Por Erick Wolff de Oxalá
Sacerdote de orixá desde 1989, na tradição do Batuque do Rio Grande do Sul
02/02/2022
Respeitando o direito de cada um e a liberdade de culto, este ensaio tem por finalidade esclarecer alguns conceitos e rituais de origem Ioruba sobre o Orixá e a tradição do Ilê Axé Nagô Kóbi, da religião Batuque do Rio Grande do Sul.
Diante do crescente movimento e da divulgação do segmento Batufá (Batuque + Ifá) e Batublé (Batuque + Candomblé), que não sabemos quem deu origem, mas que tem tomado visibilidade nas atuais mídias sociais, o Axé Nagô Kóbi, vem a publico esclarecer alguns pontos sobre os seus costumes e tradição.
Primeiramente na família Kóbi existem ex-candombecistas que abandonaram a sua antiga religião para seguir e amar o Batuque, assim como houve Batuqueiros que abandonaram a sua tradição e seguiram Ifá, ou o Candomblé. Todos possuem o direito de ir e vir, e ao se converterem à uma nova religião é natural que abandonem a antiga e recomecem tudo de novo. E será sobre este recomeço que iremos pautar este ensaio.
1 - Qualquer individuo que se converta para o Batuque dentro do Ilê Axé nagô Kóbi, este irá despachar todos os seus fundamentos, louças e okuta, caso tenham, e recomeçar tudo de novo, pois respeitosamente não reaproveitamos igbas, okuta ou qualquer louça que tenha sido sacralizado em outra religião.
2 - A iniciação: o orixá ao qual aquele individuo foi feito será mantido, houve casos aos quais a pessoa não era de determinado orixá ao qual informava, e, diante um apejo ( de alguns sacerdotes da família, foi feito um apejó (assembleia de sacerdotes) e definido qual procedimento será tomado, acompanhado pela orientação do oraculo e das próprias divindades.
3 - Orixás não cultuados na tradição do Batuque: respeitaremos e, esta pessoa será indicada para casas de candomblé (conhecidas) para que possam cuidar e dar continuidade do espiritual daquele individuo. Assim não trocando de orixá da pessoas, somente para manter na nossa casa.
4 - O orixá do Batuque é o mesmo Orixá do Candomblé, desta forma, não haverão duas possessões, mas quando assim houver manifestação do orixá, este seguira os fundamentos e costumes do Batuque inclusive ao referido tabu da ocupação, e terão liberdade de serem eles mesmos. Não poderão falar até o dia ao qual seja dado o axé de fala, pois o orixá do Candomblé não passa pelo axé de fala e nem possui o mesmo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em nossa casa, o individuo que migrar do Candomblé para o Batuque deverá seguir apenas o Batuque.
O orixá do Batuque e do Candomblé é o mesmo, sendo assim não existe duas manifestações do mesmo orixá.
O orixá quando desejar manifestar, seguirá os fundamentos e costumes do Batuque, se comportando como os orixás do Batuque se portam.
Importante destacar que não haverá múltiplas iniciações, nem mesmo terá orixás diferentes um para cada religião.
Orixá do Batuque possui o axé de Fala, e quando assim o tiver pode cantar e falar livremente no salão, o orixá do Candomblé não possui axé de fala.