segunda-feira, 10 de maio de 2021

DIFERENÇAS DOS RITUAIS FUNEBRES PARA OS MORTOS DO BATUQUE

Por Erick Wolff de Oxalá

Sacerdote de orixá desde 1989, na tradição do Batuque do Rio Grande do Sul

26/04/2021

Respeitando o direito de cada um e a liberdade de culto, este ensaio tem por finalidade esclarecer alguns conceitos sobre o Arissun e o Egun, e rituais de origem Ioruba, na tradição do Ilê Axé Nagô Kóbi, tradição Batuque do Rio Grande do Sul. 

A palavra Ibo é uma introdução recente que expressa adequadamente o que praticamos. Não há registro de que os mais velhos a utilizavam, usualmente utiliza-se a palavra Balé. Nesta imagem poderemos ver a tradução:


O templo possui um local reservado para o culto aos ancestrais, onde se fazem sacrifícios e oferendas para os mortos.

No Ibóku ficam os assentamentos de Egun, onde veneramos a memória dos nossos ancestrais.

Filhos e netos são descendentes, não são ancestrais, por isso, não se abre Ibóku com filhos nem netos.

No Ibóku ou no Balé não se cultua orixá, pois orixá não é, nem vira Egun.

Não há culto de Egungun ou Baba Egun, no Batuque do Rio Grande do Sul. Não é possível dizer que um Babalorixá quando morre virará Baba Egun, simplesmente baseando-se no cargo dele.

Homens e mulheres são cultuados no Ibóku do Batuque do Rio Grande do Sul. 

Os iniciados terão seus rituais fúnebres garantidos, que poderão variar conforme a sua graduação.  Todo e qualquer iniciado no Batuque, tem o direito de um ritual fúnebre, no entanto, nem todos terão um arissun completo, pois dependerá da sua graduação e iniciação.  

Antes de rituais de Bori, iniciações ou eventos religiosos, são feitas oferendas ou sacrifícios no Ibókuconforme a orientação do orixá da casa através do jogo de búzios. 

Os rituais fúnebres variam, podendo durar 12Hrs, 24Hrs, 3 dias, 7 dias, 32 dias, 3 meses, 6 meses, ou, chega a um ano, conforme os ritos ou cerimonias exigidas, sendo que cada caso é um tempo de preceito.


Considerações finais:

Ibóku é diferente de balé. 

Não se cultuam Egungun, nem Baba Egun. 

O cargo do Babalorixá não o torna um Baba Egun. 

Orixá não vira Egun.

Homens e mulheres são cultuados no Ibóku.


Ilê Axé Nagô Kóbi

ILÊ AXÉ NAGÔ KÓBI | Fundado em 1989 (wordpress.com)


sábado, 8 de maio de 2021

BRONZE: A RIQUEZA DE OXUM

 Por Erick Wolff de Oxalá


Sacerdote de orixá desde 1989, na tradição do Batuque do Rio Grande do Sul

26/04/2021


Respeitando o direito de cada um e a liberdade de culto, este ensaio tem por finalidade esclarecer alguns conceitos sobre Oxum divindade de origem Ioruba, cultuada na tradição do Ilê Axé Nagô Kóbi, tradição Batuque do Rio Grande do Sul. 




Na diáspora, considera-se que Oxum seja a divindade do ouro e da riqueza, não é errado, pois a cor do ouro lembra muito o mel, ao qual é um elemento muito usado para oxum, na religião Batuque do R.S. 

No entanto, não é possível ignorar os fundamentos da origem de Oxum, pois na Matriz, onde o culto de Oxum esta bem vivo e ativo, fala-se que a riqueza de oxum está no Bronze, conforme a imagem a seguir: 
Estes versos narram a riqueza de Oxum, e é com o bronze que Oxum enfeita os seus filhos.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

BORI E ORI SÃO OS CAMINHOS PARA A BOA SORTE.

Por Erick Wolff de Oxalá

Sacerdote de orixá desde 1989, na tradição do Batuque do Rio Grande do Sul

26/04/2021


Respeitando o direito de cada um e a liberdade de culto, este ensaio tem por finalidade esclarecer alguns conceitos e rituais de origem Ioruba sobre o Ori e o Bori, na tradição do Ilê Axé Nagô Kóbi, tradição Batuque do Rio Grande do Sul. 



Ori uma palavra Iorubá que pode ser empregada a diversos significados, porém, quando falamos do conceito de Noção de Pessoa, estamos nos referindo a tudo que nos representa no orun (mundo espiritual). 

Ori não possui gênero, destina a nossa pessoa enquanto vivos, e após a nossa morte, não existirá mais, pois cumpriu a sua finalidade enquanto estávamos vivos. Por isso, não consideramos Ori um orixá. 

O Bori, ritual de origem ioruba também conhecido como oribibó, através das oferendas, fortifica, apazigua e equilibra Ori. Nesse ritual pedimos vida longa, prosperidade, amor e saúde. 

Assim, Iku, a personificação da morte, não está, de nenhuma forma, relacionada com o rito do Bori. 

Ao seguirmos os caminhos que o oráculo informa, poderemos alcançar o sucesso, se formos capacitados e fizermos a nossa parte. Qualquer individuo poderá fazer o Bori sem necessidade de vínculos com a casa religiosa, podendo frequentar outras religiões, dando manutenção quando necessário, determinado pelo oraculo do sacerdote de orixá. 

O Bori dos filhos da casa poderá conter uma cremeira (um recipiente que possui elementos do culto do Ori) e/ou uma quartinha, e após a sua morte, a cremeira deve ser desfeita. 

Ori determinará o que ele deseja comer, é feito um jogo para aquele momento. Dificilmente Ori determina bichos de 4 pés, pois geralmente usa-se aves, peixe, comidas secas, entre outros elementos.

No Bori não há necessidade de jogar o orixá, pois o Ori não irá comer com o orixá nem precisa o orixá ser convidado para comer. O Bori é para que Ori possa comer completamente e sozinho, reforçando a individualidade daquela pessoa, e criando caminhos para a felicidade daquele individuo. Se Ori não permitir ou sancionar orixá não consegue ajudar.  

Considerações finais:

Ori é uma palavra Ioruba, que possui diversos significados, porem ela pode ser usada para resumir todo o conceito de noção de pessoa.

Ori se alimenta sozinho, e pede através do oráculo o que ele deseja comer. 

O Bori pode ser feito para clientes da casa sem necessidade de uma cremeira, e quando os filhos possuem uma, esta deve ser desfeita após a sua morte.

No Bori não devemos louvar Iku, e sim pedir que se afaste da nossa casa e vida. 


Ilê Axé Nagô Kóbi

ILÊ AXÉ NAGÔ KÓBI | Fundado em 1989 (wordpress.com)


terça-feira, 20 de abril de 2021

O CANDOMBLÉ DIZ NÃO AO SINCRETISMO EM 1983

Artigo publicado por Babá Caio de Odé 

Em 19/04/2021



No ano de 1983, Iyalorixás assumiram a crença (Candomblé) como uma religião independente da católica.

“Daqui para frente, os filhos de gente de Santo não vão mais aprender sua tradição dos Orixás em sincretismo com a religião católica. As iyas e babalorixás da Bahia não querem, também, permitir mais que sua religião seja tratada como folclore, seita, animismo ou religião primitiva, ‘como sempre vem ocorrendo neste pais, nesta cidade’. Querem também dar um basta à utilização de seus trajes, e rituais, em concursos oficiais ou de propaganda turística” - Jornal da Bahia Salvador, 12 de agosto de 1983
“Mãe Stella participou ativamente da recente Conferência Mundial da Tradição dos Orixás. Ela não tem dúvida de que esta atitude deverá ter ressonância entre a população. Sobre o que a Igreja Católica vai dizer? Ela responde: ‘O Pai de Santo que tiver coerência com seus princípios não vai mais sincretizar, mas vai passar para seus filhos os nossos conhecimentos. Quanto ao que pode dizer a Igreja, o culto, o pensamento é livre’.” - Jornal da Bahia Salvador, 12 de agosto de 1983
“Precisamos ser respeitados como religião e não como faz a imprensa, por exemplo, daqui de Salvador, que inclui nossas casas de culto nas colunas de folclore. - Já passamos do tempo de ter que esconder nossa religião. Nossos antepassados, para não serem massacrados foram levados ao sincretismo. É isto que queremos parar de fazer.”
Mãe Stella de Oxossi - Jornal da Bahia Salvador, 12 de agosto de 1983
Ao público e ao povo do Candomblé
“...As Iyas e Babalorixás da Bahia, coerentes com as posições assumidas na II Conferência Mundial da Tradição dos Orixá e Cultura, realizada durante o período de 17 a 23 de Julho de 1983, nesta cidade, tornam público que depois disso ficou claro ser nossa crença uma religião e não uma seita sincretizada...
...Não podemos pensar, nem deixar que nos pensem como folclore, seita animismo, religião primitiva como sempre vem ocorrendo neste pais, nesta cidade, seja por parte de opositores, detratores: muros pichados, artigos escritos - “Candomblé é coisa do Diabo”, “Práticas africanas primitivas ou sincréticas”, seja pelos trajes rituais utilizados em concursos oficiais e símbolos litúrgicos consumidos na confecção de propaganda turística e ainda nossas casas de culto, nossos templos, incluídos, indicados, na coluna do folclore dos jornais baianos...
... deixamos pública nossa posição à respeito do fato de nossa religião não ser uma seita, uma prática animista primitiva consequentemente rejeitamos o sincretismo como fruto da nossa religião desde que ele foi criado pela escravidão à qual foram submetidos nossos antepassados. Falamos também do grande massacre, do consumo que tem sofrido nossa religião [...] Os do sensacionalismo por parte da imprensa, onde apenas os aspectos do sincretismo e suas implicações turísticas (lavagem do Bonfim, etc) eram notados, por outro lado apareceram a submissão, a ignorância, o medo e ainda a “atitude de escravo” por parte de alguns adeptos até mesmo Iyalorixás, representantes de associações “afro”, buscando serem aceitas por autoridades políticas e religiosas. Candomblé não é uma questão de opinião [...] Vemos que todas as incoerências surgidas entre as pessoas do Candomblé que querem ir à lavagem do Bonfim carregando suas quartinhas, que querem continuar adorando Oyá e Sta. Bárbara, como dois aspectos da mesma moeda, são resíduos, marcas da escravidão econômica, cultural e social que nosso povo ainda sofre. Desde a escravidão que preto é sinônimo de pobre, ignorante, sem direito a nada a não ser saber que não tem direito; é um grande brinquedo dentro da cultura que o estigmatiza, sua religião também vira brincadeira. Sejamos livres, lutemos contra o que nos abate e nos desconsidera, contra o que só nos aceita se nós estivermos com a roupa que nos deram para usar. Durante a escravidão o sincretismo foi necessário para a nossa sobrevivência, agora em suas decorrências e manifestações públicas: gente de santo, Iyalorixás, realizando lavagem nas igrejas, saindo das camarinhas para as missas etc, nos descaracteriza como religião, dando margem ao uso da mesma como coisa exótica, folclore, turismo. Que nossos netos possam se orgulhar de pertencer à religião de seus antepassados, que ser preto, negro, lhes traga de volta a África e não a escravidão. Esperamos que todo o povo do Candomblé, que as pequenas casas, as grandes casas, as médias, as personagens antigas e já folclóricas, as consideradas Iyalorixás, ditas dignas representantes do que se propõem, antes de qualquer coisa considerem sobre o que estão falando, o que estão fazendo, independente do resultado que esperam com isto obter [...]. Antes o pouco que temos do que o muito emprestado. Deixamos também claro que nosso pensamento religioso não pode ser expressado através da Federação dos Cultos Afros ou outras entidades congêneres, nem por políticos, Ogãs, Obás ou quaisquer outras pessoas que não os signatários desta. Todo este nosso esforço é por querer devolver ao culto dos Orixás, à religião africana a dignidade perdida durante a escravidão e processos decorrentes da mesma: alienação cultural, social e econômica que deram margem ao folclore, ao consumo e profanação da nossa religião.
Assinaram:
- Menininha do Gantois - Iyalorixá do Axé Ilé Iya Omin Iyamassé
- Stella de Oxossi - Iyalorixá do Ilé Axé Opô Afonjá
- Tete de Yansã - Iyalorixá do Ilé Nasso Oke
- Olga de Alaketo - Iyaloriá do Ilé Maroia Lage
- Nicinha do Bogum - Iyalorixá do Zogodô Bogum Malê Ki-Rundo”
Fonte: Jornal da Bahia Salvador, 12 de agosto de 1983

domingo, 18 de abril de 2021

EQUIVOCO ENTRE A INTERJEIÇÃO OXALÁ COM A DIVINDADE IORUBA OXALÁ

 Erick Wolff de Oxalá

18/04/2021



Este artigo tem a finalidade de desfazer o equivoco entre a interjeição e a divindade ioruba Oxalá, e a possível origem do nome Árabe. 

Vejamos o que seria uma interjeição:

Significado de Interjeição

substantivo feminino

Palavra que serve para exprimir de modo enérgico e conciso um sentimento violento, uma emoção, uma ordem, como ah!, ai!, psiu! [dicionário online]

A interjeição oxalá:

Significado de oxalá

interjeição

Exprime o desejo muito forte de que certa coisa aconteça; tomara!, queira Deus!: oxalá tudo saia como planejamos.

Etimologia (origem da palavra oxalá). Do árabe in xā llāẖ, "se Deus quiser" [dicionário online]

Sinônimos da interjeição oxalá:

Sinônimos de oxalá

oxalá é sinônimo de: tomaraassim sejasalve  [dicionário online]


O substantivo masculino Oxalá

substantivo masculino

[Religião] No panteão iorubá, divindade superior entre os orixás; obatalá.

Etimologia (origem da palavra oxalá). Do iorubá orixaala, de Orixa-n-la, "orixá supremo". [dicionário online]

 

Considerações finais 

A interjeição é um desejo forte de algo que aconteça, como exemplo da expressão oxalá na sua origem árabe, não tem nada a ver com a divindade iorubá Oxalá. Em hipótese alguma o nome da divindade Oxalá tem alguma ligação com os Árabes. Sendo um equivoco tentar vincular a interjeição com a divindade, tanto por este orixá não ter origem árabe.


Referencias virtuais:

Dicionário online

sexta-feira, 2 de abril de 2021

REPORTAGEM DE A TARDE MENCIONOU RITO DO CANDOMBLÉ POUCO CONHECIDO: O OLOROGUM

Por Cleidiana Ramos

Postado em 02/042021


O Olorogun ou Lorogun é um rito do candomblé que não é muito citado mesmo em estudos clássicos sobre essa religião. Assim é uma preciosidade a reportagem publicada por A TARDE na edição de 28 de fevereiro de 1974 que faz referência a ele.    

Essa celebração marca, em alguns terreiros, um tempo de pausa encerrando um ciclo e o começo de outro. Essa celebração coincide com o tempo especial para os católicos que é a Quaresma. Em algumas comunidades o novo tempo é marcado pelo Sábado de Aleluia, que acontece amanhã.


Para alguns terreiros, o Olorogun também chamado de Lorogun, inclui a encenação de uma batalha. Em  História de um terreiro nagô,  Descoredes Maximiliano dos Santos, Mestre Didi, descreveu esse rito no Ilê Axé Opô Afonjá.



Fonte - 
Reportagem de A TARDE mencionou rito do candomblé pouco conhecido: o Olorogum (uol.com.br)

TIKTOK ERICK WOLFF

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