Por Iyanifá Fátóún
(provérbio Bambara)
Há uma necessidade urgente de nos
manifestarmos elevando nossa consciência em direção à noção de uma
“desobediência epistêmica” em relação aos elementos dogmáticos das
religiões que não são originárias das tradições de matriz Africana.
E eu vou me direcionar especificamente ao Candomblé!
Sou, como sacerdotisa, "fruto" da Diáspora e faço questão de me colocar assim, pois assim me aceito e assim acolho a todos que compartilham o mesmo entendimento, porque em nenhum contexto étnico/social/religioso/intelectual cabe infidelidade às raízes religiosas maternas. E a nossa terra (lembremos!) foi e é uma grande mãe para os Òrìṣà que aqui chegaram.
Cada "Terreiro" de Candomblé,
cada Casa de Asé, cada "Roça", é um espaço de resistência ao pensamento
colonizador europeu. Principalmente, quando ele nos chega travestido de
uma duvidosa solidariedade e união. O sincretismo, se nos apropriamos de
nossa estimada africanidade, não deve ser mais praticado. Já que os
grilhões do passado escravo se romperam em nossos corpos, precisam agora
serem removidos de nossas consciências.
Aceitar a assimilação de
nossas divindades ao Deus de qualquer outra religião, que não comungue
de nosso culto ancestral, seria no mínimo pedir o retorno à senzala e o
esvaziamento de nossa “negritude” na alma. Não podemos permitir que uma
prática religiosa díspar da nossa, invada nossos espaços teóricos e
metodológicos, como um vírus que desestrutura nossa base celular
compositora do “pensamento/consciência” de nossa Religião de Matriz
Africana, dando vazão a uma ideologia religiosa que representa apenas as
feições do algoz colonizador. Nós precisamos conhecer o que tenta nos
manter em condição de subalternidade para termos na memória a lembrança
do palco onde são representados os valores europeus e numa perspectiva
libertária, promovermos a descolonização mental-religiosa.
Se tem
algo que nós não podemos deixar acontecer, porque assim se constituirá
numa desnutrição da força que sustém a nossa religião, é o discurso
enviesado de outras que querem se aproximar de nossa prática ancestral
para depois, com sua consciência interpretativa e dogmática, corroer
nossa estrutura de fé e nos distanciar.
O nosso "levante", que é
nosso dever como descendentes da África, deve obedecer a negação desses
valores que nos chegam caritativamente mansos e silenciosos através da
censura do olhar, da sutileza do preconceito, do repúdio às nossas
vestes adequadas ao culto, que culminará em nos despertar com o
ensurdecedor estrondo dos atos de destruição de nossos Templos. A força
que teoriza a prática religiosa colonizadora é a mesma força que nos
desestrutura e nos oprime. Precisamos romper com a perspectiva da
construção de um espaço de fé reprodutor de conhecimentos inflexíveis e
de consciências eurocêntricas, nossa Casa sugere um espaço enquanto
território povoado de distintas identidades que podem ali se manifestar e
se empoderar.
E... Não!! Jesus não é o Nosso Pai!
(Eu preciso dizer isso!)
(Eu preciso dizer isso!)
E isso não é nenhuma afronta ao nosso Deus (Olodumare) que nunca nos desviou da verdade de aceitação de nossos sacrifícios.
E se nesta colocação eu aproximo as religiões africanas e as que descendem do Pensamento Europeu, eu as afasto dizendo:
Enquanto esse Deus, do colonizador, aceita o sacrifício porque está Irado, (voltemos à história) nós, desde sempre fazemos os sacrifícios que nos une! E neste intento de unir, nós estabelecemos paz.
Isso, para citar de forma superficial, as diferenças que temos e que esvazia o discurso daqueles que nos perseguem.
Mas, se continuarmos achando que repetir os atos sincréticos de nossos
ancestrais, que os fizeram pelo temor à chibata, é correto, estamos
pedindo para sermos fagocitados.
Esse é o momento de desobedecer para nos unirmos!
Iyánifa Fátóún - https://www.facebook.com/profile.php?id=100009938376616
Fonte do provérbio : José Rivair Macedo
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