terça-feira, 19 de junho de 2018

COSTUMES E TRADIÇÕES DO BATUQUE DO RS

Por Erick Wolff de Oxalá


15/06/18


Em respeito ao Art. 5º da Constituição Federal de 1988, esta postagem não tem a intenção de censurar a liberdade de expressão, crença ou fé. Entretanto, usando do direito à liberdade de pensamento garantido pelo mesma Constituição, queremos registrar e comentar alguns vídeos sobre a religiosidade afro-gaúcha, da qual fui iniciado em 1982.

Neste vídeo, temos  o show do grupo do percussionista e Tamboreiro Pingo, filho do mestre Borel, que ilustra e exemplifica os costumes e tradição do Batuque do RS, gravado pelo Tamboreiro Juliano Canedo:



No último dia 13 de Junho, no Mercado Municipal de Porto Alegre, um marco religioso de expressão e manifestação sócio-religioso da tradição afro-brasileira do Rio Grande do Sul, de grande importância, adeptos e simpatizantes levam oferendas justamente no meio deste mercado, marco que se tornou tradição a homenagearem ao Orixá Bara,  por ser o orixá Bara dono do mercado e dos negócios.

Ao seu redor encontraremos lojas e ruas, reunindo pessoas de diversas classes sociais sem distinção, sacerdotes de diversas religiões numa peregrinação ao redor do maior ojúbo (local de adoração coletiva) da tradição do Batuque, situado no Mercado municipal de Porto Alegre. 
 
No próximo vídeo que veremos a seguir, é justamente um registro desta diversidade, que porta riqueza de detalhes dos diversos grupos.

O vídeo mostra uma representação de um grupo de teatro, portanto, não há nele nenhuma ocupação de orixá.

No entanto, desejo registrar aos meus filhos, amigos e leitores, que a forma que o orixá Bara fora retratado não representa o orixá na sua identidade nem mesmo forma de trajar tradicional do Batuque, pois orixás masculinos na tradição do Batuque não usam peças do vestuário feminino.

Pode ser que alguma família tenha adotado estes trajes, mas eles não são comuns entre os rituais e cerimônias nas quais haja ocupação. Não vestimos o orixá Bara desta forma.



Por isso, respeitando a diversidade e a liberdade de expressar a fé de cada um, este registro serve para a minha família religiosa tomar ciência que o orixá Bara, quando está ocupado, não usa saia, e pelo respeito ao tabu da ocupação não podemos filmar nem gravar vídeos do orixá no mundo, desta forma, por não existir fotos de como são as suas manifestações, vejo a necessidade de informar o que não faz parte da tradição. Outro ponto é que, quando o orixá está no mundo, ele retira joias, fios de contas, relógio, etc.



Origem da imagem: Jacy Santos: https://m.facebook.com/jacy.santos.3576


sábado, 16 de junho de 2018

A VERDADE NÃO CABE EM UMA SÓ BOCA



(provérbio Bambara)

Há uma necessidade urgente de nos manifestarmos elevando nossa consciência em direção à noção de uma “desobediência epistêmica” em relação aos elementos dogmáticos das religiões que não são originárias das tradições de matriz Africana.
 
E eu vou me direcionar especificamente ao Candomblé!

Sou, como sacerdotisa, "fruto" da Diáspora e faço questão de me colocar assim, pois assim me aceito e assim acolho a todos que compartilham o mesmo entendimento, porque em nenhum contexto étnico/social/religioso/intelectual cabe infidelidade às raízes religiosas maternas. E a nossa terra (lembremos!) foi e é uma grande mãe para os Òrìṣà que aqui chegaram.

Cada "Terreiro" de Candomblé, cada Casa de Asé, cada "Roça", é um espaço de resistência ao pensamento colonizador europeu. Principalmente, quando ele nos chega travestido de uma duvidosa solidariedade e união. O sincretismo, se nos apropriamos de nossa estimada africanidade, não deve ser mais praticado. Já que os grilhões do passado escravo se romperam em nossos corpos, precisam agora serem removidos de nossas consciências.

Aceitar a assimilação de nossas divindades ao Deus de qualquer outra religião, que não comungue de nosso culto ancestral, seria no mínimo pedir o retorno à senzala e o esvaziamento de nossa “negritude” na alma. Não podemos permitir que uma prática religiosa díspar da nossa, invada nossos espaços teóricos e metodológicos, como um vírus que desestrutura nossa base celular compositora do “pensamento/consciência” de nossa Religião de Matriz Africana, dando vazão a uma ideologia religiosa que representa apenas as feições do algoz colonizador. Nós precisamos conhecer o que tenta nos manter em condição de subalternidade para termos na memória a lembrança do palco onde são representados os valores europeus e numa perspectiva libertária, promovermos a descolonização mental-religiosa.

Se tem algo que nós não podemos deixar acontecer, porque assim se constituirá numa desnutrição da força que sustém a nossa religião, é o discurso enviesado de outras que querem se aproximar de nossa prática ancestral para depois, com sua consciência interpretativa e dogmática, corroer nossa estrutura de fé e nos distanciar.

O nosso "levante", que é nosso dever como descendentes da África, deve obedecer a negação desses valores que nos chegam caritativamente mansos e silenciosos através da censura do olhar, da sutileza do preconceito, do repúdio às nossas vestes adequadas ao culto, que culminará em nos despertar com o ensurdecedor estrondo dos atos de destruição de nossos Templos. A força que teoriza a prática religiosa colonizadora é a mesma força que nos desestrutura e nos oprime. Precisamos romper com a perspectiva da construção de um espaço de fé reprodutor de conhecimentos inflexíveis e de consciências eurocêntricas, nossa Casa sugere um espaço enquanto território povoado de distintas identidades que podem ali se manifestar e se empoderar. 

E... Não!! Jesus não é o Nosso Pai!
(Eu preciso dizer isso!)

E isso não é nenhuma afronta ao nosso Deus (Olodumare) que nunca nos desviou da verdade de aceitação de nossos sacrifícios. 

E se nesta colocação eu aproximo as religiões africanas e as que descendem do Pensamento Europeu, eu as afasto dizendo:

Enquanto esse Deus, do colonizador, aceita o sacrifício porque está Irado, (voltemos à história) nós, desde sempre fazemos os sacrifícios que nos une! E neste intento de unir, nós estabelecemos paz.

Isso, para citar de forma superficial, as diferenças que temos e que esvazia o discurso daqueles que nos perseguem. 

Mas, se continuarmos achando que repetir os atos sincréticos de nossos ancestrais, que os fizeram pelo temor à chibata, é correto, estamos pedindo para sermos fagocitados.

Esse é o momento de desobedecer para nos unirmos!

Iyánifa Fátóún - https://www.facebook.com/profile.php?id=100009938376616
Fonte do provérbio : José Rivair Macedo

sexta-feira, 15 de junho de 2018

PALAVRAS IORUBA PARA OS COSTUMES DO BATUQUE

Por Erick Wolff de Oxalá

15/06/2018













Esta postagem tem por finalidade fazer um demonstrativo de algumas formas usuais no culto aos Òrìsà (Orixá), no Batuque o Nagô do RS, e qual palavra no idioma ioruba pode ser utilizada.

A forma ioruba aparece em itálico, e a pronúncia portuguesa, entre parêntese:
 
    PEDIR A BENÇÃO
     ìsúre (issurê) .. ìbùkún (ibukún) 
    ìsúre! .. òrìsà ìsúre o (bênção .. orixá te abençoe) não existe na Iorubalândia o ato de beijar a mão. 

    BATER A CABEÇA NO CHÃO, SEM DEITAR-SE  
    Foríbalè (foríbalé)
    não tem nada a ver com ìgbàlé (iguibalé) [balé] do culto aos eégún (êgún)

    CURVAR-SE DIANTE DE ALGUÉM:
    Túúba (tuuba), túmbá (tumbá)
    mo túmbá = eu me curvo
    não tem o significado de pedir benção, mas de saudar alguém maior, abaixando-se.  

    DEITAR PARA DORMIR
    Dùbúlè (dubulé)

    SAUDAR ALGUÉM DEITANDO-SE NO CHÃO  
    Ìdòbálè (idóbalé)  

    SAUDAR ALGUÉM DEITANDO-SE NO CHÃO, VIRANDO PARA OS LADOS ESQUERDO E DIREITO
    Ìyíká (iká)

    AJOELHAR  
    Ìkúnlè (ikumlé)

    LOUVAR AS QUALIDADE DO ÒRÌSÀ (OU PESSOA)
    Oríkì (oríqui)

    REZA, ORAÇÃO, SÚPLICA  
    Àdúrà (adúra)
    èbè (ébé) 
    ìtoro (itóró)     

    CÂNTICOS, MÚSICAS:  
    Orin   (orim)
    O que se canta em toques de batuque, é orin (cantico), não é reza (àdúrà). 

    MITOS, HISTÓRIAS  
    Ìtàn  (itan)


    CHAMADA, CONVITE:  
    Pípè (pipê)

    Outras não usuais, mas que é bom saber:

    VERSO: ese  (éssé)
    POEMA:  léselése  (lésséléssé) 

    quarta-feira, 13 de junho de 2018

    A ORIGEM DE IFON OMIMA, IFON SEPETERI, E IFON OROLU: a história das três Ifons.


    Mercy Agbeke Gbadamosi,
    Julia Iniabasi,
    Okeluse Orunmojo,
    Sunshine Megaforce



    March 26, 2015
    A partir da esquerda: HRH The Ojima-Aujale of Okeluse, HRH The Olufon of Ifon Omimah, HRH The Olute of Ute Ilogi  @ Ute during Olute's Igogo festival.


    OROLU

    Orolu é outro nome para a antiga cidade de Ifon no estado de Osun da Nigéria. O nome Orolu é usado de forma intercambiável para Ifon. Às vezes, é chamado Ifon Osun porque está localizado na divisão Osun do sudoeste da Nigéria, agora Estado de Osun. A história desta cidade antiga é tão grandiosa quanto sua evolução, cresceu simultaneamente com a história de Ilè-Ifè, o berço de Iorubás.

    Odùduwà, o famoso pai da nação iorubá, derrubou Obàtálá em Ilè-Ifè e Obàtálá foi para o exílio em Ilofi, um lugar ainda existente para os turistas em Ilè-Ifè agora. Odùduwà reinou como o Olufè (o Chefe de Ife [Yorubas]). Odùduwà teve apenas Okanbi que também teve sete filhos entre os quais Olowu de Owu, Orangun de Ila, Owa Obokun de Ijesa, etc., e o famoso Oranmiyan, o Governante do Reino de Benin e fundador do Império Òyó.

    Após a morte de Odùduwà, Obàtálá voltou a Ilè-Ifè e reinou como o segundo Olufè, porque todos os netos de Odùduwà tinham ido estabelecer seus próprios reinos.

    Após a morte de Obàtálá, alguns dos seus filhos contestaram o trono depois dele, eles são Olaosa Aladikun e Akogun Erujeje, Obalufon Alayemore, entre outros. De todos esses competidores, Obalufon Alayemore sucedeu seu pai e os outros tiveram que estabelecer seu próprio reino.

    Olaosa Aladikun consultou Ifá para profetizar seu êxodo. Ele foi instruído a estabelecer um reino onde ele visse muitos pássaros tecelões em uma árvore com cogumelos por baixo. 

    Um ditado em língua iorubá diz: “ibi ti olu ati olho eega fon si” (onde cogumelo e pássaros tecelão se espalham) assim, temos o nome curto “Olu fon” (propagação de cogumelos) que é agora o título do rei de Ifon ou seja, o Olufon de Ifon. Ifon pode ser simplesmente interpretado como (propagação, aquilo que se espalha).



    O TERMO “OLU

    O termo “Olu” quer dizer “cogumelo”. Embora seja uma planta fraca e frágil significa: proeminência, realização.



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    Gramaticalmente, “Olu”, quando usado como um prefixo para um substantivo, significa primeiro entre iguais, assim, Olu de Ibadan (Olubadan) significa: o Rei de Ibadan, Olu omo significa: o melhor das Crianças etc. Assim Olufon (o governante de Ifon) tem tradicional destaque sobre e acima de tudo outros Oba na Iorubalândia.

    Olufon é um governante coroado. Uma vez em posse tanto de Ade Ire como de Ade Sese-Efun, Olufon teve a reputação de ter coroado o Alaafin de Òyó com Ire Crown para elevar o status de Alaafin ao de Oba contra Baale ( um mero chefe de distrito). É por isso que a Olufon sempre foi membro permanente do Conselho de Chefes desde o período do governo colonial.

    O SIGNIFICADO DE OROLU

    Orolu é outro pseudônimo para Olaosa Aladikun a.k.a Akogun Erujeje (o fundador do Orolu / Ifon Orolu Kingdom). Ele conseguiu este apelido 'Orolu' depois de estabelecer o Reino. A tradição oral diz que:

    “o pai de Orolu tinha uma favorita entre suas numerosas esposas, e as outras esposas maia velhas tinham muito ciúme da esposa mais jovem. A esposa estava grávida enquanto o marido foi para uma guerra.

    Quando a jovem esposa estava em trabalho de parto, outra esposa sênior decidiu puni-la por inveja e a maltratou. Elas mentiram para ela dizendo que, quando tiveram o bebê: “nós sempre dormiríamos em grama de lenha em vez de esteiras”, “cozinhamos nossa sopa sem sal ou óleo de palma”, “andamos nuas até o banheiro”.

    As esposas principais reforçaram essa mentira para a esposa mais jovem durante seis dias após o parto. Se ela perguntasse por que eles estavam fazendo isso com ela, eles diriam: “Oro ilu wa ni” significando: “Tradição de nossa cidade é” (Oro ilu' - tradição da cidade) e quando escrita abreviada, diz: Oro'lu; assim, é comumente pronunciado Orolu.

    Quando o Akogun retornou no sétimo dia e encontrou sua esposa favorita com o semblante franzido, ele perguntou qual era o problema. A mulher narrou sua provação, e Olaosa decretou que essa seria a tradição de todas as suas esposas que viesse a se deitar. Desde então, tem sido uma tradição se deitar. Desde então, tem sido uma tradição de toda mulher que se deita, na família real Olufon de Ifon.”



    A RELIGIÃO TRADICIONAL DO POVO DE IFON



    Como um descendente direto de Obàtálá, Olufon adora Olódùmarè (Deus Todo-poderoso através de Obàtálá, ou Òrìsànlá, também conhecido como Òrìsà Olufon. Olufon tem o símbolo original de Obàtálá, o caracol. Inhame picado, sopa de melão cozida sem óleo de palmeira. Olufon continua a ser a cabeça espiritual dos adoradores de Obàtálá em todo o mundo. Esta religião é popular na Nigéria, Brasil, Cuba e América do Sul.


    RELAÇÃO DE OROLU COM OUTRAS COMUNIDADES
      
    Durante o crescimento do reino de Orolu, muitas outras cidades surgiram, como Ifon Omima, a sede do governo local de Ose no estado de Ondo de Nigéria, Ilobu, Estado de Osun, que é também um vizinho que é um descendente da filha de Olufon Orisafi ASAKE, Ifon Sepeteri, na área Oke-Ogun, no Estado de Òyó da Nigéria, entre outros.

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    Publicado por Okeluse Sons and Daughters. Acessado em 27/05/2018. Disponível em:




    Transcrição, tradução, adaptação e layout: Luiz L. Marins -  www.luizlmarins.com.br

    TIKTOK ERICK WOLFF

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