Por Bàbálòrìsà Erick Òòsàálá
19/03/2015
O Brasil nunca esteve tão
frágil, quanto a nossa atual situação, quando os nossos antepassados aportaram
aqui, não trouxeram nada além do seu sangue, cultura, religião, tradição e fé,
porem desde o momento que seus pés tocaram o chão os Deuses abençoaram esta
terra santa.
Estes Deuses negros que
acompanharam os povos que vieram da terra do sol e das aldeias dos tambores que
contam histórias e lendas de bravos homens e mulheres, homens dignos foram
escravizados e maltratados sem pena ou dó... Deixaram uma herança, um legado
para nós brasileiros, muito além do sangue derramado nos troncos das fazendas
brasileiras.
Lentamente a cultura dos
negros foi sendo assimilada e incorporada na gastronomia, danças, no gingado da
capoeira e nas lendas populares do país. Durante séculos o homem tentou colonizar
os africanos que chegaram. Os homens brancos tentaram impor sua cultura,
tentando os ensinar a serem brancos, se portarem como eles achavam que seria
conveniente, sem respeitar a sua identidade, impondo até mesmo a sua fé.
O sofrimento e a falta de
respeito com a identidade negra, o subjugando até hoje, quando vemos o homem
colonizador tentando pregar o seu deus pessoal, negando a identidade negra, com
seus anjos, santos e santas católicas, nos perseguindo nas ruas, lares e
colégios, destruindo nossos terreiros e locais santos, queimando a nossa
história e esfolando a memória dos negros e afro-descentes, levantando cruzes
em nossas portas, tentando esconder o legado que os escravos nos deixaram.
O mundo foi testemunha do
holocausto Judeu, e da degradação do homem negro, sendo vendido pelos seus
próprios conterrâneos e se tornando lixo humano nas mãos de seres humanos
desprovidos de sentimentos e humanidade, degradaram a sua dignidade e a sua
alma, tentaram destruir o que possuem de mais puro, mas em momento algum o
homem negro se rendeu a personificação do mal, não retornando a maldade a qual
foram expostos.
E o que o homem
contemporâneo nada fez para indenizar o homem negro escravizado em terras
Brasileiras. Acredito que alguém, em algum momento pensou que o sangue
derramado nas ruas, lavouras e senzalas jamais secou de verdade, que as vozes,
choros e lamentos nunca pararam de ecoar por entre as ruinas das construções
que abrigaram os terrores e atrocidades cometidas contra os descendentes
africanos inocentes.
Parem e imaginem o
sofrimento, pensem no negro e na sua cor, na chibata tocando a pele e cortando
como se fosse uma faca afiada cortando o couro, sintam a dor e as lagrimas
escorrendo, na angústia sufocada de cada alma que deixou nos deixou a sua
riqueza, as custas do sofrimento, que dedicou a sua vida ao escravagista
impiedoso e tirano...
Escutem as nossas cantigas
que cantam alegrias e tristeza, sintam os nossos tambores marcando o compasso
do coração em vários ritmos, eles jamais pode parar, por que estes tambores nos
dão vida, estas cantigas acalmam as nossas almas.
Ouças os passos na roda,
ouçam as letras do que cantamos, elas contam as lendas e histórias dos nossos
antepassados e trazem alegria para esta terra, não nos amordacem, não nos
calem, pois cantamos cantigas e lamentos de homens e mulheres que foram
brutalmente massacrados, ou rezamos cantando para grandes homens e morreram por
nós, e os lembramos nas cantigas, não no calem ou esqueceremos dos nossos
antepassados e quem somos.
Não tentem apagar a chama do
nosso coração, pois elas mantem a chama da fé, das nossas divindades e deuses,
saibam que o Olódùmarè sempre foi um deus misericordioso, jamais amaldiçoou
aqueles que escravizaram seu povo, jamais mandou pestes ou maldiçoes para
aqueles que os roubaram de suas terras, que mataram seus filhos e parentes.
Olódùmarè é, e sempre será
um bom Deus, abençoando a todos que existem no mundo, cedendo alimentos aos
seres humanos e nos ensinando a compartilhar o pouco que temos com a
comunidade, independente de credo ou fé, ele nos ensina a compartilhar o pouco
que temos e dividir com as pessoas a nossa volta, isso se chama Ipèjé.
O ritual sagrado do Ipèjé,
aproveita-se tudo, separando e aproveitando tudo que a natureza nos oferece, como
grãos cozidos, verduras, legumes, doces, carne, tudo deve ser preparado,
sacralizado e compartilhada para a comunidade.
Não exigimos nada além de
podermos dar continuidade aos nossos rituais, de poder manter a tradição daqueles
que foram abduzidos da sua terra e escravizados em terras distantes, morrendo
sem nunca ver a sua terra novamente. Muito de nós morreram e foram indenizados,
não nos tirem a única coisa que nos orgulhamos, não nos colonizem com deuses,
deixe-nos cultuar as nossas divindades e honrar nossos antepassados em paz.
Não queremos nada além da
liberdade de cultuar os nossos deuses, tocar nossos tambores, cantar nossas
orações, lembrando os feitos dos nossos antepassados em cantigas.
Nos deixem viver a nossa
vida simples e cotidiana, nos deixem sonhar com a terra dos nossos antepassados
enquanto cantamos como são lindas as terras que eles viveram, como foram homens
bravos e misericordiosos.
Não nos acorrentem, não nos
matem, não nos escravizem novamente.