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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Lendas de Obokun

Lenda de Obokun
Publicado em 12/06/2008
Revisado e aumentado em 09/11/2020



Contam alguns antigos que, quando da criação do mundo, invejosas da perfeição da obra, as entidades malévolas resolveram semear a discórdia entre Obatalá e Ododua. Por isso, difundiram a seguinte versão para o primeiro ato da vida no Universo:
No principio dos tempos, as divindades viviam no Orum, abaixo do qual apenas a imensidão das águas, Olofim, que é também Olodumaré e Olorum – o senhor do Orum, o Céu -, deu a Obatalá, o senhor das vestes brancas, uma corrente, uma porção de terra numa casca de caracol e uma espécie de galinha de cinco dedos, ordenando-lhe que descesse e criasse a Terra.

Entretanto, ao se aproximar do portal do Orum, Obatalá viu que alguma divindades faziam uma festa e parou para cumprimentá-las. Elas ofereceram-lhe vinho de palmeira, mas ele bebeu demais e, embriagado, adormeceu. Ododua, seu irmão mais novo, por acaso ouviu as instruções dadas por Olorum e, ao ver que Obatalá dormia, pegou os apetrechos e foi para a beira do Orum, acompanhado de um camaleão. Naquele local, jogou a corrente, pela qual então desceram. Desceram lá embaixo. Ododua lançou a porção de terra na água e colocou a galinha de cinco dedos em cima dela.

A Galinha começou a ciscar a terra, espalhando-a em todas as direções, para muito longe, até o fim do mundo. Depois, Ododua mandou o camaleão verificar se o solo era firme. Então, Ododua pisou no chão de Idio, local onde se fez sua morada e onde hoje se localiza, em Ifé, seu bosque sagrado.

Quando Obatalá despertou da embriaguez e descobriu que o trabalho já havia sido concluído, percebeu o quanto o vinho de palmeira era perigoso. Assim, proibiu que seus filhos o bebessem por todo o sempre. Em seguida, Obatalá desceu à terra e a reclamou como sua, porque havia sido enviado por Olodumarê para criá-la e reinar sobre ela por direito, uma vez que era mais velho que o seu irmão Ododua – a quem acusou de lhe ter roubado o saco da criação.

Ododua insistia em ser o verdadeiro dono da terra, uma vez que a criara. Os dois irmãos começaram a brigar.

E as divindades que os acompanharam até a terra dividiram-se em dois grupos, cada um tomando um partido deles. Do lado de Ododua, ficaram Obokun (também conhecido por Ajacá).

Oraniã, Obameri, Essidalê, Ossãin (o medico de Ododua), Aguemã e Obalufã. Tomaram o partido de Obatalá Orixaquirê, Alaxé, Tecô e Ijubé. Entre as duas facções ficou Aranfé, o senhor do trovão em Ifé. Foi no alto do oquê Orá (o monte Orá), a poucos quilômetros a nordeste de Ifé, que Ododua e seus companheiros tiveram a primeira morada na terra. Dali sairia para dar combate aos seus parentes Ibos, liderados por Obatalá e Oreluerê.

Quando Olorum soube da disputa, chamou Obatalá e Ododua de volta ao Orum para que cada qual contasse sua versão do acontecido e terminassem com aquela disputa. Depois de ouvir as duas partes, Olorum conferiu a Ododua, criador da terra, o direito de possuí-la e de reinar sobre ela; e ele se tornou o primeiro rei de Ifé.

A Obatalá deu o titulo especial de orixalá, o grande orixá, e o poder de moldar os corpos humanos; e ele se tornou o criador da humanidade.

Olorum então o enviou de volta à terra acompanhados de Oramfé, para manter a paz entre eles; além de Ifá, o senhor do destino; e de Elexijé, o senhor da saúde.


Cegueira e morte de Ododua

A divergência entre Ododua e Obatalá não passa de invencionice das entidade malévolas. O que é certo e verdadeiro, segundo os mais velhos dos mais velhos, é que, um dia, já bem idoso Ododua ficou cego.

Então, mandou que cada um de seus 16 filhos, e um de cada vez, fosse até o oceano buscar água salgada, conforme lhe fora prescrito como remédio.

Cada um que retornava chegava sem sucesso; até que Obokum, o mais novo, finalmente obteve êxito. Ododua lavou os olhos com água salgada e recuperou a visão.

Entre os filhos de Ododua, que tinha a pele mais clara que a de seus conterrâneos e por isso era visto como “Branco”, estão; Ocambi, ogum, Obameri, Euí, Essidalê, Obalufã, Alaimorê, Oni e Obokun, o mais novo. O primogênito foi Ocambi, que, por sua vez, teve sete filhos, de ambos os sexos; estes reinaram, respectivamente, em Ilexá Owu, Sabé, Popô, Ilá, Ibinin e Queto.

Quando ficou cego, Ododua quis indicar Ogum como regente de Ifé. Obameri e Essidalê não concordaram com a idéia para evitar a disputa, Ododua entregou a ogum o governo de Irê.

Com o objetivo de desestimular qualquer tipo de divergência, Ododua dividiu igualmente todo o país e esqueceu-se justamente de Obokun, que estava ausente, pois foi buscar água do mar para curar a cegueira do pai.

Exatamente nesse momento, Ododua tomou conhecimento de que todos os seus outros filhos, exceto Obokun e Oni, haviam roubado suas propriedades e suas coroas deixando apenas a que ele usava no dia-a-dia.

Assim, quando Obokun voltou com a água que devolveu a visão ao seu pai, foi o primeiro legitimamente contemplado – recebeu a espada cerimonial, símbolo de sua autoridade como OUA Ilexá, o rei do país dos Ijexás.

Durante uma das muitas guerras em que se empenhou.

Ogum capturou uma bela mulher chamada Lacanjê e a tornou sua concubina.

Bibliografia Consultada
LOPES, Nei, Kitábu, Senac Rio, 2005

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