sábado, 20 de julho de 2024

FALANDO SOBRE O BATUQUE DO SUL, NA VISÃO DA SACERDOTISA LYA TAROSH

Nesta postagem coletamos do perfil da sacerdotisa Lya de ode, no Facebook.

Postado em 19/07/2024, acessado em 20/07/2024

"FALANDO SOBRE O BATUQUE DO SUL
Por Lya Tarosh


No Batuque não cultuamos somente Orixás como Ogum, Oyá,Odé, Oxum ...mas também cultuamos Voduns e Inkisis.
Há Nação ( a minha Ijexá ) que cultua os voduns Agué , Sapatá , Avagã , Sogbo , Dã
Já na nação Cabinda por exemplo cultuam Lebá, sendo que este não se dá cabeça de filhos para ele, e sim é apenas cultuado.
As Nações cultuadas no Rio Grande do Sul são Ijexá , Oyó Cabinda , Jeje-ijexá , Jeje-Oyó, e já não existe Nação "pura" , pois todas ao longos dos anos receberam interferência de outra Nação co-irmã.
Os Orixás , Voduns e Inkisis dentro da roda do Batuque são bem independentes ; diferente por exemplo do Candomblé ;
pois nas nossas casas de Batuque não temos cargos de Ekedis , Mãe ou Pai Pequeno, não usamos troca de roupa (vestir o santo).Outra particularidade do Batuque que além de não vestir Santo não podemos entrar em roda de Batuque e dançar para Orixá de calçado ; dançar de calçados é somente em ritos de Axexê.
Nossa feitura para o sacerdócio normalmente é composta de 12 a 16 principais divindades do panteão que são Assentadas , cada qual em sua respectiva vasilha onde é matado um animal quadrúpede para cada um, como leitão , ovelha, carneiro, cabritos, e "calçadas" cada uma também com suas respectivas aves e casal de pombos , para que só assim uma pessoa possa ter casa aberta como Babalorixá ou Iyalorixá e exercer as funções do Batuque , e seguir iniciando outras pessoas; pois no Apronte como Babalorixá ou Iyalorixá recebemos nosso axé de Obé (que normalmente são 3 facas) e nosso jogo de Búzios.
Existem graus de Obrigações que são determinadas pelo Jogo de Búzios e necessidade de cada filho ou filha.
Na minha Nação Ijexá por exemplo podemos abater além de animais quadrúpedes como citei acima , também patos, marrecos, angolistas, igbins, determinados tipos de peixes, pombos, e coelhos.
E não podemos assentar toda uma África de Orixá somente com aves e dizer que a pessoa é um Babalorixá ou Iyalorixá.
A maioria das divindades do panteão iorubá , fon , jejê , que se manifestam em seus filhos de cabeça, dançam freneticamente ao ritmo do Ilu ( tambor de cordas tocado no Batuque ).
Esse tambor , assim como os Obés e o jogo de Búzios também "comem obrigação" , por isso no dia a dia mantemos esse Ilu deitado no chão e com as cordas frouxas para o tambor "descansar" , e só em dias de obrigações na casa é que as cordas são devidamente apertadas novamente afinando assim o som do tambor.
Quando uma divindade se manifesta em seu filho(a) na tradição do Batuque , leva alguns anos para receber "axé de fala" e só recebe após passar por algumas provas que só os mais velhos no Batuque conhecem. Então as divindades que receberam o "axé de fala" passam a responderem as rezas ( Orins , músicas cantadas ) todas de Bará a Oxalá no dialeto iorubá , que são puxadas pelo tamboreiro (ogã).Sim, essas divindades respondem a todas as rezas de Bará a Oxalá cantadas durante todo o Batuque , diferente do Candomblé em que somente o Ogã canta e as divindades não cantam.Vejam bem , não estou jamais querendo "diminuir" o Candomblé , somente explicando para que vocês entendam as diferenças que existem entre um culto e outro.
No Batuque as divindades não usam nenhuma paramenta que lhes tampe o rosto e ficam de olhos abertos tal qual são as manifestações na África Mãe.
Também não raspamos nem catulamos ; somos feitos no Santo como costumamos dizer , mas percebe-se que de uma forma bem diferente do Candomblé brasileiro como já expliquei.
Batuque e Candomblé não podem ser comparados , nenhum é melhor que o outro ; pois são cultos com tradições na maioria bem diferentes , mas com o mesmo propósito de cultuar ancestrais e divindades africanas.
As obrigações e iniciações no Batuque variam dependendo de 24 horas a 16 dias de recolhimento.Nosso preceito é de 32 a 40 dias dependendo a nação.Também temos restrições a alimentacão, as "quizilhas" de Orixá.
Os filhos iniciados e recolhidas são cuidados na obrigação pelo próprio Babalorixá ou Iyalorixá, padrinhos e madrinhas ou pelos irmãos mais velhos de tempo e de obrigação no asé.
Também podemos fazer inúmeros trabalhos religiosos pela Nação , como abertura de caminhos , limpezas espirituais , axés para melhora da saúde , para amor , e todas as pessoas podem participar , desde dos recém nascidos aos mais idosos.
Fazer parte e se iniciar no Batuque não interfere em nada se você já é de Umbanda e Kimbanda ; pode continuar com seu desenvolvimento e trabalho nestas vertentes; para nós são cultos bem distintos e não se misturam.Por exemplo , não pode chegar um guia de umbanda em uma roda do Batuque pois logo é indentifica do.
Essas divindades só "nascem" no tempo que elas próprias quiserem , e as vezes pode levar 5 , 10 , 15 anos ou mais para se manifestarem dentro de uma roda de Batuque.Pois nós Batuqueiros entendemos que o tempo das divindades não é o nosso e essas divindades são sagradas.
Não podemos desenvolver um Orixá de cabeça no filho ou filha. Também não podemos e nem devemos obriga-los a fingir que estão "ocupados" com Orixá no salão.Então por exemplo uma pessoa pode fazer suas Obrigações de Santo , ser feita no Santo , ser -Pronta- , ter casa aberta , filhos e netos de santo e não necessariamente o Orixá desse Babalorixá ou Iyalorixá precise se manifestar ; e também não há avisos prévios quando o Orixá vai "nascer", simplesmente uma noite durante uma Obrigação ou do Xirê do Batuque ele se manifesta , poderoso e lindo como se sempre esteve manifestado em seu filho ou filha.
Valhe ressaltar que é terminantemente, expressamente, proibido e considerada uma falta gravíssima tirar fotos ou filmar as divindades que se manifestam em seus cavalos de santo no Batuque.
Um filho ou filha do Asé que comete essa falta é mandado imediatamente expulso da casa , e se for um convidado proibido de voltar.
Fotos e filmagens no Batuque podem serem realizadas antes do início do toque ou depois que termina , mas jamais com os Orixás manifestados.
Então você pode se ocupar ( incorporação ) a 30, 40 anos com seu Orixá no Batuque e nunca verá uma foto sequer desta divindade manifestada em você.
No Candomblé a "virada" das divindades manifestadas se chama de Erê ; o que para nós do Batuque chamamos de Axerô.
Em um Terreiro de Batuque como o nosso Castelinho do Caçador temos Assentada a África de Odé que é o meu Orixá de cabeça.
Essa África é composta por assentamentos de Bará a Oxalá que são : Bará , Ogum , Oyá , Xangô , Ossaym , Odé , Otim , Obá , Xapanã , Ibeijis , Oxum , Iemanjá e Oxalá , eles são o meu Asé ( outro dia explico melhor sobre isso para vocês entenderem ).E temos em separado os assentamentos dos Orixás de cada filho da casa desde de uma quartinha de Aribibó , Bori , e Assentamentos da África dos que são prontos.
A África individual de cada filho é levada devidamente para sua casa quando é aberta a casa de santo deste filho ou filha.
O Batuque é magnífico para quem vive ele.
Sou muito grata!
Créditos do texto : Lya Tarosh "

Coletamos alguns comentários do debate:

"Norton Corrêa

Muito interessante o teu texto. Nem todas as pessoas percebem que algumas divindade jêje que citas são mencionadas nos cânticos do batuque. Talvez uma característica do teu ritual, mas nunca vi, nos batuques da antiga, a presença de inkises, que são de origem banto, regiões do Congo, Angola e Moçambique. São cultuadas no candomblés de caboclo. E, concordando contigo, quando um caboclo baixa num batuque é imediatamente despachado, como vi várias vezes. É logo identificado porque dança com as mãos fechadas. No batuque, parece que o vodum Elegbara, do jêje, foi dividido em dois, surgido o Léba. O sacerdote João do Xapanã, da turma do Oió, se não me engana, me mostrou um vulto de Léba: uma imagem de madeira toda pintalgada que ficava num lugar fora do templo dele e em outro local que não a casinha do Bará e Avagã. Era, segundo ele, ligado aos cemitérios. Mas, embora a separação, continuam a mencioná-lo pelo nome inteiro, Elegbara, na abertura do jêje, Quanto a "ilu", o tambor, nunca ouvi tal palavra na antiga do batuque, e sim, no candomblé baia no e no Recife. Bem antes de Antes de eu começar a pesigamente, na casa da Mãe Moça da Oxum, "

Fonte https://www.facebook.com/lyalyatarosh/posts/pfbid025FSgiNsvt2C24DU4xJknRfqmCiDDNL6zHdooijcd8hUSjMH5jgxCW4gGvdaD4bZal?comment_id=512819361259256&reply_comment_id=807407151516997&notif_id=1721411109523330&notif_t=comment_mention&ref=notif 

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