Mostrando postagens com marcador diola. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador diola. Mostrar todas as postagens

domingo, 25 de maio de 2014

PAÍS DIOLA

Senegal 
País Diola

Bosques sagrados, boekin e costumes históricos como salvaguarda cultural

Casamance, região do sul do Senegal, é um território de valores íntimos, iluminado por sua riqueza cultural e pela vivacidade de suas tradições. A capital Ziguinchor foi, no século XVII, um grande centro de comércio português e ainda preserva alguns prédios da arquitetura colonial. A fauna local é distinguida pela grande diversidade de aves, que se destacam no cenário que mistura mangues e baobás. Mas não é a arquitetura ou a natureza que prevalecem como símbolo da região. Encaixada entre Gâmbia e Guiné-Bissau e dividida pelo rio homônimo, Casamance é marcada pela preservação das mais antigas culturas, sendo o atual coração de grandes reinos. É ali que se encontra o País Diola.

A origem do povo Diola é pouco conhecida, uma vez que a história da comunidade é considerada confidencial, conservada a sete chaves pelos seus guardiões, que fazem questão de preservar a tradição em segredo. A sociedade ocupa a região da Baixa Casamance, território que abrange toda parte sul do rio, e é conhecida e respeitada por ter conseguido fazer prevalecer sua estrutura fundamental, perpetuar antigas normas e manter vivos os numerosos costumes locais. Em um país onde 95% da população incorporou o islamismo ou o cristianismo como principal crença, a cultura Diola é marcada pela salvaguarda do animismo e suas tradições e crenças endógenas do continente africano.

O rei fica instalado no vilarejo de Oussoye e desempenha papéis econômicos, sociais e religiosos na sociedade Diola. Entre suas funções principais está a justiça, sendo o encarregado de solucionar intrigas e problemas sociais, aconselhando os envolvidos e podendo até punir os responsáveis. Ainda, dono de grandes terras de arroz, o Rei Sibulumbaï Diédhiou explica que ele é incumbido de empregar em seu cultivo parte da população e que o arroz colhido deve ser divido entre as comunidades. Ele enfatiza ainda que as terras pertencem àquele que ocupa o cargo e não ao indivíduo e por isso devem ser utilizados em função do povo.

“Quando um rei está bem é porque a população está bem. É um círculo vicioso”, aponta o Diédhiou ao comentar que um rei pode perder o cargo se a população estiver insatisfeita. Ele ainda explica que na cultura Diola o reinado não funciona como uma dinastia e que quando um líder morre ou é deposto, existem três famílias que possuem o poder de decidir o novo encarregado. “Outro membro da família do antigo até pode ser escolhido, mas nunca o filho”, deixa claro o líder, que faz questões de receber os visitantes, sejam turistas ou não. Sibulumbaï Diédhiou acredita que é essencial esclarecer as dúvidas da população sobre seu reinado e sobre as tradições Diola. E para não deixar mal entendidos, prefere ele mesmo responder aos questionamentos.


As três famílias, além da escolha do rei, possuem outras importantes funções na sociedade, como a guarda de alguns espíritos. Pierre Diatta faz parte de uma delas. É um grande conhecedor das histórias e tradições de sua cultura, qualidade exigida pela família. Ele explica que apesar da incidência no país ser o oposto, na região de Casamance 90% da população é considerada animista. “Mas são apenas números. Na verdade, toda população do Senegal carrega seus valores tradicionais e a maioria ainda participa dos rituais mais importantes. O que existe na África não é um ou outro, mas sim um forte sincretismo religioso. A diferença aqui em Casamance é que somos exclusivamente animistas”.


Os animistas Diola acreditam que a energia cósmica, também conhecida como energia vital, mora em todas as coisas, sejam animais ou materiais. Acreditam também na existência de inúmeros espíritos, conhecidos como boekin, que moram e transitam pelas casas, vilarejos, plantações de arroz e bosques. Os intermediários da conexão entre os humanos e os boekin são os Oeyi, influentes figuras do domínio espiritual que junto ao rei, são responsáveis por definirem as obrigações e deveres dos cidadãos, por manter a ordem e a moral e, antes de tudo, por manter a paz. A conexão com os espíritos pode acontecer de diferentes formas: em rituais sagrados, em cerimônias tradicionais ou grandes comemorações.


Pierre Diatta explica que cada espírito tem o seu lugar e cada um é responsável por uma função específica na sociedade. “Tem o boekin da floresta, tem o da família que fica no fundo da casa, tem o boekin da fecundidade que é exclusivo das mulheres etc. Os maiores e mais importantes são protegidos e guardados por uma das três famílias”. O responsável por guardar o principal boekin de Oussoye é o pai de Pierre. Nas cerimônias de conexão, ele obrigatoriamente deve estar presente, escutando todos que buscam a ajuda do boekin. “Os pedidos são na maioria das vezes relacionados à saúde, fertilidade, bons estudos, justiça, proteção e trabalho, podendo ser tanto um problema pessoal e individual quanto um social”, completa o filho.


Normalmente na cerimônia é trazido como oferenda ao boekin galinhas, cabra ou porco e vinho de palma, suco da palmeira que chega a ter 4 a 5% de teor alcoólico quando fermentado por mais de dois dias. Alguns espíritos aparecem mais constantemente, outros são mais raros e alguns só aparecem no principal evento da cultura Diola, o Boukout, um ritual de passagem realizado no bosque sagrado, que marca a saída da adolescência para idade adulta. Quando é o período da cerimônia, todos os jovens não iniciados são encaminhados para o bosque, onde passam semanas ou meses.



No entanto, não há periodicidade certa para a realização do Boukout, que pode demorar até 30 anos para acontecer. E quando esse é o caso, os não iniciados, mesmo os mais velhos, não podem nem casar e nem ter filhos, pois são vistos pela sociedade como adolescentes. O que acontece no bosque sagrado é outro segredo guardado a sete chaves. “O que se passa lá a gente não pode contar, mas posso dizer que é uma experiência, sobretudo de educação, trabalho e ética”, explica Pierre. Formando a estrutura da sociedade e movendo o motor cultural da região, bosques sagrados, boekin, reinados e costumes históricos fazem do país Diola uma das principais e mais ricas tradições da África Ocidental.






Fonte - http://www.afreaka.com.br/pais-diola

TIKTOK ERICK WOLFF

https://www.tiktok.com/@erickwolff8?is_from_webapp=1&sender_device=pc