terça-feira, 15 de agosto de 2017

O CULTO AOS MORTOS NO BATUQUE NÃO É (E NÃO PRECISA SER) UM CULTO DE EGÚNGÚN.

Erick Wolff de Oxalá
Agosto de 2017
Revisado e aumentado em 26/03/2021


“De modo algum o ilé-ibo-akú (ibokú)*, a casa do culto aos mortos do lésè òrìsà (casa de orixá), deve ser confundida com o lèsànyìn, a casa do culto de egúngún dos lésè egúngún (terreiro de eégún).

No ibokú são cultuados os espíritos dos iniciados, sacerdotes (tisas) iniciados no culto dos òrìsà.

No lésànyin são cultuados os ará-òrun em geral, e os espíritos daqueles que foram iniciados no mistério dos egúngún”

Juana Elbein dos Santos & Deoscóredes M. dos Santos,
“O Culto dos Ancestrais da Bahia, o culto dos eégún”,
Tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura

In: Olóòrìsà, escritos sobre a religião dos orixás,
 (Org.) Carlos Eugênio Marcondes de Moura,
Ed. Ágora, 1981, p. 171.


No texto de chamada deste pequeno artigo, Juana Elbein e seu esposo, Mestre Didi, esclarecem que existe uma diferença entre o ibo, local de culto aos mortos da tradição do terreiro de orixá, e o lèsànyìn, local de culto de baba egun.

Em ioruba, osso se escreve egungun, e o espírito cultuado através deste osso chama-se egúngún (nome).

O culto de baba egun no ilèsànyin, do terreiro de egúngún nada tem a ver com o culto dos ancestrais religiosos no balé (ibóku) de uma casa de orixá. O que se faz no balé (ibóku) do Batuque não tem nada a ver com o que se faz no lèsànyìn do culto de baba egun.

No Batuque do RS, no balé (ibo) se cultua os espíritos dos mortos, babalorixás e ialorixás fundadores (as) das tradições do batuque, e ancestrais das famílias religiosas, mas não existe no Batuque o osso deste ancestral ali presente, naquele chão.

Tem-se notícia que alguns sacerdotes (?) tem o costume de pegar ossos em cemitérios para montar um balé, mas isto, além de estar completamente errado, ainda é crime previsto em lei. Tal prática nada tem a ver com o culto tradicional do ancestral no Batuque e deve ser completamente abolida.

No Batuque, o culto é feito à memória dos nossos ancestrais religiosos, mas os ossos destes ancestrais não estão enterrados ali, por isso, não precisamos de ojé, por que não estamos fazendo culto de baba egun. O local de adoração aos mortos, no batuque, pode ser feito num buraco no mato, ou caso tenha espaço, no pátio do templo; podem destinar um pequeno local para adoração, que o Batuque chama de balé (ibokú), local de culto aos mortos.

Quando cultuamos a memória do morto, nossos ancestrais, criamos um elo entre a comunidade e os mortos através do balé (iboku); desta forma, os descendentes que possuem casa aberta e todos os axés, podem ter um balé (ibóku) em seus templos tão logo seja possível, para que os ancestrais possam abençoar, proteger e orientar aquela comunidade.

Todos os lados do batuque (Jeje, Ijesa, Kambina e Oyo) possuem rituais e fundamentos de egun, no entanto, Kambina é a que mais e destaca pela sua peculiar familiaridade com Xangô Kamuka e os rituais dos mortos da comunidade.

Assim, os rituais fúnebres do Batuque do RS são ministrados pelos babalorixas e iyalorixas, prontos de todos os axés, e inclusive, possuem fundamentos e segredos dos rituais fúnebres, para atuarem dentro do balé (ibóku) da casa de orixá. Não é necessário a presença de um ojé, pois este rito fúnebre do Batuque nada tem a ver com o que se pratica no lèsànyìn (léssanin) do culto de baba egun, pois nos terreiros de Orixá, como o culto é para memória dos mortos, não precisa do osso; bastam-se os paramentos ou utensílios que o representem. Por isso, repetimos, ojé é desnecessário. Um sacerdote que faleceu, não se torna Baba Egun simplesmente pelo fato do seu cargo de Baba, sendo um equivoco afirmar que o  Baba falecido no Batuque é um Baba Egun.

O nome do ritual fúnebre do batuque chama-se orissun ou, arissun ou, sirrum. Assim que o individuo falece, iniciam os rituais com corpo presente. Prepara-se a pessoa, o caixão, fazem rituais sobre ele, inclusive dançam em volta e depois levam este caixão embalando ao som de cantigas fúnebres. Após isso, os rituais levam sete dias, no ultimo despacha todo o carrego, e guarda o luto que poderá chegar a um ano.

Aos sacerdotes que possuem balé (ibóku), anualmente costumam fazer uma festa para os mortos, com muita comida e rituais. Antigamente os mais velhos chamavam de missa de Egun. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como informamos acima, o culto aos ancestrais iniciadores do Batuque do RS são de exclusividade dos sacerdotes de orixá, e o culto da memória do falecido não necessita do osso, e não faz nenhum sentido pegar ossos em cemitérios de cadáveres desconhecidos, para cultuar como ancestral.

Assim os sacerdotes do Batuque que sabem como praticar seus rituais aos mortos desta comunidade, não necessitam de um ojé, sacerdote de outra religião, que é o culto de baba egun, e nem cometerem o crime de buscarem ossos em cemitérios.

Para finalizar, tenham em mente que cultuar um ancestral religioso no balé (ibóku) de uma casa de orixá, não tem nenhuma relação com o culto de baba egun no terreiro de egúngún. Misturar os dois cultos é se perder pelo caminho. 

*Diferente do que a autora informa "ilé-ibo-akú (ibokú)", os mortos em Ioruba é Òkú, por motivos de não podermos modificar a referencia, foi mantido o texto.

domingo, 13 de agosto de 2017

NAÇÃO CABINDA, ATACADA E DESMORALIZADA

Por Jorge Verardi

Meus irmãos, mais uma vez tenho que vir a público para mostrar a minha indignação com a matéria publicada pelo Babalorixá Júlio Cesar Ferro de Xangô Agandjú, com todo respeito que tenho pelo irmão, sei de sua competência como estudioso, pesquisador e professor da Língua Yorubá, acho importante para aquelas pessoas que queiram saber a história da Africa e suas Nações, assim como seus dialetos, mas quando os negros vieram para o Brasil, durante a viagem em porões do navios, os negros escravos vinham de todas as nações, consequentemente de diversos dialetos, não podendo se comunicarem uns com os outros, exatamente para que não fizessem rebelião, assim que por necessidade de comunicação eles criarão palavras e dialetos para poder se comunicar, e aqui chegados os próprios negros deturparam e mesclaram seus dialetos, porque uma religião que é transmitida de boca a ouvido, e oralmente, no decorrer dos tempos é normal que sofra mais deturpação linguística, não me interessa saber da história da Africa, não me interessa saber das suas mudanças, não me interessa saber que a Cabinda hoje é apenas uma província de Angola, o que me interessa o o que os nossos ancestrais trouxeram para o Brasil, e nos deixaram, um legado a ser respeitado por todos nós Africanistas, dizer que a Nação de Cabinda não existe, que é uma invenção é dizer que todas as demais não existem, que pai Valdemar de Xangô Kamuká, foi invenção, não aceito que uma nação seja enxovalhada, desmoralizada, denegrida, por isso tudo, em nome da Afrobrás e em meu nome como Babalorixá da Nação Gegê Ygexá, protesto contra esta matéria e convido a todos os irmãos da Nação Cabinda e seus líderes os quais tenho o maior respeito e demais Nações para ocuparem esta rede social para também protestar contra esta matéria, meu não rotundo a esta matéria.

Meu Agô para todos e muito Axé.

Fonte - 
https://www.facebook.com/jorge.verardi.5?hc_ref=ARRcAUUuXdEQ5rbs0qS8QVjaG5i-YH9XiE6Fr9ahzNqfM2SqqXhBrVQlRLbsuyF5goQ&fref=nf

sábado, 12 de agosto de 2017

ARTIGO EM DEFESA À CABINDA/KANBINA DO BATUQUE DO RIO GRANDE DO SUL

Por Charles Demétrio S da Silva (Hùngbónò Charles)
Historiador, Professor e Pesquisador da cultura africana e afro-brasileira

12 de agosto de 2017



Resumo
O presente trabalho tem como principal objetivo a defesa da vertente religiosa Cabinda/Kanbina1, como parte integrante e legítima do Batuque do Rio Grande do Sul2.


O proposito deste trabalho é contrapor uma publicação (Cabinda, Qual é a origem da acepção Cabinda?) recentemente lançada via redes sociais e na internet, de que a vertente religiosa de Cabinda/Kanbina seria uma invenção de seu fundador Waldemar (Valdemar) Antônio dos Santos e que não teria valor cultural e religioso, sendo assim, não podendo ser considerada uma forma de culto religioso afro-brasileiro. No decorrer deste artigo apontarei algumas inconsistências e falhas na dada publicação, que nitidamente representa um ataque infundado a uma forma de culto, bem como a seus adeptos e ao seu fundador, o Sr. Waldemar Antônio dos Santos.


1 Uma das questões abordadas no presente trabalho será a nomenclatura da vertente, se a mesma seria Cabinda ou Kanbina.
2 Forma religiosa implantada pelos africanos escravizados e seus descendentes no Estado do Rio Grande do Sul/Brasil, e que posteriormente foi introduzida em outros Estados brasileiros, bem como em países vizinhos tais como Argentina e Uruguai. 

Link = https://drive.google.com/file/d/0B7oGeEZgb95gYVdEWFNVbW1lOW8/view

TIKTOK ERICK WOLFF