segunda-feira, 24 de julho de 2023

NARRAÇÃO DE UMA IDEIA: A CRIAÇÃO DO MUNDO, ANTES DO 1º DIA EM ILE IFE.

 

Olaolu O. O. Dada (Obalesun de Obàtálá Holytemple)

Tradução: Oba Ojele Obàtálá Agbaye e Yeye Meso Obàtálá Agbaye

Texto: Susana Dias

25/11/2019


Origem: Climacom


Transcrição e adaptação: Luiz L. Marins



Fig 01. Obalesun de Obàtálá Holytemple e seu filho Oba Ojele Obàtálá Agbaye 

em sua cerimônia de coroação no Templo de Obàtálá Ilé-If̀, Nigéria. 

Foto: Susana Dias. 


Texto:

 

Produzido a partir de conversa com Obalesun feita por Susana Dias e gravada por Sebastian Wiedemann, durante pesquisa de campo realizada com o apoio e tradução simultânea de Dhadar Faseyi, coroado Oba Ojele durante a estada em Ilé-Ifè, Nigéria.

 

O autor da narrativa é Olaolu O. O. Dada, o mais importante Sacerdote do Templo de Obàtálá de Ilé Ifè, chefiando a Religião e Culto à Obàtálá, desde 2013, ocupando o cargo de Obalesun.

 

1.         “Olódùmarè deu para Obàtálá

2.         èwòn/chain (uma corrente),

3.         ewe koko (folhas),

4.         igbin/snail (caracóis),

5.         iyepe iwarun (terra) e

6.         akuko adiye elese marun (uma galinha de cinco dedos).

7.         Ele colocou esses materiais numa mala

8.         que se chama àpò láwonrínwon-jìwon-ràn,

9.         ele colocou essa mala de àpò láwonrínwon jìwon ràn

10.        na grande mala que se chama àpò amònnà-jékùn.

11.        Depois ele colocou essa mala de àpò amònnà-jékùn

12.        em outra grande mala, em que podiam caber esses materiais.

13.        Essa mala se chama àpò-àjàpà ou àpò nlá (grande mala).

14.        Obàtálá pegou essas matérias todas e seguiu o caminho.

15.        Quando Obàtálá chegou no lugar que se chama orita meta ete

16.        – um lugar localizado entre céu e a atual Terra que agora habitamos,

17.        este lugar que era somente de cheio de água, como o atual oceano

18.        – ele estava cansado.

19.        Ele viu emu (vinho de palma típico da Nigéria)

20.        e começou a beber esse emu.

21.        Depois que ele bebeu muito desse emu

22.        ele ficou cansado e dormiu.

23.        Odùduwà, seu irmão, era uma pessoa que gostava de confusão

24.        e ele estava atrás de Obàtálá, seguindo-o.

25.        Quando Odùduwà viu que Obàtálá estava dormindo

26.        ele viu essa mala no braço direito de Obàtálá.

27.        Então, Odùduwà pegou esta mala

28.        e Obátálá continuou dormindo.

29.        Odùduwà caminhou até o lugar

30.        que Olódùmarè disse para Obàtálá

31.        colocar esse ewon/chain (corrente) para cima,

32.        depois Odùduwà viu que esse ewon ficou preso em cima,

33.        ele pegou a mala no braço dele e foi esse ewon (corrente)

34.        que Odùduwà usou para chegar

35.        onde só tinha muita água (agbalagbalubu omi).

36.        Olódùmarè disse para Odùduwà colocar folhas em cima da água,

37.        e Odùduwà fez isso,

38.        colocou iyepe iwarun (terra) em cima da folha,

39.        depois colocou akuko elese marun (galinha de cinco dedos),

40.        depois colocou igbin/snail (caracol)

41.        e começou a espalhar a terra em cima dessas águas.

42.        Odùduwà começa a ver que a terra está mais larga,

43.        mas as terras não ficaram secas.

44.        Existia, ainda, muita água.

45.        Para Odùduwà sair do lugar

46.        ele usou ewon (corrente),

47.        para voltar para cima do Orun (céu).

48.        Assim Odùduwà viu que Obàtálá continuava dormindo.

49.        Ele ainda tirou esse ewon (corrente),

50.        depois Obàtálá acordou e viu que não estava mais com as malas dele,

51.        a única coisa que está ainda com Obàtálá é o Àse

52.        (autoridade ou força) que Olódùmarè deu para ele, que está com ele.

53.        Depois ele viu que está com seus opa itile (bengala) e oje (bracelete).

54.        Opa itile era usado para andar

55.        e esse Oje era a esposa de Obàtálá,

56.        ele pode tornar esse oje em qualquer coisa.

57.        Entre Obàtálá e Oje teve um acordo,

58.        que permite que Obàtálá possa transformá-la em um caso de necessidade.

59.        Obàtálá diz para Oje ir para as terras que estão molhadas

60.        e Obàtálá usou esse Oje para descer até terra,

61.        assim, Obàtálá viu que o trabalho que eles não mandaram Odùduwà fazer,

62.        ele já fez.

63.        Obàtálá tirou esse Àse (autoridade) para começar a falar,

64.        ordenando, tudo que quer ficar na terra.

65.        Aquela terra que ainda está molhada

66.        Obàtálá fala para que comece a ficar seca,

67.        para ter igi (árvores)

68.        e eranko (animais).

69.        Depois ele usou esse opa oje (bracelete) para ir de volta até céu.

70.        Olódùmarè perguntou para Obàtálá onde ele foi

71.        e Obàtálá explica para Olódùmarè que no orita meta ete (caminho)

72.        ele bebeu emu (vinho de palmo) e assim dormiu.

73.        Olódùmarè perdoa Obàtálá,

74.        depois Obàtálá voltou até o lugar onde ele dormiu

75.        e jogou praga para aquele emu.

76.        Ele diz que qualquer devoto de Obàtálá que beber emu (vinho de palmo)

77.        não iria bem,

78.        por isso que família de Obàtálá não pode beber emu.

79.        O segundo trabalho que Olódùmarè deu para Obàtálá

80.        foi a criação dos humanos,

81.        esse trabalho é conjunto entre ele, Obàtálá e Èșù.

82.        Obàtálá perguntou para Èșù

83.        onde é que eles vão arrumar iyepe tutu (terra molhada).

84.        Èșù diz para Obàtálá ficar tranquilo que vão encontrar terra molhada.

85.        Èșù diz que iria pegar emprestada a terra com Ilé (mãe da terra).

86.        Foi Èșù que buscou essa terra molhada, essa argila.

87.        Foi Obàtálá que moldou essa argila, mas as pessoas ainda estavam surdas.

88.        Nossos ancestrais e que iriam ser os primeiros habitantes da Terra,

89.        ainda não falavam.

90.        Obàtálá foi quem fez Odi (surdos).

91.        As pessoas eram chamadas de surdos antigamente.

92.        A autoridade de Olódùmarè, de Deus,

93.        demandou que  Obàtálá e Èșù fizessem essas imagens de Odi (surdos),

94.        e, posteriormente eles deveriam colocar um buraco

95.        no meio das cabeças dessas imagens

96.        e ir até alagbede orun (o ferreiro do plano espiritual),

97.        onde este encarregado de trabalhar com ferro,

98.        fazia o seu  sokoti alagbede orun (trabalho com ferro).

99.        Assim, ele iria secar com o calor do fogo

100.    usado por este ferreiro,

101.        as imagens de argila feitas por Obàtálá.

102.            Olódùmarè diz para que eles,

103.            quando eles estão trazendo essas imagens de argila,

104.            que já passou por fogo usado pelo ferreiro,

105.            diz para Obàtálá trazer um pouco de argila molhada junto com ele,

106.            para que ele possa usar essa argila

107.            molhada no buraco de cabeça que está aberto.

108.            No momento que estão com Olódùmarè,

109.            o único trabalho que Olódùmarè fez no corpo dos humanos

110.            é que fazê-los respirar vida, nos seus corpos.

111.            Depois que Olódùmarè expirou a vida

112.            naquele buraco de imagem que estava aberto,

113.            Obàtálá fecha o buraco com iyepe tutu (argila molhada).

114.            O Àse de Olódùmarè está em todos nós até hoje.

115.            Se nascer um filho hoje em dia,

116.            na cabeça da criança vai aparecer a respiração para cima e para baixo.

117.            Depois que Olódùmarè e Obàtálá terminam aquele trabalho de argila,

118.            com toda respiração, a imagem já começa a falar com eles.

119.            Olódùmarè diz para que essa imagem ir junto com Obàtálá para casa, e Èșù.

120.            Depois que chegaram em casa,

121.            todas as conversas entre Èșù e Obàtálá

122.            começam a ser interrompidas por esses Odi (corpo de surdo)

123.            que agora querem falar o tempo todo.

124.            Com isso Èșù ficou com raiva e foi pegar um grande ferro,

125.            e começou a bater na imagem de argila, nos Odi (surdos).

126.            Obàtálá ficou com medo disso e conversou com Olódùmarè.

127.            Olódùmarè perguntou para Obàtálá

128.            se aquele Odi (surdo) ainda estava respirando.

129.            Se assim fosse confirmado,

130.            para que Obàtálá usasse o Àse dele

131.            para [consertar] todas aquelas coisas

132.            que já foram destruídas no corpo da imagem de argila

133.            [para que] ficassem bonitas.

134.            Foi assim que a imagem começou a se mexer,

135.            com cabeça, pernas, andar bem tranquilamente.

136.            Se não fosse por este ato,

137.            de bater nas imagens de barro,

138.            os Odi (corpos de surdos) nunca andariam.

139.            Graças à Èșù ter destruído as imagens dos seres humanos,

140.            nós escapamos de ficar parados,

141.            sem conseguir mexer nossos corpos.

142.            Porque as pessoas morrem?

143.            Foi porque Èșù pediu emprestado a terra a Ilè

144.            e que foi usada para fazer argila molhada.

145.            O que Ilè (mãe da terra) disse para Èșù

146.            foi que depois que ele terminasse de usar essa terra (areia)

147.            para que Èșù devolvesse isso à Ilè (mãe da terra).

148.            Por isso que as pessoas morrem,

149.            depois que Èșù terminassem de usá-la neste mundo,

150.            ele devolve para Ilè.

151.            Única coisa que iria sair do nosso corpo, ao morrer

152.            seria só aquela respiração

153.            que Olódùmarè expirou quando fez a imagem de Odi,

154.            no nosso corpo de areia transformada em argila,

155.            com o uso da água colhida na Terra.

156.            Em seguida, aconteceu o terceiro trabalho de Obàtálá.

157.            Depois que eles voltaram até a terra

158.            já existiam mais árvores que humanos

159.            e essas árvores traziam produtos muito bons

160.            e não tinha ninguém para colher esses produtos, deliciosas frutas.

161.            Com o tempo, esse produtos começam a apodrecer.

162.            E [não havia] ninguém para colhê-los.

163.            Obàtálá voltou até Olódùmarè

164.            e disse para Olódùmarè que não tinham pessoas no mundo,

165.            que já existia mais comida que pessoas.

166.            Olódùmarè disse para Obàtálá

167.            que ainda estava com o Àse dele para usar isso no mundo

168.            e para transformar as árvores em humanos, em pessoas.

169.            Se ele (Obàtálá) visse animais já poderia transformá-los em humanos.

170.            Hoje em dia temos as pessoas que são de omo eranko (animais).

171.            As pessoas que são de animais

172.            são aqueles que tudo que os parentes dizem nunca vão ouvir,

173.            só depois de tanto conselho é que irão ouvir.

174.            Temos as pessoas que são de aja (cachorros),

175.            essas são pessoas que em qualquer lugar que estão

176.            podem praticar ato sexual.

177.            Outro são omo igi, os que são de árvores,

178.            são aqueles que não ouvem os parentes também,

179.            só depois de tanto conselho é que iram ouvir.

180.            Até hoje existe esse tipo de geração. 

181.            Obàtálá teve 201 esposas e Obàtálá

182.            foi quem teve mais filhos entre outros òrìşàs (orixás).

183.            As pessoas que têm corpos claros se chamam Oyi.

184.            Oyi era uma esposa de Obàtálá.

185.            Ela deu um filho para Obàtálá um filho albino

186.            e as outras esposas não deixaram que ela tivesse paz, com ciúmes.

187.            Oyi trouxe o filho para entregar para Obàtálá

188.            ao perceber que o corpo dele estava todo branco.

189.            Com isso Obàtálá ficou chateado,

190.            disse que as outras esposas não deixaram que Oyi ficasse na casa dele,

191.            e ele conseguisse olhar como o filho deles está todo branco.

192.            Obàtálá diz para que esse filho se ajoelhe na frente dele,

193.            Obàtálá fez oração para esse filho, e disse:

194.            “Como essas outras esposas não me deixaram cuidar de você,

195.            você será um filho muito abençoado”.

196.            Todos nós, os descendentes destes ancestrais, primeiros habitantes da Terra,

197.            a partir da África, somos filhos de Obàtálá.

198.            Obàtálá se chama: mori mori alamo tin mori omo tuntun alamo rire,

199.            que quer dizer “aquele que molda a cabeça das crianças”.

200.            Ele, Obàtálá, pode criar o ser humano do jeito que quis.”

 

ORIKI

 

Obàtálá o sun si ile

fi oje ti ikun oni ile

Ji oje o Ji.

 

Esse oriki tem ligação com esposa de Obàtálá porque ela sempre está com Obàtálá, cada momento Obàtálá ama mais as duas esposas entre todas as que ele tem. As duas são Oje e Aje Yemoo.

 

Fig. 03. As mulheres dos Obas (reis) diante do Templo de Obàtálá em Ilé-If̀, Nigéria

Yemoo costuma fazer as roupas de Obàtálá, é costureira que faz roupas muito bonitas, fazia com as suas costuras lindas obras de arte. O lugar em que Yemoo faz as roupas de Obàtálá ainda está aqui até hoje, em Ilé-If̀. O lugar se chama Ita Yemoo, mas hoje o lugar tem um museu.

 

Foi assim que Obàtálá fez o seu trabalho, depois que o mundo começou a ficar maior, Odùduwà deu outro problema para Obàtálá, com isso Obàtálá deixou cidade de Ilé-If̀,

 

Obàtálá foi primeiro a chegar em Ilé-If̀, esse lugar em que viveu Obàtálá é o nosso atual iranje idita (Groove/Bosque) até hoje usado em nossos rituais no Anual Festival de Obátálá.

 

Hoje em dia Obàtálá é uma religião que todos nós admiramos de òrìşàs, cultuamos e fazemos oração para Obàtálá.


É neste Templo de Obàtálá acontece o Ade Aare de Ooni, a coroação dos novos reis. Quando um novo rei é escolhido, ele recebe a coroa neste Templo.

 

O Ooni (atual rei de Ilé-If̀), usará esta coroa (Ade Aare) durante festa anual do Festival de Olojo, festividade que rememora o primeiro dia em que os Òrìşàs chegaram na Terra.

 

É neste lugar, Templo de Obàtálá, que todo rei de Ilé-If̀ é coroado com Ade.

Obàtálá e Òrìşà são muito importantes no mundo. 


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Fonte: http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/olaolu-o-o-dada-a-narracao-de-uma-ideia-a-criacao-do-mundo-antes-do-1-o-dia-em-ile-ife/


terça-feira, 4 de julho de 2023

RESGATE HISTÓRICO: APOLINÁRIA MATIAS BATISTA

Para registro e resgate da história do Batuque do Rio Grande do Sul, coletamos esta postagem que mesmo sem detalhes da fonte, possui dados que futuramente poderão ser conferidos.

Nesta postagem informa que mãe Apolinária seria da NAÇÃO NAGÔ-OYÓ, pertencia a Ebi (família) Mãe Erminda de Oxum.




Publicado por Afrosul Afrosul está com Afrosul Afrosul em Afrosul.

Postado em 29/06/2023 acessado em 04/07/2023

"𝐂𝐮𝐫𝐢𝐨𝐬𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞𝐬 𝐞 𝐀𝐩𝐫𝐞𝐧𝐝𝐢𝐳𝐚𝐝𝐨𝐬
𝐑𝐞𝐬𝐠𝐚𝐭𝐞 𝐇𝐢𝐬𝐭ó𝐫𝐢𝐜𝐨
Apolinária Matias Batista
Mãe Apolinária, Mãe Picorrucha, Mãe Corrucha ou simplesmente “Mãezinha”, como seus filhos de santo chamavam, nasceu em 10 de março de 1910 em Tubarão/SC, estudou na Bahia, e apesar de ter nascido no estado vizinho, passou a maior parte de sua existência no R.G do Sul, mais precisamente em Porto Alegre onde casou-se e teve 4 filhos carnais, 3 mulheres e 1 homem, além destes, mantinha sob sua guarda 40 crianças. Possuía uma casa de religião Afro-Brasileira de Umbanda e "Batuque" NAÇÃO NAGÔ-OYÓ, na rua Antônio Palmeira, 68, no bairro. Mont’Serrat.
Pertencia a Bacia de Mãe Erminda de Oxum também de Santa Catarina.
Filha de Iansã com Ogum, as festas de Mãe Apolinária eram realizadas em 4 de dezembro, dia de Santa Bárbara, Iansã para os Negros e 23 de abril São Jorge, Ogum.
Sua casa denominada “Sociedade Caboclos Amigos” era concorridíssima e de fama internacional.
Extremamente humanitária, Mãe Apolinária acolhia muitas pessoas, a quem prestava apoio material e espiritual. Uma vez por semana dava passes e aos domingos de manhã em sua casa soavam os ataques, eram os Orixás africanos que se manifestavam, trazendo os axés de conforto e cura a seus fiéis.
Em 5 de junho de 1956 morreu em Porto Alegre, com apenas 46 anos, sua Iansã a levou para o Reino de Olorum.
Seu prestígio era tão grande que seu enterro reuniu milhares de pessoas, que a pé levaram seu caixão do bairro Mont'Serrat até o cemitério na Azenha, batedores da Polícia montados em motocicletas lideravam o cortejo, por ocasião de sua morte.
Mãe Apolinária construio uma imensa casa de culto africano chamada de CASTELO no bairro Jardim Ipu. Sua importância e influência foi tão grande que no Bairro existe uma rua com seu nome a Av. Mãe Apolinária Matias Batista Alto Petrópolis, Porto Alegre - RS

Fonte: Nossa Raíz"







Fonte - https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=pfbid025G6uv4SxbmcRpUWio1fJsH4f1P5vRwUq3778GngFWLej78LWexWrDFyTYeP6TCurl&id=100007502800063

Revisado e aumentado na mesma data deste artigo.

O pesquisador Vinicius Pereira de Oliveira, informa a fonte primária deste artigo.

Publicado em 23/08/2022.

"Na noite de 23 de abril de 1955 Mãe Apolinária de Oyá (Apolinária Baptista) realizou sua festa anual em homenagem ao Pai Ogum, orixá regente de seu grande amigo Pai Florentino Pereira da Silva, da Nação Oyó (filho de santo de Pai Antoninho da Oxum). Em maio do mesmo ano o folclorista Carlos Galvão Krebs publicou, na renomada Revista do Globo, uma reportagem intitulada "Ogum baixou no terreiro de Mãe Apolinária", retratando o referido Batuque do Pai Ogum.
Trata-se de uma das primeiras reportagens a respeito do Batuque de Nação com tom positivo e perspectiva etnográfica publicada em jornais de circulação diária no Rio Grande do Sul. Antes disso Dante de Laytano, Roger Bastide e Melville J. Herkovitz (estudiosos que pesquisaram o Batuque e a Umbanda em Porto Alegre na década de 1940) já haviam publicado artigos editados em revistas acadêmicas e especializadas. E o próprio Krebs já havia retratado, nos jornais da cidade, o funeral de Mãe Andreza de Oxum, quando do seu sentido falecimento no ano de 1951.
Para além da bela narrativa apresentada em seu texto, Krebs nos brindou com fotografias de alta qualidade e que expressam a intimidade que possuía com a casa de Mãe Apolinária (fotografias de Léo Guerreiro, seu colega de registros). A retratação de aspectos sigilosos da dinâmica de um ebó chamam a atenção, já que se trata de uma questão dada a polêmica até os dias de hoje.
Em 05/12/1952 Krebs registra em seu diário de campo como se deu o primeiro contato com a casa de Mãe Apolinária:
"Hoje a noite fui até lá, para conhecê-la e tomar contato com a casa, pretendendo ir à sua festa. Fui de lotação, pela Independência. Desci na esquina da rua Maryland e, de informação e, informação, fui subindo a lomba enorme, por entre lama e água, que tinha chovido antes e longo trecho da rua está sem calçamento. Afinal, no topo do morro, estava a casa. É mista, de alvenaria e madeira: alvenaria ao rés do chão e madeira no andar superior. Está toda pintada de novo, de branco a alvenaria, de amarelo as paredes de madeira, com todas as aberturas pintadas de bonito vermelho. Encimando o pequeno portão de entrada estão vários gnomos coloridos".
Compartilho aqui um pouco desses belos e raros registros. 
Se for reproduzir este conteúdo, favor citar a fonte/autoria."

 

Imagem comprobatória:

TIKTOK ERICK WOLFF

https://www.tiktok.com/@erickwolff8?is_from_webapp=1&sender_device=pc