Luiz L. Marins
Maio 2016
Toda diáspora tem origem numa cultura tradicional que só
existe em seu local de origem. Fora dele, tudo é diáspora, que pode ser
colonial, ou contemporânea.
A diáspora recria e ressignifica a cultura tradicional de
acordo com as origens e a realidade do local onde surge, e seja qual for, deve
procurar manter-se alinhada com a matriz, tanto quanto possível, mantendo,
porém, sua identidade diaspórica.
A diáspora colonial com o tempo sofra modificações litúrgicas
e conceituais, muitas vezes contrárias à matriz, e por isto, deve, tem o
direito de, tem obrigação de, tomando a matriz como referência.
Entretanto, este realinhamento não é algo simples. Realinhar
não significa “ser” a matriz, e reintroduzir o que não veio, ou que se perdeu, não
significa abandonar o que temos. Mas isto não é um processo simples, devido à resistência
dos líderes da diáspora colonial, que não aceitam rever seus ensinamentos
aculturados.
Por outro lado, a diáspora contemporânea possui um melhor
alinhamento com a matriz. Ela não sofre a resistência dos mais velhos, algo
comum na diáspora colonial, é geralmente aceita e contribui para indiretamente
para o realinhamento da diáspora colonial. Porém, esta diáspora contemporânea também
sofre resistências, não pelo conteúdo atualizado que traz, mas pelo
comportamento inquisitivo dos seus sacerdotes.
Salvo exceções, via de regra, sacerdotes da diáspora contemporânea
desprezam e discriminam a diáspora colonial, ainda que dela tenha vindo, usando
da depreciação e do desprezo, por quererem ser os únicos a portarem o
conhecimento da matriz, criticando as diásporas coloniais que buscam o
realinhamento.
O comportamento de resistência dos líderes da diáspora colonial,
somada ao comportamento inquisitivo dos líderes da diáspora contemporânea, levam
as duas diásporas a uma situação de conflito interna e externamente.
O terceiro fator que dificulta o realinhamento das ambas as diásporas
é a transformação e a ressignificação da própria matriz, que não é homogênea,
possuindo várias sub matrizes.
Assim, o realinhamento da diáspora colonial necessita vir
acompanhado do bom senso, conhecimento e sabedoria. Ele precisa ser feito, deve
ser feito, tem o direito e a obrigação de fazer, mas, sem querer “ser” a matriz,
sem que haja a perca da identidade.
Por outro lado, a manutenção da identidade diaspórica não se
sustenta se for desalinhada com “as origens”, exceto pelo absolutismo e
totalitarismo de seus líderes endurecidos.
Em ambos os casos, o realinhamento só será possível com a
transformação da mente, e a boa vontade de ambos os lados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário