terça-feira, 29 de junho de 2021

ODU DE NASCIMENTO

Por Yemoja Arike 


Tenho uma má notícia para dar, se você não fez uma consulta divinatória com poucos dias de vida não terá um odu de nascimento.


Minha tradição da cidade de Oyo carrega esse aprendizado, o odu de nascimento só poderá ser sacado para um recém nascido, em fase adulta ele não poderá mais sacar caso não o tenha feito.

Minha tradição também não se usa data de nascimento para apurar odu.

São apenas 2 situações que vamos carregar um odu fixo em nossa vida.
1 — na hora do nascimento.
2 — na hora da iniciação de Orisa.

Todas as outras consultas que alguém fizer terão odu(s) transitórios que servirão apenas para dar direção em nossa vida, mas sem encarar as orientações como imutáveis.  (consultas para saber Orisa é um outro capítulo)

Tenho uma boa notícia para te dar, nem todas as famílias yoruba utilizam odu como meio de divinação, muitas usam apenas obi ou orogbo. (o grifo é nosso)

Isso significa que nem um recém nascido e nem um iniciado daquele clã, carregarão odu em nenhum momento de sua vida. E todas as suas recomendações serão avaliadas com um de estes dois outros oráculos.

Se você chegou aqui sem saber seu odu de nascimento está tudo bem - não entre em pânico .

Beijos

sexta-feira, 25 de junho de 2021

DESVENDANDO A HISTÓRIA DE LÓGUNẸ̀DẸ

Por Iyalorisa Ifásolà Ẹgbẹ́kẹ́mi Postado em 24/06/2021 



Tenho certeza que o que você vai ler hoje sobre Lógunẹ̀dẹ, você nunca tinha lido antes. Como já dito por mim e por outros sacerdotes que compartilham conhecimento nas redes sociais, a terra Yorùbá é grande, diversificada e está longe de ter uma única forma de culto aos Òrìsà. Sendo assim, leia o texto de hoje do Meu Coração Africano, como algo que vai aumentar os seus conhecimentos sobre Lógunẹ̀dẹ e das várias formas de culto e crença sobre este Òrìsà do outro lado do Atlântico.


Vamos hoje para Ibadan, a capital do estado de Oyo. Ibadan tem uma população atual de mais de 3,5 milhões de habitantes. É a maior cidade em área geográfica da Nigéria, no período da independência, em 1960, Ibadan era a maior e mais populosa cidade do país e a segunda mais populosa da África, atrás apenas do Cairo. Predominantemente uma terra Yorùbá, mas que possui diversidade de famílias que cultuam os Òrìsà. Não existe uma verdade absoluta nem mesmo em Ibadan, uma única pessoa não pode falar por toda cidade, nem mesmo quando trata-se de Lógunẹ̀dẹ.


O tempo tem tantas faces, entre elas a capacidade de construir e destruir. Nós aqui do outro lado do Atlântico, que vivemos ou herdamos o amor e o culto aos Òrìsà, perambulamos entre as histórias e os contos dos Yorùbá, para conseguirmos aumentar o nosso conhecimento e sermos mais fidedignos à sua tradição. Hoje vou trazer um pouco mais dessa busca se entrelaçando com alguns aprendizados aqui no Brasil que são diferentes em terra Yorùbá.


Depois de Èsù, que teve seus atributos e renome totalmente distorcidos no Brasil e em toda diáspora, creio que Lógunẹ̀dẹ ou Ológunẹ̀dẹ vem logo em seguida, tendo seu culto e personalidade longe do que de fato ele é e representa.


Assim como a maioria de vocês que hoje me leem, eu também aprendi que Lógunẹ̀dẹ foi filho de Osun e Osoosi, que ele morava com a mãe no rio por seis meses e nos outros seis com o pai na mata - praticamente uma guarda compartilhada - rs... brincadeiras a parte, foi assim que aprendemos. Lógun aqui no Brasil foi e ainda é representado pelo cavalo-marinho e em alguns locais sua sexualidade era descrita como bisexual.


- Orixá menino


Vamos agora para Yorubaland, onde o culto a Lógunẹ̀dẹ permanece vivo em Ibadan, mesmo que com famílias diferentes. Para os Yorùbá Lógunẹ̀dẹ significa o "Pequeno Guerreiro”', como já dito por outros sacerdotes, no entanto quando vamos compreender mais sobre este Òrìsà e cruzar as informações que fazem morada no Brasil, onde eu também o conheci como o “Orixá Menino”, começamos a desatar os nós e compreender melhor de onde surgem os telefones sem fio. Para os Yorùbá, Pequeno Guerreiro no caso de Lógunẹ̀dẹ, trata-se de um guerreiro que ninguém acreditava em seu potencial, no caso de Lógun, ele de fato era mais jovem do que a maioria dos guerreiros e isso gerava incredulidade quanto a sua capacidade. No entanto, ele surpreende em suas capacidades de luta e batalha, mesmo com a pouca idade e torna-se um guerreiro que comanda grandes batalhas.


- Filho de Osun


Ainda indo pra lá e para cá, como já dito acima, conhecemos Lógunẹ̀dẹ como filho de Osun. Pois bem, aqui no Brasil quando uma pessoa afilia-se a uma casa ele ou ela é chamado de "filho de santo” da casa e da sacerdotisa ou sacerdote. Na Nigéria as estruturas sociais hierárquicas das comunidades religiosas não funcionam como no Brasil, apesar dessas estruturas atualmente já vêm sofrendo algumas mudanças com a chegada dos turistas religiosos. No entanto considera-se ọmọ awo - filho(a) do segredo - quando uma pessoa é APRENDIZ de uma sacerdotisa/sacerdote, seja ele dentro do culto de qualquer Òrìsà, ou seja, quando o sacerdote está ensinando os segredos da religião para aquela pessoa. Pois bem, quando pergunto para um Yorùbá de Ibadan sobre a filiação de Lógunẹ̀dẹ, preciso ter em mente esse conhecimento acima mencionado, pois ele me responde que Lógun foi ọmọ awo de Osun, o preferido dela, que o conquistou pela lealdade e verdade e passou a morar junto com Osun. Diz ainda que Osun ficou muitos anos observando a conduta de Lógunẹ̀dẹ, e quando ela passou a confiar nele, passou a ensinar todos os segredos da magia da água e da floresta que ela sabia para seu ọmọ awo preferido, ou seja, o seu filho do segredo preferido.


- A sexualidade de Lógunẹ̀dẹ


Osun então passa a ensinar todos os seus segredos para Lógunẹ̀dẹ, e todos passam a vê-lo como o grande parceiro de Osun. A magia e o uso da sensualidade que fazem parte das armas de sedução de Osun, também são ensinados para Logun. Conta-se então que ele passa a se vestir como Osun o ensinou, sempre bem apresentado e arrumado, pronto para ser admirado, até mesmo as suas armas para a luta eram do mesmo metal que Osun usava, diferentemente das armas dos outros guerreiros que eram de ferro. Osun deu roupas para ele, e assim ele herda a forma de se vestir e as cores de Osun.


Osun passou a confiar tanto em Lógunẹ̀dẹ, que sempre que ela precisava sair e o deixava em casa, era ele que atendia os clientes que batiam na porta em busca de Osun, e ele fazia o mesmos trabalhos espirituais que Osun com a mesma competência.


No Brasil poucos sabem, mas assim como Oyá é conhecida como vendedora de dendê no mercado, Osun é conhecida como Onídìrì em Yorubaland, ou seja, cabeleireira, por isso ela também é associada a vaidade e ao autocuidado. De tudo que Osun ensinou para o seu ọmọ awo, a única coisa que Osun não ensinou para Logun foi a sua habilidade com os cabelos, pois Logun era uma grande guerreiro.


- As associações de Lógunẹ̀dẹ e Obatalá


Logun dentro da comunidade que o cultua é conhecido como um Òrìsà extremamente criterioso com a sua limpeza, não gostando de forma alguma de sujeira assim como Obatalá. Dentro desta mesma região de Ibadan é ensinado para aqueles que vão preparar alimentos para serem oferecidos para Lógunẹ̀dẹ, que a pessoa que está preparando a comida deve permanecer em silêncio do início até o fim do preparo. Se essa informação for dada no Brasil sem maiores explicações, todos pensarão: Logun também não gosta de barulho, mas na verdade não é por isso que se faz a comida de Obatalá em silêncio, não é pelo barulho e sim pelos respingos da saliva que podem cair na comida, ou seja, não é pelo barulho e sim pela higiene do preparo.


- A partida de Lógunẹ̀dẹ para Orun


Assim como Orunmila, Ogun, Osun e outros Òrìsà, conta-se que quando Lógunẹ̀dẹ cumpriu com a sua missão em Àyé, ele entrou dentro da terra e não apareceu nunca mais.


O que também poucos brasileiros sabem, é que para algumas parte do território Yorùbá, Orun não remete ao céu, e sim à um mundo invisível, que para muitos fica embaixo da terra, e por isso que muitos Òrìsà encerram a sua trajetória entrando dentro da terra.


Espero que você tenha gostado de conhecer mais essa diversidade dentro da Religião Yorùbá e compartilhe com pessoas que você sabe que irão gostar também de aprender.


Gostaria de agradecer ao Babalawo Nathan Lugo e ao Babalawo Abifarin, de Ibadan, que compartilharam gentilmente algumas das informações que estão contidas neste texto.

Ọ̀nà’ re o

Iyalorisa Ifásolà Ẹgbẹ́kẹ́mi

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**** Este texto está protegido pelas leis autorais. É proibido divulgar em qualquer meio ou mídia sem a devida citação da fonte e dos autores, com penas estabelecidas pela LEI Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998. Fonte - Desvendando a história de Lógunẹ̀dẹ (meucoracaoafricano.com)

quinta-feira, 24 de junho de 2021

IDOXU NO BRASIL É DO ORIXÁ, OU DA CASA?

Por Erick Wolff de Oxalá
Sacerdote de orixá desde 1989, na tradição do Batuque do Rio Grande do Sul.
22/06/2021

Imagem 1: Idoxu; preparado que fixo sobre
a cabeça do iniciado do Candomblé

Este ensaio faz algumas reflexões sobre o Idoxu, a necessidade de fazer ou não, a quem o Idoxu pertence, e quem pode fazer.

O Idoxu é um preparado que contém segredos do orixá ao qual está sendo feita a iniciação. 
O Idoxu tradicional na matriz, deve ser feito por sacerdotes deste mesmo orixá que haverá a iniciação, ou seja, indivíduos de outros orixás não colocam a mão nem participam na confecção do Idoxu de um orixá que não sejam iniciados.

Nem todos os orixás possuem Idoxu, Ibeji é um deles:

[...]
não há Idosu para Orisa Ibeji. (Salomom Omojie)
[...]

Aikulola informa que nem todos que se iniciam para Obatala, necessitam de fazer Idoxu de Obatala, mas, apenas os estrangeiros.

[....]
somente alguns sacerdotes de alto ra nao tem que fazer porque pertenecem a certas casas onde tem o ase do orisa no seu corpo por heranca. Para estas pessoas se faz uma cerimonia de instalação de xefe com titulo para faze-los o sacerdotes principais, mas para o resto do mundo, precisam idosu.
[...] (Chief Aikulola Fawehinmi)

Dra. Paula Gomes, 2023, explica que nem todas as divindades necessitam de Idoxu:

"Nem todas as divindades têm o idoxú em suas feituras, caso de Ogun, por exemplo" (informação pessoal)

No Brasil, por norma, nas casas que fazem a feitura de um iniciado com idoxu, o ato é realizado por um sacerdote que não é do mesmo orixá que está sendo feito. Assim, podemos dizer que Idoxu do Brasil pertence à casa a qual o iniciado está sendo feito, diferente de como é na religião tradicional Ioruba, onde o sacerdote pertence ao orixá que irá iniciar e recebeu o idoxu do próprio orixá.

Quer nos parecer, entretanto, que a forma brasileira de um sacerdote de um orixá A fazer um idoxú de um orixá B, talvez nem sempre tenha sido assim, o que nos permite imaginar que no início dos cultos afro-brasileiros, cada orixá fosse feito apenas pelos sacerdotes do orixá que estava sendo feito. Se assim for, ficar por pesquisar porque e quando isso mudou.

Curiosamente, colhemos no RS, da informante Adriana, de que o individuo deve procurar o sacerdote do seu orixá, para ser feito:

[...]
Uma pessoa de Oxalá deveria procurar um sacerdote de Oxalá, por que uma pessoa de Oyá não poderia mexer na cabeça de uma pessoa de Oxalá, e vice-versa. (Informação de Heloa, apudi Adriana)
[...]

_____________________________________


Revisado e aumentado em 17/04/2024

A raspagem durante a iniciação, alguns segmentos afro-brasileiros praticam e outros não praticam e nem precisam.

Porém, a necessidade de raspar, é para acomodar sobre a cabeça do iniciado o "Adoxu".

Beniste explica a origem do adoxu do candomblé:

[...] A utilização do osú como marca que distingue o iniciado substitui todas  as outras formas utilizadas em terras yorubá, como o osú, que representado por um tufo de cabelos deixado no alto da cabeça raspada, nos rituais de Sàngó [...] 


Imagem 2

Aqui Beniste informa que o Adoxu é um fragmento da casa:

Imagem 3

O sacerdote Nathan Lugo, fala que em Ile-Ife Obatala não tem Idoxu:

Imagem 4

Revisado e aumentado em 04/08/2024

OGUN NÃO RASPA E NÃO TEM IDOSU


CONSIDERAÇÕES:


  • O Candomblé convencionou raspar e adoxar, mesmo aqueles orixás que não necessitam de raspagem.

  • O adoxu é um ipin da casa e não do orixá.


IMAGENS

Fonte imagem 1 - Vanessa Almeida


Fonte imagem 2 - Òrun Àiyé, o encontro de dois mundos (J. Beniste) 1997, p. 325


Fonte imagem 3 - Águas de Oxalá (J. Beniste) 2001, p. 177

Fonte imagem 4 - O Certo e o Errado - Entrevista com Bàbá Nathan Lugo, Por IfáṢọlà Sówùnmí - Fê Aguiar, https://www.meucoracaoafricano.com/post/2018/05/30/o-certo-e-o-errado-entrevista-com-b%C3%A0b%C3%A1-nathan-lugo


REFERÊNCIAS 

Informante

Adriana Torres, pertence ao Batuque, iniciada em 2005, por Luciano de Oya, filho de Leco de Oya, em Caxias do Sul. Filha carnal de Heloa, faleceu em 2007, aos 55 anos, praticava Umbanda, não informado a nação do Batuque a qual pertencia, morava em Caxias do Sul, Bairro Esplanada.

Referencias

ORISA IBEJI EM ILEBA / ILARO, ENTREVISTAS REALIZADAS COM ARUGBA IBEJI / OLOYE IBEJI. acessado em 22/06/2021 às 16:26 - https://iledeobokum.blogspot.com/2020/01/orisa-ibeji-em-ileba-ilaro-entrevistas.html

Chief Aikulola Fawehinmi e o Òkúta no Ilé-Orí, acessado em 22/06/2021 às 18:40 - https://iledeobokum.blogspot.com/2011/06/erick-wolff8-sao-paulo-07062011-outro.html




TIKTOK ERICK WOLFF

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