terça-feira, 3 de maio de 2016

ÈSÙ CONHECE O SEGREDO DAS ÌYÁMI

Por Luiz L. Marins
Maio de 2016


Com o crescente interesse pelo culto de Ìyámi Òsòròngà convém lembrar que a literatura afro-brasileira apresenta informações importantes sobre a ligação delas, com Èsù.

Pierre Verger registra um ese (verso) do odù ogbè ògúndá, signo divinatório do oráculo de Ifá, o qual revela que Èsù não só conhece o segredo das Ìyámi, como também ensina o ebo correto à Òrúnmìlà, para, por seu intermédio, apaziguá-las.

Juana Elbein no livro Os Nàgó e a Morte faz algumas considerações conceituais sobre Èsù, onde demonstra que Èsù é o òrìsà que recebeu um àse especial de Olódùmarè para resolver todas as situações, inclusive no trato com as Ìyámi.

Assim, convém que os religiosos afro-brasileiros reflitam sobre a busca desenfreada e desesperada por um culto apenas para satisfazer o ego e a vaidade, quando temos dentro nossas casas o òrìsà que tem o poder delegado de Olódùmarè para resolver todas as questões: Èsù!

OGBÈ ÒGÚNDÁ

[...]
Nijó ti nwon mu omi meje ti nwon kókó mu,
Nijó ti nwon bèrè si mu ú, isejú Èsù ni nijó náà.
Nijo nwon nse ipadé, ìsejú Èsù ni.
[...]
No dia que elas beberam das sete águas,
No dia que elas começaram a beber, foi na presença de Èsù
No dia que elas fizeram a reunião, foi na presença de Èsù.
[...]


ÈSÙ ODÁRA

“Em virtude da maneira como Èsù foi criado por Olódùmarè, ele deve resolver tudo o que possa aparecer e isso faz parte de seu trabalho e de suas obrigações [...] Olódùmarè fez Èsù como se fosse um medicamento de poder sobrenatural. ”

Olórun delegou este poder a Èsù ao entregar-lhe o àdó-iràn, uma cabaça de longo pescoço apontando para o alto que Èsù carrega em sua mão. Èsù só precisa apontar seu àdó para transmitir a força inesgotável que tem. ”

Èsù é o princípio reparador do sistema nàgó. [...] por isso, os quatrocentos irúnmalè deram um pedaço de suas próprias bocas à Èsù, quando ele foi representa-los aos pés de Olórun. Èsù uniu estes pedaços em sua própria boca e, desde então, fala por todos eles. [...] apenas por seu intermédio é possível adorar as Ìyámi. ”


REFERENCIAS:

Pierre Verger. Grandeza e decadência do culto de Ìyámi Òsòròngà. Ed. Corrupio, Artigos Tomo I. São Paulo, 1992, pg. 50.
Juana Elbein. Os Nàgó e a Morte. Ed. Vozes. Petrópolis, R. J., 1976, pgs. 131; 134; 163
________________
www.luizlmarins.com.br

quinta-feira, 24 de março de 2016

NAÇÕES RELIGIOSAS AFRO-BRASILEIRAS NÃO SÃO NAÇÕES POLÍTICAS AFRICANAS

Erick Wolff8

Março de 2016

 

SOBRE NAÇÕES

Nos diversos segmentos religiosos afro-brasileiros todos querem legitimar-se afirmando que sua “nação” é originalmente oriunda de solo africano, desta ou aquela região, iniciado por fulano ou ciclano cujo nome jamais poderá ser checado, supostamente nascido na África. É louvável o desejo da legitimização africana, se não fosse ilusório.

Todas as nações religiosas afro-brasileiras, de todos os segmentos, nasceram no Brasil, são afro-brasileiras, não são africanas, não representam nenhum Estado ou Cidade africana, não praticam nenhum culto na forma tradicional africana mesmo que possuam nomes de cidades africanas em suas definições afro-sociais. É verdade que foram formadas por elementos de matrizes africanas aqui repensadas e reestruturadas, mas estas heranças culturais e religiosas não fazem de nenhuma nação de religião afro-brasileira uma nação pura africana. NENHUMA!

Entretanto, o fato de terem nascido no Brasil não significa que são uma fraude, pois se assim fosse, todas os segmentos religiosos afro-brasileiros seriam, mas não, todas são legítimas para o Brasil. O erro está em considerar que a nação do outro é uma fraude, e a sua é verdadeira, supostamente original de algum lugar da África.
 
A nação afro-brasileira de Kétu refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, e não à cidade ioruba africana de Kétu, localizada no Dahome. (José Beniste)

A nação afro-brasileira Angola refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, e não ao país africano de Angola.

A nação afro-brasileira Jeje refere-se a uma nação afro-religiosa do candomblé, batuque ou tambor de mina. Segundo o professor Reginaldo Prandi (USP), não existe nenhuma nação política denominada “jeje” em solo africano. O mesmo vale para a nação religiosa afro-brasileira “nagô”.

A nação religiosa afro-brasileira Oió refere-se a uma nação religiosa do batuque, e não à cidade Iorubá de Oió, na Nigéria.


A nação religiosa afro-brasileira Ijexá refere-se a uma nação religiosa do batuque ou candomblé, e não à cidade Iorubá de Ijexá, na Nigéria.

A nação religiosa afro-brasileira kambina, do batuque, refere-se a uma nação religiosa criada e estrutura aqui no Brasil, tanto quanto as outras, e não à alguma cidade ou nação na África. Se as outras aqui formadas são legítimas para o Brasil, a kambina também é. Alguns sacerdotes tentam equivocadamente afirmar que a kambina trata-se de Cabinda, província de Angola, apenas pela semelhança do nome.

Não existe nenhuma nação religiosa afro-brasileira, de qualquer segmento, que seja a extensão pura e legitima de uma cidade, estado ou nação africana, que exista aqui tal qual existe em África. Acreditar nisto é utopia, ou má fé. Todas, sem exceção, foram pensadas, criadas e estruturadas no Brasil.

As nações afro-religiosas da forma como existem aqui não existem na África, e vice-versa. Que isto fique claro para que não se arvorem prepotentemente sobre falsos conceitos de pureza. Não existe ninguém puro (Mãe Stella).

Sobre o conceito de nação religiosa afro-brasileira separamos alguns extratos de pessoas conceituadas e referenciadas na bibliografia afro-brasileira:




 

José Beniste, Òrun-Ayé, pg. 116. 
 
Reginaldo Prandi, Herdeiras do Axé, Hucitec, 1996.


“ Nação passou a ser, desse modo, o padrão ideológico e ritual dos terreiros.”
 
(Vivaldo Costa Lima, “O Conceito de Nação”, Afro-Ásia, 12, 1976, p. 65)


Mãe Stella de Oxóssi,

 

 
SOBRE REIS E PRÍNCIPES


O conceito que um rei de uma nação afro-brasileira precisa ter sangue nobre africano para ser reconhecido é utópico. Não existe nenhuma prova exata e certa que algum rei, rainha, príncipe ou princesa africanos que aqui fundaram qualquer nação pura, tal qual em África.

Sempre em algum momento da história das religiões afro-brasileiras surgiram “reis” desta ou aquela nação religiosa aqui formada que, ou se auto intitularam, ou foram titulados pelos seus seguidores. Reis não nasceram com o mundo, eles foram feitos reis pelos homens, e para os homens.

Se as nações religiosas afro-brasileiras não são nações políticas africanas, reis e os príncipes religiosos afro-brasileiros também não são, nunca foram. Exigir sangue nobre como base para seu reconhecimento e legitimação não faz sentido, até porque tal, mesmo que verdade fosse, não se poderia provar.

Afirmar através de documentações discutíveis que um africano puro vindo de uma nação africana pura, veio ao Brasil há “duzentos” e aqui fundou uma nação pura, é zombar da inteligência dos estudiosos e explorar a boa-fé dos leigos.

O que dá legitimidade a um “rei” religioso afro-brasileiro (ou em qualquer lugar do mundo) é o reconhecimento de seus súditos e a reverencia a ele prestada, independentemente de ser autointitulado, ou de ter sido titulado. É importante para uma nação religiosa afro-brasileira aqui formada conhecer suas origens e ser respeitada através de um ícone.

Mas estas origens estão aqui mesmo no Brasil, todas as nações religiosas afro-brasileiras têm seu fundador mítico. Estas nações devem respeitar-se mutuamente respeitando seus fundadores. Se o rei em questão é reconhecido por seus súditos, então ele é rei, independente do sangue de família e de sua suposta origem africana, ou não. O mesmo conceito vale para os príncipes e princesas.

Entre os iorubas, o conceito de principado é diferente do europeu, pois não é preciso ter sangue nobre para ser príncipe. Quando um rei é coroado, todas as crianças que nascem no lugar de origem do rei, a partir desta data, são considerados príncipes (Nathan Lugo).
_________________________
 


Completando Asa Orisa Alaafin Oyo  informa que;

Todos os Oba tem que ter linhagem real, somente em Ibadan não, pois foi uma cidade criada para proteger Òyó




Àse !





quarta-feira, 2 de março de 2016

EGUNGUN EM OKETASE



 
Babalawo Aworeni

14 September 2009



Em Ile-Ife, no começo do fim de Junho, até o fim de Outubro, os mascarados Egungun começam a aparecer vindo de vários campos. Muitas campos familiares em Ile-Ife participam das festividades com centenas de tipos diferentes de Egungun. Cada campo familiar terá seu próprio Egungun, de acordo com o odu individual do chefe deste campo, sua linhagem familiar ou apenas o interesse pessoal de praticar a cultura de Egungun.

Existem centenas de tipos diferentes de Egungun, com diferentes nomes. Na Iorubalandia, os tipos de Egungun mudam de cidade para cidade. Por exemplo: em Ibadan, Egungun é cultuado de forma diferente que em Ile-Ife.

A procissão de Egungun ocorre durante meses e muda de um campo para outro campo.

Alguns Egungun só podem sair durante a noite; outros podem sair à tarde e a noite. As caracteristicas de cada Egungun dependem da linhagem familiar e dos tabus pessoais.

Em Ile-Ife, a casa de Egungun é chamada Igbale. Existem dois tipos primários de Egungun:

  •  Egungun Oloro
  • Egungun Onijo

Eegun Oloro é masculino e usa chicote entre os frequentadores do festival, enquanto Eegun Onijo é feminino e dança entre eles. (o negrito é do tradutor).

O último egungun a aparecer é o mais velho Egungun chamado Alagba, que aparece antes do festival de Olojo, em outubro, e que marca o fim do festival da procissão de Egungun.

Em Oketase, o Egungun não aparece no templo de Oketase dentro do Enuwa. Isto é por causa dos três eventos principais que ocorrem neste local.

O primeiro evento é aquele que acontece durante o festival Odun Elefin, quando o Aragba Agbaye transformaa-se em leopardo.

O segundo evento é durante o festival de Olojo quando o Ooni carrega o Aare Oduduwa (a corôa) para o Oke Mogun, que é localizado dentro Enuwa.

O terceiro evento é durante o Ijekuru Itapa Obatala ou Igbefapade Orisa, quando o Ooni, o Araba Agbaye e o templo de Obatala se encontram em Janeiro.

Por estes motivos o Egungun nunca pode aparecer nestes. Se eles aparecerem, o Oga aparecerá e expulsará todos eles.

No início de Setembro, o araba Agbaye traz o egungun de sua família, aparecendo no campo de sua mãe, em Okemarisa. O Egungun inclui, Awo Arerungbaga, Obadi Meji, Oori, Oyin, etc.

De acordo com Ifa, Orunmila é aquele que tirou pegou Egungun de Iwo Ile, o buraco da terra. Em Okanran Ogunda (Okanranileegun) Ifá explica:

“Ore gan gan lo mu egun wole.
Atori gan gan.
Lo mo oro wole Igbale.
Gbagbese mi ogbagbese.
Adifa fun Baba Lamese to mu egun rowaye.”

 
Existem muitos odu Ifa que falam sobre Egungun, incluindo Oyeku Irete, Iwori Oyeku, Oyeku Pakinose, etc.

Os tabus de Egungun são: eles nunca podem bater em babalawo e eles nunca podem mostrar seus rostos.

Se um Egungun passa por um Agbede (pessoa de alto nível), ele deve sempre deixar moedas. O Egungun pode usar qualquer cor. Eles comem akara, ole, obuko, oleo de palma, obi e oti.



____________________
Tradução, adaptação e layout: Luiz L. Marins – www.luizlmarins.com.br
Fonte: Site ORISHADA. Acessado em 02/03/2016. Disponível em:
http://orishada.com/wordpress/?p=519


TIKTOK ERICK WOLFF