quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Respeito aos nossos mortos

Não importa qual família espiritual pertença o Ẹlẹ́gùn [aquele que passou por rituais], os sacerdotes e iniciados da nossa religião, todos merecem respeito.

Ao falecer a família do iniciado, logo se revela contra a religião afro-brasileira, e preconceituosamente veta a passagem dos rituais e a permanência dos membros da comunidade espiritual.  Quais diretos reservam ao falecido, preservando a sua vontade e a necessidade dos rituais que antecedem o Aṣeṣe ou Arissum [ritual fúnebre segundo a cultura afro-brasileira]?

Nesta quarta feira, dia 03 de novembro de 2010 foi enterrado o sacerdote "Silvio de Xapanã", um Babalòrìṣà [sacerdote] com mais de 30 anos de obrigação, conhecido em toda São Paulo e no Rio Grande do Sul pela comunidade Afrosul.

A família carnal simplesmente proibiu os rituais que proporcionam o start para o Arissum, aquele ritual que começa com o corpo presente depositando oferendas, Ẹ̀kọmi [preparados de água e elementos diversos, para compor a segurança e movimentar o ritual de fúnebre]  e pós aos pés do caixão, para poder formar a primeira roda para Egun [dos mortos da cultura afro-brasileira, diferente de um Oku, entidades da Umbanda], entoar os Orins antes do sétimo dia, nem mesmo embalaram o caixão, ao acompanhamento dos  feitos no santo mais antigos que levam o Ara-aiye [corpo terreno] até a cova.

Tristeza ver que ainda existe a castração dos rituais que antecedem um dos mais importantes cerimoniais de desligamento, qualquer iniciado tem o direito de recebê-lo, desde haja um sacerdote para ministrar e pessoas capacitadas para acompanhar, dependendo do grau do iniciado, haverá uma mudança na forma e conteúdo deste rito.

E por fim, o pior destino que um sacerdote poderia ter que é ser velado por rituais cristãs e receber uma ultima visita de um padre. Como uma praga, esta seria o pior destino de um Babalòrìṣà, a pior maldição de  um iniciado, sendo ridicularizado perante o Ọ̀run [mundo espiritual], ancestrais, divindades e a egrégora dos Egun.

Pensem nas palavras finais, proclamadas por um padre qualquer, como sendo o seu ato final de misericórdia, onde o “Jesus” dos Cristãos o receberá após uma vida de pecado e renegação de um deus que nós desconhecemos, dizendo que o arrependimento da última hora para  a redenção final. Sem preconceito algum, mas não faz parte da cultura Afro-brasileira, não tem por que esperar qualquer benção ou celebração de um padre.

Eu acredito que por medo ou ignorância total, os iniciados da religião Afro-brasileira, não preparam seu testamento, ordenando que os membros da sua família os enterrem conforme seus rituais e preceitos. Acreditando assim, que finalize as suas iniciações e os prepare para a nova vida, quem sabe até sejam cultuados com honras e respeito entre os antepassados dignos e respeitosos.

Por Erick Wolff8

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