quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Desabafo de um umbandista

*Por  Betotam

Minha indignação, sempre existiu, e acho que se fosse de outra religião, seria considerado  ortodoxo confesso que até um pouco xiita na maioria das vezes, mas me controlo, ou melhor, meu pai e irmão de santo me controlam.

Mas tem horas que as coisas fogem do controle, enquanto somos humilhados e marginalizados pela maioria dos evangélicos e católicos, sempre achei que éramos mais próximos dos “kardecistas, mesa branca”, mero engano.


Destarte, que sempre gostei dos livros  ditados à escritora Zibia Gaspareto, inclusive os ditados pelo o espírito Lucios, mas ao ler o livro Ninguém é de ninguém, fiquei perplexo, e confesso que extremamente revoltado, me questionei, o meu gosto por este tipo de leitura, bem como rapidamente digitei um texto extremante arrogante diria ofensivo.


Por isso pedi ajuda ao meu Irunmolè para que assim não o fosse, e com calma pensei melhor para reescrevê-lo, claro que não foi ditado por nenhuma entidade este texto, até por que quando falamos em entidades na umbanda não estamos falando em seres que tenham estudados e saibam escrever, nem usam tecnologia que ainda não temos na terra, para se comunicar, nem mesmo pedi para que me ditassem um texto, até por que esta é uma opinião pessoal,  estou fazendo apenas o papel de defensor da minha crença, do meu amor as minhas entidades e aos meu orixás.


Voltando ao livro em questão,  afinal de contas este foi o start para começar a escrever. A historia é bonita e como sempre em forma de romance, até que em um determinado ponto da historia, um dos personagens necessitando de um “favor” para conseguir algo, que na nossa cultura vulgarmente chamam-se de “amarração”.

“Favor” este, que é solicitado em um sonho, como um pacto com o diabo
.

Se fosse só isso, tudo bem! Não teria me chocado tanto assim, porém é firmado que esta entidade é um Exu. (Para quem não sabe Exu é uma entidade na umbanda e um orixá para algumas nações do candomblé, sendo apenas o nome em comum, pois são coisas distintas.)


Como se não bastasse tamanha atrocidade, cometida por este espírito Lucios, ainda há referências depreciadoras dos terreiros de umbanda, como se fosse coisas do mal, que só servissem para fazer trabalhos como os citados no livro.

Desta forma, nota-se que o  Exu da umbanda,  está sendo caracterizado neste livro como sendo uma entidade ignorante, que domina as pessoas e que nada mais faz do que vampirizar a energia delas, mentira Exu não é e nunca será assim.


Está ai um preconceito que os espíritas “Kardec” demonstram para com a umbanda desde dos primórdios existe, e me enoja.


A umbanda só existe por causa deste preconceito, fato este notório, pois ao que não sabem o Caboclo 7 Encruzilhada e demais entidades do fundador da umbanda eram proibidas de se manifestarem no médium Zélio, sendo então que o referido caboclo resolveu fundar uma religião onde poderiam ser manifestar nos médium, sem a interferência do espíritos que se dizem evoluídos e claram acreditam em Jesus e Deus


Mas vir a chamar espírito obsessor  de Exu é demais. Concordo que Exu seja o primeiro patamar para a evolução espiritual de espírito, mas convenhamos que nem todos os Exus são como os descritos no livro acima mencionado, não pode haver esta medíocre comparação.


Eu mesmo por ser umbandista tenho meus Elegbaras e sei que de forma alguma eles trabalham desta forma, como as descritas no livro, muito menos se prestariam a serviços como o que relatados.


A meu ver isso não passa de preconceito do espírito que ditou o livro, pois está generalizado entidades que ele desconhece, ele não faz parte desta religião.


Quer ditar romance água com açúcar para a médium ganhar $$$, por que se fosse um trabalho que tivesse a caridade prestada, os mesmo seriam de graça e não se cobraria para obter a informação.


Claro, pois na umbanda não se cobra pelo atendimento, não se cobra pelo material utilizado, é gratuito o tratamento, e também não há tempo contado para receber um “passe” como acontece na Federação Espírita.

Mas ao contrario deste espírito, que a meu ver é pouco evoluído, nos umbandistas não ficamos a criticar o espiritismo, não ficamos deteriorando a fé deles, ao contrário os deixamos quietos no lugar deles, mas claro, sempre consertando os erros que ele fazem ao tentar ajudar as pessoas.

Penso que se com oração e bom entendimento tudo se resolvesse não teríamos prisões e sim conventos e monastérios, onde a palavra do Deus deles resolveria e com amor oração ele os infratores não matariam mais.


Assim, segue o desabafo de um Umbandista,  que está cansado de  ver sua religião sendo discriminada por todas.


Agora penso que será que não estamos a ponto de viver uma Gihad dos quem acreditam em Cristo contra as demais religiões, será que voltamos à era das caças as bruxas? A idade média esta voltando????

Pois se for assim, quero ser uma  Joanna D’arc  e morrer queimado na fogueira por amor aos meus orixás e ao meu Irunmolè.

*Betotam – Umbandista há 10 anos, idade 28 anos, formado e pós graduado.

domingo, 19 de setembro de 2010

O FILME "NOSSO LAR"

Segundo o filme “Nosso Lar”, o livro ao qual se baseia é uma sequencia de erros.

O filme começa com o espírito “André” passando pelos portais, tais que habitam seres perturbados, espíritos que não se conformam com seu estado atormentando causando sofrimentos às demais almas que ali se encontram. Tal dimensão esquecida por “Deus” e habitada por energias negativas que negam a existência de Deus, impossível de serem emanadas pelo criador benevolente tais vibrações. Ao mesmo tempo em que ínsita a pensar que “Deus” abandonaria as almas que sofrem e cometeram erros, com a desculpa do livre arbítrio.

Cenas do purgatório muito semelhante à visão deformada do inferno segundo Dante, o que faz mais uma vez repensar sobre a originalidade das produções nacionais, que a cada vez mais considero necessário redescobrir sua personalidade e conceitos.

Outro ponto a discutir é sobre o envelhecimento dos espíritos, considerando que ao morrer aquele espírito deixa para trás a sua energia terrena e tanto o envelhecimento quanto barba, pelos e unhas deixam de crescer. Afinal é transformação que o corpo terreno passa e que não faz mais parte do espírito desencarnado. E este estado de realocação entre os planos espirituais não seriam como os terrenos, difícil imaginar que seja real esta situação exposta pelo filme.

Claro que o tempo cronológico do espírito e da matéria é diferente, seria impossível calcular um tempo de uma entidade com o tempo material a qual vivemos, mas o que é certo e podemos observar é que entre as religiões Afro-brasileiras e até mesmo Espíritas, as entidades ou mentores não fazem aniversario e não mudam de idade. Desta forma o crescimento da barba, unhas e qualquer transformação do espírito seriam muito falsas e equivocadas (o personagem André aparece varias vezes com a barba crescendo).

Assim sendo que o espírito ao morrer irá manter a sua imagem, afinal ali finaliza a materialização e o corpo cessa a constante transformação que ocorre no organismo, eternizando o momento da sua morte. Mas aí tropeçamos com um problema maior que o filme trás à torna o descrédito e demérito para a fé religiosa. Se o espírito é eterno então ao reencarnar o espírito deve manter a mesma fisionomia e características que o seu espírito tinha?

Algo que o filme aborda e acho muito bom comentar é que os espíritos fêmeos estão encarnando em corpos femininos, sem mudança dos corpos, assim existindo até mesmo na ideologia do filme uma distinção entre espíritos das mulheres e dos homens. Abrindo precedentes para um estudo da ciência que observa crianças que não se encaixam nos corpos aos quais habitam, considerando a existência do terceiro sexo e da possibilidade dos espíritos estarem em corpos errados. Considerando que o espírito não muda o sexo, então aqueles indivíduos que sofrem com o corpo atual e lutam para a mudança do sexo, deve ser considerada como um erro divino ao quais os sacerdotes se recusam a aceitar.

Mas se aquele indivíduo que irá reencarnar, poderá ou deverá manter a sua imagem, como afirma a novela das 18hs exibida na TV Globo, que mostra a personagem da “Nathalia Dill” (Viviane), em uma das suas vidas com características idênticas a atual. Será possível isso, sendo que o filme aborda o cruzamento de famílias e a permanência do mesmo espírito nas mesmas famílias, mas então, porque não vemos aquele ente falecido ressurgindo novamente com a mesma aparência?

Deve ser por isso que as filosofias espiritualistas são tão massacradas, erros como estes distorcem a realidade e a credibilidade da fé.

Um dos piores momentos do filme é a supremacia ariana, que irá perceber que os negros mal aparecem no filme, se aparecem não possuem cargo ou evolução, apenas participam em segunda fase, como se os negros não evoluíssem, sem esquecer que os asiáticos nem sequer aparecem, alguém viu algum, se viu me avise, eu quero clipar?

Mas a exclusão das etnias é muito clara, não vimos um índio sequer, nem brasileiro nem da América do sul, será que estes espíritos não chegam ao “Nosso Lar”, possuem espírito?

Algo que senti falta neste filme Nosso Lar, ele mostrou o purgatório, a cidade ”Nosso Lar” e alguns portais, mas não mostraram “Deus” ou qualquer energia divina que pudéssemos imaginar como a base divinal destes espíritos. Mal colocaram anjos anunciando desgraça, será que isso é a vontade de Deus anunciar desgraça?

Deixando de uma vez os espíritos entregues aos próprios espíritos e as energias do mal, será que a realidade deste livro e filme é uma cidade auto produtiva e auto-suficiente sem a presença de Deus????

Não gostei, achei fraco e esperava algo melhor.


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Reconsiderações

Eu quase me esqueci de comentar sobre a questão dos espíritos necessitarem do alimento, por mais que seja simbólico e a ingestão da sopa ou mesmo a água, contradizem as constantes críticas preconceituosas e discriminativas que sofrem a cultura Afro-brasileira. Injustamente são acusados de cultura primitiva e retrograda.

Considerando que os alimentos possuem energia, que ao serem preparados ritualisticamente, eles sofrem uma imantação muito maior, desta forma tanto a oração, cânticos entoados ou alimentos ofertados aos espíritos, serão sempre recebidos e comungados. Considerando que os templos são recintos preparados energeticamente para receber tais espíritos, observo que ao contrário do que a população imagina, os rituais não fazem os espíritos descerem ao nosso plano, através do ritual e devidas preparações as vibrações se elevam ao plano superior alcançando estes espíritos aos quais vemos constantemente incorporados nos templos, existe, portanto uma ritualística e liturgia para tal acesso, que eleva as vibrações e energias para um plano superior.

E considerando que apesar de acharem tais rituais bárbaros, nós podemos encontrar alguns costumes semelhantes até mesmo na cultura oriental que oferecem alimentos aos entes falecidos.

E voltando ao foco da Umbanda e ou Nações Afro-Brasileiras, apenas uma domestica, negra e cheia de fios no pescoço viu o espírito do André, será que a cultura afro-brasileira terá que ser sempre representada pela mãe negra e pobre, houve uma cena com um comentário sobre os negros, ao qual vemos uma família sentada à beira do lago com mais alguns familiares, mas todos com Ojá na cabeça, simples e inculto, observem?

Por Erick Wolff8

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O BANQUETE DOS ORIXÁS: COMIDAS QUE NÃO FAZEM PARTE DO RITUAL DE ORIXÁ.

Por Erick Wolff de Oxalá

Revisado e aumentado 14/09


A cultura religiosa Yorùbá no Brasil, gira em torno à comida que vai dos rituais de iniciação (Oribibọ, Bọrí e Feitura), Arissum e rituais para Egungun, festivais e grandes festas. Todas são regadas de comidas e muita fartura, algumas destas até são produzidas bebidas especiais.

jẹ- comer (sentido geral).
jẹun - tomar comida para si.
ìjẹun - o ato de estar alimentando-se
õn´jẹ - comida (sentido geral)
ìbáje ou àbáje - comer em companhia de outra pessoa (não confundir com bàjé: estragado, tido erradamente por menstruação na diáspora)

Cada ritual exige determinada comida que deverá ser oferecida às divindades e ou convidados. Não deixando de lado as intervenções ou proibições que os adeptos da religião recebem como não comer algumas comidas ou determinados alimentos como o Dendê, Mel, Ovos e etc...

Muitas destas comidas produzidas durante os rituais são oferecidas aos convidados e adeptos durante o toque, nas paradas para descanso ou ao final de cada celebração. Muitas vezes os banquetes são gigantescos servindo muitas aves, cabritos e carneiros, dependendo da nação ou ritual.

Na atualidade, fez com que alguns costumes mudassem, hoje em dia chegamos a ver garçons servindo "estrogonofe, batatinha e arroz com uma bela salada grega", se engana quem disser que não faz parte do culto afro-brasileiro, claro que faz, apenas é preciso deixar claro que algumas comidas do nosso dia-a-dia fazem parte do culto, porem são restritas a determinados rituais como o Arissum.

Para quem não sabe do que se trata o Arissum, é o ritual para preparar o Láilẹ̀émi (aquele que não tem mais respiração, o falecido) para o novo estado, ele deverá se desligar do mundo dos vivos e voltar para o Ọ̀run, abandonando a personalidade existencial e reintegrando-se para viver sua personalidade eterna. Muitos destes rituais levam sete ou ate mais dias, alguns chegam a durar ate três meses dependendo do grau do iniciado ou “Status” a que ele pertença.

Durante o Arissum será preparada comidas para determinados Òrìṣà, Láilẹ̀émi e para Egungun, uma das primeiras vezes que participei, tive a paciência de contar quantas e quais pratos foram oferecidos, chegou a quase 170 pratos, entre eles alguns da última ceia do próprio Láilẹ̀émi.

Comida para Egungun


- àgbò (carneiro)
- Ẹyẹlẹ́ (pombo)
- Ọ̀ọ̀lẹ̀ also called mọ́yín-mọ́yín (bolinho cozido, feito com feijão)
- Àkàrà (bolo frito, feito com feijão)
- Omi tútù (água fria)
- Ẹmu ọ̀pẹ (vinho de palma)
- Obì abata (semente de cola nstiva Yorùbá)
- Oúnjẹ ti ẹnu BA n´jẹ (todas as comidas comestíveis)


Como puderam ver, todas as comidas que servimos à mesa fazem parte deste ritual, desta forma muito difícil o convidado verá “quibe, coxinha, arroz doce, galinhada, empadinhas, etc” sendo servidos durante os toques tradicionais da cultura Afro-gaucha.

Neste caso evitaremos em nossos rituais de Òrìṣà, comidas servidas em rituais fúnebres ou vinculados a 
Egun como Galinhada, Arroz com couve, Arroz com linguiça e em algumas casas ainda evitam arroz doce e risoto, esta variação pode ocorrer conforme a tradição de cada família. Caso ocorra de alguém que tenha proibição de comer alguma delas em seus rituais encontre determinada comida ela casa que visita, apenas deixara de comer.

TIKTOK ERICK WOLFF