quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O BATUQUE REAFRICANIZADO

Por Erick Wolff de Oxalá
Em 04/01/2023



O Batuque reafricanizado busca na sua origem os elementos para completar o que pratica, sem buscar referencias e práticas em outras religiões afro-brasileiras.

 
Em 2020, o professor Ari Oro, publicou: 
 
"O SONHO E O DESENCANTO: A VIAGEM DE UM PAI-DE-SANTO DE PORTO ALEGRE PARA A PROVÍNCIA AFRICANA DE CABINDA"
 
Um estudo que analisa a viagem do Pai Cleon, à Cabinda, província da Angola, em busca da reafricanização, 2012. 

Ari cita em nota de rodapé o conceito de reafricanização do pesquisador Frigerio, vejamos a seguir:  

"Esclarece ainda o antropólogo argentino que, por um lado, a reafricanização distingue-se da africanização, pois enquanto a primeira volta-se para África, a segunda consiste na “passagem da prática de uma variante mais sincrética, como a umbanda (…) ou o espiritismo (…) para uma prática mais Africana, como o candomblé, o batuque ou a santeria” (Frigerio, 2005: 141). Mas, por outro lado, ambos os processos juntam-se e convergem, na medida em que “tem geralmente sido considerados como um só, como busca constante de uma tradição mais pura, mais Africana, e considerada uma estratégia de legitimação em relação a adeptos de outras religiões”. Enfim, Frigerio sustenta que a reafricanização constitui um processo de independência que ocorre em ambientes de diáspora secundária, “em relação a mentores religiosos anteriores, particularmente daqueles em espaços de diáspora religiosa primária”, enquanto “um processo de constituição de uma religião mundial” (Frigerio, 2005: 141)"

Revisado e aumentado em 09/04/2023


 

No artigo do Ari Oro (2020),  Pai Cleon viaja em busca da Reafricanização:  

[...] Essa viagem, embora se insira dentro da temática da “reafricanização”, não seguiu a lógica comum do movimento de peregrinação à África, de “retorno às origens”, de “busca da pureza original”, que ocorre no meio afro-religioso de algumas regiões do Brasil, mas não somente daqui, desde os anos 1960, enquanto estratégia política de legitimação social e simbólica, como alguns autores têm mostrado (Prandi, 1991; Gonçalves da Silva, 1995; Capone, 1999; Frigerio, 2005). 

A reafricanização, conforme Frigerio, 

"é um processo sofrido por pessoas já praticantes do candomblé, do batuque ou da santeria (…) que, insatisfeitas com o conhecimento religioso que receberam, viram-se para a África de hoje, especialmente para a região dos iorubá, como fonte verdadeira de conhecimento teológico e ritual. Por meio desse processo, a África vem a ser vista não só como a origem remota da tradição religiosa mas também como modelo contemporâneo para sua prática (Frigerio, 2005: 141)3. " 

A viagem transatlântica do pai-de-santo de Porto Alegre obedeceu a uma outra lógica. Ela consistiu, segundo o seu próprio dizer, como veremos, na realização de um sonho pessoal e no cumprimento de uma missão sacerdotal. O sonho era conhecer pessoalmente o território dos seus ancestrais religiosos; a missão era trazer para a sua “casa”, em Porto Alegre, uma porção de terra de Cabinda para selar simbolicamente a relação fundamental entre os dois territórios sagrados, Cabinda e sua casa religiosa. 

A análise comparativa efetuada pelo pai-de-santo entre o que observou em Cabinda e o que vigora no Rio Grande do Sul, no que tange sobretudo ao campo religioso, constitui o foco principal desse texto6 . Iniciemos, porém, pela apresentação do protagonista, o Pai Cleon de Oxalá. [...]

Oro em nota de rodapé, completa: 

[...] Reitero que este enquadramento resulta da análise da viagem realizada para Cabinda por pai Cleon de Oxalá, mas não significa, como mostra Leistner, que a tendência à reafricanização não ocorra neste meio religioso. Segundo este autor, no Rio Grande do Sul a reafricanização constitui uma tendência observada em manifestações políticas, enquanto discurso que “busca fornecer parâmetros discursivos para o estabelecimento de projetos políticos, operando ora como fundamento para reconstruções teológicas, ora como matriz de identidades reivindicativas alternativas” (Leistner, 2013: 235) [...]

 

Já o escritor Paulo Tadeu apresentou o seguinte:

“A diferença entre Cabinda e Cambinda:

[...] Quando você, Babalorixá ou Yalorixá, se refere à Nação de Orixás Cambinda” está se referindo à DANÇA FOLCLÓRICA NA QUAL OS DANÇADORES, DE CÓCORAS, SE MOVEM AO SOM DA MÚSICA”? Ou, está se referindo àquela Nação de orixás?...

Na Nação Religiosa de CABINDA, há o ritual da dança (cambindas).

Dos escravos africanos que trouxeram a religião ao Brasil haviam BANTOS (negros cabindas, entre outros).

A Nação de CABINDA (Angola) se encontra na África, tal qual OYÓ, entre outras...

Havemos por bem, de, pedindo licença, chamar a atenção dos mestres de ensinamentos, seus adeptos, e, daqueles que escrevem para os meios comunicativos para que, ao se referirem à CABINDA (Nação dos Orixás) ou à CAMBINDA (dança folclórica) o façam assegurando a diferença, sob pena de confusão daqueles que vão tomar conhecimento, e dos leigos em geral. (P. 33)

Há no Estado do Rio Grande do Sul (Brasil) uma arraigada mania de os religiosos, expressem “cambinda” quando falam naquela Nação de Orixás; CABINDA. Assim procedendo, estes religiosos continuarão alimentando a corruptela linguística e alterando aquele sentido.

É necessário que os nossos Mestres de Ensinamentos Religiosos atentem, com precisão, estas diferenças com vistas a colocar um ponto final nestas distorções.”

Considerações

Baseado na premissa que os nossos ancestrais religiosos vieram de vários locais da África, para uma reafricanização eficiente será necessário que se busque nos territórios similares com o que praticamos, para manter as características. 

Para que as características do culto sejam preservadas, na busca da reafricanização, não basta pegar qualquer elemento que achar bonito e agregar no que pratica, no entanto, o que estiver desalinhado deve ser reconsiderado, assim como o que estiver no contesto pode ser preservado ou até mesmo melhorado.

A tentativa de encontrar as suas raízes levou Pai Cleon até o território banto. 

Antecedendo a viagem do pai Cleon, Paulo Tadeu nos anos 80, em seu livro deu o start neste processo, porem com a bússola apontando para outro rumo, talvez se houvessem as informações que possuímos hoje ele, buscaria na Nigéria, apresentando possibilidades consideráveis para a própria família orixaísta e a sociedade religiosa da época.

Desta forma, necessitamos saber o que cultuamos para saber quem somos, pois todo e qualquer estudo para reafricanização necessita ser feito com muita atenção na origem e responsavelmente para não descaracterizar o Batuque.  

Fontes

Ari Pedro Oro, O SONHO E O DESENCANTO: A VIAGEM DE UM PAI-DE-SANTO DE PORTO ALEGRE PARA A PROVÍNCIA AFRICANA DE CABINDA, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2020, Ciencias Sociales y Religión/Ciências Sociais e Religião, Campinas, v.22, e020018, 2020

TADEU, Paulo Ferreira. Os Fundamentos Religiosos da Nação dos Orixás, 1994, 2ª edição, Editora Toqui, R.S.


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