fama e destaque na época.
Socialmente a Umbanda sofria preconceito vindo da sociedade, política e religiosos que menosprezavam a nova religião que surgia. O próprio segmento religioso que deu a origem à Umbanda, o espiritismo, não via com bons olhos as entidades e costumes que iniciavam os seus rituais e preceitos. Sem falar no próprio candomblé que subjugava a Umbanda, por confrontar seus conceitos e rituais que mexiam constantemente com os Oku (espíritos).
Eu tenho certeza que o sincretismo foi a base da sua estrutura, para agradar tanto os católicos e os espíritas, havendo uma super valorização dos santos católicos nos Congas (altares) e templos. Na tentativa de promover uma simpatia vinculando assim a Umbanda com os anjos e santos, uma forma simples de usar uma religião mais conhecida e respeitada à frente da própria religião que nascia. Na intenção de ser aceita na sociedade da época e usufruir dos resultados que ela poderia trazer, compartilhando do mito em que os adeptos escondiam fundamentos religiosos atrás das imagens católicas.
Mas onde surgem os problemas?
Como toda religião que se estrutura, o caminho é árduo e chega a sofrer uma metamorfose durante a sua jornada, e claro que mais uma vez usaram a força de uma religião mais famosa e forte na tentativa de estabelecer respeito e fama para aquela que nascia. Mesclando assim dicionários africanos aos rituais, cargos e funções, claro que muitas delas nem deveriam existir dentro da Umbanda, simplesmente porque não possui vínculo ou fundamento para tal.
Alguns exemplos podemos observar nos rituais adquiridos em meados dos "anos 80", que surgiam nas mãos dos sacerdotes desta época. Eu tive oportunidade de conhecer pessoalmente o Templo Guaracy, que temperou seus rituais com os conceitos da liturgia Bantu[1], mesclada com as divindades Yorùbá[2], uma pequena mistura que deu certo na época, onde a internet ainda não era a vilã dos grandes templos. Hoje em dia com a interação dos meios virtuais, ficou mais difícil de conseguir manter por muito tempo a falta de informação e equívocos. Mas não ache que eu estou criticando o ritual do templo, afinal o sacerdote responsável pelo Templo Guaracy fez muito pela Umbanda, estruturando e reorganizando a sua liturgia, o que para a própria era muito confusa antigamente, dando origem a nova Umbanda, readaptada para a sociedade contemporânea.
Os danos desta aculturação vieram a longo prazo, onde tivemos o resultado dos iniciados deste templo que partiram para abrir sua casa sem grandes conhecimentos do conceito que estava surgindo. E aqueles Orixás que antigamente eram os representantes das sete linhas de caboclos foram substituídos pelos Òrìsà cultuados entre o povo Yorùbá. Mas antes que possam reinterpretar o que acabo de relatar é preciso entender que os mesmos Òrìsà cultuados pelo Templo Guaracy, ainda sim eram espíritos, que assumiam os mesmo nomes e identidade originários da Umbanda, (sincretisando) só que sob a influência muito maior da cultura afro-brasileira.
Com um ritual sem o Ejé (sangue) e o sacrifício de animais, ela foi crescendo, com os assentamentos muito semelhantes ao do Candomblé, só que consagrados apenas com cânticos, Amacis (banhos de ervas) e sementes sagradas. Em alguns rituais até a Lobassa (cebola) era usado, porem não era cortada conforme a tradição afro-brasileira, quiçá por não terem passados pelos rituais africanos o sacerdote deste templo cortava em duas e oferecia as “Entidades e Orixás” ali cultuados, mais exemplos de vestígios da aculturação religiosa.
Entre os rituais, logo se estabeleceram os cargos para os adeptos do templo e foi alastrando entre as demais escolas Umbandistas dando o start para a africanização da Umbanda. Surgindo assim uma feroz corrida para quem trouxesse mais itens e fundamentos afro-culturais para os rituais, contaminando e distorcendo a filosofia inicial da Umbanda.
Surgindo casos como a Oxum que antigamente era conhecida pela cor azul marinho, que representava as águas profundas dos rios dotadas dos valores doces, movimentos meigos e fertilidade, para se transformar no dourado do candomblé, revigorado da beleza, vaidade, luxo e desejos, um caminho na contramão do passado simples e dedicado da Umbanda inicial. Em alguns casos vemos os Orixás da Umbanda perdendo até a vestimenta e os apetrechos tradicionais da sua vertente religiosa para se vestir como no candomblé, sem conhecimento algum da cultura e paramentos que cada divindade carrega, transformando o Orixá da Umbanda num fantoche desarticulado e sem graça.
(Oxum da cultura Yorùbá)
(Oxum original da Umbanda)
Lembrando das escolas que começaram a reinventar Orixás, alguns universais outros cósmicos, com a finalidade de vender mais livros e conseguir o primeiro lugar no Pódio cultural Umbandista, abrindo uma disputa nacional para quem inventasse mais fundamentos misturando conceitos com tradição e ciência, criando uma confusão cultural e sócio-religiosa.
Algumas escolas começaram a introduzir os “Búzios” nos rituais, mas porque a necessidade dos búzios dentro da Umbanda? Mas por quê? Se a mesma não precisa e nem nunca precisará usar dos mesmos para seus rituais, simplesmente porque as entidades se comunicam aberta e claramente com o consulente e iniciados da Umbanda, sem necessidade de consulta pelos sacerdotes (isas). Os búzios só são necessários nos rituais Afro-brasileiros, porque as “Divindades” não dão passe, não usam da fala para a comunicação direta, salvo em raros casos onde uma divindade pode pedir ou solicitar algo, mas nem uma delas fica horas conversando ou dando passe nos iniciados do Candomblé.
Então porque fazer o uso dos Búzios numa religião que o contato com o espiritual é direto? O pior é quando vemos uma entidade jogando búzios, esta chega a ser a decadência da evolução da própria religião que conta com a confiança e relação da entidade com o mundo dos vivos, para que traga mensagens e até mesmo alertas para os seguidores daquela religião. Então por que uma entidade necessitaria de um jogo de búzios para ver e falar, seria o fim da espiritualidade e da própria estrutura religiosa.
Mas seria impossível relatar tantos casos e problemas religiosos sem dar exemplos, então vamos lá.
A Umbanda produziu um vocabulário próprio, misturando línguas como Tupi-guarani, Kassange, Fon, Yorùbá, o resultado para muitas casas foi um verdadeiro desastre que chega a doer quando vemos. Palavras como Babá que significa pai é usado para as sacerdotisas e Babalao que significa pai do segredo, é usado para os sacerdotes, contudo, o Babalawo é um cargo apenas para os sacerdotes de Ifá, onde nem mesmo os sacerdotes do Candomblé usam, então o que faz na Umbanda? Justamente chegou a hora de entender o porquê do choque cultural e a desvalorização da mesma, se os cargos como estes que são respeitados por todas as vertentes religiosas são usados sem cerimônia alguma nos templos Umbandistas, então como pode haver reconhecimento da mesma perante a comunidade afro-brasileira?
Seria tão mais harmonioso se usassem o titulo de Babalorixá (pai de orixá) e Iyalorixá (mãe de orixá), para seus rituais, seria tão mais confiante ver o Yorùbá devidamente empregado, respeitando assim a origem e a hierarquia da cultura Africana. Mas para quem pensa que o problema está apenas na Umbanda, se engana, há pouco tempo foi lançada uma obra – "Dos Yoruba ao candomblé de Ketu" – onde um dos colaboradores da coletânea registrou o seguinte – [ Ìyá monde ou Bàbá – mulher que cultua espíritos dos reis mortos. Chamam-na também de Bàbá. O Alafim dirige-se a ela como “pai”, pois elas detêm a autoridade do “pai”, como as dirigentes da Umbanda brasileira, também chamadas de Babá] – pág 149. Reginaldo Prandi
Observem que o Roberval, incentiva o uso e ainda confunde conceitos e cargos ao qual não tem como ser absorvido na cultura da Umbanda, sem falar que ele cita a “Umbanda brasileira”, sem dizer quais mais Umbandas existente, será que a Umbanda nasceu no Brasil ou veio de outro lugar sem ser anunciada?
São erros como estes criados por escritores que geram conflitos entre os membros das religiões afro-brasileiras sedentos por falta conhecimento, um caos acadêmico impresso para qualquer um ler a qualquer momento.
Há algum tempo eu postei uma matéria falando sobre o Politeísmo na cultura afro-brasileira, afinal a sua estrutura não condiz com a existência de um único Deus criador de tudo, oportunamente posso observar que a Umbanda é uma religião monoteísta, afinal ela acredita num Deus que ainda não foi definido se é Olorun ou NZambi ou Oxalá, alguns adeptos chegam a confundir o criador com Jesus, claro é o resultado claro dos danos causados pelo sincretismo na cultura Umbandista. Mas uma coisa é certa o monoteísmo é a estrutura desta religião tão clara como podemos ver que as entidades necessitam pedir permissão nos seus trabalhos a uma divindade maior, para que possam atuar. Outras nem chegam a trabalhar, apenas orientam e se exumam de qualquer responsabilidade, deixando a cargo das forças divinas escolherem o resultado final.
E por fim, chego ao resultado desta confusão expressa na mídia, que ainda não projetou nem uma novela, seriado ou filme com um retrato respeitado da Umbanda, que geralmente é representada numa caricatura deformada e mal divulgada, diferente do Candomblé e o espiritismo que já vimos grandes obras produzidas pelas grandes emissoras e Cia. de cinema. Eu acredito que seria preciso uma reciclagem nos conceitos, comportamento e rituais da Umbanda para que pudesse limar aqueles pequenos equívocos que retiram a credibilidade e confiabilidade da mesma.
Por Erick Wolff8
[1] - Cultura Bantu = Camarinha, muzenza, feitura, Bori (nome dado para uma obrigação de Caboclo que não tem nada haver com o conceito do Bọrí).
[2] - Divindades Yorùbá = Òòṣàálá, Ṣàngó, Ọ̀sányìn e etc.
Òòṣàálá