domingo, 24 de setembro de 2017

FONGBE

Claudio Zieger

07/02/2007

Fon-gbe ou fon é o nome da língua falada pelo povo da etnia fon. Gbe significa "linguagem".  O Benim tem umas cinquenta línguas tradicionais onde o Fon é a predominante no sudoeste do pais não sendo usada nas outras partes, como nas fronteiras do Togo e da Nigéria. No Benim, o francês é a língua oficial, sem a qual não seria possível a comunicação entre os diversos grupos.

Num pais pequeno como esse onde há tanta diversidade étnica, o idioma muda praticamente a cada a cada 50 km, conforme se muda de vilarejo. Não há língua tradicional escrita no Benim, a que existe atualmente foi trazida pelos europeus.

Os franceses que colonizaram o pais, estabeleceram suas escolas e o sistema educacional vigente até os dias de hoje. Como consequência, a maior parte das escolas ensina apenas a língua francesa ao invés das línguas locais, resultando no esquecimento das línguas tradicionais, faladas pelos diferentes grupos como língua mãe.

O fon e as demais línguas foram transcritas utilizando o alfabeto romano, primeiramente pelos europeus e posteriormente pelos estudiosos beninenses. Devido ao sistema educacional ser em francês, poucos sabem ler o fon mas todas pessoas dessa etnia sabem falar.

A ORIGEM DA PALAVRA JEJE

Essa palavra vem da expressão ioruba "Adjeje" que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje em termos políticos.

O que se chama nação Jeje é o termo usado pelo povo do Candomblé para designar a influência fon trazida pelos escravos que vieram do Daomé. Jeje era uma palavra pejorativa que os iorubás usavam para designar as pessoas que vinham do Leste. Os Manis do Oeste e os Savalús ou Saluvás do sul não tinham esse apelido.


O termo Saluvá ou Savalu, vem de "Savé", local onde se cultuava a divindade Nanã, mãe dos Baribás, uma antiga dinastia originada de um filho de Odudua, que é o fundador de Savé. Esse fato demonstra a relação existente entre os fon e os iorubas.

ORIGEM DA PALAVRA DAOMÉ

A palavra Dahomey tem dois significados: Um está relacionado com um certo Rei Ramilé que se transformava em serpente e morreu na terra de Dan. Daí vem o termo "Dan Imé" ou "Dahomey", aquele que morreu na Terra da Serpente.

De acordo com as pesquisas históricas, o trono desse rei era sustentado por duas serpentes feitas de cobre, cujas cabeças formavam os pés do trono. Esse seria um dos significados, Dan a serpente sagrada e Homé, a terra de Dan, portanto Daomé é a terra da serpente sagrada. Segundo as crenças esse culto a serpente veio do antigo Egito.

DIALETOS FALADOS

Os povos Jejes-Fon eram constituidos por várias tribos e linguas, como os Ashantis, Gans, Agonis, Popós, Crus, etc.

Portanto, haveriam dezenas de idiomas para uma só tribo, o que esbarra evidentemente nas regras da linguística, pois muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os mesmos Voduns.

Diferenças como essas que vieram por exemplo dos Minas- Gans ou Agonis, Popós que falavam a lingua dos Tabosses, criando-se uma grande confusão.

A INFLUÊNCIA DAS PALABRAS JEJE NA CULTURA AFRO-BRASILEIRA

A cultura Jeje vinda do antigo Dahomey, que antes da invasão colonial, abrangia o Togo e fazia fronteira com Ghana é, sem dúvida, uma das maiores contribuções culturais deixada pelos negros fon no Brasil.

Esses povos Adjejes, como eram chamados pelos iorubas, estabeleceram suas raizes e seus fundamentos nos seguintes lugares: Cachoeira de Sao Feliz, na Bahia, Recife, e São Luiz do Maranhao.

Durante um longo periodo essa cultura sofreu influências da iorubá, e essa mixtura passou a ser conhecida como Jeje-nagô. Essa mixtura veio principalmente dos iorubas com as tribos jejes, dentre as quais destacaram-se as tribos Gan, Fanti, Ashanti, Mina e Mahin (Marrin). Essa última, os Manis ou Mahin, tiveram maiores influencias sobre as demais.

Esses negros falavam o dialeto ewe (existente atualmente no Togo) e que acabou por ter grande influência sobre as culturas iorubá e bantu, no Brasil, faladas pelo povo de santo. Como exemplo disso aqui estão alguns termos usados no candomblé para designar um barco de yawos (pessoas que se iniciam junto): Dofono, Dofonitin, Fomo, Fomutin, Gamu, Gamutin e Vimu, Vimutin.

Outras palavras Jeje foram incorporadas não somente na cultura afro-brasileira como também em nosso cotidiano, como por exemplo:

Acassá – faca; cujo original ewe escrevia-se com K em lugar de C.

Outra palabra foi "tijolo" que em ewe é Tijoló.

Eis algumas palavras do dialeto Ewe

Esin = agua
Atinçá = árvore
Agrusa = porco
Kpo = pote
Zo ou izó = fogo
Avun = cria
Nivu = bezerro
Bakuxé = prato de barro
Yan = fio de contas
Vodún-se = filho do vodun ou iniciados da nação Jeje
Yawo = filho do vodun ou iniciados da nação Keto
Muzenza = filho do vodun ou iniciados da nação Angola
Tó = banho
Zandro = cerimonia Jeje
Sidagã = auxiliar de Dagã na ceremonia para Legba (Exu)
Serrín = ritual fúnebre Jeje
Sarapocã = cerimonia feita sete dias entes da festa pública de apresentação do iniciado ao chefe.
Sabaji = quarto sagrado onde estão os assentamientos(fetiches) dos Voduns
Runjebe = colar de contas usado após sete anos de iniciação
Rumbono = primero filho iniciado numa casa Jeje
Rumdeme = quarto onde estão os Voduns
Roncó = quarto sagrado de iniciação
Bejersú = cerimonia de matança de animais

07/10/2007 Publicada por Claudio Zeiger
http://claudio-zeiger.fotoblog.uol.com.br/photo20071007222020.html

sábado, 16 de setembro de 2017

ELÉGBAA, ÈSÙ E ALÁGBÁRA

Erick Wolff

Setembro de 2017


Notamos que a divindade Legba vem sendo tema de várias postagens; assim aproveitamos a oportunidade para esclarecer algumas dúvidas para a comunidade do Batuque do RS, traduzindo este pequeno texto da Chief Fama, a tradução da Palavra Elégbà do dic Beniiste.


Chief Fama, sacerdotisa de Ifá do Ijo Òrúnmìlà Ato, de Lagos, registrou às páginas 140/141, capítulo 13, título Oríkìs[1], do seu livro Fundamentals of the Yoruba Religion, 1993, publicado pela também sua editora Ilé Òrúnmìlà Communications, informações sobre Èsù e Elégbaa que ouviu de seus mais velhos do templo citado, e que transcreveremos aqui, pinçados, alguns extratos de sua fala.[2] Segue:

“Uma coisa fascinante sobre oríkì é o fato que nomes atributivos que estão contidos em um oríkì são algumas vezes substituídos por nomes reais. Tal é caso de um poderoso Òrìsà cujo nome atributivo é Alágbára, mas que é conhecido e chamado na Iorubalândia, como Èsù.

De alguma forma, este nome atributivo chamado Elégbaa na diáspora, é confundido pelos devotos da diáspora como sendo um Òrìsà diferente de Èsù.

Em toda a Iorubalândia, Èsù raramente é chamado de Alágbára, [mas quando é], é Alágbára e não Elégbaa, como ocorre quando um oríkì de Èsù é recitado […]

Elégbaa é uma pronúncia corrompida de Alágbára, que significa: “uma pessoa poderosa” referindo-se a Èsù como sendo um Òrìsà muito poderoso, título dado a ele por seus devotos.

Assim, a diáspora precisa ter em mente que a palavra Elégbaa deveria ser propriamente falada e pronunciada Alágbára, que é um título que identifica Èsù, e não um outro Òrìsà.

Encontramos no dicionário Yoruba Português do Beniste, p. 238, a palavra Elégbà que corrobora com o conceito apresentado pela Chief Fama:

Elégbà (élégba) - Pessoa com qualidades excelentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É comum vermos considerações sobre o Elégbaa ser uma divindade diferente de Èsù, no entanto observamos que se trata da mesma divindade, chamamos a atenção que com o passar dos anos a palavra Elégbaa foi se desconstruindo e transformando na corruptela  Légba, assim como ocorreu com palavras ou nomes de outras divindades. 







[1]   Oríkì são poemas de louvores onde importantes informações culturais e/ou religiosas são registradas.
[2]    Agradecemos a Luiz L. Marins pelas sugestões, e por fornecer o material de pesquisa.

TEÍSMO, ATEÍSMO E RELIGIÃO IORUBA

Luiz L. Marins

Setembro de 2017

Revisado em 01/05/2019

O ateísmo diz que não há deus nenhum que cuida diretamente da humanidade, está em oposição ao teísmo, que diz que há um deus que cuida diretamente da humanidade. O teísmo possui várias classificações, mas vamos nos ater a estes:

Politeísmo: há vários deuses independentes e auto-criados que cuidam diretamente da humanidade.

Monoteísmo: há um só deus auto criado, que criou tudo e cuida diretamente da humanidade.

Henoteísmo: há um só deus independente, auto criado, que cuida diretamente da humanidade, e que criou várias divindades subalternas para fazerem sua vontade, sem delegar-lhes poderes, etc ...

RTY - Religião Tradicional Yoruba (e possivelmente, muitas outras africanas) difere destas classificações europeias.

Nela temos um deus auto criado, que NÃO cuida diretamente da humanidade, e que  não criou o mundo, mas criou as divindades, delegando a elas poderes para fazerem a vontade DELAS, na criação do mundo e a humanidade.

Neste tema, Bewaji aqui refuta autores como clássicos como Idowu, autor do livro “Olódùmarè, the God in the Yoruba Belief”, pois, segundo ele, os conceitos teológicos europeus aplicados sobre Olódùmarè, como onisciência e onipresença, são estrangeiros, e não tradicionais da RTY.

O conceito de teísmo não é apenas a existência de um deus criador auto criado, criador de algumas divindades, mas principalmente da interação e do cuidado deste deus diretamente para com a humanidade, tal como fez a Moises, no monte Sinai.

De acordo com os ìtàn (mitos sagrados dos iorubas), isto não ocorre na religião tradicional ioruba; assim, a religião ioruba não pode ser monoteísta, no sentido teológico cristão.

Os orixás vêm ao mundo para fazerem a vontade deles, orixás, e NÃO de Olódùmarè, pois este não interage diretamente com a humanidade, não tem conhecimento de tudo que ocorre no mundo, pois para isto criou um mensageiro chamado Èsù, como podemos ver no ìtàn sobre Òsun e a 17ª pessoa <aqui>.

Deus é um só, é uma mentira.

Olôdumare não é o mesmo deus Jeová, e não tem os mesmos atributos teológicos, e a religião tradicional ioruba não é monoteísta.

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TIKTOK ERICK WOLFF

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