quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O perigo para o candomblé: extrato da entrevista de Pierre Verger para a Revista EXU.

O perigo para o candomblé: extrato da entrevista de Pierre Verger para a Revista EXU.


Luiz L. Marins
22/10/2009





Na edição de setembro/outubro de 1988, a revista EXU, publicou uma entrevista de Pierre Verger concedida a Conselheira Editorial da mesma, Myrian Fraga, com coordenação editorial de Claudius Portugal, editada pela Fundação Casa de Jorge Amado, Largo do Pelourinho, s/n, Salvador, BA.
Nesta entrevista Verger fala de sua chegada à Bahia, de seu encantamento pela cultura afro-baiana, de preconceito, de seu trabalho como fotógrafo, de início como escritor, etc., mas a resposta de Verger que fez valer toda a entrevista foi aquela que ele adverte sobre os perigos que ameaçam o candomblé.
Vamos reproduzir na íntegra a pergunta da entrevistadora Myrian Fraga e a resposta de Verger, que servirá como advertência, não só para a geração atual, como ainda para as futuras gerações, que tem buscado cada vez mais conhecimentos nos livros. Vejamos a entrevista:

[...]
MYRIAN FRAGA: E o candomblé hoje. Como o senhor o vê nesses quarenta anos, já que a Bahia foi modificada, principalmente pelo turismo?

PIERRE VERGER: O turismo é muito perigoso. Mas o que é perigozíssimo são as teorias dos intelectuais. Coisas que não têm nome, que não se justificam, que não se justificam, mas que são apresentadas com muita inteligência. São coisas muito inteligentes! Mas, inteligente, podem se dizer coisas que são estupidezas tremendas. Muito bem explicadas, mas que são completamente falsas.
Infelizmente, há recentemente coisas publicadas, que dizem exatamente o contrário do que são.
Tem uma pessoa que escreveu que é proibido agente comer as comidas que fazem parte das oferendas que se faz a um certo santo. Fez um trabalho minucioso e conseguiu a confirmação do ponto de vista que queria mostrar, mas que é completamente o reverso. Quando uma pessoa faz um trabalho com uma “hipótese de trabalho”, consegue provar qualquer coisa. E isso, porque baseou a teoria sobre a teoria de outra pessoa, da qual não quero dar nome, que escreve de maneira inteligente, mas que escreve coisas completamente estúpidas. É muito grave! O raciocínio é perfeito, mas a base é falsa. Tem muita gente inteligente que é completamente falsa. E isso é perigoso para o candomblé, porque o conhecimento do candomblé não é conseguido pela gente do candomblé de maneira didática. Nunca um pai de santo, digno de seu nome, ensina as coisas. Eles demonstram como se faz, sem explicar. Se a gente é inteligente, entende o que é.

MYRIAN FRAGA: E a utilização do candomblé, os mitos africanos, religiosos ou não, numa recriação literária? Como vê isto?

PIERRE VERGER: Eu acho que é um meio de usar os mitos africanos para a gente conhecer. Eles são de uma poesia e uma beleza muito grande. Não acho inconveniente algum, se não fizer uma deformação de caráter. Digo que há livros muito bonitos, Vasconcelos Maia, por exemplo. Se não deformar o caráter do santo, por que não.

*********

Nestes tempos de Internet, de tanto informação, contra-informação e desinformação, julguei oportuno registrar um extrato desta entrevista, para que a advertência de Pierre Verger se perpetue através dos computadores. Esta revista consta dos acervos da Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo.

[É permitida a cópia desde que cite a fonte].

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Homenagem aos homens que lutam pela religiao Afrobrasileira

Dar início a uma nova era para discussão das necessidades e carências dos quesitos religiosos e da cultura afrobrasileira, foi por Iniciativa do Nobre Deputado José Cândido e organização e escolha dos sacerdotes do Portal do Candomblé que convidamos as personalidades, autoridade e sacerdotes para serem homenageados no mês que marca o Dia Dos Pais, propositalmente escolhida esta data para expressar a importância e respeito que devem receber estes homens que lutam pela cultura e tradição das religiões influenciadas pelo ritual afro.

Difícil foi escolher entre tantos nomes ilustres que fazem parte da história do Brasil e da nossa fé, por isso que elegemos alguns que estão ao nosso lado, trabalhando diariamente e lutando contra o preconceito, discriminação e injurias confinada à nossa religião. Por isso que na data de 6 de Agosto de 2009 iremos prestar mais um serviço à comunidade religiosa que confia e espera mais do sistema.

Eu acredito que este movimento é apenas uma folha numa àrvore que tem raiz no solo brasileiro, porem sua semente é africana.

Eu acredito na igualdade dos segmentos religiosos e na tradição que cada uma segue, por isso que escolhemos vários segmentos religiosos dentro de cada cultura para poder agregar todas e demonstrar que todos são importantes e possuem valores equivalentes à tradição, que através da união e do trabalho comunitário que poderemos fazer-nos compreender e nos respeitar, mais que isso cada religioso aqui escolhido têm trabalho social, cultural e religioso na defesa da nossa cultura e patrimônio da humanidade.

Agradeço aos que estão ao meu lado trabalhando e aos que perpetraram este evento.

Profa Patricia Hauff Martins, Iya Ekedji Ogunlade, Erick Sosni, Babalorisa Vadinho de Ogun, Oyaberetemi, Angélica de Oya, Flávio de Iansã, Marcia Farro, Kika de Bessen, Ogan Rafael, Kayandewa, Ada, pai rozevaldo, entre tantos outros que me abraçaram nas horas de dor, meu especial agradecimento a meu babalorisa Kaobakessy.

Serviço
Data - dia 06 de Agosto de 2009 as 19:hs

Local - auditório Franco Montoro na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Av. Pedro Alvarez Cabral S/ nº Parque do Ibirapuera.

Eduardo Brasil - Tata Matâmoride
Relação dos Homenageados


Autoridades:
1. Álvaro Batista Camilo Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo
2. Dr. Antonio Carlos Malheiros Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
3. Antônio Ferreira Pinto Secretario de Estado de Segurança Pública
4. Edson Santos Ministro da SEPPIR
5. Hédio Silva Júnior
6. José Eduardo Oliveira Presidente do CNAB – Congresso Nacional Afro Brasileiro
7. Luis Flávio Borges D’Urso Presidente da OAB-SP
8. Luiz Antônio Guimarães Marrey Secretario de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo
9. Marco Antônio Zito Alvarenga Presidente da Comissão Antisdiscriminatória da OAB-SP
10. Antônio Ferreira Pinto Secretario de Estado de Segurança Pública
11. Otunba Adenkule Aderonmu PRINCIPE
12. Paulo Paim Senador da República
13. Renato Simões Movimento Nacional de Direitos Humanos
14. Roberto Tameilini Junior Advogado
15. Sebastião Arcanjo
16. Sinvaldo José Firmo ADVOGADO
17. Sikiru King Salami - Prof. KING
18. Ubiraci Dantas de Oliveira Vice Presidente do CNAB
19. Vicente Cândido - Deputado Estadual
20. Vicente Paulo da Silva Deputado Federal
21. Zulu Araujo Presidente da Fundação Cultural Palmares

Sacerdotes Candomblé

1. Babalorisá Alaepeoni
2. Babalorisá Alabiy
3. Áwò Akanì Ífàtokunmbo Erin Epega
4. Babalorisá Celso de Osalá
5. Babalorisá Cesar d’Osun “Iyamife”
6. Babalorisá Erick de Osala
7. Babalorisá Eduardo de Logunede
8. Babalorisá Flávio de Osossi
9. Babalorisá Flávio de Iansã
10. Babalorisá Francisco d’ Osun
11. Babalorisá Gladston ti Inlé
12. Babalorisá Gilmar d’Ogun
13. Babalorisá Jamil Rachid
14. Babalorisá João Batista M de Souza de Aira
15. Babalorisá José Carlos de Ibualamo
16. Babalorisá Karlito de Oxumare
17. Babalorisá Kaobakessy
18. Babalorisá Kilombo de Omolu
19. Babalorisá Lilico d’Osun
20. Babalorisá Loagikaceny
21. Babalorisá Marcelo Fomo de Logunede
22. Babalorisá Nenen de Obàtálá
23. Babalorisá Obasoji
24. Babalorisá Ogun Dimoloko
25. Babalorisá Paulo de Ode “Odemutakeregi”
26. Babalorisá Pérsio de Sangó
27. Babalorisá Rodney de Osossi
28. Babalorisá Rozevaldo de Osumare
29. Babalorisá Sidnei de Sango
30. Babalorisá Tinho de Ode
31. Babalorisá Vadinho do Ogun
32. Babalorisá Valter Logun Ede
33. Hungbono Jeferson de Azansu
34. Tat’etu Alabure
35. Tata Alamussangi de Lembarenganga
36. Tata Gil de Malé
37. Tata Katuvanjesi
38. Tat’etu Koneji
39. Tat’etu Nzaziankembu
40. Ogan Rafael de Obaluaye

Umbanda

Pai Alfredo Scheibel Junior – “Júnior de Xangô”
Pai Anderson Artur Dezen
Pai Carlinhos d’Oxum
Pai Edson Ludugero
Pai Guimarães do Ogum
Pai Juberli Varela
Pai José Valdivino
Pai Joãozinho Sete Pedreiras
Pai Marcos Roberto de Haro Azinar
Pai Milton Aguirre
Pai Roberto Carlos Zangrande
Pai Ronalde Linares
Pai Ronald de Ogun
Pai Osvaldo Trajano
Pai Olinto Nunes de Souza
Babalaô Anísio de Oxalá
Babalorisá João Roberto Dominicale de Ogun
Sacerdote Obashanan – William de Airá

Mesa

1. Iyalorisá Ada de Omolu
2. Iyalorisá Kayandewá
3. Iyá Ekedji Ogunlade
4. Dra. Tallulah Kobayashi de Andrade Carvalho
5. Maria Aparecida Nalessio
6. Deputada Federal Janet Rocha Pietá
7. Senadora Fátima Cleide
8. Major Suzuki
9. Doné Kika de Bessen

Enviado por Eduardo Brasil

sábado, 25 de julho de 2009

Tópicos a ponderar sobre o "Plenária livre Segurança"

Caros amigos e parceiros deste blog, teve-se inicio um movimento em prol a nossa cultura, porem discordo de alguns pontos quero expor abertamente a todos para que possam opinar e ou até mesmo assinar tal movimento, enviando criticas e sugestões.
Ao referido segue em vermelho minhas resenhas sobre alguns parágrafos;

Diretriz do trabalho:- Fim do genocídio físico e cultural:
Eu não acredito que seja um genocídio físico e cultural que esteja acontecendo, pelo fato da palavra genocídio ser um substantivo masculino.
Que significa - Crime contra a humanidade, que consiste em, com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, cometer contra ele qualquer dos atos seguintes: matar membros seus; causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental; submeter o grupo a condições de vida capazes de o destruir fisicamente, no todo ou em parte; adotar medidas que visem a evitar nascimentos no seio do grupo.
Claro que não é esta a realidade nacional, a cultura afro sobre com o descaso e ignoto, fato que nosso sistema elege leis que não são aplicadas aos nossos templos, dificilmente são reconhecidos como templos, basta ver as atrocidades que vemos diariamente. Porem apesar disso ainda sobrevivemos ao desastre, e fica claro que em parte a culpa se dá pelos próprios adeptos e sacerdotes que desconhecem seus direitos e caminhos legais.
E nunca a cultura afro esteve tão em evidencia, devemos certo credito a Verger e mais alguns adeptos que forneceram material visual e cultural para que pudéssemos sobreviver e andar pelas ruas com a cabeça erguida. Claro que a intolerância gerada pela ignorância e incompreensão dos adeptos das religiões que não entendem nossa fé, às vezes ultrapassa os limites, porem jamais poderemos trazer a luz com guerras travadas.
Para isso seria preciso mais que assinaturas e meras passeatas, existem a necessidade dos seus adeptos também reciclarem seus conceitos e atos, pois não basta cobrar posturas dos demais, todos precisam se portar corretamente e fazer a sua parte. Quem sabe começando a mudar o sincretismo que existe nas imagens de Exu e Pomba gira , talvez seja este um caminho a seguir para demonstrar que a religião afro não é o que pregam...
Veja a imagem ao lado a representação dos exus e pombagiras, depois repensem como os leigos enchegam tais entidades...

De jovens e adultos das comunidades empobrecidas e dos jovens negros.
Acredito que não somente os jovens negros que sofram com a realidade atual, devemos levar em consideração a população inteira, pois no nosso Brasil possuímos mais jovens carentes alem dos jovens negros.

E não a maioridade penal aos 16 anos.
Eu não concordo, pois o jovem quer votar aos 16 anos, quer ter seus direitos e quem sabe até pegar sua habilitação mais cedo, e não quer responder pelo que faz? Quer dizer então que o jovem pode matar, traficar e roubar que ao fazer 18 anos sua ficha está limpa, sendo assim o crime irá abusar cada vez mais do pré adolescente.

Eixo numero- 01- Gestão Democrática: Controle Social e Externo Integração e Federalismo.
Foram apontadas as seguintes INDICAÇÕES ao Executivo.

1 - Criação de uma agência reguladora de segurança pública, privada e de política para área nacional de segurança que tenha a presença no conselho da sociedade civil em numero igual ao de membros do governo.
Antes de criar algo precisa saber o que irão proteger a população ou a religião, pois órgãos têm vários, mas o que fazem mesmo pela religião????

2 – Inserção efetiva e institucionalizada de apoio ao NAFRO e PMS do Axé.
3 – Cumprimento da Constituição da República no artigo 5º onde a força policial deixe de invadir as comunidades de terreiro e respeite-nos como tradição religiosa de fato e de direito, inclusive protegendo nossos espaços religiosos, como acontece nas celebrações litúrgicas de outras denominações.
A polícia está para nos proteger e não para invadir sem motivos um templo, por isso existe a corregedoria da policia para auxiliar a população e a própria policia.

4- Implementação em nível nacional das Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância- DECRADI, bem como apoio logístico e tático para que as denuncias cheguem ao judiciário de forma rápida e eficaz.

Eixo 05 – Prevenção Social do Crime e das Violências e Construção da Cultura de Paz.
Foram apontadas as seguintes INDICAÇÕES ao Executivo.

01 – Garantia efetiva do comprimento da Constituição no que tange as liberdades religiosas, para as tradições de matriz afro brasileira, bem como a isonomia do Estado, nos presídios, e em todo aparato público.

02 - Garantia efetiva do comprimento da Constituição no que tange as liberdades religiosas, para as tradições de matriz afro brasileira, bem como a isonomia do Estado, nos quartéis e em todo aparato público.

03 – Garantia efetiva do cumprimento da Constituição da República em especial ao seu artigo 5º com o fim da discriminação de raça, opção sexual, e religiosa em todos os setores do Estado, tais como delegacia, presídios, fóruns.
Mas se até mesmo dentro da própria religião existe discriminação como cobrar de um órgão algo que não existe controle nem mesmo dentro da própria estrutura, para isso seria necessário primeiro as instituições religiosas se entenderem no assunto antes de poder bater a porta de alguém....

04 - Que o sistema prisional do Brasil invista em novas formas de controle de segurança (como os vistos nos aeroportos) para por fim ao processo vexatório que as mulheres são submetidas em revistas nos presídios do país.
Concordo plenamente, bastaria implantar Raio x para ver o que algumas levam nas cavidades do corpo.
05 – Que as Comunidades de Terreiros possam ser capacitadas para receber, orientar, as pessoas em situação de risco eminente de morte.
Para isso seria preciso começar educando os sacerdotes que para a maioria descende de regiões e famílias humildes, o que as vezes nem possuem segundo grau, o governo deveria e poderia ajudar mais.

06 - Que o Estado reconheça as Comunidades de Terreiros como uma religião de fato e de direito, respeitando seus templos, assim como respeitam as igrejas do País.
Concordo mas isso é um sonho dourado que não faz parte dos interesses políticos, pois não sabem do poder que existe na massa da religião o dia que seus adeptos não se envergonharem de serem o que são e não usarem o sincretismos para disfarçar sua fé, quem sabe neste dia o senso será verdadeiro

Sendo só o que em compete relatar. Em anexo a lista de presença dos cidadãos e cidadãs que compuseram o fórum.
São Paulo, 24 de julho de 2009.
Pela Coordenação
Tata Matâmoride
adm@portaldocandomble.pro.br
(11).5539-0954 – (11)8559-2722
Secretaria
Mãe Angélica e Oya
angelicadeoia@bol.com.br
11-9211-0685

Por Erick Wolff8

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mostra Cultural Afro Bauruense

Exposições de esculturas, fotografias e telas, além de palestras, debates e exibição de vídeos integram a programação da “Mostra Cultural Afro Bauruense”, aberta hoje. Realizada pelo Conselho Municipal da Comunidade Negra, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura (SMS), o evento está em sua sexta edição e segue com atividades até o dia 2 de agosto. A abertura oficial da mostra, intitulada “Promoção da Igualdade Social”, será às 19h30, na galeria Angelina Messenberg, no Centro Cultural.

Na exposição, composta por trabalhos de artistas das cidades de Bauru e Jaú, o público poderá encontrar diversos artigos que trazem referências à cultura dos afrodescendentes e também dos povos indígenas e ciganos. “Coletamos os materiais por cerca de três meses. Todos trazem alguma coisa a respeito dos hábitos e cultura desses povos”, comenta Ademir Elias, presidente do conselho.

Depois da abertura - que contará ainda com apresentações de danças indígenas, árabe, cigana e afrojazz, além da exibição de um vídeo sobre a história do continente africano - a programação da mostra segue com palestras e debates, realizadas até o dia 30, sempre às 19h30

Serão exibidos os filmes “Um Mergulho na Causa Negra”, do ator e diretor diretor Zózimo Bulbul, um dos ícones negros dos anos 1960; e “Atlântico Negro A rota dos Orixás”, de Renato Barbieri, que retrata a importância do continente africano na construção da sociedade brasileira.

O evento conta ainda com palestras: “Intolerância Religiosa”, com Ricardo Barreira, presidente do Instituto Sócio Cultural Umbanda Fest; e “Dança de Transe nos Rituais Místicos do Norte da África”, com a professora Márcia Nuriah, além de mesa-redonda com lideranças negras para discutir o Estatuto da Igualdade Racial, Racismo, Homofobia.

As atividades complementares à exposição visam discutir, a partir das realidades local e regional, um País mais justo, sob o ponto de vista das relações étnico-raciais. “Com os vídeos e palestras, queremos despertar as pessoas para o debate dessas questões. E serão discussões bem localizadas onde será possível fazer um panorama da região”, considera Elias.

Abertura da 6.ª “Mostra Cultural Afro Bauruense” hoje, às 19h30, no Centro Cultural (avenida Nações Unidas, 8-9). Exposição até o dia 2 de agosto, aberta à visitação de segunda a sexta, das 8h às 18h. Mais informações pelo telefone (14) 3235-1193

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Cultura afrobrasileira autentica?

O que vemos hoje em dia da cultura afrobrasileira é original?
Esta é a realidade imposta pela cultura branca filtrando o que devemos ou não absorver?
Perco meu sono tentando entender o porque querem mesmo fazer sincretismo, será que a religião necessita mesmo beijar a mão do padre na igreja para tocar a sua macumba nos terreiros de chão batido, que já é tão raro na atual sociedade... O oriṣá negro deixa a prateleira para dar espaço às estatuas dos santinho arianos.
Quando será que a população irá despertar que o pobre é pobre seja ele branco ou negro e ambos possuem os mesmo direitos de ajuda... Sem distinção numa sociedade que preserva sua cultura com muito sacrifício, homenagear a áfrica através dos santos católicos, vai entender.... Mas acreditem é esta a realidade de alguns orientadores espirituais...
Sou de Oṣala, o senhor do Alá branco, raiz nago, meu oriṣá é o rei de Ijeṣa, quem eu cultuo há mais de 27 anos, rendo minhas homenagens a ele, Àjọ̀dun ìbọri mi jẹ́, ojo kokan le logún, oṣú keje odún ( meu aniversario de bori é 21 de junho)
Oforibale obokun olori mi

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A NAÇÃO KABINDA-NAGÔ E OS COSTUMES YORUBÁ: semelhanças e tradições no Brasil

Foi por volta do começo do século XIX, que o aculturativo entre os Nàgó e os Jeje se fortificou, com a participação dos lideres religiosos das duas culturas em movimento da resistência anti-escravatista.

Os candomblés ou Batuques eram no começo do século passado, centros de reunião dos Nàgó, com forte influência Islâmica, que aqui viviam como Jeje, Hauças, Gruncis, Tapa e os descendentes do Congo e Angola Costa.

Foi através da Iyáloriṣá Aninha que se firmou como primeiro terreiro Nagô na Bahia, fundado na pureza dos Nagô. Que apesar de assimilarem divindades Jeje (Vodoun) e Nàgó (oriṣá, orixás ou òrìṣà) a Iyáloriṣá deu inicio a uma nova vertente religiosa no Brasil. Em contra partida, se fundava no Sul do País, a nação chamada de Batuque, com quatro vertentes religiosas que tiveram inicio na mesma nesta mesma época e com estruturas religiosas semelhantes.

Duas teses tiveram como ascendente à vertente Kabinda-Nàgó do Rio Grande do Sul, por falta de conteúdo e ou registros históricos que atestem sua origem logo se imaginaria como sendo uma nação oriunda de Angola. Foi buscando a origem da Cabinda (Bantu), que nada mais é do que uma das 18 províncias da República de Angola, que percebi que existiam pontos importantes para se analisar e pesar. Porem mais tarde estudando a linhagem da palavra Kamuka ficou claro que segundo a cultura Bantu, esta palavra traduzida Kamuka refere-se a um ritual fúnebre, ou seja, um funeral. 

Até então poderíamos fazer a relação com o culto Kabinda do Batuque e seus rituais de passagem nos caminhos de Egun. Porem, para que realmente isso ocorresse, Kabinda deveria estar ligada ao culto dos ancestrais especificamente e não ao culto dos Oriṣá, deixando de lado o culto às divindades Yorubá e indo direto para o culto Bàbá-Ègún, novamente isso não seria possível, pois, cairíamos outra vez nos costumes e rituais Yorubá e não Bantu. 

Contudo, ao se deparar com a tradição Bantu não encontramos características que possam alimentar referida tese, sendo claro que Nzaze o Nkissi da justiça, o rei que traz abundância ao seu povo, porem, odeia Fu kia fuíla (morte), é aquele que desaparece do Abaçá (barracão) quando ela (Fu kia fuíla)  o ronda, pois, quando morre algum membro do Abaçá, o costume é suspender todos os atos, e se tiver algum Ìyáwó recolhido o mesmo permanece, porem as  obrigações são suspensas, parando tudo e prepara-se o Ntambi (Sirrum, Aṣeṣe, ETC.), que apenas ao termino dos rituais fúnebres é que se dará a Muzenza (saída do Yawó).

Quebrando assim a ligação do rei Kamuka da nação Kabinda-Nàgó com a cultura Bantu, a partir do momento que os rituais são diferentes dos costumes religiosos deste povo.

Veja o significado da palavra kamuka e o derivado kamukando
Kamuka: desfalecer, morrer. (dicionário kikongo)
Kamukando: funerais (dicionário kikongo)

Seguindo o preceito do ritual da nação Kabinda-Nàgó e seus vínculos com os ancestrais é que poderemos perceber bem como assimilar a justaposição com o povo Yorùbá.

Entre as várias pesquisas de estudiosos e adeptos da Kabinda–Nàgó, as mesmas sempre focaram a busca e o vinculo com o povo Bantu, porem nada que se pudesse atestar sua existência.  Assim se verificarmos o nome e qualidade da divindade em questão, poderemos notar a influência da língua Yorubá = Kamuka = Baruolofina (suponho que seja Baru Olofina), Aláààfin de Oyó.

Algo curioso, pois, dificilmente encontraremos entre os nomes das divindades o seu título, levando em consideração a dificuldade linguística e cultural do século XIX, o que ajudou a perder alguns itens como no caso do Rei da nação Batuque, raiz Kabinda-nàgó, que dificilmente será encontrado algo sobre esta divindade fora desta raiz Kabinda, e mesmo que assim o fosse, nada que possa atestar de concreto à sua origem Bantu, pela falta de registros que atestem a existência da divindade.

Seguindo a possibilidade deste Aláààfin partir de Oyó, pois suas características estão presentes no próprio culto, bem como na sua feitura, tendo sido assimilada pelo povo do batuque em seus rituais, onde surgem as quatro vertentes batuqueiros Jeje, Oyó, Kabinda e Ijexá.

As características deste Aláààfin poderão ser notadas na inversão do próprio nome para sua qualidade; v.g. Kamuka – Baruolofina / Baru olafin – Kamuka; apesar de ser apenas uma suposição, não deixa de ser uma clara ligação com o povo de Oyó, com o culto da nação Kabinda-Nagô ligado ao culto dos ancestrais.

Outro ponto a se analisar, é a confirmação do culto de Ègúngún dentro dos  rituais classificados pela Kabinda-Nàg', do batuque, sendo que ela é a única nação do Rio Grande do sul que antes de começar qualquer ritual de feitura, é costume reverenciar os antepassados, características exclusivas dos Kabindeiros, sendo este ritual tão diferente das demais vertentes religiosas afro-gauchas. 


 “A iniciação do Aláààfin
O novo Obá (rei) escolhido após fazer sacrifícios e banhos purificatórios, ficará recluso em um quarto provisório chamado Ipádi, recebendo instruções reais. A coroação do novo Aláààfin acontece 3 meses após a morte do antigo rei, na terceira lua nova, para ser mais exato. O ato da coroação ocorre em várias etapas durante vários dias.
Chegado o tempo, ele sairá do Ipádi e a sua primeira parada será em um local chamado abátá, em frente ao palácio real onde ele deverá trocar de roupas passando a usar roupas reais, sendo aclamado pelos súditos.
A segunda parada será na casa do Aláàpíni, o grão-sacerdote do culto dos  Egungun (ancestrais), que o reconhecerá como novo rei.
Em seguida, ele deverá visitar o Bàrà, consagrado Mausoléu Real construído na periferia da cidade, que fica aos cuidados da Iyámondè, sacerdotisa celibatária encarregada de cultuar e zelar pelos assentamentos dos reis mortos.
O novo Aláààfin visitará os túmulos de seus ancestrais e assim receberá a autorização para usar o adé (corôa), realizando nesta ocasião diversos sacrifícios. Ao terminar, ele deverá retornar ao Ipádi, seu quarto provisório.
Cinco dias após, ele deverá ir ao templo de Sàngó, em Kòso, e ali o novo Aláààfin é formalmente coroado, e um colar de contas chamado èjìgbà é colocado em seu pescoço.  Ao fim da cerimônia, ele retornará ao Ipadi, pois os atos ainda não estão completos.
Novamente cinco dias após, ele deverá ir até o templo de Oranyan, onde a espada de Oranyan, espada da justiça (idájó) será colocada em suas mãos, retornando ao ipádi.
Outra vez cinco dias após, ele deverá ir ao templo de Ògún para realizar sacrifícios, entre eles, um carneiro e um cachorro. Após isto ele retornará ao Palácio Real, mas desta vez entrará pelo portão principal e não se alojará mais no ipádi, mas sim, em outro comodo real previamente preparado e sacralizado com sacrifícios para a guarda do novo Aláààfin.
Ao novo rei será proibido aparecer em público, exceto durante as festividades anuais.”
¹

Se distanciando dos cultos das religiões dos candomblés e religiões-afros tradicionais, com seus rituais que não envolvem esta prática, ou quando existe é apenas  para os rituais fúnebres.

Diferente das demais culturas afro o Igbá do Bori é extremamente importante para dar continuidade ao ritual de Aṣeṣe, pois ao iniciar o ritual fúnebre, mais conhecido no sul por missa de Ègún ou Aressun, o Bori tem uma função importante para dar o “start” ao ritual fúnebre.  Desta forma prepara-se o elegun para o rito de passagem da vida para o mundo dos mortos.

É notório que o grande avatar e rei da nação Kabinda conhecido pelo nome de Kamuka, é cultuado somente dentro da Kabinda, as demais vertentes do batuque não rendem homenagens ou culto a esta divindade, que por sinal poucos Kabindeiros se rendem a comentar sobre esta divindade, ritual ou procedimento de trato. Criando um tabu ao redor do culto e do rei da nação (kamuka), jamais pronunciando seu nome ou tirando suas cantigas em qualquer lugar.


O Aláààfin Kamuka, assim cultuado no sul, abre uma possível porta para entender o pacto dele com os  Egun e o Igbàlẹ̀, prática ritualística no culto da Kabinda, tendo inicio no ritual ao saudar e reverenciar os ancestrais antes de qualquer cerimônia, ponto crucial para o inicio do ritual de iniciação, ficando a cargo de cumprimentar primeiro Kamuka no Igbàlẹ̀ e os ancestrais, pedindo permissão para poder cortar uma ave ou até mesmo um animal de quatro pés para a feitura.

Algo interessante que necessário se faz mencionar é que o povo da Kabinda-Nago, é a única nação que quando está em processo de iniciações ou assentamentos de Oriṣá, caso venha a falecer algum iniciado que pertença à família religiosa, a obrigação não irá se perder, caso a casa tenha feito o devido corte com equivalência de bichos oferecidos para angò. Claro que este procedimento ocorre apenas dentro do culto à referida Kabinda-Nàgó, pois qualquer outra religião afro-brasileira caso venha a falecer alguém da família durante uma obrigação arriada, perde-se toda a obrigação invalidando a feitura. “E deve-se despachar tudo que foi feito sem aproveitar nada”.

Um costume nas casas mais antigas Kabindeiras é o Entoto no meio do salão, onde dentro dele são feitas seguranças e assentamentos para Kamuka, uma das únicas vezes que esta divindade é trazida para dentro do Ilé. No entanto este ritual quase não é mais praticado nos tempos atuais.

Outro item importantíssimo é a língua usada dentro do ritual, pois toda a ritualística segue a língua Yorubá, até mesmo os Orins do Kamuká. Caso fosse um nkissi, seria muito clara a influência  Bantu entre os rituais da Kabinda, ficando assim mais uma vez enfraquecida a busca nas origens da cultura Bantu. Mesmo assim não podemos afirmar com precisão, pois até mesmo as rezas sofreram mutilações durante a passagem dos anos.
Apenas podemos ter certeza que ele é uma divindade Yorubá, pois seu Orukó carrega uma segregação do titulo do Aláààfin, como está claro em seu Orin;

Alárun dé Sàngó kámùka Bàbá obá olòfinà ti Sàngó kámùka

Outro fator que nos leva ao povo Yorubá é menção do Adóṣù (um elemento Yoruba que faz parte do ritual de feitura). Que mesmo não sendo usado nos rituais atuais ele é mencionado durante o Sirè dos Orisás, justo na reza da Iyá Yemanjá, a dona das cabeças;

Adòṣù mò gbé' ke ara orò adòṣù mò gbé' ke ara sé Sun (o iniciado que carrega na sua cabeça um " Adóṣù" reconhece o sagrado que vem do alto e a família espiritual, o iniciado reconhece a elevação que vem do céu, recebendo a família).

Um única dúvida que me fez iniciar esta matéria foi a etimologia da palavra Kabinda, por ela não possuir correlação com o povo Bantu. Então qual seria a origem da mesma?
Será que poderia ser alguma corruptela do povo Ketu, ou quem sabe a origem correta da palavra perdida? 

kábíyèsílẹ nda Kamuka” (fazendo saudação ao Rei Kamuka)

¹Tradução - Luiz Marins.
Texto - ABRAHAM, R. C.  Dictionary of Yoruba Modern, London, Houder & Stoughton, 1962 [1946].
JOHNSON, Samuel. The History of the Yorubas, London, Routledge & Kegan Paul, 1973 [1921]
Crédito:
Texto- Erick Wolff∞
Edição RobertoTamelini Jr.

Agradecimentos pelo apoio e incentivo - Luiz Marins

TIKTOK ERICK WOLFF