sexta-feira, 20 de março de 2015

ALTAIR TOGUN FALA SOBRE A POLÊMICA DO IGBÁ-ORÍ


[…]

Aí é que começa a história do igbá-orí, literalmente, cabaça da cabeça, pois os assentamentos eram feitos em cabaças – igbá, daí o nome ter virado sinônimo de assentamento de Òrìsà, a cabaça do orí. Costuma-se fazer assentamentos com as mais variadas coisas para representar o orí de uma pessoa.

Esta variedade de coisas deve-se, a que o orí seja o que individualiza o ser humano. Como no caso das impressões digitais, ninguém tem orí igual ao de outra pessoa, cada orí é único e exclusivo daquela pessoa. Então, faz-se o assentamento numa cabaça ou tigela, o mais comum entre nós, e esse assentamento é cultuado como igbá-orí, ou seja, a representação física do orí-inú da pessoa.


Tudo bem, este comportamento é usual e corrente. Mas, sem querer ser o único certo, longe de mim isso, eu não concordo com esse tipo de igbá-orí, porque eu penso que a melhor representação do nosso orí-inú é o nosso orí físico, ou seja, a nossa própria cabeça. A nossa cabeça física é a materialização da nossa cabeça interior, acho eu. Qual o melhor objeto para representar o nosso orí-inú, que não a nossa própria cabeça? É dentro dela que se instala a outra do òrun, por isso, chamado orí-inú (cabeça interior).

Mas interior onde? Da cabeça física que também, acho, tem o formato do igbá (cabaça).
Quando fazemos um borí, nós estamos cultuando esta cabeça interior. E onde nós fazemos os preceitos? Diretamente em nossa cabeça, pois é ali que mora o nosso ori-inú e o nosso Òrìsà. Então, é à nossa cabeça que devemos reverenciar, não aquela tigela com alguns objetos que dizem, ser o igbá-orí. Digo isso por que acredito assim.

E algumas vezes, quando sou questionado por algumas pessoas que por “n” motivos, perguntam o quê fazer com seu igbá-orí. Outros, preocupadíssimos porque seus zeladores não querem entregar ou que pior ainda, despacharam seus igbá-orí.

Então, converso com elas dizendo isso que acredito. Grande parte delas se acalma e acaba concordando comigo. Não que eu seja o dono da verdade, mas, há lógica em minha teoria.


Entretanto, se não houver, é um bom assunto para ser pensado por todos. Igbá-orí não deveria existir, pois não há lugar melhor para cultuar orí-inú que sobre orí-òde, porém ficou convencionado o uso dele.


Quanto ao igbá-orí, a representação material do Ori, a bandeja onde guardamos o double, este contém alguns itens de conhecimento restritos àqueles que tem o seu ori "assentado", posso, porém assegurar que entre estes itens jamais encontrarás um òkúta (ota). Igbá-orí, segundo a tradição [iorubá] de Òrìsà, não leva òkúta. (o grifo é nosso).


Leia a matéria completa na Revista Olorun N. 24, Março de 2015, com o título:

“ A reafricanização filosófica de Altair Togun”

quinta-feira, 19 de março de 2015

Carta dos Afrodescendentes aos que foram escravizados no Brasil.


Por Bàbálòrìsà Erick Òòsàálá
19/03/2015

 
O Brasil nunca esteve tão frágil, quanto a nossa atual situação, quando os nossos antepassados aportaram aqui, não trouxeram nada além do seu sangue, cultura, religião, tradição e fé, porem desde o momento que seus pés tocaram o chão os Deuses abençoaram esta terra santa.
 

Estes Deuses negros que acompanharam os povos que vieram da terra do sol e das aldeias dos tambores que contam histórias e lendas de bravos homens e mulheres, homens dignos foram escravizados e maltratados sem pena ou dó... Deixaram uma herança, um legado para nós brasileiros, muito além do sangue derramado nos troncos das fazendas brasileiras.


Lentamente a cultura dos negros foi sendo assimilada e incorporada na gastronomia, danças, no gingado da capoeira e nas lendas populares do país. Durante séculos o homem tentou colonizar os africanos que chegaram. Os homens brancos tentaram impor sua cultura, tentando os ensinar a serem brancos, se portarem como eles achavam que seria conveniente, sem respeitar a sua identidade, impondo até mesmo a sua fé.


O sofrimento e a falta de respeito com a identidade negra, o subjugando até hoje, quando vemos o homem colonizador tentando pregar o seu deus pessoal, negando a identidade negra, com seus anjos, santos e santas católicas, nos perseguindo nas ruas, lares e colégios, destruindo nossos terreiros e locais santos, queimando a nossa história e esfolando a memória dos negros e afro-descentes, levantando cruzes em nossas portas, tentando esconder o legado que os escravos nos deixaram.


O mundo foi testemunha do holocausto Judeu, e da degradação do homem negro, sendo vendido pelos seus próprios conterrâneos e se tornando lixo humano nas mãos de seres humanos desprovidos de sentimentos e humanidade, degradaram a sua dignidade e a sua alma, tentaram destruir o que possuem de mais puro, mas em momento algum o homem negro se rendeu a personificação do mal, não retornando a maldade a qual foram expostos.


E o que o homem contemporâneo nada fez para indenizar o homem negro escravizado em terras Brasileiras. Acredito que alguém, em algum momento pensou que o sangue derramado nas ruas, lavouras e senzalas jamais secou de verdade, que as vozes, choros e lamentos nunca pararam de ecoar por entre as ruinas das construções que abrigaram os terrores e atrocidades cometidas contra os descendentes africanos inocentes.


Parem e imaginem o sofrimento, pensem no negro e na sua cor, na chibata tocando a pele e cortando como se fosse uma faca afiada cortando o couro, sintam a dor e as lagrimas escorrendo, na angústia sufocada de cada alma que deixou nos deixou a sua riqueza, as custas do sofrimento, que dedicou a sua vida ao escravagista impiedoso e tirano...
 

Escutem as nossas cantigas que cantam alegrias e tristeza, sintam os nossos tambores marcando o compasso do coração em vários ritmos, eles jamais pode parar, por que estes tambores nos dão vida, estas cantigas acalmam as nossas almas.


Ouças os passos na roda, ouçam as letras do que cantamos, elas contam as lendas e histórias dos nossos antepassados e trazem alegria para esta terra, não nos amordacem, não nos calem, pois cantamos cantigas e lamentos de homens e mulheres que foram brutalmente massacrados, ou rezamos cantando para grandes homens e morreram por nós, e os lembramos nas cantigas, não no calem ou esqueceremos dos nossos antepassados e quem somos.


Não tentem apagar a chama do nosso coração, pois elas mantem a chama da fé, das nossas divindades e deuses, saibam que o Olódùmarè sempre foi um deus misericordioso, jamais amaldiçoou aqueles que escravizaram seu povo, jamais mandou pestes ou maldiçoes para aqueles que os roubaram de suas terras, que mataram seus filhos e parentes.


Olódùmarè é, e sempre será um bom Deus, abençoando a todos que existem no mundo, cedendo alimentos aos seres humanos e nos ensinando a compartilhar o pouco que temos com a comunidade, independente de credo ou fé, ele nos ensina a compartilhar o pouco que temos e dividir com as pessoas a nossa volta, isso se chama Ipèjé.

O ritual sagrado do Ipèjé, aproveita-se tudo, separando e aproveitando tudo que a natureza nos oferece, como grãos cozidos, verduras, legumes, doces, carne, tudo deve ser preparado, sacralizado e compartilhada para a comunidade.


Não exigimos nada além de podermos dar continuidade aos nossos rituais, de poder manter a tradição daqueles que foram abduzidos da sua terra e escravizados em terras distantes, morrendo sem nunca ver a sua terra novamente. Muito de nós morreram e foram indenizados, não nos tirem a única coisa que nos orgulhamos, não nos colonizem com deuses, deixe-nos cultuar as nossas divindades e honrar nossos antepassados em paz.


Não queremos nada além da liberdade de cultuar os nossos deuses, tocar nossos tambores, cantar nossas orações, lembrando os feitos dos nossos antepassados em cantigas.


Nos deixem viver a nossa vida simples e cotidiana, nos deixem sonhar com a terra dos nossos antepassados enquanto cantamos como são lindas as terras que eles viveram, como foram homens bravos e misericordiosos.


Não nos acorrentem, não nos matem, não nos escravizem novamente.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

QUEM PODE FALAR DE TEOLOGIA?


Não políticos falam de política.

 

Não médicos falam de medicina.

 

Não herbalistas falam de ervas.

 

Não astrônomos falam de astronomia.

 

Não matemáticos falam de matemática.

 

Não gastrônomos falam de gastronomia.

 

Não psicólogos falam de psicologia.

 

Não religiosos falam de religião.

 

Não católicos falam de catolicismo.

 

 

Assim … não teólogos podem falar de teologia sim, afinal, esta doutrina não é uma ditadura, mas

 

uma convergência da fé comum.

 

 

[Luiz L. Marins]

 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Os Bàbáláwo e o culto a orixá de Marcos Arino

Extraímos duas respostas de uma conversa entre o Luiz L. Marins e o Marcos Arino, do artigo publicado por Marcos, que é de suma importância para a comunidade afro-religiosa.  Segue o texto;


Luiz L. Marins


"Àse a todos!

Muito bom texto Marcos, como sempre, de uma lucidez impressionante!

Sobre a interação do Ifa com as religiões afro-brasileiras, não sou contra, acho que vem para somar, se for feito corretamente, como falou em seu texto. Cada um na sua!

Entretanto, se os ifaístas de última hora quiserem fazer valer o pseudo conceito absolutista, totalitarista e ditador que "o orixa nasce do odu" ou, "odu é quem dá nascimento a orixa" ou, "não existe orixá sem odu", ficará difícil tal interação, pois se tratará apenas de uma aproximação para subjugar, controlar e dominar.

Já tive discussões enormes por causa disso, pois a palavra "nascer", neste contexto, além de equivocada, está muito mal empregada. O único objetivo deste pseudo conceito é subjugar as religiões afro-brasileiras, algo que não podemos admitir de forma alguma.

Um exemplo disso é o Batuque (RS) onde não existe odu-ifa, não tem, nunca teve, e nunca terá, pois tem oráculo próprio baseado nos Orixás, e não nos odu. Os Orixás no Batuque existem vivos e fortes, sem que nunca fosse preciso tirar um odu, seja de Ifá ou de búzios.

Naturalmente que isto não impediria a interação de Ifá com o Batuque, mas desde que não tentem subjuga-lo com pseudo-conceitos criados apenas para satisfazer a ânsia do poder de alguns sacerdotes.

Espero que não tomem estas palavras como afronta, mas apenas como uma realidade própria de um segmento das religiões afro-brasileiras!

Ire o!"

Marcos Arino
"Luiz,

Fui de Candomblé e sou de Ifá. Estudei Ifá por longos anos, muitos mesmo. Os cubanos vendem seu conhecimento por dinheiro e os africanos também.

Essa palhaçada que eles falam que orixá nasce em Odu querendo se colocar acima ou conhecedores é apenas farofa. Os cubanos e a maior parte dos brasileiros abduzidos nem sabe o que é orixá (claro que tem brasileiro em Ifá que sabe das coisas). Cubano definir Orixá? Dificil, primeiro ele tem que aprender.

Temos culto de orixá ha dezenas de anos. Orixá aqui sempre nasceu sem isso. No dia que eles entenderem como nasce e se faz um orixá eles mudam essa frase.

Eles e os nigerianos também vomitam essa coisa de Itá, de Odu de iniciação. Falam isso porque não sabem o que temos. Eles tem apenas isso e mais nada em um processo iniciático elementar e primário.

Eles não sabem nada de individualização, de ori, de esu do orixá, de juntó, de qualidade de orixá, de enredo de orixá. Eles não tem idéia de como individualizamos a iniciação e de como cada Iyawo nasce único. Não temos o Itá mas temos uma alternativa muito superior.

A integração com Ifá não passará por subjugar o que sabemos e fazemos e muito menos por mudarmos o Ifá deles. Passa por ecumenismo."

Fonte - http://blog.orunmila-ifa.com.br/2015/02/os-babalawo-e-o-culto-de-orixa-o-que.html

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O Nascimento de um Òrìsà- Parte III

Por Bàbá Erick Òòsàálá

29/12/14


Relembrando as postagens anteriores, falamos sobre ancestralidade, descendência, agrupamento de divindades, escolhas boas ou má, culto a Orí e  livre-arbítrio. Nesta edição abordaremos a transferência do àse.


Qualquer iniciado, desde que tenha recebido um Eborí (Ebo de Orí), ele poderá abrir um O(nós de cola, um fruto de duas, três, quatro ou cinco partes) para comunicar-se com seu Orí, sabemos que isso é possível desde que o seu sacerdote passe o sistema e formas de interpretar, muitas vezes usando o sim e não para simplificar a comunicação. 

O Obì é uma das sementes sagradas mais antigas para comunicação com as divindades e Orí, na África é comum que os iniciados abram um Obì e comuniquem-se com Orí, o sacerdote usa este mesmo fruto para passar o seu àse, algumas vezes mastigando um pedaço do Obì durante rituais, ou apenas sacrificando um Obì para aquele indivíduo.

No Brasil, poucos sacerdotes liberam o Obì para que aquele indivíduo possa conversar com o seu Orí, da mesma forma que sabemos que é costume que os seus Igbá (Louças sagradas das divindades ou Orí) costumam ficar no templo.

No Batuque os Igbá, ficam todos no templo a menos que o indivíduo for abrir a sua casa, neste caso, os Igbá devem ser transportados até a nova casa, pelo seu sacerdote, há rituais para que os Igbá sejam levados, desde preparação da casa, com sacudimentos, limpezas e sacrifícios, esta é a única forma que sabemos que tradicionalmente ocorre, estes procedimentos proporcionam as condições necessárias para que as divindades se acomodem na próxima residência e consequentemente o àse dê continuidade na nova casa.

Ainda neste artigo, lembramos que a responsabilidade com os Igbá pertencente ao iniciado, ficam de responsabilidade do mesmo tratar e alimentar as quartinhas, há raras excessos de pessoas que moram em outros países ou estados distantes que seria impossível dar Ose (sabão, ou quando neste caso seria limpar ou tratar) a cada dois meses no mínimo, neste caso quando solicitado o Bàbálòrìsà, Ìyá
lòrìsà, Bàbá-kékeré (padrinho) ou Ìyá-kékeré (madrinha), para que dê ose, quando abandonado o Igbá, por mais que seis meses, sem que o iniciado entre em contato e ou de uma satisfação, arria no meio do quarto de santo o Igbá-Orí e Igbá-òrìsà, para saber qual procedimento a seguir, que pela maioria das  vezes é desfazer e despachar, motivo abandono do mesmo.

E a vontade da divindade será  feita, nos preparativos que finalizam o ano, para o ano novo, assim, não haverá Igbá abandonados no templo.

Sempre tenham em mente que uma divindade possui personificação e inteligência, jamais subestime a sua essencia.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Homem negro

Por  Alexandre H. Custódio De Xango Aganju
26/12/14
 

Sou negro não por opção, mais se tivesse opção negro gostaria de ser.
Povo que com um sorriso no rosto acorda disposto e vai trabalhar.
Povo que segue sua sina quem enfrenta que o discrimina e mostra disposição de vencer.
Vi meu pai que enfrentava dificuldade e na bem da verdade sofre e se priva quase de tudo que viu no estudo a única chance de um futuro decentes para seu filho deixar.
Se hoje estou aqui escrevendo isso que você Le.

Deixa-me dizer para você com o que tive que lidar.
Já na escola aprendi antes mesmo de aprender a escrever.
Que tem assuntos dos quais não devemos falar.
Quando em uma aula sobre etnias gente de todos os povos eu via quando perguntei a minha fiquei sem resposta.
Hora negro já sabia que era mais queria saber mais, pois via portugueses, polacos, alemães e italianos.

Insisti continuei perguntando mais a resposta não veio.
Fiquei meio amuado fui pra casa chateado em busca de uma explicação
Minha tia vendo meu semblante pesado me perguntou o porquê de minha frustração
Contei pra ela o ocorrido e pensando em ser atendido como uma boa explicação
Mais uma vez me decepcionei com a resposta você é negro e pronto
Nessa hora me enfureci e com o respeito faltei
Respondi que sou negro eu sei porra agora quero saber de onde
Não tive resposta de fato e pela falta de tato

Deixe eu lhe falar que de fato tive que correr pra não apanhar
Assim foi na escola quando sai do seio e da proteção da família que aprendi o que é ser negro de fato
Ser chamado de negro, neguinho, tissão nunca me entristeceu
Pois se isso for tudo que podem dizer para tentar me ofender podem falar até perder a voz
Aprendi com minha família a não deixar para algoz outro motivo pra critica
E os valores que deles recebi são os que vou passar adiante
Só uma coisa importante não posso me esquecer
O preconceito velado o meu trabalho dobrado para mostrar meu valor
Pois no pais onde um homem negro pra ter um lugar ao sol
Só jogando futebol, pois todos desconfiam quando veem um negro doutor.
Desconfiam da nossa capacidade e na bem da verdade muitas vezes não temos a possibilidade nem se quer de mostra-las

Somos números nas estatísticas, o primeiro alvo da policia querem nos condenar a marginalidade.
Fico bem à vontade pra dizer que no meu caso não, já passei por dificuldade mas não tenho talento pra ser ladrão. 
Não vivo de cotas ou bolsas acho isso uma bosta uma mordaça pro povo
Pois apreendi que é com o suor do rosto que se deve ganhar o pão
E fico indignado quando me pedem pra deixar o passado no passado e esquecer o que vivi
O que chorei o que sofri, pois ser homem negro na maioria das vezes é trabalhar em dobro e receber pela metade.
Não me canso de lutar e minha luta só vai acabar
Quando ver a sinceridade no olhar de quem na rua apontar um homem negro e o chamar apenas de Homem.
Não posso evitar falar a eloquência e um dos atributos de um rei
Embora eu não seja eu sei, pois sou filho de um. Filho de Aganju que antes foi dado a Ogun.

Fonte - https://www.facebook.com/alexandredxango.aganju/posts/416788148471677

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