quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O BANQUETE DOS ORIXÁS: COMIDAS QUE NÃO FAZEM PARTE DO RITUAL DE ORIXÁ.

Por Erick Wolff de Oxalá

Revisado e aumentado 14/09


A cultura religiosa Yorùbá no Brasil, gira em torno à comida que vai dos rituais de iniciação (Oribibọ, Bọrí e Feitura), Arissum e rituais para Egungun, festivais e grandes festas. Todas são regadas de comidas e muita fartura, algumas destas até são produzidas bebidas especiais.

jẹ- comer (sentido geral).
jẹun - tomar comida para si.
ìjẹun - o ato de estar alimentando-se
õn´jẹ - comida (sentido geral)
ìbáje ou àbáje - comer em companhia de outra pessoa (não confundir com bàjé: estragado, tido erradamente por menstruação na diáspora)

Cada ritual exige determinada comida que deverá ser oferecida às divindades e ou convidados. Não deixando de lado as intervenções ou proibições que os adeptos da religião recebem como não comer algumas comidas ou determinados alimentos como o Dendê, Mel, Ovos e etc...

Muitas destas comidas produzidas durante os rituais são oferecidas aos convidados e adeptos durante o toque, nas paradas para descanso ou ao final de cada celebração. Muitas vezes os banquetes são gigantescos servindo muitas aves, cabritos e carneiros, dependendo da nação ou ritual.

Na atualidade, fez com que alguns costumes mudassem, hoje em dia chegamos a ver garçons servindo "estrogonofe, batatinha e arroz com uma bela salada grega", se engana quem disser que não faz parte do culto afro-brasileiro, claro que faz, apenas é preciso deixar claro que algumas comidas do nosso dia-a-dia fazem parte do culto, porem são restritas a determinados rituais como o Arissum.

Para quem não sabe do que se trata o Arissum, é o ritual para preparar o Láilẹ̀émi (aquele que não tem mais respiração, o falecido) para o novo estado, ele deverá se desligar do mundo dos vivos e voltar para o Ọ̀run, abandonando a personalidade existencial e reintegrando-se para viver sua personalidade eterna. Muitos destes rituais levam sete ou ate mais dias, alguns chegam a durar ate três meses dependendo do grau do iniciado ou “Status” a que ele pertença.

Durante o Arissum será preparada comidas para determinados Òrìṣà, Láilẹ̀émi e para Egungun, uma das primeiras vezes que participei, tive a paciência de contar quantas e quais pratos foram oferecidos, chegou a quase 170 pratos, entre eles alguns da última ceia do próprio Láilẹ̀émi.

Comida para Egungun


- àgbò (carneiro)
- Ẹyẹlẹ́ (pombo)
- Ọ̀ọ̀lẹ̀ also called mọ́yín-mọ́yín (bolinho cozido, feito com feijão)
- Àkàrà (bolo frito, feito com feijão)
- Omi tútù (água fria)
- Ẹmu ọ̀pẹ (vinho de palma)
- Obì abata (semente de cola nstiva Yorùbá)
- Oúnjẹ ti ẹnu BA n´jẹ (todas as comidas comestíveis)


Como puderam ver, todas as comidas que servimos à mesa fazem parte deste ritual, desta forma muito difícil o convidado verá “quibe, coxinha, arroz doce, galinhada, empadinhas, etc” sendo servidos durante os toques tradicionais da cultura Afro-gaucha.

Neste caso evitaremos em nossos rituais de Òrìṣà, comidas servidas em rituais fúnebres ou vinculados a 
Egun como Galinhada, Arroz com couve, Arroz com linguiça e em algumas casas ainda evitam arroz doce e risoto, esta variação pode ocorrer conforme a tradição de cada família. Caso ocorra de alguém que tenha proibição de comer alguma delas em seus rituais encontre determinada comida ela casa que visita, apenas deixara de comer.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Luta contra o preconceito às religiões das matriz Africana

Ao receber uma denuncia enviada pelo “Sacerdote Matâmoride e demais sacerdotes da cultura Afro-brasileira”, motivados pelo temor e espanto da agressividade e preconceito de mais uma matéria publicada, eu me senti motivado a comentar novamente sobre algo que as pessoas esquecem e demonstram "intolerância e ignorância".

Em primeiro lugar a "Constituição Federal" está acima de todas as leis. E que por ser permitido o livre exercício dos cultos religiosos, os sacerdotes da religião “Ancestral trazida da África” podem usar animais nas suas cerimoniais, por que faz parte do ritual desta religião. Crença é isso sem ter dois pesos e duas medidas, sem favorecer uns e excluir as demais crenças e religiões do território Brasileiro.

Artigo 5º da Constituição Federal
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

A intolerância religiosa é uma erva daninha que cresce diante da população que desinformada usa pequenos pontos para difamar e agredir uma cultura centenária instalada no Brasil. Matérias e notas como esta publicada num respeitado jornal de Poá, que incitam o povo a lutar por conceitos equivocados, sem saber do dia-a-dia dos templos e terreiros da cultura afro, gerando um engano sem precedentes quando afirmam que existem maus tratos aos animais.

Eu acredito que a realidade seja outra, qualquer templo desta religião mantém seu galinheiro ou viveiro de animais para abate tal qual um restaurante, todos os animais são sacrificados sem tortura e sem maus tratos.

Agora se estes animais sacrificados nos templos forem proibidos então existirá um grande problema na gastronomia deste país. Pois seria necessário fechar restaurantes, açougues, hipermercados e grandes lojas alimentícias, afinal a maioria dos sanduíches, pratos e quitutes servidos nestes estabelecimentos são de origem animal, tal como as comidas servidas nos templos desta religião. Salvo os restaurantes “Naturais” que não cozinham a base da proteína animal. Não se esquecendo de alguns estabelecimentos que ao oferecerem um sanduíche natural de frango, deveriam retirar o “Frango” e deixar apenas o natural oferecido.

No entanto esta matéria não restringe ao paladar e muito menos à cultura gastronomia e seus ingredientes, mesmo sabendo que a autora da matéria publicada no jornal “Notícias de Poá” e seu marido são apreciadores de um saboroso cardápio de origem animal. Segundo a colunista Silvia, ela não comia proteína animal há alguns anos, voltou a comer por necessidade médica, mas afirma que na sua casa sua família saboreia proteína animal.

Entre os problemas da gastronomia e a atual realidade do "País" o que não podemos acobertar é a falta de conhecimento e intolerância com a religião "Afro-Brasileira" que mais uma vez sofre acusações infundadas de caráter duvidoso. E começa já no inicio desta matéria ao qual fere a integridade cultural e a liberdade religiosa;

"Uso de animais em rituais religiosos
É triste saber que algumas pessoas ainda utilizam animais em rituais religiosos acreditando que a morte de um animal lhe trará benefícios.
O homem não tem o direito de deliberar sobre a vida de um animal. Afirmar que existe legalidade no sacrifício de animais, pois é uma tradição ancestral trazida da África, é um equívoco: primeiro não é legal. Ao contrário, é ilegal, é crime - conforme a Constituição e outras leis federais - causar o sofrimento ou a morte de um animal sem provar que foi por ele acometido ou que ele é portador de doença grave. Em segundo lugar, os tempos mudam." [fonte - Notícias de Poá, 19/07/2010 09:10:00]

Temos um grande problema aqui, afinal se parágrafo VI da constituição reza que é inviolável a liberdade de consciência e de crença, como poderia não ser legal tal ritual?
E sem saber as demais religiões também sacrificam animais e insetos como os ovos pintados na páscoa, o peixe na semana santa, as abelhas na maioria dos rituais aos quais usam-se o mel, entre outros elementos que passam desapercebidos para os Brasileiros...

"Era tradição colocar dois homens a lutar até que um morresse na arena, na época do Império Romano. Agora isso não só é ilegal, como imoral. Assim, acontece com determinados rituais. Mas hoje, teoricamente, o ser humano deveria ter evoluído, e o que servia para um povo bárbaro há 3 mil anos não deve, não pode, servir para a civilização atual.
Nenhuma religião pode ser utilizada como desculpa para atos retrógrados e cruéis. Não pode servir de escudo para o crime." [fonte - Notícias de Poá, 19/07/2010 09:10:00]

Neste pontos eu percebo a intolerância religiosa, afinal eu não vejo nem um ativista nas portas dos Açougues, Hipermercados e demais estabelecimentos gritando e protestando contra a matança dos animais, desde quando as pessoas deixam de comprar o “BOM CHURRASCO” para assar depois do futebol ou finais de semana, animais são animais sejam encontrados nos templos ou estabelecimentos gastronômicos.

O que estamos presenciando aqui é a falta de informação e degeneração informativa dos veículos impresso e virtual que são usados pelos ativistas para empanar e difamar uma religião e sua tradição.

Sendo que "em momento algum existe crueldade com animais nos presentes cultos",  todos os animais são abatidos de forma simples e rápida e a seguir depenados ou coreados, para que todos os presentes e aqueles da comunidade do bairro e da própria casa, possam levar para suas casas, claro que para comer, muitas destas famílias sobrevivem com cestas básicas sem carne de primeira na mesa durante meses,  esperando um ritual para poder saborear um bom pedaço de carne como qualquer Brasileiro.

"A Constituição garante a liberdade de culto, não de crueldade.
Toda pessoa que seja testemunha de atentados contra animais pode e DEVE comparecer a delegacia mais próxima e lavrar um Termo Circunstanciado, espécie de Boletim de Ocorrência (BO), citando o artigo 32 “Praticar ato de abuso e maus-tratos à animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos “, da Lei Federal de Crimes Ambientais 9.605/98. Caso haja recusa do delegado, cite o artigo 319 do Código Penal, que prevê crime de prevaricação: receber notícia de crime e recusar-se a cumpri-la." [fonte - Notícias de Poá, 19/07/2010 09:10:00]

Outro ponto a discutir nesta matéria oportunista é que na falta de crueldade e maus tratos á animais domésticos ou domesticados, silvestres, nativos ou exóticos, o Delator responde por "Difamação e Calunia", pois a lei não favorece devaneios ou surtos psicóticos, sendo que é comum em todo o país as pessoas criarem galinhas, patos, marrecos e animais de quatro patas como porcos, cabritos e carneiros para comer assados ou cozidos conforme as receitas das famílias Brasileiras.

Código Penal Artigo 286.º(Instigação pública a um crime)
1. Quem, em reunião pública, através de meio de comunicação social, por divulgação de escrito ou por outro meio de reprodução técnica, provocar ou incitar à prática de um crime determinado é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.
2. É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 2 do artigo 284.º

Assim o Autor da calunia e difamação poder responder pelo crime conforme o “Artigo Penal 286.º” citado acima, ninguém está livre do perjúrio e da incitação a discriminação e preconceito religioso. Assim reza o artigo baixo que;

Código Penal Artigo 282.º
(Ofensa a sentimentos religiosos)
1. Quem publicamente ofender outra pessoa ou dela escarnecer em razão da sua crença ou função religiosas, por forma adequada a perturbar a paz pública, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias.
2. Na mesma pena incorre quem profanar lugar ou objecto de culto ou de veneração religiosa, por forma adequada a perturbar a paz pública.
3. Quem
a) por meio de violência ou de ameaça com mal importante, impedir ou perturbar o exercício legítimo do culto de religião, ou
b) publicamente vilipendiar acto de culto de religião ou dele escarnecer, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias.

E foi embasado nestes dois artigos e na constituição que pesarosamente os sacerdotes da religião Afrobrasileira buscaram apoio das mídias imprensas e virtuais para ajudar a divulgar que "não existe maus tratos que não é verdade que a religião ancestral africana é retrógada e medieval", não entendem porque são sempre ofendidos e sofrem por calunias e difamações infundadas perante a sociedade e as demais religiões.


"Como nossos amigos de patas não podem esperar, estamos organizando com muito sucesso um Cãosórcio pela Vida. Para participar é só doar R$10,00 mensais." [fonte - Notícias de Poá, 19/07/2010 09:10:00]

E ao final desta matéria é divulgado o telefone da colunista e a solicitação de uma doação, afinal do que estávamos falando?

Esta matéria teve um cunho de incitação ao ódio e perseguição religiosa, ao mesmo tempo mascarou arrecadação fundos para animais que nem são usados nos rituais afro como cães e gatos, eu acho que o foco foi desviado e a intenção de massacrar e subjugar a religião afro novamente, sem necessidade.

Por Erick Wolff∞

Fonte Jurídica - Dr Roberto Tamelini Junior
BISKER E VICENZOTTO ADVOGADOS ASSOCIADOS
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Espaço reservado ao direito de resposta;


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Referida matéria
http://noticiasdepoa.com.br/modules/news/article.php?storyid=2758&keywords=animais

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Homenagem ao Ilê Axé Opô Afonjá

Foto: Carla Rogado/FCP
Políticos às vésperas eleitorais homenageiam todas as vertentes religiosas, há alguns dias atrás houve uma homenagem em São Paulo aos sacerdotes na Câmera Municipal. E agora no último dia 24, segunda feira, o Parlamento homenageia um dos mais antigos e famosos templos de candomblé do Brasil o  Ilê Axé Opô Afonjá. Fundado em 1910, por Eugênia Ana dos Santos - a Mãe Aninha, atualmente sob o cargo da Mãe Stella de Oxóssi.

Esta Iyalorixá ficou famosa não somente pela regência deste templo, mas pela sua luta contra a miscigenação da cultura Afrobrasileira e o fim do sincretismo mortal que fere a nossa tradição. Porem contraditoriamente nós somos obrigados a ver um órgão público que se diz pertencer a um “País Laico”, carregar um crucifixo acima da mesa dos Parlamentares, se o País realmente é “Laico”, o que é que aquele crucifixo está fazendo em cima da cabeça das pessoas? Cadê a Imagem do Buda, Shiva, onde estão nossos Búzios e ferramentas penduradas nas paredes do Parlamento?

Onde um órgão público jamais deveria carregar um símbolo religiosa, seja cristão ou afrodescende, ele jamais  deveria ter um crucifixo para lembrar que as pessoas  estão submissas a uma única fé, não pertencemos  a religião crista e não precisamos nos ajoelhar perante os símbolos do cristianismo.



Por Erick Wolff8

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O MITO DA FEIJOADA NA COZINHA DOS ESCRAVOS

A riqueza da religião afro sofre com a ignorância cultural brasileira, para muitos o culto teve inicio dentro das senzalas, porem como seria possível manter um ritual com recolhimento, banhos sagrados e até mesmo sacrifícios enclausurado numa senzala em condições sub-humanas... Além da situação degradante do negro que mal possuía a roupa do corpo, onde levaria a sua navalha e Ọ̀be (faca de corte para sacrifícios animais)? E como corrigir esta falta de conhecimentos se até nas escolas passam informação errada. Veja por que;

A feijoada típica brasileira, confundida com comida dos escravos, gera um erro fatal para a culinária e uma amputação histórica. Convencionou-se que a feijoada era servida nas senzalas, contam nas escolas e nos grandes restaurantes que os escravos cozinhavam  o único grão destinado a eles, o feijão preto, unindo resto de animais que não eram servidos na mesa dos senhores. Após abolição este prato ficou conhecido e atualmente é apreciado pelos brasileiros e turistas, que comem pensando que os escravos daquela época eram muito bem tratados, numa suculenta e bela “Feijoada”...

Para conhecimento geral o "feijão-preto", aquele que encontramos na tradicional feijoada, é de origem sul-americana. A partir de meados do século XVI, o comércio introduziu uma variedades de feijão na colônia, alguns grãos africanos, mas também um feijão consumido em Portugal, conhecido como feijão-fradinho, aquele usado para o tradicional Àkàrà (Acarajé como é conhecido). E segundo a opinião do português Gabriel Soares de Souza, expressa em 1587: o feijão do Brasil, o preto, era o mais saboroso, caindo no gosto dos portugueses, que logo começaram a tornar famoso o grão pretinho da feijoada.
O tradicional Àkàrà

Segundo dados da época, até mesmo os povos indígena apreciavam o feijão preto, que somava a importância do grão para toda a população brasileira já no inicio do século XIX. Qualquer um que chegasse ao Brasil apreçaria iguarias compostas por feijão-preto, como o feijão cozido com polpa de coco, que foi servido para o príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied na Bahia, em 1816, e adorou. Em meados de 1845 comentaristas da época afirmavam que o feijão fazia parte da mesa dos baianos inclusive escravos, seguido de toucinho e uma variedade de carnes.

A realeza instalada no Brasil comprou em um açougue de Petrópolis, no dia 30 de abril de 1889, carne verde (fresca), carne de porco, lingüiça, lingüiça de sangue, rins, língua, coração, pulmões, tripas, entre outras carnes. Baseado no reflexo da nossa própria cultura religiosa que usa na atualidade vestes baseadas na corte como saias rodadas, bombacha, coroa, apetrechos da realeza e mais algumas jóias. A comida também reflete o luxo daquela época, e a feijoada como uma iguaria da corte virou o prato principal do Òrìṣà Ógún, este mesmo grão pode ser encontrado até mesmo em algumas comidas servidas para o Òrìṣà Xapanã.

O livro "O cozinheiro imperial", de 1840, assinado por R. C. M., traz receitas para cabeça e pé de porco, além de outras carnes – com a indicação de que sejam servidas a “altas personalidades”. Deixando claro para o público atual que a famosa feijoada não era uma comida destinada aos escravos, ao contrario disso era apreciada por nobres da  corte brasileira e visitantes estrangeiros.
Fonte - http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-da-feijoada/historia-da-feijoada.php

Por Erick Wolff8

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Quem somos?

Logo alguém baterá à sua porta e fará muitas perguntas, mas o que será que a população irá responder? Chegou o momento do brasileiro não ter vergonha da sua fé!

As religiões de Matriz Africana, não são consideradas bruxaria ou seita de baixa luz, o estereótipo errado e infundido sobre qualquer  vertente desta cultura, deve ser apagado dos registros, os sacerdotes devem ser reconhecidos e devem se impor perante a população, saindo do anonimato e vislumbrando seu devido lugar.

Já sem tempo à perder, está na hora dos membros de cada “Templo” levar o nome  do seu sacerdote para o “Censo” que irá ajudar, a saber, quem é e o que fazem nesta terra escolhida pelas divindades  africanas. Não tenham medo de sair  da obscuridade e ilegalidade, todos usufruirão mais com a devida documentação do que na clandestinidade.

Por isso é chagada a hora de se apresentarem sem medo e sem dúvidas.

Fale quem realmente cada um é perante o seu Irúnmole.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Quando foi que o culto Afrosul perdeu o conceito do Ojúbọ?

Para quem não sabe o que é um Ojúbọ - "é o lugar na casa usado para adoração de ancestrais e dos santos protetores da família. Altar dos “assentamentos” dos Egungun (mortos) da família”.

 
Entre a diversidade das religiões Afrobrasileiras, o Ojúbọ é um local sagrado comunitário onde os integrantes daquela família adoram as divindades, ancestrais e entidades cultuados no templo. Para muitas casas o Ojúbọ é um local onde as oferendas são comunitárias e abertas para todos iniciados daquela família, seria um local onde os integrantes teriam acesso e poderiam participar das celebrações e oferendas.

 
O Ìgbàlẹ̀ [pequena mata, lugar secreto, destinado ao culto a Egungun] na cultura Afrosul , foi um dos Ojúbọ que permaneceu nesta religião, porem deixou de ser um local de adoração aos ancestrais [Ojúbọ] para se tornar um ícone de temor e feitiçarias, bem do tipo tome cuidado, pois aquele Baba tem Ìgbàlẹ̀ e deve ser temido. Infelizmente o “Egungun” deixa de ser um ancestral cultuado com honrarias e respeito para virar um tipo de “Pit Bull” na porta dos templos, muito usado para as desavenças e brigas religiosas dos Batuqueiros, agora imagine os seus irmãos e mais velhos que viveram com honra e se dedicaram ao culto, pós morte se tornando carrego de "Ẹbọ Buruku", ou "galo de rinha" contra os inimigos. Um triste fim para quem viveu, seguiu os ensinamentos e se dedicou aos Òrìṣà. Por este conceito e contaminação ritualística que eu vejo os Egungun sendo mau usados entre as famílias mais velhas. Um ancestral deveria aconselhar e ajudar as comunidades nos piores momentos, diferente de te-los para terroristas ou para feitiçarias.

O conceito correto do Ojúbọ dentro da cultura afrobrasileira seria o de partilhar com toda a comunidade os assentamentos sagrados, como o exemplo acima citado sobre o Ìgbàlẹ̀.

Devo imaginar que a casa do Lode [o Òrìṣà Bara cultuado entre o povo Batuqueiro, seu assentamento fica na entrada dos templos], é a única que ainda se mantém como Ojúbọ, pois ela partilha da segurança e fundamentos coletivos desta nação, para isso ali são feitos cortes, serviços e Ẹbọ [oferendas, descarregos e feitiços] diversos para a comunidade. Apesar de que percebo que ainda existe um pequeno problema dentro do conceito Bọrí e Òrìṣà na estrutura Batuque Afrosul, a liturgia deste povo considera que o Bọrí deve ficar ao lado do Òrìṣà, quando um Ẹlẹ́gùn [iniciado] é do Bara Lode, logo este Bọrí deve ficar na casa dele, eu chego reconsiderar alguns pontos deste fundamento, pois todos nós sabemos que na casa do Lode muitas vezes fica troca de vida, Ẹbọ Dudu [descarrego] e Buruku [oferenda ligada a morte], além dos carregos que são atirados naquela casa. Agora imagina um Bọrí de um Ẹlẹ́gùn dentro desta casa, qual será o resultado?

O Lode que geralmente fica em contato com o chão, não deve ficar em prateleira, desta forma o Bọrí dos Ẹlẹ́gùn do Òrìṣà Lode não devem ficar acima do próprio Òrìṣà, sendo assim ou o Bọrí fica no chão ou o Bara Lode deve subir para uma prateleira. Mas então como fica o fundamento deste Ojúbọ? É justamente sobre o Lode que para muitos Baba e Iyá, são feitos feitiços de segurança e até mesmo feitiços de demanda para a comunidade religiosa e clientes pertencente ao templo, que gera o conflito de conceitos sobre o Ojúbọ do Lode. Então para onde iria este Bọrí?

Eu penso que o Bọrí deve ficar separado ao lado dos Bọrí de todos os filhos do templo, para que saibam que aquele local sagrado guarda apenas os Bọrí, mas para isso o conceito de pessoa e feitura deveria ser analisado com maior atenção, pois o Bọrí é feito para o Orí e não para o Òrìṣà, mesmo sabendo que o Ẹlẹ́gùn pertence uma ancestralidade divina ligando o Orí às divindades Africanas, isso não quer dizer que o Bọrí deva ser feito para o Òrìṣà, pois estamos falando sobre o trato e culto para fortalecer o Orí e não o Òrìṣà, assuntos distintos e muito bem separados para o culto e trato do Òrìṣà ao trato do Bọrí.

Se o Batuque Afrosul possui o conceito de Ojúbọ ele está muito dissipado entre as famílias, algumas nem mesmo sabem o que é um Ojúbọ, na maioria não devem saber nem a funcionalidade do Ojúbọ numa comunidade religiosa. Por isso quem sabe, haja necessidade de analisar profundamente os fundamentos e conceitos desta rica cultura, que possui grandes fundamentos e ritualística. Como o Bọrí de 4 pés para o Ẹlẹ́gùn, considerando que aqui no Brasil as vertentes afrobrasileiras, não costumam dar Bọrí de quatro pés, mas é comum vermos este procedimentos em algumas aldeias africanas, não sabemos ao certo o porquê o Batuque manteve esta tradição tão ativa, mas eu penso que foi para perpetuar o culto ao Orí [cabeça], relembrando a importância do mesmo no principio da estruturação desta religião.



Talvez o Ojúbọ funcionava como uma grande família que comungava dos assentamentos dos Baba e Iya chefes dos templos. Baseando-me nos preceitos desta religião, foi fácil perceber que todo sacerdote para abrir uma casa necessitava possuir o Irunmole completo, como os Òrìṣà comunitários da rua [que ficam do lado de fora do templo] e os Òrìṣà do Yara-bọ [quarto de santo], se um determinado Ẹlẹ́gùn viesse para o templo e o sacerdote não tivesse o Òrìṣà cultuado na nação do Batuque sento, não poderia fazer o Bọrí e muito menos assentar o Òrìṣà daquele Ẹlẹ́gùn, sendo assim, somente os Òrìṣà feitos seriam aqueles que o Baba ou Iyá possuísse sento. Com o tempo algumas divindades que ficavam do lado de fora dos “Templos” entraram para o Yara-bọ, com exceção das divindades Lode, Legba, Avagâ, Timbuá, Dirã, Kamuká, Sapakta, Zina entre outros. Talvez para que o Igbá-Orí [louça do Bọrí] pudesse ficar ao lado do Òrìṣà e comungar do Ojúbọ, estes assentamentos deveriam servir como base para a veneração comunitária daqueles que possuem o Bọrí com 4 pés e seu respectivo grau de aprontamento.

Em algum lugar do passado os sacerdotes podem ter parado de usar o Ojúbọ para os filhos e os seus assentamentos se tornaram um Irunmole pessoal, perdendo assim totalmente o conceito do Ojúbọ. Mesmo assim ainda podemos notar alguns vestígios apontando para os sacerdotes abrindo casa com todos os santos assentados, Bọrí ao lado ou abaixo dos santos em prateleiras, Bọrí de 4 pés respondendo como uma feitura de Bọrí e Ẹlẹ́gùn com quartinha do Bara respondendo pelo Bara do Yara-bọ. Entre estes pontos é possível notar que em algum tempo remoto os mais antigos devem ter usado a estrutura do Ojúbọ nos templos e decaiu este conceito com o passar dos anos e a modernização.

Resgatar a cultura de um povo seria buscar os vestígios dos Ojúbọ, conceitos e costumes que sobreviveram numa cultura tão rica e laqueada, pois os Batuqueiros Afrosul costumar se orgulhar da sua religião, que por sinal consigo ver uma grande riqueza na simplicidade dos rituais fechados.

Porem qual a importância do Ojúbọ para a cultura Afrosul? Um Ojúbọ é o alicerce daquela comunidade, quanto mais rezar, quanto mais louvar aquele Ojúbọ, mais aquela comunidade terá poder, eu tenho a plena certeza que a estruturação e o alicerce de uma nação afrobrasileira estão no seu Ojúbọ, são fundamentos e conceitos que geram uma energia ao redor daqueles assentamentos que fazem com que a comunidade inteira se fortifique e prospere.



Porem note um pequeno comentário.


Ter um Ojúbọ não quer dizer que este coletivo seja o coletivo dos Igbá-Òrìṣà [louça do Òrìṣà] e Igbá-Orí de cada Ẹlẹ́gùn, afinal ele necessita do seu Igbá-Òrìṣà  e Igbá-Orí, porem o Ojúbọ da cultura religiosa Afrosul pode ser considerado o Igbá-Lode, que cumpre a função de responder pela comunidade, sabendo que cada integrante possui o seu Igbá-Òrìṣà e Igbá-Orí, porem é um Igbá-Lode para responder pela comunidade fortalecendo o templo e os alicerces religiosos.


Minha matéria teve inicio na observação do aprontamento dos iniciados do Batuque Afrosul, que muitos são considerados feitos de Bọrí, mas não possuem Igbá-Òrìṣà, por isso que percebi que em algum lugar do passado o conceito de Ojúbọ deve ter sido usado, mas perdeu-se com o tempo dentro deste povo.




Por Erick Wolff8 

TIKTOK ERICK WOLFF

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