domingo, 7 de março de 2010

Abàfé

O uso mágico das folhas na religião iorubá sempre vem acompanhado de expressões de encantamentos que visam despertar o àṣẹ das folhas utilizadas. Estes encantamentos são chamados ọfọ̀.


Uso nos terreiros:
No àgbo, banhos, sacudimento e trabalhos diversos.
Folha usada para Yemonjá (de flor branca) e para Oyá (de flor rosa)
Seu nome significa “Pequeno chapéu” (Verger 1967:10).



Uso em Ifá:

Do odu Òfún ìwòrì em “trabalho para ter boa caça” (Verger 1995:335)
Do odu Òfún méjì em “trabalho para dominar alguém” (Verger 1995:345)
Do odú Okànràn méjì em “trabalho para prender um louco” (Verger 1995:383).
Do odu Osé ogbè em “proteção contra picada de cobra” (Verger 1995:447)
Do odu Okànràn ìwòrì em “proteção contra animais selvagens” (Verger 1995:449)
Ofó do odu Ìkáwòrì (Ìká Ìwòrì) (Verger 1967:10-11) em trabalho para confundir a mente de um inimigo e torna-lo incapaz de raciocinar.


T’ilekun mó o k’ó má le jade
Ìpanumó abàfé ba mi
T’ilëkun mó otá mi gbonyingbonyin
Lati fi ra ọ̀tá niyè
Ìkáwòri (Ìká Ìworí)

Fechar a porta permite à folha Abàfé não se revelar
Abàfé nos permita fechar a porta firmemente ao meu inimigo.
para incomodar a mente de seu inimigo e o faz incapaz de calcular



Bauhinia Thoningii, schum, caesalpiniacene
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Verger, (1967:11) classifica esta folha como Bauhinia Thoningii Schum., Caesalpinaceae. Todavia, em Ewé, ( Verger1995:708) ela está classificada como Piliostigma thonningii (Schumach.) Milne-Redh., Leguminosae-caesalpinioideae, o que pode ser uma sinonímia ou uma planta, da mesma família, substituída no Brasil.

a) Pata-de-vaca-de-flor-branca (nome popular)
b) Pata-de-vaca-de-flor-rosa
a) Bauhinia candicans Benth., Leguminosae-caesalpinioidea (nome latino)
b) Bauhinia purpurea L., Leguminosae-caesalpinioidea

Por Erick Wolff8

Mau gosto e falta de informação representando um itan de Oyá.

Foi com grande desagrado que tomei conhecimento deste vídeo, que por sinal é uma das piores produções que chegou às minhas mãos.


Não consigo entender como o Ministério da Cultura pode patrocinar e deixar vincular seu nome, como também a Sabesp e a Petrobras. Nós que lutamos em busca de uma imagem digna e um conceito severo para ilustrar os itans da cultura “afrobrasileira”, estamos indignados com esta produção, nossa cultura jogada no chão e pisoteada com um vídeo de tão mau gosto.

Para aqueles que não entendem irão ver “Oyá” sendo representada por uma pré-adolescente meio vadiazinha, retardada e sem noção, que ao narrarem um dos seus itans deixa a calcinha e as os seios riscarem a cara do público, insinuando que não passa de uma vagabunda. Que longe disso Oyá é retratada como uma grande guerreira e não uma vadia… Antes que a visão da nossa fé seja mais uma vez abalada e jogada na lama, eu acho que os patrocinadores deveriam tomar atitude perante este crime cultural que está sendo postado.

Nunca me senti tão insultado, até ver este filme de mau gosto e péssima produção levando as bandeiras dos patrocinadores.


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3qzeDMyheOA


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Em resposta a solicitação de Erick Wolff, sobre o patrocínio ao curta Yansan, a Sabesp responde:
- A empresa não é responsável pelo conteúdo das obras audiovisuais que apóia. Todo o conteúdo apresentado é de responsabilidade do autor, que responde também a questionamentos legais em caso de possíveis danos materiais e morais.
- Também não compete à Sabesp a seleção dos projetos audiovisuais que serão patrocinados. Segundo o Decreto Estadual 42.992, cabe à Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo esta avaliação:

Decreto Nº 42.992, de 1º de abril de 1998
Dispõe sobre a aplicação de recursos de incentivos fiscais por entidades da Administração Indireta

MÁRIO COVAS, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições legais,

Considerando a obrigação do Estado de garantir à população o acesso aos meios culturais; e

Considerando que é função da Secretaria da Cultura coordenar e executar a política cultural do Estado de São Paulo,

Decreta:

Artigo 1º - As entidades da Administração Indireta deverão aplicar recursos de incentivos fiscais, até o limite máximo permitido por lei, em projetos culturais previamente definidos pela Secretaria da Cultura.

Artigo 2º - A Secretaria da Cultura informará às entidades da Administração Indireta tão-logo selecionar projetos culturais, previamente aprovados pelo órgão competente, para fins do disposto no artigo anterior.

- Em acordo com este Decreto, o projeto de Yansan foi aprovado em um programa de apoio a curtas-metragens, realizado pela Secretaria de Cultura em 2005. Todos os inscritos foram avaliados por uma comissão formada por membros da Secretaria e do mercado cinematográfico (diretores, produtores, etc), escolhidos por sua notoriedade e experiência neste meio. Coube à Sabesp somente a destinação dos recursos, repassados com base nas leis de incentivo fiscal.

Assessoria de Imprensa da Sabesp


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Tentei por diversas  vezes  falar com a assessoria de  imprensa  e ou algum responsável pela Petrobras e Ministério da cultura, porem ninguém responde e ignoram o crime que cometeram contra  a nossa  cultura.

O lixo = http://www.portacurtas.com.br/pop_160.asp?Cod=4839&Exib=1

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Os Búzios não vieram da África

Se alguma vez pronunciamos a palavra Búzio, logo a seguir forma-se uma imagem na mente de qualquer ser humano ligando ao culto afrobrasileiro, mas para a curiosidade da comunidade afrobrasileira, os búzios não são nativos africanos.

Segundo alguns estudiosos os búzios conhecidos por Caurí foram introduzidos na áfrica pelos europeus, este objeto que já foi à moeda corrente da áfrica e o objeto mais cobiçado entre as religiões afrodescendetes vindo de terras estrangeiras!

Estes estudiosos que afirmam que durante o século XIV o comércio entre os povos africanos, europeus e suas comitivas, era feito a base da troca da moeda Caurí de origem asiática. Mas se a história confirmar estes relatos muitos conceitos africanos deverão ser revistos, que baseados nos antigos Itan que relatam a presença dos búzios na cultura e religião afro desde a origem do homem, sendo usados para rituais e importantes instrumentos de comunicação com as divindades.

Estes Caurí incorporaram na áfrica através das culturas vizinhas, será possível?
Ifa Divination (Willian Bascom)
A maioria dos sacrifícios incluí dinheiro (owo), embora muitos não o prevejam. Os montantes estão fixados nos versos em termos de caurís (owo), que serviram como dinheiro antes da introdução da nova moeda corrente. Na parte segunda, o número de caurís exigidos e fornecido pelos textos iorubás e pelas suas traduções interlineares, sendo seus valores traduzidos nas páginas opostos em termos de libras, shillings, pence e Ọninis. O Ọnimi era uma moeda nigeriana e valia um décimo de um penny, tendo uso corrente em 1937‐38, ocasião em que o shilling equivalia a Us 0.24. Após a segunda guerra mundial lentamente foi saindo de circulação em decorrência da inflação e o valor do shilling caiu para Us 0.14 por causa da desvalorização da libra esterlina. Uma segunda desvalorização da moeda inglesa em 1967 reduziu o valor do shilling para Us 0.12.
A inflação reduziu o valor dos caurís desde os primeiros dias do tráfico de escravos. Em 1515, o rei de Portugal concedeu uma licença para a importação de caurís procedentes da Índia para São Tomé, e em 1522 estavam sendo importados na Nigéria, vindos da costa malabar por meio de comerciantes portugueses (Ryder, 1959: 301). Durante o século XVII, os holandeses importavam (IFÁ DIVINATION –WILLIAM BASCON 68.) caurís para Nigéria, procedentes das Ìndias orientais (Dapper, 1668: 500). Durante o século XIX, informava‐se o valor que o valor de 2.000 caurís era 4s.6d. 1, segundo tuckeer (1853: 26) e como tendo caído para a faixa entre 2s. e um 1s. 5d., segundo Burton (1863: I, 318‐319), quando caurís ainda mais baratos estavam sendo importados de Zanzibar. Estes caurís de Zanzibar (owo eyọ) conduziram os menores caurís brancos da Índia e das Índia Orientais para fora de circulação como moeda, conquanto ainda sejam usados com propósitos rituais. Quando caurís foram substituídos por moeda corrente, o valor de 2.000 caurís estabilizou-se a 6 d., pelo menos com o fim de divinação ou 80.000 libra. Caurís eram contados em cordões de 40 cada, em feixes de 200 (5 cordões), em cabeças de 2.000 (10 feixes) e em sacas de 20.000 (10 cabeças) pesando 60 libras. Na faixa de dinheiro incluído nos sacrifícios, a unidade básica de contagem é de 2.000 caurís (egebewa, egba).
Quando dinheiro está incluído no sacrifício, fica entendido que, exceto quando especificado diversamente no verso, fica em poder do divinador a título de pagamento (eru). Alguns versos elucidam quando ele não recebe pagamento algum; outros dizem que ele não pode conservá‐lo e precisa passá‐lo adiante.
Alguns versos (p.e. 35‐7, 241‐2, 248‐1, 248‐2) exigem a mesma soma de dois ou mais indivíduos, incrementando o rendimento potencial do divinador mas não o custo para cada consulente individual. Os montantes mais comumente mencionados nos versos registrados são 7 d. 2 o. (doze exemplos), 1 s. 7d.8 o. (catorze exemplos), 3 s. (vinte e três exemplos) e 11 s. (doze exemplos). A faixa estende‐se desde menos de um penny (7,8 oneres) até trinta Shilling, com dois shilling com medial.
Essas somas de dinheiro eram muito mais custosas naqueles tempos anteriores a inflação, que reduziu o valor dos caurís, mas mesmo assim eles não eram nada baratos em 1937‐38. Segundo Farde e Scott (1946:91) o salário por dia dos trabalhadores das fazendas de cacau de Ifé era apenas uma safra muito próspera de cacau, e, em 1937, trabalhadores de cacau recebiam simplesmente seis pence por dia, de acordo com informantes de Ifé.
1shilling, d- pence, l libra esterlina (£) corresponde a 20 s. Ou 240 d. Ou seja, 1 s. vale 12 d. (N do T)

Estes búzios que foram usados como moeda corrente e instrumento de adivinhação pelos sacerdotes da religião aos Òrìṣà e Ifá, são referência atual de poder no ritual afro, porem segundo mais algumas fontes que afirmam que eles não nasceram na África, traçando rotas distantes até aportar no continente africano.
Tais moluscos são até hoje usados como instrumento de comunicação para com os Òrìṣà, importantíssimos objetos sagrados e ritualísticos que algumas vezes representam riqueza e ou prosperidade mágica no culto.

Perante o conceito africano Òrùnmílá é uma divindade dotada de uma inteligência incomum, e é consultado pelos Babalawo, Babalòrìṣà e Iyalòrìṣà que comunicam-se com as divindades africanas através do conhecimento de Òrùnmílá. Existem itan que rezam que até mesmo Ọlọrun foi procurar o conhecimento deste para suas dificuldades, devemos analisar a necessidade do Deus maior entre os Yoruba em procurar um sacerdote para resolver seus enigmas. Acreditar neste paradigma é repensar a influência que Òrùnmílá tem sobre os deuses africanos, tudo isso vinculado aos Caurí e a potencialidade dos seus segredos.

Da mesma forma que veremos entre os itan mais antigos, menções que contam que Òrùnmílá usa da sabedoria para resolver problemas dos deuses, receitando Ẹbọ com vários Caurí.

Indo além poderemos observar no conceito que arrasta o poder ritualístico, na ciência e mistério que envolve os Caurí, da mesma forma que sabemos que o culto de Òrìṣá e o culto de Ifá praticamente não fazem nada sem Èṣù, Ọ̀ṣún, Òsanyìn e Obàtálá, da mesma forma que é imprescindível a presença destas divindades no culto. Fazendo com que Òrùnmílá possua sabedoria e ciência para desvendar os caminhos de Ifá, porem não é portador de poder algum.
Após uma breve pesquisa na Net, foi possível achar mais um rico conteúdo que entra novamente com dados históricos e informações curiosas.
http://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/bco_imagens/moeda/moeda_04.htm
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,oi1170197-ei6607,00.html

Classificações cientificas
http://www.maramar.ind.br/Shells/visSpecie.aspx?dsF=CYPRAEIDAE

Por Erick Wolff∞
Agradecimento Luiz L. Marins

TIKTOK ERICK WOLFF