quarta-feira, 17 de julho de 2013

A transexualidade e o indivíduo.


Erick wolff

Julho 2013



A classificação do gênero é criado segundo a sociedade determina, seguindo padrões criados pelo homem ou religião. Entretanto, como definir a transexualidade?

Constantemente tropeçamos em casos que não se encaixam aos moldes da sociedade, feitos a imagem de Deus em toda a sua manifestação, agregando elementos macho e  fêmea ao mesmo tempo. Para tentar manter o equilíbrio o homem criou um Deus Reflexo, que existe para lhe servir. A transexualidade não possui espaço nesta sociedade e tentam banir o diferente.

Porem não é assim no òrìsàísmo[1], pois as divindades não se importam com a orientação sexual do indivíduo, desde que ele tenha um bom caráter.

O conceito ioruba do orí[2] traz uma abertura para  a questão da orientação sexual, pois um orí pode ou não carregar a transexualidade consigo; porem, caso a traga do òrun[3], poder-se-ia considerar que as divindades do òrun não se importam com a transsexualidade, ou por outro lado, pensar-se-ia que o individuo pode adquiri-la aqui no mundo físico após a reencarnação. 

Assim, de qualquer forma, adquirida aqui ou lá no òrun, sabemos que para as divindades a transexualdiade não é um tabu, muito menos chega a ser uma maldição, pois elas não discriminam nem tão pouco abandonam o indivíduo, antes ou após a sua aceitação e declaração como transexual.

Caso houvesse qualquer tipo de intervenção, as divindades evitariam aqueles indivíduos que carregam a transexualidade e não aceitariam a pratica do culto a orí, nem tão pouco o culto aos òrìsà seria possível.

Desta forma, podemos considerar que a transexualidade não afeta a espiritualidade do indivíduo, pois notamos que òrìsà não discrimina, nem tão pouco possui qualquer preconceito.

E, segundo ifá, com exceção do dia marcado para que o individuo desencarne, qualquer coisa pode ser alterada no destino daquela individuo, e isso sanciona a adequação sexual, para que seja compatível com a sua essência psicossomática.

Ainda conforme a filosofia de Ifá, qualquer atitude ou comportamento é aceitável pelas divindades, desde que ele não cause mal, nem a si e nem ao outros. Se as divindades condenassem alterações na sexualidade, elas também condenariam as mudanças estéticas, visto que isso altera o físico. Ifá ensina que nós somos nossos juízes e executores, ou seja, só devemos dar satisfações de nossas atitudes para o nosso Orí (Awo Ifádámiláre Agbole Obeme).

Concluindo, infelizmente percebemos que é o homem quem discrimina e possui preconceito. 


Deus reflexo

 

A palavra religião vem do latim religare, que significa religação com o divino, ou seja, um conjunto de crenças, sistemas culturais e sociais que exprimem a vida e tradições de uma sociedade. Este conceito é estabelecido através de símbolos, valores morais, sentimentais e culturais de um povo.
A maioria das religiões narram à origem do Deus central (contendo ou não mais deuses auxiliares), a origem do universo e do próprio homem, mantendo a tradição através da escrita e ou oralidade.
Neste mesmo processo encontramos o “Deus Reflexo”, que foi criado segundo os moldes e necessidades de determinada sociedade, que modela seus conceitos sobre a divindade criada, favorecendo os padrões e exigências daquele povo, ou seja, o Deus Reflexo será sempre um reflexo do seu povo, enquadrando as necessidades sociais e culturais para manter o controle e os desejos da sociedade que o cultua, impondo valores e controlando pessoas,  de forma a manter o poder do sacerdote, através das leis criadas por aquele Deus reflexo.
Ou seja Deus Reflexo – É um "deus" criado e nomeado para refletir os interesses coletivos da nação e necessidades individuais de uma pessoa.

Sobre o informante:

Awo Ifádámiláre Agbole Obeme, Awo Ifá, 37 anos, iniciado há 7 anos, pertence a família do Bàbá Ògúnjimi, Barra Bonita / SP,


Por:
Erick wolff8
Editor da revista www.olorun.com.br, www.sosni.com.br e sacerdote do òrìsàísmo Afro-sul (Batuque), iniciado em 1982, residente em SP, sacerdote desde 1989, fundador da sociedade Axé Nagô Kóbi.



[1] Òrìsàísmo – culto às divindades Yorùbá.
[2] Orí – tradução cabeça, no entanto se refere a uma cabeça abstrata que engloba tudo que está no spiritual, como destino, corpo espiritual, enfim todo o espiritual daquele individuo.  Cada individuo possui um orí e não existe outro igual.
[3]  Òrun - mundo espiritual.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A violência invisível - com Monja Coen Roshi

Por Bàbá Erick Òòṣàálá




Atualmente a palavra da moda é RACISMO, ouvimos isso a todo momento, até mesmo quando algum racista nos acusa de estarmos roubando a identidade do negro, só porque um homem caucasiano foi iniciado na religião de Matriz Africana e se posiciona como Afro-descendente, Mas o que impede de um sacerdote se posicionar como um Afro-descendente? A cor da sua pele?

O RACISMO é praticado diariamente, no entanto, ainda vemos pessoas que não perceberam serem vitima do próprio preconceito, e assume o SINCRETISMO como se fosse uma tradição, isso porque foi criado assim e acostumado a carregar o peso da cruz, não consegue se livrar do sincretismo, assim como não consegue entender que a liberdade depende do indivíduo saber quem ele é....

E foi através do discurso da Monja Coen Roshi, que eu percebi a minha fala, eu venho repetindo estes discurso há muitos anos, e venho sendo taxado de revolucionário, mas como podemos acreditar que uma entidade ou ancestral negro, possa ser reconhecido, ou, representado por uma imagem de um santo católico com traços Europeus, isso é o que eu considero um racismo velado e criminoso para  a nossa cultura, apesar de que muitos consideram fundamento.


Ouçam a fala da Monja e veja como ela de fora traduz a mesma fala que eu venho repetindo há anos; 

[…] mais tarde quando veio a escravatura, que coisa medonha né, nós todos tivemos uma participação nisto, por que nossos ancestrais estavam fazendo isso, nós estávamos lá, como eles estão aqui agora em nós, mas a diferença é o que nós  fazemos com estas informações, nós não podemos repetir aquilo que nós achamos que não foi digno,  de um ser humano… não foi ético…  não foi coerente com princípios, de PAZ, DE NÃO VIOLÊNCIA… Não permitam que você manifeste a religião que você escolheu, por que eu acho que ela não presta…. Aí começaram a esconder a misturar, daí vem a Umbanda... VAMOS FAZER O SINCRETISMO, vamos esconder as nossas deidades, as nossas entidades, por trás dos santos que vocês reconhecem... será que nós ainda não fazemos um pouco disso... no nosso dia-a-dia com filhos maridos, com irmãos parentes, pessoas com quem trabalhamos... tente fazer-me reconhecer o que você esta escolhendo para a sua vida... procure transforma para a minha linguagem [...] (o grifo é nosso)

Observem que a Monja Roshi, relata a violência passiva através do sincretismo e relata que através deste  uma cultura esmaga a outra e sufoca a fé e a liberdade de um povo...

Pos isso se puderem repensar e rever seus conceitos, quem sabe possamos ser mais respeitados e reconhecidos....

http://www.youtube.com/watch?v=nHWmHmwuhoA
próximo aos 21 segundo


Àdimó ore

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Ialorixá Mãe Stella de Oxóssi é a nova 'imortal' da Academia de Letras da BA


Mãe-de-santo foi eleita pelos acadêmicos na tarde desta quinta-feira (25).
Ela ocupa cadeira 33, que era do historiador e professor Ubiratan Castro.



A ialorixá do terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, Mãe Stella de Azevedo dos Santos, também chamada de Mãe Stella de Oxóssi, a partir desta quinta-feira (24), passa a ocupar a cadeira de número 33 da Academia de Letras da Bahia.

A mãe-de-santo recebeu 22 votos dos acadêmicos em sessão realizada nesta quinta-feira (25) com objetivo de escolher o novo nome para vaga deixada pelo historiador Ubiratan Castro, que morreu em janeiro.

Mãe Stella foi comunicada pelo presidente da Academia, Aranis Ribeiro Costa, e aceitou ser a nova "imortal". "Acredito que é a primeira vez que uma mãe-de-santo entra em uma Academia de Letras. Isso é absolutamente pioneiro, não tenho conhecimento disso em nenhum outra do Brasil ou do mundo. Representa o reconhecimento de uma cultura, de uma raça e da história de um povo. É uma figura notável", comemora.

O poeta Castro Alves é o patrono da cadeira 33, que já foi ocupada por nomes como Francisco Xavier Ferreira Marques, Heitor Praguer Frois, Waldemar Magalhães Mattos, além de Ubiratan, que era presidente da Fundação Pedro Calmon.

A Academia de Letras da Bahia tem 40 membros, entre eles, João Ubaldo Ribeiro, José Carlos Capinan, Myrian Fraga, Cid Teixeira, Ruy Espinheira Filho, Consuelo Pondé, Hélio Pólvora, Florisvaldo Matttos e Edivaldo Boaventura.

Mãe Stella é colunista do jornal A Tarde e autora de livros como "Meu tempo é agora", "Òsósi - O Caçador de Alegrias" e "Epé Laiyé- terra viva". Em 2009, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia (Uneb).

Fonte
http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questao-racial/afrobrasileiros-e-suas-lutas/18322-ialorixa-mae-stella-de-oxossi-e-a-nova-imortal-da-academia-de-letras-da-ba

segunda-feira, 22 de abril de 2013

O Tabu da Ocupação

Por Erick Òòsàálá
22/04/2013


O dia em que o Tabu da Ocupação no Òrìsàismo Afro-sul cair, esta religião poderá perder o seu maior fundamento, correndo o risco de deixar de existir sufocada pelo Candomblé e pela Umbanda.



O Tabu da Ocupação no Batuque mantém em sigilo os atos secretos da preparação de uma divindade, dá o direito do sacerdote receber o seu cargo independente da ocupação e sanciona a integridade do iniciado, diante dos fatos do indivíduo não saber que há possessão de uma divindade.

E no caso de quem sabe que se ocupa, será que aceitará passar pelos atos do Axé de fala e testes que são feitos com a divindade?

Independentemente da Ocupação do indivíduo é possível rodar ou não em alguma entidade, pois muitos que rodam não se ocupam.

Sem o Tabu da Ocupacão haverá restrinções para o iniciado receber seu apronte e abrir uma casa, que será determinado pelo indivíduo ter que ser iniciado com a presença da sua divindade, ou seja, ele deverá estar Ocupado (possuído) pela sua divindade, desta forma terá que ser criado o toque de bolar (toque que promove a possessão da divindade) e todos os indivíduos irão se Ocupar no salão, para aqueles que não se ocupam poderão receber apronte? Como ficariam os cargos no Batuque?

As divindades poderão chegar mais que uma vez no mesmo dia? 

Sabendo que se Ocupam, todas as vezes que o sacerdote ou mais velho se ocupar os filhos e netos deverão se ocupar também, ou a hierarquia e respeito à divindade mais velha não será posto em prática?

Deveremos pensar e refletir sobre este assunto, que poderá determinar a diferença entre Batuque, Candomblé e Umbanda... 


Saiba mais sobre o Tabu da Ocupação no Òrìsàismo Afro-sul

Os individuos iniciados no Batuque não sabem que passam pela possessão da sua divindades, que é chamado de Ocupação, sendo que;

Aqueles que se Ocupam não podem mistificar, pois não sabem que se ocupam, como irão fingir algo que não sabem.

O indivíduo quando está ocupado passa por provas e testes que somente são praticados para divindades.

Se o indivíduo não sabe que se ocupa não possui vaidade, não expõe sua divindade na internet e não põe  em duvidas o seu axé e Òrìsà.

Desde a fundação do Batuque, o Tabu da ocupação é respeitado, o que difere da maioria das culturas de matriz africana o tabu da ocupação mantém a ordem e a hierarquia deste povo, pois muitos sacerdotes são iniciados e não se ocupam, desta forma é possível abrir uma casa sem que haja possessão  do Òrìsà dono da casa. 

www.olorun.com.br

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Maracatu dos Urucungos Puítas E Quijengues e ato de Protesto à PM de Campinas

Por Alessandro Oluandeji


Domingo de alegria no Maracatu de 25 anos dos Urucungos Puítas E Quijengues, festa que emanou a tradição Banto e respeito aos ancestrais emanando uma linda energia aos tambores regidos por Alceu José Estevam que fez em suas falas um ato de repúdio ao racismo Institucional, lembrando-se da PM promoveu quando soltou um ofício que seus soldados deveriam abordar negros e pardos no bairro nobre de Campinas – SP


Aquecendo os tambores, impossível não demonstrar meus respeitos a Rainha Ana, a doce e meiga Sinhá que interpretou a dama da Boneca e a Viviane Silva uma linda grávida que mostrou seu amor pelo trabalho com muita leveza e delicadeza, mas elas eram apenas parte de uma família que juntos fizeram com danças e tambores um tributo a nossa ancestralidade.


São vários os nomes a citar, e um trabalho maravilhoso a ser ressaltado, pois como disse Mestre Topete da Escola de Capoeira Angola Resistência:
“Tudo o que fazemos é com amor e alegria e somos a própria resistência dos movimentos pela preservação da identidade negra”
Tenho que citar os parceiros que vieram prestigiar e participar, como Fazenda Roseira, Capoeira Ibeca, Jongo Dito Ribeiro, Ponto de Cultura Ibaô, Grupo de Teatro Savuru, Mandato do Vereador Pedro Tourinho (PT), Militantes do (PT), Militantes do (PSOL), Diretor de Cultura Gabriel Repassi (PCdoB) e um grande número de pessoas do Movimento Negro.

O cortejo com mais de 200 pessoas percorreu algumas ruas do Bairro do Bonfim e em determinado momento passamos na porta do batalhão em que o Capitão Ubiratan chocou o país com o Ofício de que Negros e Pardos devem ser abordados de forma explícita e bizarra, mas ao passar pela PM foi feito um minuto de silêncio e passarmos pelos policiais com olhares de reprovação, voltando a tocar e dar seguimento ao cortejo com eles as nossas costas num ato de protesto que identificou que o silêncio grita pelo fim do Racismo Institucional e deixa o recado que a população Negra e os cidadãos de bem de Campinas não irão tolerar a descriminalização centenária.
Depois do ato, parece que os Deuses milenares nos abençoaram com a chuva quase que imediatamente, nos proporcionando ainda mais energia, rogamos que Nzambi abençoe a todos e que faça deste mundo um lugar melhor para se viver.
Quando o Cortejo voltou à sede dos Urucungos Puítas E Quijengues, tivemos quitutes e a Capoeira de Angola do Mestre Topete, que é mais linda do que havia mencionado meu amigo Leo Lopes que é um militante da cultura afro brasileira.
Eu Oluandeji me orgulhei do movimento cultural e político ali envolvidos nessa linda festa, obrigado Urucungos Puítas E Quijengues pela linda tarde e pelo espetáculo que presenciei.
Para Repercussão, nós somos todos suspeitos!
Fonte - http://religioesafroentrevistas.wordpress.com/2013/02/10/maracatu-dos-urucungos-puitas-e-quijengues-e-ato-de-protesto-a-pm-de-campinas/

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O sagrado e o profano.



Erick Òòṣàálá
03/02/2013

A população afro-brasileira, insatisfeita com os abusos e crimes religiosos que diariamente acontecem, forçando-nos a convivem com a impunidade, infelizmente não há leis que protejam nossos rituais e ou possam coibir os crimes que são cometidos contra nossa sociedade religiosa.

Porem o mais desagradável é testemunhar o abuso por parte dos adeptos da própria religião.


Sabemos que nem todos os adeptos passaram pelos mesmos rituais e conceitos religiosos, por isso, chega a criar um problema para julgar o que é sagrado e o que não é, da mesma forma que percebemos que muitas vezes não conseguem nem sequer saber o que é uma divulgação e o que não passa de exploração da cultura Afro-brasileira.

Uma iniciação requer um ambiente saudável e seguro, há inúmeras preparações que vão desde colher ervas até mesmo preparar comidas e banhos de purificação. Por séculos a nossa cultura luta contra o sistema que tenta nos sufocar e destruir um povo e seus deuses.

Rezas, cantigas, orikis, itan, banhos, oferendas, ebós, entre tantos outros rituais que praticamos nos templos não deveriam sair dos templos, preservando assim a tradição e o sagrado. Somente os iniciados que passaram pelo ritual sabem do poder de repetir uma tradição secular que nos conecta com nossas divindades... Ficamos dias reclusos para alcançar o ápice do sagrado e poder nos carregar de  energias e benção das divindades.... Por isso, cada ritual é sagrado e  deve ser preservado.

Há adeptos que não praticam a maioria dos rituais e por isso acham que é menos importante que os demais, e aceitam que sejam praticados em boates, condomínios e ambientes que não são adequados para eles... O que não quer dizer que o abuso contra a nossa cultura seja aceito por todos os sacerdotes e adeptos que foram devidamente iniciados para as divindades.

Sabemos que por inocência e ou por ignorância certos rituais são ridicularizados, como o ritual de lavagem de uma escada e ou a lavagem da cabeça de um individuo, rituais sagrados que se repetem ano-a-ano nos mais antigos terreiros, o que para quem pratica tais rituais é uma ofensa velos jogados em locais que não são adequados para o ritual.

A Globo no último final de semana, fez uma festa temática vinculada a cultura Afro-brasileira, que não houve representações muito menos rituais, a diferença entre usar um tema e abusar da fé é tão grande, que em determinados momentos fico realmente assustado de ver que a maioria não consegue perceber o que é um símbolo e um ritual... Claro que para isso, o individuo deveria ter acesso a cultura e a rituais que não chegaria a ter por vídeos e mídias virtuais.... Pois não basta ficar estudando na net e ou escolas, é preciso mais que isso... É preciso que seja devidamente iniciado, pelas mãos de sacerdotes reconhecidos e sérios...

E sabemos que ninguém pode dar nada que jamais recebeu de alguém... Por isso a iniciação é muito importante....


TIKTOK ERICK WOLFF

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