quinta-feira, 24 de junho de 2021

IDOXU NO BRASIL É DO ORIXÁ, OU DA CASA?

Por Erick Wolff de Oxalá
Sacerdote de orixá desde 1989, na tradição do Batuque do Rio Grande do Sul.
22/06/2021



Este ensaio faz algumas reflexões sobre o Idoxu, a quem o Idoxu pertence, e quem pode fazer.

O Idoxu é um preparado que contem segredos do orixá ao qual está sendo feita a iniciação. Nem todos orixá possui Idoxu, Ibeji é um deles:

[...]
não há Idosu para Orisa Ibeji. (Salomom Omojie)
[...]

Aikulola informa que nem todos que se iniciam para Obatala, necessitam de fazer Idoxu de Obatala, mas, apenas os estrangeiros.

[....]
somente alguns sacerdotes de alto ra nao tem que fazer porque pertenecem a certas casas onde tem o ase do orisa no seu corpo por heranca. Para estas pessoas se faz uma cerimonia de instalação de xefe com titulo para faze-los o sacerdotes principais, mas para o resto do mundo, precisam idosu.
[...] (Chief Aikulola Fawehinmi)

Nem todas as divindades tem o idoxú em suas feituras, caso de Ogun, por exemplo (Paula Gomes, Oyo Alaafin).

No Brasil, via de regra, nas casas que fazem a feitura de um iniciado com idoxu, o ato é realizado por um sacerdote que não é do mesmo orixá que está sendo feito. Assim, podemos dizer que Idoxu do Brasil pertence à casa a qual o iniciado está sendo feito, diferente de como é na religião tradicional Ioruba, onde o sacerdote pertence ao orixá que irá iniciar e recebeu o idoxu do próprio orixá.

Quer nos parecer, entretanto, que a forma brasileira de um sacerdote de um orixá A fazer um idoxú de um orixá B, talvez nem sempre tenha sido assim, o que nos permite imaginar que no inicio dos cultos afro-brasileiros, cada orixá fosse feito apenas pelos sacerdotes do orixá que estava sendo feito. Se assim for, ficar por pesquisar porque e quando isso mudou.

Curiosamente, colhemos no RS, da informante Adriana, de que o individuo deve procurar o sacerdote do seu orixá, para que seja feito:

[...]
Uma pessoa de Oxalá deveria procurar um sacerdote de Oxalá, por que uma pessoa de Oyá não poderia mexer na cabeça de uma pessoa de Oxalá, e vice-versa. (Informação de Heloa, apudi Adriana)
[...]

Informante

Adriana Torres, pertence ao Batuque, iniciada em 2005, por Luciano de Oya, filho de Leco de Oya, em Caxias do Sul. Filha carnal de Heloa, faleceu em 2007, ao 55 anos de idade, praticava Umbanda, não informado a nação do Batuque a qual pertencia, morava em Caxias do Sul, Bairro Esplanada.

Referencias

ORISA IBEJI EM ILEBA / ILARO, ENTREVISTAS REALIZADAS COM ARUGBA IBEJI / OLOYE IBEJI. acessado em 22/06/2021 às 16:26 - https://iledeobokum.blogspot.com/2020/01/orisa-ibeji-em-ileba-ilaro-entrevistas.html

Chief Aikulola Fawehinmi e o Òkúta no Ilé-Orí, acessado em 22/06/2021 às 18:40 - https://iledeobokum.blogspot.com/2011/06/erick-wolff8-sao-paulo-07062011-outro.html


Revisado e aumentado em 17/04/2024

A raspagem durante a iniciação, alguns segmentos afro-brasileiros praticam e outros não praticam e nem precisam.

Porém, a necessidade de raspar, é para que acomode sobre a cabeça do iniciado o "Adoxu".

Beniste explica a origem do adoxu do candomblé:

[...] A utilização do osú como marca que distingue o iniciado substitui todas  as outras formas utilizadas em terras yorubá, como o osú, que representado por um tufo de cabelos deixado no alto da cabeça raspada, nos rituais de Sàngó [...] 


Imagem 1

Aqui Beniste informa que o Adoxu é um fragmento da casa:

Imagem 2


Considerações 
O Candomblé convencionou raspar e adoxar, mesmo aqueles orixás que não necessitam de raspagem.

O adoxu é um ipin da casa e não do orixá.


Fonte imagem 1 - Òrun Àiyé, o encontro de dois mundos (J. Beniste) 1997, p. 325
Fonte imagem 2 - Aguas de Osala (J. Beniste) 2001, p. 177

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