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sexta-feira, 15 de abril de 2022

ORIXÁ: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE A TRADIÇÃO IORUBA E A TRADIÇÃO DO BATUQUE DO R.S.

Por Erick Wolff de Oxalá

Postado em 15/04/2022





RESUMO

Neste artigo, estamos diante a riqueza de registros do livro Estudos de Batuque, de Carlos Krebs, que possui raras imagens de orixás manifestados nos rituais do Batuque, que por tradição e ritualística, no Batuque do RS não fotografa nem filma orixás. Por isso, este trabalho possibilita demostrar a semelhança preservada dos orixás do Batuque quando possuídos em seus iniciados, com a tradição ioruba. 

 

PALAVRAS CHAVES: Orixá, vestimenta, paramentos, indumentária.

 

Introdução

Os orixás do Batuque não permitem serem filmados, ou, fotografados, motivo este que na sua manifestação, estas divindades praticam rituais e cerimonias que não devem ser comentadas com os iniciados[1] destes orixás. Sendo assim, não é permitido filmar, fotografar, e que fotos ou filmagens que existem, foram feitos à revelia, e somente divulgado após a morte das pessoas envolvidas. O mesmo ocorre com mencionar que há manifestação do orixá naquela pessoa. E por motivos de respeitar este tabu, dificulta mais registros ou estudos sobre a manifestação dos orixás no Batuque.

 

Mesmo assim, neste artigo ilustraremos alguns orixás manifestados, paramentados e vestidos, para registro e estudos dos costumes do culto do orixá afrosul, ao mesmo tempo que demonstraremos registros de orixás manifestados em terras Iorubas.

 

MANIFESTAÇÃO DOS ORIXÁS DO BATUQUE DO RS

Seguem imagens que registram manifestações, vestimentas e comportamento dos orixás da década de 40. Estes que muitas vezes passam horas manifestados e acabam indo embora deixando o seu iniciado sem cansaço ou vestígio decorrente de uma manifestação. 


Vejam a seguir imagens do livro Estudos de Batuque


  • Imagem 01, crédito Estudos de Batuque, Pai Fiorentino Pereira da Silva, dançando ritualmente com o seu Ogum manifestado. Casa Mãe Apolinária.


  • Imagem 02, crédito Estudos de Batuque, Marieta, filha e mãe-de-santo, possuída por seu Oxalá-moço. Está envergando nas vestes rituais do orixá (branco) e portando o seu cajado. Marieta vem referida no texto, em possessão e fazendo cair no santo inúmeras pessoas, apenas apontando-lhe com a mão ou com um simples lírio branco. 


  • Imagem 03, crédito Estudos de Batuque, A manifestação do orixá.

  • Imagem 04, crédito Estudos de Batuque, Ogum, orixá da guerra, manifestado e revestido com seus paramentos rituais. Casa Mãe Apolinária.

  • Imagem 05, crédito Estudos de Batuque, No interior do pegi, o rito final para despachar o santo. Casa de Mãe Apolinária.


  • Imagem 06, crédito Estudos de Batuque, inicio do estado-de-santo.

  • Imagem 07, crédito Estudos de Batuque, Característica expressa facial de um crente em possessão. Casa da Mãe Apolinária. 

  • Imagem 08, crédito Estudos de Batuque, Oxalá-velho manifestado no seu iniciado. Observe-se o pequeno bastão usado, um dos atributos deste orixá. Casa da Mãe Apolinária.

  • Imagem 09, crédito Estudos de Batuque, A Oxum manifestada em Dona Moça, mãe-de-santo, numa cerimônia festiva em sua casa de culto.

  • Imagem 10, crédito Estudos de Batuque, Amparado por Mãe Apolinária, um crente começa a entrar no estado-de-santo.


  • Imagem 11, crédito Estudos de Batuque,  A projeção dos lábios, típica nos crentes em estado-de-santo.


Nas próximas imagens, são de orixás manifestados em terras Iorubas, notem a semelhança entre eles e os orixás do Batuque do RS. 


  • Imagem 12, crédito Asa Òrìsà, Durante o festival de Xapanã, em Òyó, Nigéria, Xapanã Manifestado, anda pelas ruas abençoando e falando com as pessoas. Observem a capa que envolve as vestes de Xapanã. Não ele carrega uma vassoura, que é o símbolo de Xapanã. 


  • Imagem 13, crédito Asa ÒrìsàDurante o festival de Xapanã, em Òyó, Nigéria, o orixá para na frente do Palácio do Alaafin para abençoa-lo e a todos que ali estão.

Vídeo de Xapanã durante o festival.

A seguir, este registro é muito importante, onde Oya, visita Yemoja para abençoar e passar mensagens.


  • Imagem 14, crédito Òrìsà BrasilRenata estava em rituais de iniciação para Yemanjá, quando Oya vem pelas ruas e entra na casa de Yemanja, senta na esteira para passar mensagens e benção, depois Oya levanta e vai embora para a sua casa.

Vídeo de Oya visitando Yemoja. 



  • Imagem 15, crédito Asa Òrìsà, Durante o festival de Xangô, Òyó, Nigéria, Xangô, Oyo, o próprio orixá sentado passando mensagens, ensinamentos e abençoando os devotos.


  • Imagem 16, crédito Yemonja Arike, Durante o festival de Xangô, Òyó, Nigéria, Xangô, Oyo em 2019. Xangô come o fogo.


PONTOS SEMELHANTES ENTRE O ORIXÁ DO BATUQUE E O ORIXÁ EM TERRAS IORUBA

A forma que os orixás do Batuque manifestam, possuem características próprias, que não se assemelha a qualquer outra religião afro-brasileira, no entanto, podemos notar que os orixás do Batuque preservaram muito dos orixás em terras Ioruba.

 

Notamos que as vestimentas e paramentos também possuem características dos orixás em terras Ioruba, e não se assemelham a outras religiões afro-brasileiras. Referente as tradicionais capas, que alguns orixás do Batuque usam, lembram os panos que os orixás usam na matriz ioruba. 

 

Notem que assim como o orixá manifestado podem e anda com os olhos abertos, possuem autonomia para ficarem o tempo que quiserem durante rituais e se portar como desejarem, sendo que muitas destas manifestações ocorrem conforme vistos nos vídeos e fotos em terras iorubas.

 

É comum os orixás do Batuque passarem por rituais onde comem buchas de fogo, carvão em brasa, dendê ou mel fervendo, entre outros fundamentos, enquanto manifestados. Semelhante ao que vemos orixás manifestados em terras iorubas. 

 

PONTOS DIVERGENTES ENTRE O ORIXÁ DO BATUQUE E O ORIXÁ EM TERRAS IORUBA

Importante ressaltar que os orixás desejam se comunicar com os devotos, por isso, o fazem no idioma nativo Brasileiro, diferente dos orixás Ioruba que o fazem no idioma de sua origem. Existem registros de que o Xapanã do pai Manoelzinho ensinava as orin (cantiga) e falava o idioma nativo. 

 

Os orixás do Batuque podem chegar a qualquer momento, e ficam o tempo que desejarem, no entanto, hoje em dia, poucas casas fazem toques durante o dia, já os festivais de orixá em terras iorubas geralmente ocorrem durante o dia, desta forma, os orixás circulam pela cidade e abençoam a todos que por eles passam.


Em terras Ioruba, o orixá possui vestimentas especiais que as usam quando estão manifestados. Como pudermos ver os registros de orixás do Batuque, usando roupas e paramentos especiais durante as festas, hoje em dia poucas casas mantem os paramentos e vestes. Importante registrar que o orixá quando manifestado, retira relógio, joias, fios de contas e acessórios que o iniciado possa estar usando, para ter mais liberdade para dançar ou ajudar em rituais que esteja participando. 

 

É costume de o Batuque não comentar que o orixá manifesta em determinado individuo, segundo entendemos que este estado espiritual é mantido em segredo até mesmo pela divindade, que, não deixaria vestígios na mente do indivíduo. Jaá em terras Ioruba sabem que irão passar pela manifestação do orixá. 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Orixás do Batuque preservaram alguns pontos sua origem ioruba, se considerado as possíveis adaptações em terras brasileiras para preservação do culto, e sem contato com a matriz, existe semelhança que podemos observar. 


Orixás do Batuque quando manifestados, mantém o tabu da ocupação, desta forma não é possível gravar ou filma, o que dificulta o registro dos costumes e tradições praticadas pelas divindades.  

 

Apesar da diferença e adaptações nos trajes e paramentos dos orixás do Batuque, ainda assim notamos que não copiava o Candomblé, por isso, a identidade e cultura do Batuque deve ser preservada.


Os orixás do Batuque não são obrigados a se comunicarem no seu idioma, nativo ioruba, pois, desejam facilitar o contato com os seguidores brasileiros. Contudo, nada impende que possamos estudar para que um dia caso estas divindades desejem falar no seu idioma, de origem, possamos nos comunicar com eles. 


Fonte internet

Sàngó abençoando e orientando o povo durante o festival de 2020, acessado em 31/03/2022 às 22:13 link - https://iledeobokum.blogspot.com/2021/12/sango-abencoando-e-orientando-o-povo.html



ARIKE, emojagbemi Omitanmole, Oya visita Emojagbemi Omitanmole Arike, acessado em 31/03/2022 às 22:13 link - https://iledeobokum.blogspot.com/2021/12/oya-visita-emojagbemi-omitanmole-arike.html

 

ARIKE, emojagbemi Omitanmole, Sàngó engolindo fogo durante o festival de Sango em Òyó, 2019, acessado em 02/04/2022 às 18:57 Link – https://www.facebook.com/yemoja.renata/videos/418716928924262

 

 

GOMES, Paula, Festival de Obaluaye (Xapanã) em Oyo, 2022, acessado em 31/03/2022 às 22:07 link - https://iledeobokum.blogspot.com/2022/01/festival-de-obaluaye-xapana-em-oyo-2022.html


Bibliografia

KREBS, Carlos Galvão, Estudos de Batuque, 1988, centenário da abolição, Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore.  



[1] Momento ao qual o indivíduo passa pela possessão, que no batuque dá-se o nome de ocupação para o estado de possessão de uma divindade.


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